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terça-feira, 24 de abril de 2012

O mosaico turco: Ephesus, Pérgamo e Afrodísias

No teatro de Afrodísias

Sair de Istambul não é uma tarefa fácil. Além da emoção que a cidade nos provoca, convidando-nos a permanecer por mais alguns dias, é bom lembrar que também se trata de uma grande metrópole de um país que está numa situação de desenvolvimento parecida com a do Brasil. Por isso, ficamos quase duas horas e meia para sair do aeroporto, parte delas dentro do avião, numa imensa fila de naves que esperavam a ordem para decolar. Ufa! Nessas horas não tem nada para fazer, senão ler um pouco e relaxar.
            Descemos em Izmir (em português, Esmirna), uma cidade de 3,5 milhões de habitantes, na região do mar Egeu. Um senhor muito solícito, com sua van, nos esperava há horas no aeroporto. Tentamos nos comunicar com um misto de gestos e palavras. Ele nos levou para Kusadasi, uma cidade a aproximadamente 60 km dali, importante balneário turco, com um grande número de resorts e praias maravilhosas. Mas o nosso objetivo não era entrar no mar, embora isso parecesse quase irresistível, apesar da temperatura ser um tanto baixa para os nossos padrões (cerca de 17º). A proposta era visitar, nos próximos dias, algumas das mais belas cidades turcas do período greco-romano: Ephesus, Pérgamo e Afrodísias.
            Antes, porém, um pequeno à parte para esclarecer sobre a amabilidade do povo turco. Numa postagem anterior, comentei sobre a abordagem que por vezes se insinua inconveniente em Istambul. No interior, tivemos outra impressão. O tempo todo e a qualquer momento, os turcos nos davam um show de gentileza. São falantes, comunicativos, alegres, hospitaleiros. Eles prezam pelo princípio da reciprocidade. Sempre que você compra um serviço, eles dão algo em troca. Seja um chá, uma bijuteria com o famoso olho grego, que aqui é o olho turco (para espantar mal olhado) ou até mesmo uma garrafa de vinho. Foi a recepção calorosa, por exemplo, que tivemos ao chegarmos ao nosso hotel, o Vila Konak, talvez o mais simpático e aconchegante espaço em que nos hospedamos.
            Nas ruas, recebemos sorrisos, afagos e palavras de carinho. E nem sempre em troca de algum benefício ou serviço; nem sempre com fins comerciais. Fiquei pensando se isso é realmente uma característica do povo turco ou se é uma maneira de agir das regiões mais turísticas. Enfim, de qualquer maneira, ficamos felizes com a receptividade. Quando falávamos que somos brasileiros, redobravam-se as exclamações afetuosas. Obviamente, nem todos sabem onde fica Belo Horizonte, mas reconhecem que na cidade jogou o Alex de Souza (ex-Cruzeiro), que atua em um dos times mais famosos da Turquia, o Fenerbahce. Quando revelávamos nossa nacionalidade, ouvíamos os gritos de “Ronaldo” “Pelé”, “Kaká”, "samba", "Carnaval", “Rio de Janeiro”, “São Paulo”. Viva!
            Depois dessa introdução, e de degustar o delicioso vinho tinto turco, passamos para a História. Nunca visitei a Grécia, a Itália e o Egito, que espero conhecer um dia. Portanto, tenho pouca experiência nessa área de arqueologia da antiguidade. Wagner Cosse, que viaja comigo, já esteve em Roma e Athenas, entre outras cidades que vivenciaram este período. Para mim, tudo era uma novidade. Por isso, conhecer Ephesus, Pérgamo e Afrodísias foi uma emoção particularmente tocante. Andando por aquelas ruínas, onde podemos nos confrontar com a maneira greco-romana de dispor a malha urbana – Acrópole, Ágora, banhos, teatro, biblioteca, fontes, latrina, entre outros edifícios – experimentamos o grande poder humano de construir, de pensar a vida filosoficamente, de elaborar e redefinir sua existência.
            Ephesus nos deixa perplexos com a sua elegante biblioteca e com a cidade compacta que sobreviveu a tantas intempéries econômicas e naturais. Foi um importante porto no passado, mas vieram o assoreamento, as catástrofes naturais (principalmente, os terremotos) e as mudanças econômicas internacionais e a urbe foi perdendo sua importância. De Pérgamo, construída no século 8º A.C., por Alexandre, o Grande, para ser um dos maiores centros educacionais da antiguidade, sobraram poucos monumentos, mas que dão a noção de sua magnitude. Na Alemanha, existe um museu que reconstruiu alguns dos seus principais monumentos a partir de estudos e análises arqueológicas. Por sorte, foi publicada uma revista no Brasil sobre este tema pouco antes desta viagem, que nos permitiu observar o confrontamento. A visita a Pérgamo foi um pouco prejudicada pela chuva e pelos ventos que se abateram sobre o sítio histórico no dia em que estivemos lá. As rajadas chegaram a 100 km por hora, criando um visual de filme-catástrofe.

