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Cachoeira dos Garcia, em Aiuruoca (foto de Wagner Cosse) |
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No fim do texto, confira as fotos da viagem.
As terras altas da Mantiqueira são um dos grandes
atrativos turísticos de Minas Gerais. Ali é uma das regiões mais aprazíveis do
país, que mescla várias atividades, como turismo cultural, religioso, ecológico
e estâncias hidrominerais. Visitei aquelas paragens em várias oportunidades, conhecendo
cidades como São Lourenço, Passa Quatro, Cristina, Pouso Alto, Gonçalves,
dentre outras. Mas, desta vez, o foco principal foi Aiuruoca, destino cada vez
mais procurado por quem ama a natureza. Aproveitando a proximidade, retornei a
Caxambu, Baependi e Cambuquira.
De Belo Horizonte (onde moro) a Aiuruoca são
aproximadamente 420 km, passando pela Rodovia Fernão Dias e, posteriormente,
trafegando pela Rodovia Vital Brasil. Ao lado do meu companheiro de viagem, Wagner
Cosse, nos hospedamos na Pousada do Dudu, indicada pelo Booking, com uma
impressionante nota 9,3. A pousada é bem simples e, na verdade, é uma casa de
família. Mas o atendimento do proprietário Eduardo (o Dudu) e de sua esposa,
Sandra, foi espetacular. O café da manhã, então, era de uma variedade e fartura
impressionantes. Coisa de mineiro, que se pauta pela hospitalidade e gentileza.
O bom de ficar em pousadas, ao invés de hoteis, é a
proximidade com os outros hóspedes, o clima mais intimista. A grande mesa do
café da manhã era uma delícia. Ali os papos rolavam à solta, com direito a
gargalhadas, trocas de experiências e possibilidades de bons contatos.
Por sugestão de Dudu e Sandra, visitamos, em dois dias, o
Vale do Matutu e a Cachoeira dos Garcias, atrações de Aiuruoca. As localidades
ficam nos arredores do Pico do Papagaio, imenso bloco de pedra de 2.100m de
altura, visto e apreciado em diversos pontos da estrada. No seu entorno, são mais
de 80 cachoeiras, sendo que somente a metade é visitada constantemente pelos
turistas e viajantes. Muitas exigem um carro de tração especial ou até longas
caminhadas de acesso.
No Vale
do Matutu, cerca de 17 km a pousada, existe uma boa rede hoteleira e alguns
restaurantes, a maior parte especializados em comida natural, pois ali é um
reduto de pessoas de prezam pela vida alternativa, pautada pelo silêncio,
contemplação e amor à natureza. No local, visitamos também o Poço das Fadas,
que parecem pequenos jardins japoneses encrustados na mata, e almoçamos no
lugar conhecido como Padaria, que tem uma vista espetacular.
Já no Vale dos Garcia, na mesma distância da pousada, só
que em outra direção, conhecemos a cachoeira de 30 metros de queda d´água,
circundada por uma paisagem de tirar o fôlego. O acesso é tranquilo, com uma
descida bem suave na maior parte da trilha que não tem mais de um quilômetro.
Infelizmente, por causa da queda da temperatura (final de maio de 2016), não tive
coragem de entrar na água, que estava gelada. O local é propriedade particular,
administrada pelo Juninho, dono do restaurante local, que serve uma boa comida
ao preço de R$ 35 por pessoa. Segundo ele, durante a noite, a temperatura caiu
para cinco graus negativos. Wagner, mais ousado, se esbaldou no freezer.
A estrada para o Vale dos Garcia é a mesma que permite o
acesso ao Parque Estadual do Pico do Papagaio. É possível fazer uma caminhada
até o topo da montanha, que dura cerca de sete horas, ida e volta. Desta vez,
não me arrisquei. Mas os que conhecem a trilha dizem que é um passeio
maravilhoso, embora cansativo.
Em Aiuruoca também tivemos a oportunidade de ver a
população – a maioria jovens e crianças – confeccionando o tapete de serragem,
pó de café e areias coloridas para a procissão de Corpus Christi, nas
imediações da igreja matriz. O ato me emocionou, pois percebi que havia ali um
grande espírito coletivo, de irmandade, embalado pela fé e pela humanidade. Um
bálsamo, numa época tão dura e confusa para o Brasil.
