No alto da Pedra da Conceição observando as formações rochosas de Pedra Azul (MG) (foto de Wagner Cosse) |
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
Clique nas fotos para ampliá-las
Na virada de 2007 para 2008, tive a
oportunidade de conhecer o Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, quase
na divisa com a Bahia. A mítica região é aclamada por seus artistas, pela
beleza da paisagem e pela dura vida de seus habitantes, que sofrem por causa da
pobreza e da falta de perspectivas.
O roteiro começou em Minas Novas (508 km da capital mineira) e
seguiu por Chapada do Norte, Berilo, Araçuaí, Itinga e Almenara, terra da
cantora e compositora Déa Trancoso, do cantor Carlos Farias e do Coral de Lavadeiras.
Nesta última cidade, passamos (Wagner Cosse, meu companheiro de viagem e eu) o
Reveillon, a convite da cantora, na casa de seus pais. Almenara fica às margens
do rio Jequitinhonha.
Quando já voltávamos para Belo Horizonte, Déa sugeriu que conhecêssemos
a estrada que liga Almenara a Pedra Azul, segundo ela a mais bela do Vale. E
assim fizemos.
E não nos arrependemos. Embora seja de terra, a estrada – de aproximadamente
85 km - é belíssima, com paisagens deslumbrantes, formada por grandes formações
rochosas que saem do chão em tons azulados, contrastando com o verde das matas.
Ao contrário da habitual sequidão desta região do país, nesta época do ano as
paisagens são verdejantes. O caminho estava sem poeira, porque havia chovido
recentemente, deixando tudo ainda mais bonito.
Pedra Azul é reconhecida com a mais bela cidade do Vale. A grande
rocha azul é dá o nome ao local se impõe logo à entrada do núcleo urbano. Seu nome
oficial é Pedra da Conceição, em homenagem à padroeira do município, Nossa
Senhora da Conceição. E é possível chegar ao seu topo, por meio de 523 degraus
(há um caminho alternativo de automóvel). De lá se tem uma vista de toda a
região, que me lembrou uma espécie de Baía da Guanabara sem o mar. No dia em
que subimos, ficamos até a hora do pôr-do-sol. Como é de se esperar, o local
transpira tranquilidade e paz.
Hospedamo-nos da Pousada Bom Jardim, na área central da cidade (Av.
Joaquim Antunes, 18, telefone: 33 3751-1960). É um lugar bem simples, mas muito
bem localizado. Seu proprietário (que não me lembro o nome, considerando que já
se passaram mais de 10 anos), foi extremamente gentil conosco. Ele tinha um
ótimo conhecimento da história da cidade e nos indicou vários passeios.
Já na primeira noite, fomos surpreendidos pela decoração de Natal,
toda ela feita em material reciclado. Até então, eu nunca tinha visto este tipo
de enfeite com bom gosto. Como se aproximava o Dia de Reis, grupos folclóricos
locais se exibiram nas ruas, com suas fantasias. Conhecidos como bois, eles são
trajados com tecidos coloridos e fitas.
A avenida do hotel é a principal de Pedra Azul. Ela impressiona pela
quantidade de casarões luxuosos, que foram construídos na primeira metade do século 20, quando
foram descobertas valiosas águas marinhas na região, que eram exportadas até
para a Europa e a América do Norte. Quando estivemos lá, ouvimos muitas
histórias, inclusive que a cidade dispunha de voos diários em seu aeroporto
para atender a demanda dos milionários locais.
Segundo o Wikipédia, as pedras foram descobertas em 1927, na
fazenda Laranjeira, que pertencia ao empresário e político mineiro João de
Almeida e por Lourenço da Santa Rosa, seu empregado, que foi contratado para
abrir trincheiras. Almeida tornou-se um dos homens mais ricos do Brasil e teve
mais de 300 homens trabalhando em suas minas, de onde foram extraídas cinco toneladas
da pedra preciosa. Em valores atualizados, essas pedras valeriam cerca de R$ 80
milhões. O dinheiro serviu para proporcionar melhorias também à cidade, que ganhou
hospital, igreja matriz, escolas e estrutura urbana.
