|
Na azulíssima Chefchaouen (foto de Wagner Cosse) |
Clique nas fotos para ampliá-las
Es salaam aleikum (Olá!).
Estamos chegando à quarta postagem a
respeito da viagem que empreendemos pelo Marrocos (Wagner Cosse e eu). Quem
está nos acompanhando, sabe que já estivemos em Oarzazate, passamos pelos vales
do Drá e das Rosas, fomos até Merzouga, andamos de dromedário e pernoitamos no
deserto do Sahara, rumamos para o norte até a gelada região de Ifrane e
conhecemos uma das mais antigas cidades do país, Fez.
Esta nova etapa reforça o sentimento
de pluralidade e diversidade natural que encontramos nesse país do norte da
África. Visitamos quatro cidades, que se localizam a curta distância uma da
outra, que nos dão uma nova dimensão do Marrocos: Chefchaouen, Volubilis, Moulay
Idriss e Méknes.
A paisagem já está mudando. Depois
do gelo e do rio, chegamos a uma região de planícies verdejantes, lagos,
abundância de água, florestas, extensas plantações, que tem uma temperatura
mais amena e é mais próxima do Mediterrâneo. É onde fica a cadeia montanhosa do
Rife. Ali, em no alto das colinas, está a deslumbrante (não é exagero) Chefchaouen,
a cidade azul e branca que, por alguns guias aportuguesados, é chamada de
Xexuão. Com menos de 50 mil habitantes, ela é uma das mais belas cidades de
Marrocos. Sua medina é pequena, fácil de transitar e não tem o movimento
exagerado de outras cidades maiores, como Fez ou Marrakech. Como nosso hotel
ficava em uma das entradas principais do centro velho. Por isso, o acesso à
parte histórica era bem tranquilo. Com menos de 30 minutos de caminhada já
estávamos na praça principal do lugar, a Uta el-Hamman, onde também ficam a
casbá e a grande mesquita. É o point do local, com muitos restaurantes e lojas.
Notamos que, ali, os preços
abaixaram. Era possível comer uma boa refeição por 30 ou 40 dh, ou seja, entre
3 e 4 euros. Os preços dos artesanatos também eram menores do que em Fez. Os
moradores foram muito simpáticos conosmo, como, aliás, são os marroquinos, sem
a insistência dos comerciantes das grandes cidades. São amáveis e prestativos,
bem humorados.
Mas o que nos levou a Chefchaouen
foram as inúmeras tonalidades de azul que colorem o casario. Até os táxis são azuis.
Mas nem sempre foi assim. A cor foi introduzida anos 1930, para dar um charme e
uma diferenciação à cidade que, até então, era uma antiga vila típica
marroquina, fundada na Idade Média. O resultado é arrebatador. Coisa que só a
imagem pode traduzir (confira nas fotos abaixo).
Outra característica da região é que
ela atrai muito o turismo hippie, por causa da facilidade de se conseguir
maconha. Ali pertinho, a cidade Tétouan é a maior produtora de cannabis do
mundo, correspondendo a 42% da produção global. Como não é a minha praia,
preferi curtir o “barato” que os azuis provocavam nas minhas lentes.
Chefchaouen tem, ainda, uma praça
criada por Miró, graças ao fato de ser um destino muito querido os espanhóis,
que investem muito dinheiro na cidade, inclusive para restaurar o patrimônio
histórico. A recém reformada mesquita espanhola, contruída pelos espanhóis, de
onde se tem uma belíssima vista da cidade, e que atualmente é uma espécie de
museu, foi reformada graças ao dinheiro da Espanha.
Ainda com os olhos vidrados pela
beleza de Chefchaouen, partimos para Volubilis, antiga cidade romana. São
apenas 166 km que separam as duas regiões, com perfis completamente diferentes.
Volubilis remonta ao século 3 a.C. Era um entreposto dos mercadores
cartaginenses e foi anexada a Roma em 40 d.C. Estima-se que, no auge, entre 200
e 300 d.C., viveram ali cerca de 20 mil pessoas. Como antigamente, vêem-se
inúmeras plantações de vinhedos e azeitona.
O que mais chama a atenção em
Volubilis, além das ruínas, são os mosaicos. São muitos e estão bem conservados,
com temas variados. As casas que os possuem são chamadas de Casa de Orfeu, Casa
do Acrobata, Casa do Efebo, Casa das Colunas, Casa de Vênus, Casa de Hércules,
e por aí vai. A via principal é a encantadora Decumanus Maximus que nos dá a
exata impressão do quanto a cidade era majestosa no passado.
Outro detalhe que nos chama a
atenção são os ninhos que as cegonhas fazem no alto das colunas. Aliás, desde
Portugal que temos visto muitos ninhos de cegonhas pelo caminho, seja nos
postes de alta tensão, nos muros das medinas, no alto dos minaretes das
mesquitas e, agora, nas colunas de Volubilis.
O inverno deve ser a época do ano em que nascem os bebês cegonha. Neste caso, eles
viraram uma atração turística à parte.
Bem perto de Volubilis fica a cidade
sagrada de Moulay Idriss, com seu casario pintado de branco. Neste local está o
mausoléu do homem que deu nome à cidade. Ele foi bisneto do profeta Maomé e
fundador da primeira dinastia real de Marrocos, a dinastia idríssida (788 a 791).
Mesmo com um currículo bastante violento, é considerado um santo em seu país. Anualmente,
milhares de pessoas rumam a esta pequena cidade para venerá-lo.
Depois de almoçarmos em Moulay
Idriss, no terraço de um restaurante repleto de orientais (acredito que eram
japoneses), deslocamo-nos para Méknes, uma das quatro cidades imperiais de
Marrocos, com mais de um milhão de habitantes. Para relembrar, as outras são
Fez, Marrakech e Rabat.
Ficamos apenas algumas horas em
Méknes, pois o nosso destino final era Rabat. Fomos direto para a medina, onde
fica a praça el-Hedim, um imponente mercado a céu aberto. A praça é
ladeada de muros e possui o mais belo portão do Marrocos, o Bab al-Mansour . Nela também está o
museu Dar Jamai, considerado um dos melhores do país, que visitei acompanhado
de um guia local. Trata-se de um antigo palácio, onde viveu o sultão Moulay
al-Hassan I. O espaço mostra os hábitos e costumes dos ricos marroquinos do
passado. O lugar mais impressionante é o harém, decorado com tapeçaria e
mobiliário de luxo.
Do lado de fora, a vida corria de
forma enlouquecedora. Milhares de pessoas estavam nas ruas fazendo suas
compras, mercando tecidos, sapatos, utensílios domésticos, roupas de cama, mesa
e banho, alimentos e especiarias. Conseguíamos andar somente em fila indiana, tamanho
o movimento. Nesse local, a vida pulsa de maneira intensa, em um colorido todo
especial.
Era hora de nos despedirmos da
Méknes, ainda marcados por tantas emoções. Anoitecia e logo chegaríamos à
capital do país. Mas isso é assunto para a próxima postagem.
Continuem comigo. Em breve, mais
novidades.