segunda-feira, 22 de abril de 2024

Viagem ao Chile Parte 1 - Santiago

 

No teleférico do Cerro San Cristóban (foto de Wagner Cosse)

No final do texto, fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
Clique nas fotos para ampliá-las


           A partir de agora, faremos uma série de postagens sobre o Chile, relacionadas ao Vale Central do país, onde estão a capital Santiago e algumas das cidades mais procuradas pelos turistas e viajantes: Valparaíso e Viña del Mar. É lá também que se concentram conhecidas vinícolas, que produzem o aclamado vinho chileno, e as famosas estações de esqui, em especial o Valle Nevado.

            Por ser um país muito comprido e fino, o Chile tem mais de 4.000 km do norte ao sul e cerca de 170 km de leste a oeste, as áreas turísticas são distantes umas das outras. O Deserto do Atacama (norte), o vale dos lagos (centro sul) e a Patagônia chilena (sul), por exemplo, ficam em extremos do país. Ou seja, para cada localidade, é adequado que se faça uma viagem específica. A não ser que você tenha, por exemplo, um mês inteiro para desfrutar dos diversos recantos do país. Para esta viagem, despendemos 10 dias.

            Saímos (Wagner e eu) de Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil), num voo direto para Santiago, inaugurado em outubro de 2023, por meio da Latam. Fizemos o trajeto em aproximadamente quatro horas e meia. Parece outra empresa pretende realizar três voos semanais na mesma rota, a partir de julho de 2024. Aguardemos.

            Chegamos a Santiago quase meia noite. Por sabermos antecipadamente deste horário tardio, contratamos um transfer do aeroporto para o hotel. Mas outra opção, bem mais em conta, é o Uber que funciona muito bem na cidade e é seguro (mais do que os taxis convencionais, diga-se de passagem). Ficamos hospedados no bairro Providência, no agradável hostal boutique Maktub Hotel. Ele ocupa um casarão centenário, localizado em uma ruazinha bastante tranquila, tendo como vizinhas outras casas também belas e antigas. Contratamos todos as hospedagens por meio do Booking.

             No primeiro dia em Santiago, optamos por fazer o passeio no ônibus da Turistik Chile, tem o mesmo padrão de outros similares internacionais: a gente paga um ingresso e circula pela cidade, podendo descer em vários pontos e retornar ao automóvel quantas vezes quiser. É a melhor e mais rápida forma de conhecer o local visitado, quando se tem pouco tempo. O veículo faz 10 paradas em pontos importantes, como a Plaza de Armas, a Plaza de la Constitución (onde fica o Palácio La Moneda), o Cerro Santa Lucía, o Costanera Center e o Parque Metropolitano. Neste local, é possível ter acesso ao teleférico que nos conduz ao Cerro San Cristóbal, onde está uma imagem de 14 metros da Virgem Maria. Lá existem vários mirantes para apreciar a parte central de Santiago e a Cordilheira dos Andes. A descida é feita por um funicular (ou ascensor). Os ingressos para o teleférico e para o funicular estão incluídos na passagem do ônibus.

             Depois, descemos na Plaza de Armas, centro nevrálgico da capital chilena. A região é ladeada por importantes monumentos, com a catedral metropolitana, o antigo Congresso Nacional, a sede dos Correios e outros prédios antigos. Lá também está a estátua do espanhol Pedro de Valdívia (1497-1553), que fundou Santiago em 1541.

            A população santiaguina está um pouco atordoada com furtos na área central e a todo momento tem uma pessoa nos alertando para ter cuidado com as câmeras fotográficas, bolsas e, principalmente, os aparelhos celulares. Mesmo sabendo que a situação lá é bem mais amena do que a que enfrentamos no Brasil, redobramos a atenção, para evitar contratempos. Mas em várias ocasiões, fomos abordados por pessoas gentis e dispostas a nos ajudar com toques ou informações. Chamou-nos a atenção o modo como o chileno é cuidadoso com os animais, como cães e gatos, principalmente os que vivem nas ruas. Há sempre tigelas de água e ração e abrigo para eles em muitos lugares.

             Ali perto está o Museo Chileno de Arte Precolombino, que conserva um acervo sensacional de objetos desenvolvidos pelos povos originários da América Latina, Caribe e região amazônica. Dentre eles, estão máscaras, cerâmicas, tecidos, estátuas e até múmias chinchorro, que são mais antigas que as similares do Egito. São peças que cobrem mais de 5.000 anos de história, garimpadas por Sérgio Larraín García-Moreno (1905-1999), seu criador. Na época da abertura, em 1981, o centro cultural abrigava 1.500 itens. Atualmente, ele tem mais de 3.000 unidades. Há, ainda, exposições temporárias. Para ter acesso ao museu, paga-se uma taxa de 5.000 pesos (cerca de 27 reais nos valores de abril de 2024). Mais informações pelo site https://museo.precolombino.cl/.