Como curiosidade, a pedra Dom Pedro, encontrada em Pedra Azul, é a
maior água-marinha já descoberta no mundo, com 45 quilos. Isto aconteceu na
década de 1980. A pedra foi vendida para
a Alemanha, em 1992, onde foi transformada, pelo artista Bernd Münsteiner, em
um obelisco de 35 cm de altura e cerca de dois quilos. Ela está em exibição
permanente no museu de História Natural Smithsonian, em Washington (EUA).
A extração de águas marinhas também beneficiou o empresário e
político pedrazulense Clemente Faria, por meio da compra e venda das pedras
preciosas dos funcionários do garimpo. Faria, que era filho de um próspero
pecuarista, fundou, em 1925, abriu o Banco da Lavoura de Minas Gerais, que foi dividido,
em 1971, em dois bancos: o Banco Real e o Banco Bandeirantes, ambos já
extintos.
O luxo que desfrutava a elite local é observado nos casarões da
Avenida Joaquim Antunes. Eles trazem decorações suntuosas, dificilmente
encontrados em uma cidade deste porte (Pedra Azul possuiu, atualmente, cerca de
25 mil habitantes), trazidas principalmente de Portugal e Espanha. Caminhar
pela avenida, que possuiu um arborizado canteiro central, é um programa
obrigatório.
Nesse canteiro, ou bulevar, também está a delicada Igreja de Nossa
Senhora da Conceição, um templo singelo, também conhecido com santuário. Há
outra igreja mais moderna na cidade, a Matriz de Nossa Senhora Aparecida, que
não tivemos a oportunidade de visitar.
Outro local bastante curioso é o cemitério local, que ainda guarda a suntuosidade dos tempos de poder financeiro dos moradores.
Outro local bastante curioso é o cemitério local, que ainda guarda a suntuosidade dos tempos de poder financeiro dos moradores.
O tempo das águas marinhas acabou. Em termos econômicos, atualmente
Pedra Azul possui a maior usina de exploração da grafite tipo flake da América. O mineral é usado,
principalmente, em tijolos e peças refratárias, baterias, lubrificantes, motores
elétricos, lápis e lapiseiras. A jazida foi descoberta em 1972 e hoje
representa uma importante fonte de renda para o município, ao lado da
agropecuária.
Pedra Azul é também terra de reconhecidos artistas mineiros, dentre
eles o cantor e compositor Paulinho Pedra Azul, o cantor e humorista Saulo
Laranjeira (que atua no programa A Praça é Nossa, do SBT) e o letrista e poeta
Murilo Antunes (que faz parte do seleto Clube da Esquina). A nova geração
também está presente na cantora Dani Moraes, que se destacou em suas passagens
pelos programas Ídolos (2009) e The Voice Brasil (2012).
Segundo Paulinho, o município tem uma extensa agenda cultural, com
manifestações como o Micarazul e Precazul, que são carnavais temporãos. No meio do ano tem exposições agropecuárias, festas juninas,
serestas, eventos religiosos, festivais de música, poesia e teatro, dentre
outras atividades. No mercado central e cercanias, podem-se encontrar
artesanatos, cachaças, biscoitos, doces e o queijo cabacinha.
O site oficial da Prefeitura é um canal para mais informações: www.pedraazul.mg.gov.br.
Pedra Azul está a 760 km da capital mineira, por meio da BR-116
(Rio-Bahia).
A dica de viagem desta semana fica por aqui. Em breve, farei novas
postagens relembrando as cidades do Vale do Jequitinhonha, que nos proporcionou
grandes e emocionantes encontros.
Até lá!
Mapa do Vale do Jequitinhonha |
Wagner, Déa e eu em Almenara (2007/2008) |
Estrada entre Almenara e Pedra Azul
Pedra da Conceição
Wagner e a paisagem de Pedra Azul |
Escadaria de 523 degraus |
Decoração e grupos folclóricos
Decoração de Natal |
Wagner e os componentes do grupo folclórico |
Avenida Joaquim Antunes
Santuário de N.Sra. da Conceição
Matriz de N.Sra. Aparecida
A maior água marinha do mundo
Foto Internet |
Cemitério
Estrada rural de Pedra Azul |
Paisagens nas proximidades do município
Rio Jequitinhonha |