            Afrodísias, o sítio que mais me sensibilizou, foi um importante centro artístico, cultural e religioso no passado. Se existem vidas passadas, eu senti que um dia estive por ali, tamanho era o meu entrosamento com aquele espaço. O local é famoso pela sua arte escultórica, de extremo bom gosto e habilidade. Os entalhes no mármore, dispostos nas colunas, nas estátuas e na decoração das fachadas dos edifícios são elegantes e requintados. Logo seus escultores ficaram famosos internacionalmente, recebendo encomendas de outros países, principalmente de Roma. Outro local impressionante em Afrodísias é o ginásio, com capacidade para 30 mil pessoas. Fiquei pensando nas pessoas que estiveram por aqueles espaços, assistindo às peças teatrais, concorrendo nas competições esportivas, esculpindo, estudando, comercializando seus produtos. Para provocar um impacto ainda maior, o sítio é cercado de montanhas belíssimas, algumas delas com seus cumes cobertos de gelo, árvores e flores deslumbrantes.
            Como já haviam comentado alguns amigos que estiveram na Turquia, este país nos toca profundamente. Ele adentra nosso organismo, como o sangue que circula nas nossas veias, nos impregnando com seu fascínio, sua espiritualidade, sua sensualidade e beleza. Num arco de poucos quilômetros, confrontamos o azul turquesa do mar com o verde-escuro das montanhas, encimadas por pontos brancos gelados, com suas flores de todos os matizes, as rochas, os mármores amarelados pelo tempo, os tecidos bordados florais e dourados, os minuciosos mosaicos. Uma grande experiência sensorial e emocionante. Um país para se conhecer e amar. E para renovar nosso compromisso com a vida e o que ela tem de mais importante: o amor!
Ephesus
Teatro

Biblioteca

A rua principal lotada de turistas

Colunas de um templo

Wagner se embaralha com os fios do seu audio-guia

Fonte de Adriano

Guardião do monumento

A escultura que inspirou o símbolo da Nike

Adeuzinho para as câmeras!

Mosaico

Guardião do mosaico

Engraxando o sapato com o profissional turco e sua caixa maravilhosa

Wagner e eu bebendo o vinho turco, presente de nosso hotel em Kusadasi

Pérgamo
A mais recente escultura do templo de Pérgamo

A acrópole e um pedaço da plateia do teatro

A acrópole

Wagner com seu turbante de paxá visita a acrópole

Nuvens pesadas no horizonte

Chuva e vento de 100 km/hora

Nada como um chá para esquentar

Afrodísias
Na acrópole de Afrodísias

Túmulos




A guardiã das esculturas

As famosas Três Graças, que inspiraram muitos pintores


Detalhes de um monumento

E ainda tem a natureza cercando o sitio arqueológico...

Morador de Afrodísias

O teatro

As ruas principais

A papoula, flor típica da Turquia

Nos belos templos da Ágora

O lago

A fonte

Wagner no meio das esculturas e entalhes

Natureza e monumento: visão esplendorosa

Detalhes entalhados no mármore

Ginásio: capacidade para 30 mil pessoas

Monumento de Afrodísias

Será que eu vivi nesta cidade? Achei parecido comigo...

Uma das esculturas que tornaram Afrosísias famosa





No carro que alugamos para viajar pelo interior da Turquia





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