             Seguindo a visita a Santiago, ainda no primeiro dia da viagem, fomos parar no Centro Gabriela Mistral (GAM). A poeta, escritora e educadora chilena (1889-1957), ganhadora do Nobel de Literatura de 1945, é uma figura emblemática no país. Durante muitos anos, a sociedade mais conservadora a alijou do contexto cultural, por ser homossexual e defender bandeiras feministas. Mas, com o tempo, seu nome foi resgatado e, atualmente, recebe várias homenagens em pontos distintos da cidade, sendo este centro cultural a principal delas.

            O GAM é um espaço de 22.000 m2, com 05 salas de espetáculo, duas galerias de arte, um estúdio de gravação, duas salas de conferência, uma biblioteca, uma esplanada e quatro praças, repletas de esculturas e murais, além de café e restaurante. Vários desses locais têm acesso gratuito.

             Nos dias posteriores, tiramos duas manhãs para conhecer um pouco mais Santiago, sendo que num desses passeios foi um walking tour, com a presença de uma guia brasileira chamada Cintia, que mora na cidade há alguns anos. O passeio saiu do Palácio La Moneda, sede do governo chileno e local que testemunhou muitos eventos históricos, dentre eles o golpe militar de 1973, quando o general Augusto Pinochet (1915-2006) invadiu o palácio, causando a morte do então presidente Salvador Allende (1908-1973). Não se sabe até hoje se Allende foi morto (o que tudo indica que sim) ou se suicidou. Só sabemos que, desde então, foi implantada uma ditadura militar no Chile, que matou e torturou milhares de pessoas.

O massacre teve o apoio dos EUA, que havia se incomodado com as políticas socialistas implantadas por Allende, dentre elas a estatização de empresas norte-americanas, principalmente as que exploravam o cobre, principal produto de exportação do país. Com a tomada de poder pelos militares, foram implantados vários programas de cunho liberal, de acordo com a vontade do Tio Sam, como privatizações de empresas públicas e interferências no sistema previdenciário.

Os desdobramentos desse terrível período da vida chilena ainda permanecem em quase todos os locais que visitamos, apesar de o país ter retomado a democracia em 1990. Mesmo assim, quase 50% da população naquela época ainda apoiava o ditador, apesar de todas as mortes, desaparecimentos e outras ações nefastas. Pinochet se tornou um criminoso condenado pelos tribunais internacionais por causa dos inúmeros assassinatos cometidos.

Um filme que aborda a questão de maneira bastante clara é “Desaparecido: Um Grande Mistério (Missing)”, de 1982, dirigido por Costa-Gavras e estrelado por Jack Lemmon e Sissi Spacek. Vale a pena assisti-lo para tentar entender um pouco o que houve no país vizinho e que, de certa forma, com maior ou menor intensidade, o Brasil, a Argentina e o Uruguai também foram vivenciaram (Vejam o trailer em https://www.youtube.com/watch?v=lXrgu3MEbsI).

 

Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu.
Onde houver um erro para emendar, emenda-o tu.
Onde houver um esforço de que todos fogem, fá-lo tu.
Sê tu aquele que afasta as pedras do caminho.” 
(Gabriela Mistral)

 O city tour continuou pela Rua Bandera (centro financeiro da capital), onde está a Bolsa de Comércio de Santiago e a Rua New York. É a famosa rua com calçamento colorido, que, no momento, não está tão colorido assim, necessitando melhor conservação. Os edifícios são muito bonitos e valem a visita.

Muitos pontos do centro de Santiago aguardam restauração, após terem sofrido com os movimentos estudantis de 2018. Houve violentos confrontos entre os jovens e os policiais, causando muitos conflitos e mortes. O atual presidente chileno, Gabriel Borić Font, 38 anos, foi um dos líderes dessas manifestações. Não vou entrar em detalhes aqui, mas sugiro que procurem mais informações a respeito, para entender melhor a atual situação do país que, como o Brasil, está bastante dividido politicamente.

 Depois fomos conhecer o bairro Paris-Londres que, na verdade, são duas ruas formadas por residências outrora luxuosas, construídas em estilos como neoclássico, neocolonial e renascentista italiano. Atualmente, é um oásis no meio muitos edifícios e do trânsito tumultuado da metrópole chilena. O local abriga cafés, restaurantes, sedes de entidades e até mesmo um edifício que se tornou o memorial da ditadura. Nesse local, muitas pessoas (principalmente mulheres) foram torturadas e mortas. Há placas na fachada e no piso da rua com nomes de algumas dessas vítimas. O bairro carece de uma restauração, pois apesar do charme está um pouco abandonado.

Toda essa região foi criada a partir de uma área onde ficavam os antigos jardins do Convento São Francisco, que fica nas proximidades. Trata-se do mais antigo edifício ainda de pé na cidade de Santiago, construído originalmente em 1618. Como o Chile sofre com muitos terremotos, poucas construções antigas sobreviveram. Além da igreja, o local alberga um museu de arte.

Na região podemos conferir os prédios da Biblioteca Nacional, da PUC-Chile e o Cerro Santa Lucía, local onde fizemos outra parada. O monte, antigamente, abrigava um forte utilizado para a defesa de Santiago. Em 1871, um prefeito transformou a colina em um jardim suspenso, com fontes, estátuas, parques e jardins. Há uma interessante feira com artesanato indígena e mirantes, de onde se podem observar vários pontos do centro da cidade. Tivemos a oportunidade, numa outra ocasião, de caminhar pelo cerro e observá-lo mais detalhadamente, que não integra o roteiro do walking tour.