Na cidade também pudemos frequentar alguns restaurantes,
em especial do da Dona Azeitona, onde comemos uma deliciosa truta. Havia outras
atrações, mas não tivemos tempo de usufruir. Inclusive um restaurante
tradicional, também dedicado às trutas, que realiza uma receita quase
centenária, mas com preço mais salgado. Existe, ainda, uma bela loja de artesanato
e artigos indianos, na saída para o Vale do Matutu, que compensa a visita.
Caxambu
Em Caxambu, visitamos o Parque das Águas, que considero o
mais belo de Minas Gerais. Além da arquitetura neoclássica deslumbrante
(tombada pelo patrimônio histórico estadual), o parque tem deslumbrantes
fileiras de plátanos, uma árvore típica do Canadá, mas que há mais de 100 anos
impressiona dos visitantes com sua beleza. Nesta época do ano, outono no
Brasil, as folhas estão caindo, mas o visual continua arrebatador. Como ninguém
é de ferro, aproveitamos para mergulhar durante uma hora numa piscina de águas
minerais aquecidas e borbulhantes, capazes de retalhar todas as tensões
existentes no corpo e aquelas que estão por vir. A pele e o cabelo agradecem o
presente da natureza, por um preço bem atraente (R$ 35 por pessoa).
Caxambu tem outros locais agradáveis, como praças e antigos
edifícios, que demonstram que houve ali uma época áurea. Infelizmente, nem
todos eles estão bem cuidados como mereciam. No entanto, a cidade é tão
charmosa, que suplanta tudo isso. Como na vizinha Aiuruoca, presenciamos os
belos tapetes da procissão de Corpus Christi que enfeitavam a rua principal. E
ainda tivemos tempo (nos dois dias que tivemos por lá) para conhecer o cinema
local, totalmente reestruturado, com um excelente conforto e qualidade de
projeção, além de um som excepcional. Confesso que saí impressionado!
Nhá Chica
A passagem pela região, em cinco dias, rendeu uma visita
à Baependi, terra de Nhá Chica, que promete ser a primeira mulher brasileira a
se tornar uma santa católica. Já se sente a peregrinação religiosa à singela
casinha onde ela morava e à igreja que mandou construir, no século 19, em
homenagem a Nossa Senhora da Conceição, com recursos provenientes de uma
herança e de trabalho comunitário. Do lado da capela, que já passou por várias
reformas ao longo dos últimos anos, vê-se uma enorme a construção, que deve ser
o novo templo dedicado à santa brasileira.
Como não poderia faltar, visitamos a lojinha onde são
vendidos artigos religiosos e compramos alguns suvenires relativos à Nhá Chica,
inclusive imagens e livro sobre a santa. Notamos que há grande movimento na
região e até preparam um filme para contar sua vida.
Cambuquira
Alguns anos atrás, Wagner e eu nos hospedamos em
Cambuquira, talvez a menos famosa das estâncias hidrominerais de Minas, apesar
de seu passado glorioso. Nos últimos anos, a região entrou em decadência, com o
fechamento dos hoteis e o declínio do número de visitantes ao seu parque das
águas. Desta vez, no entanto, sentimos que alguma coisa melhorou. Vimos novos
empreendimentos, hoteis restaurados e até um projeto de revitalizar o antigo
Hotel Elite, transformando-o num centro de compras. A obra foi recentemente embargada
pela prefeitura, por não estar de acordo com as normas de restauração do
Patrimônio Histórico, mas vale ressaltar que, pelo menos, alguém está pensando
em dar um novo impulso ao município.
Nas poucas horas que ficamos em Cambuquira, assistimos a
um impressionante desfile de carreteiros de boi. Entendemos que esse evento
acontece anualmente, como uma forma de valorizar essa importante tradição rural
brasileira. No final do desfile, uma grande quantidade de cavaleiros aumentava
o cortejo, que circulou as ruas principais da cidade.
Aproveitamos a ocasião para adquirir algumas garrafas da preciosa
água mineral de Cambuquira, considerada um das melhores do mundo. É um líquido
que não se bebe em vão. É quase como sorver um delicioso vinho. Uma experiência
gastronômica ímpar, que nos faz valorizar cada vez mais a produção nacional.
Quem dera que a cidade estivesse à altura desse bem mineral. Seria um dos
locais mais visitados do país.
A hora é de nos despedirmos de Aiuruoca e dos encantos
dessa região tão aprazível. Fica a lembrança de dias tranquilos e intensos, com
gente agradável e carinhosa. Uma comemoração à vida e ao que ela tem de melhor:
boas conversas, afetos e belas paisagens para contemplar. Viva!