No complexo da Zilda, em Carrancas |
A cidade é famosa por ter mais de 70 cachoeiras
Quando se pensa em turismo ecológico, especialmente em número
de cachoeiras, a primeira cidade que me vem à cabeça é Carrancas (MG), 280 km
da capital mineira. O município fica na mesma região de São João del Rey,
Tiradentes e Lavras.
Conheci
Carrancas há mais de 20 anos, quando o turismo ali ainda era incipiente e só
havia uma pousada. Ouvi falar do lugarejo por meio de algumas cenas utilizadas
em vários programas e novelas da Rede Globo, como “O fim do mundo” (1996), “Alma
gêmea” (2005), “Império” (2014), dentre outras. Naquela época, a gente alugava
casas para passar os dias na cidade. Fomos no período do carnaval, quando a
população local realiza retiros espirituais, alheios à folia de outras cidades.
Portanto, o sossego era geral. Atualmente,
mesmo com pouco mais de 4 mil habitantes, Carrancas é outro município. Nota-se
pelo grande número de hotéis e pousadas e o desenvolvimento do turismo
ecológico, com guias especializados em levar grupos para conhecer as principais
atrações, as cachoeiras. Duas décadas
atrás, a gente encontrava as cachoeiras por dicas dos próprios moradores. Não
precisava pagar para entrar e nem elas possuíam as infraestruturas que dispõem
atualmente, como restaurantes, rampas de acesso, escadarias, etc. Parte da
região foi transformada em um parque municipal, o que, de certa forma, ajuda a
preservar o meio ambiente. Na virada de
2021, dias depois do Natal, visitamos Carrancas e ficamos (Regina, Wagner e eu)
hospedados em uma casa alugada por meio do Booking. Mesmo fora da área central,
o local era silencioso e próximo de uma cafeteria muito boa, que servia um
farto café da manhã, o Cafezim Cachoeira. Estávamos de carro, mas na região
central da nada era tão distante assim que não pudesse ser percorrida a pé. Pagamos ao
guia R$ 80,00 por pessoa para visitar seis cachoeiras, no primeiro dia de
viagem. O passeio durou o dia inteiro. É o preço médio praticado pela maioria
dos guias da cidade, utilizando o nosso próprio veículo. Indo com o guia, o
valor é mais alto. Há vários passeios disponíveis, pois Carrancas dispõe de
mais de 70 cachoeiras. Visitamos o complexo
Zilda 1, onde fica o Parque Serra do Moleque, com um grupo de aproximadamente
10 pessoas. Numa pequena área, com uma caminhada bastante tranquila, o grupo conheceu
as cachoeiras de Guatambu, da Proa e da Zilda. Na parte da tarde, depois do
almoço, parte da turma foi conhecer a Cachoeira do Escorrega (que eu não
conheci) e a do Índio. Há muito
tempo que eu não tomava banho de cachoeira e esse, em especial, foi
providencial. Principalmente depois de quase dois anos de pandemia,
recolhimento e as inúmeras situações ruins pelas quais estamos passando. Foi
uma espécie de limpeza para o corpo e para a alma. Infelizmente,
foi o único dia de sol que pudemos aproveitar. Nos outros dias, a chuva tomou
conta da cena. Por sua altitude, 1.052m acima do nível do mar, e o fato de
estar em um planalto, Carrancas é uma cidade que acumula muitas nuvens e,
portanto, é muito chuvosa. Segundo alguns moradores, tem dias que é possível
passar por todas as estações do ano. Durante nossa estadia lá, caiu uma chuva
fortíssima que nos obrigou a ficar mais de 40 minutos dentro do carro, pois não
havia guardachuva que suportasse o volume das águas. As ruas se transformaram
em pequenos riachos. A melhor época para visitar a região é de março a
setembro. O problema é que a água é gelada. Sem sol, fica difícil entrar. Além das
cachoeiras, Carrancas está engatinhando no turismo. Há várias opções de
hospedagem e nota-se que o público frequentador da cidade mudou. Antes, eram mochileiros
e aventureiros; atualmente, muitos paulistas e cariocas da classe média estão
conhecendo o local, o que obrigou à criação de restaurantes pretensamente mais
sofisticados e com os preços nas alturas. Na pracinha
principal, aonde situa-se a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, concentram-se
as principais atrações gastronômicas. A própria praça é bastante encantadora e
a igreja tem altares ricos em talhas barrocas. Na mesma região, está uma
excelente loja de artesanato, o Quintal das Artes, com peças de todo o Brasil,
escolhidas com muito bom gosto. Lembro que Carrancas está no circuito da
Estrada Real, o que está ajudando bastante a alavancagem do turismo. Outro local
que me chamou a atenção foi a loja Curupira, especializada em brinquedos
artesanais, papelaria e uma livraria bastante singular, com livros diferenciados
voltados para o público infantojuvenil. Comprei lá dois exemplares da coleção Anti-Heróis
e Antiprincesas dedicados, respectivamente, ao escritor uruguaio Eduardo
Galeano (autor de “As veias abertas da América Latina”) e a cantora e compositora
chilena Violeta Parra, dois ícones da esquerda latina. As obras são editadas
pelas editoras Sur e Chirimbote, de Santa Catarina. Há um centro
de artesanato dedicado aos artesãos locais, com uma boa diversidade de
produtos. Ficamos
também encantados com um projeto social, desenvolvido por moradores que
assumiram toda a jardinagem de uma rua de um determinado bairro da cidade. Em
mutirão, eles cultivam flores e árvores e até construíram uma pequena gruta
dedicada à Nossa Senhora de Lourdes. Além de plantarem, eles se revezam nos
cuidados com o jardim. Ações como esta que deveriam servir de exemplo para
outras comunidades, pois reforçam o papel da comunidade na melhoria da
qualidade de vida da população. Dos pouco
mais de 4 mil moradores, muitas pessoas chegaram a Carrancas recentemente, em
menos de cinco anos, procedentes de outras cidades mineiras e até de outros
estados. Lá montaram pousadas, restaurantes, cafés e lojas comerciais,
apostando no desenvolvimento do turismo regional. Mesmo com a paralização
provocada pela pandemia, muitos continuam investindo. Conhecemos uma família
que assumiu recentemente um bar da cidade; um paulistano que trocou São Paulo
pela tranquilidade do interior de Minas e lá construiu uma pousada; além de
outros exemplos. Foi revigorante saber que os sonhos e esperanças de muitos
estão se concretizando. Espero que, com tudo isso, eles valorizem a região e
respeitem o meio ambiente, para que o progresso traga benefícios. É bom frisar
que, em dezembro de 2021, Carrancas possuía apenas duas agências bancárias e
nenhum caixa eletrônico. Para entrar nas cachoeiras, somente com dinheiro vivo
e os pagamentos dos guias era feito por meio de PIX. O comércio local aceita
cartões de crédito e débito. Em seguida,
algumas fotos tiradas na região, que vale a pena ser conhecida. Boa viagem,
sempre com respeito aos protocolos sanitários! |
Mapa ilustrativo das atrações locais |
Cachoeira do Guatambu |
Cachoeira da Zilda
Cachoeira do Índio
Regina caminha pela região |
Wagner brinca nas águas da cachoeira |
Wagner, Regina e eu curtindo as águas de Carrancas |
Cafezim Cachoeira (fachada e interior) |
Jardim comunitário
Quintal das Artes
Regina e Wagner com os bonecos da casa de artesanato local |
Belas fotos! Já tinha ouvido falar de Carrancas.
ResponderExcluirAgradecido, Glauber. Seja bem-vindo ao blog. Há sempre novidades por aqui. Abraços
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