 Considerando que é uma cidade com mais de seis milhões de habitantes, Santiago conserva muitos parques e jardins aprazíveis. Observamos que as avenidas são amplas e têm passeios largos, facilitando o trânsito de pedestres e deixando a cidade mais humanizada. Para se ter uma ideia, as margens do rio Mapocho, que banha a capital, foi reurbanizada e transformada no Parque Bicentenário, onde convivem cisnes, flamingos, garças e peixes, com trilhas para caminhadas, lagos, restaurante e áreas para lazer de adultos e crianças. Outro local muito interessante é o Parque das Esculturas.

 Retomando a nossa peregrinação, finalizamos essa etapa no bairro Lastarria, um local agradabilíssimo próximo, inclusive, do GAM. O bairro é um point gastronômico, com excelentes restaurantes típicos e de gastronomia internacional. Estivemos lá em um sábado, quando havia uma feira com artesanatos e de outros produtos. As ruas são ocupadas pelos pedestres e expositores. Lá finalizamos o passeio no Empório de la Rosa (https://www.emporiolarosa.cl/que, segundo a nossa guia, é considerado uma das 25 melhores sorveterias do mundo. Como brinde, todos os participantes ganharam uma bola (bem caprichada) do premiado sorvete. Não me lembro mais do sabor que escolhi, mas ressalto que o país é famoso por suas frutas vermelhas (morango, framboesa, amora, etc.). Me recordo de ter provado uma dessas frutas misturada com gengibre que, de acordo com nossa anfitriã, era o preferido dos brasileiros. Wagner experimentou o de rosas, que dá o nome ao empório. Deliciosos!

 Logo ali perto, mas fora do passeio contratado, estava o Museu Nacional de Belas Artes de Santiago. Ele ocupa um palácio de 1910 em estilo neoclássico com detalhes em art-noveau. Na entrada, está a impactante escultura de bronze “Unidos na glória e na morte”, criada por Rebeca Matte em 1922. Lá dentro, o acervo não me impactou muito, embora tenha achado bastante interessante o modo como a curadoria do museu organizou as obras nas diversas salas. Aproveitei para fazer um ensaio fotográfico com rostos de diversas mulheres que foram abordadas nas pinturas, cada uma com sua época e estilo. Mas não guardei os nomes dos autores. A entrada é gratuita. Mais detalhes podem ser obtidos no site https://www.mnba.gob.cl/

 Finalizando a experiência em Santiago, fomos visitar o famoso Costanera Sky, atualmente o mais alto edifício da América do Sul, mas mais de 60 andares. Pagamos o ingresso de 18.000 pesos (cerca de 95 reais por pessoa) para ter acesso aos andares 61 e 62, de onde se tem uma vista privilegiada da cidade. Como fomos no final da tarde, pudemos apreciar um crepúsculo de deixar o queixo caído. Não sabia se olhava para o pôr-do-sol, de um lado da estrutura, ou o seu reflexo na Cordilheira dos Andes, do outro lado. Para coroar a experiência, havia o show de uma cantora local interpretando temas internacionais e uma degustação de vinhos.

Foi uma aventura marcante e, de certa forma, corajosa. Já pensou se acontece um terremoto, por menor que seja, e você está lá no alto? São 300 metros de altura! Claro que o prédio foi construído pensando nisso tudo, com dispositivos antissísmicos, mas que, com certeza, causaria um pânico geral, digno do cinema catástrofe. Felizmente, nada disso aconteceu e estou aqui para contar tudo isso como um momento especial da viagem. Recomendo a visita!

 Finalizo aqui a jornada por Santiago. Continuarei a viagem pelo Chile, abordando nas próximas postagem os passeios a uma vinícola, ao Valle Nevado, a Valparaíso e região.

Até breve!

Passeio de ônibus, teleférico e funicular
 


No funicular do Cerro San Cristóbal




Teleférico



Plaza de Armas e Catedral Metropolitana


Catedral Metropolitana





Pedro de Valdívia, fundador de Santiago


Museu Chileno de Arte Precolombino




Múmias chinchorro

Método de contabilidade dos povos originários






Centro Gabriela Mistral (GAM)


Wagner e o mural de Gabriela Mistral feito com pedaços de papel


Palacio La Moneda




Centro financeiro e Rua Bandera











Bairro Paris-Londres






Local onde havia torturas durante a ditadura militar chilena

Cerro Santa Lucía






Vistas da capital a partir do cerro







Parque das Esculturas, Rio Mapocho e Costanera Sky



Vista do alto do edifício Costanera Sky









Bairro Lastarria e prédios da área central

Arte de rua

Sorveteria

Área central de Santiago

Fachada do Museu Precolombino

Prédio central da PUC-Chile


Mural em homenagem a Gabriela Mistral

Igreja e Convento de São Francisco

Interior da igreja


Museu de Bellas Artes
























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