Mostrando postagens com marcador Descobrindo o Parque Nacional do Grande Sertão: Veredas - Parte 2. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Descobrindo o Parque Nacional do Grande Sertão: Veredas - Parte 2. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Descobrindo o Parque Nacional do Grande Sertão: Veredas - Parte 2

Com Wagner Cosse, no mirante da Serra das Araras (foto de Elson Barbosa)
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse

Clique nas fotos para ampliá-las


A serra ali corre torta. A serra faz ponta. (...) Hem? O senhor? Olhe: o rio Carinhanha é preto, o Paracatu moreno; meu, em belo, é o Urucuia - paz das águas... É vida!
(Guimarães Rosa)

            Estou na segunda e última parte da jornada pela região do Parque Nacional do Grande Sertão: Veredas (PNGSV), no noroeste de Minas Gerais. A viagem foi realizada entre os dias 27 e 29 de julho de 2018. Nesta postagem, vou relatar os dois últimos dias da viagem, conduzida pelo guia e condutor Elson Barbosa, e compartilhada com meu companheiro de aventuras Wagner Cosse.
            Por falar em aventura, é preciso – como disse na postagem anterior – ter um relativo preparo físico para esta empreitada. Os lugares pedem boas caminhadas e algumas subidas de morros, em trilhas nem sempre fáceis. Além disso, as estradas da região são quase todas de terra (ou de chão, como dizem os moradores), com muitas costeletas e, por vezes, camadas grossas de areia que enterram os pneus dos automóveis mais baixos. O ideal, como publiquei na postagem anterior, é ter um carro com tração nas quatro rodas ou, no mínimo, um veículo mais possante. Caso você não tenha, é possível alugar este tipo de veículo em Chapada Gaúcha, onde está a sede do parque.
            No segundo dia visitamos a região de Buracos e Buraquinhos, onde existe o Cânion ou Vão dos Buracos, um generoso corredor ecológico que liga o PNGSV ao Parque Estadual da Serra das Araras. Não atravessamos todo o cânion, mas caminhamos boa parte de seu trajeto, banhado pelos rios que dão nome ao local, por belos montes e um sem número de plantas, que caracterizam a flora do cerrado. Pudemos também banhar no rio Buraquinhos, que forma vários pocinhos azulados, com água bastante fria. Em suas margens, areias brancas que lembravam as praias nordestinas.
            Na região há um mirante onde se pode antever o roteiro. Na parte mais baixa do cânion, florescem os buritis que demarcam as veredas. Foi inevitável lembrar os belíssimos oásis que visitamos em Marrocos. A paisagem, aliás, lembrava muito aquele país africano em vários momentos. Até mesmo no confronto entre a secura do sertão o verde generoso de onde brotava água.
            No terceiro e último dia da viagem, Elson nos levou para Serra das Araras, um distrito de Chapada Gaúcha, a aproximadamente 40 km da sede. O lugarejo, que tem Santo Antônio como padroeiro, é a porta de entrada do parque estadual. Segundo Elson, a festa do santo é um acontecimento junino (13 de junho), que atrai visitantes de toda a região.
            O trajeto envolveu caminhada de aproximadamente 8 km pela Trilha do Peregrino. Boa parte dela, uma subida bastante íngreme. O final dava no cume de uma das montanhas mais altas, mas eu fiquei um pouco abaixo, perto da Gruta do Coração, estação de parada. Dali se tem uma vista deslumbrante da região, além de uma brisa constantes que ameniza o calor. Wagner e o nosso guia foram adiante até o topo.
            A proposta, a seguir, era almoçar em Serra das Araras. Mas, naquele domingo, não havia nenhum restaurante aberto no lugarejo. Assim, tivemos que nos contentar em nos alimentar em uma padaria local. Felizmente, como das vezes anteriores, havíamos levado lanche, que envolvia frutas, barrinhas de cereal e muita água.
            Por fim, rumamos para a Cachoeira das Araras, cerca de 10 km dali, de automóvel. A trilha atravessa uma estrada formada por areia branca. Tivemos que dirigir com bastante cuidado e, mesmo assim, quase atolamos o carro. Nessas condições, exigem-se decisões rápidas e boas escolhas do trajeto. Caso contrário, a solução é chamar o guincho.
            A Cachoeira das Araras é uma visão esplêndida. O riozinho vem caindo em várias pequenas quedas, que formam verdadeiras duchas de águas refrescantes. Elas desembocam no rio Catarina, que tem águas mornas. Tudo isso ladeado pelas tais areias. A flora é bastante rica, com muitas espécies interessantes. O espaço, felizmente, é considerado uma reserva de preservação ambiental.
            O dia já terminava e era hora de voltarmos para o hotel. Durante os três dias da viagem, conhecemos um pouco de Chapada Gaúcha, que está em franca expansão de seu agronegócio. Plantações de soja e capim para alimentar a indústria pecuária são as principais fontes de renda do município. Como diz o nome, ele foi formado por um agrupamento de gaúchos que saiu do Rio Grande do Sul, no início dos anos 1970, para buscar melhores condições de vida na região. Por isso, a pequena cidade (cerca de 13 mil habitantes) tem um Centro de Tradições Gaúchas e seus moradores conservam o hábito de tomar chimarrão mesmos nas altas temperaturas.
            O turismo ainda é incipiente. Em quase todas as trilhas, fizemos somente nós três: Wagner, o guia Elson e eu. Mas há muitos planos e sonhos, que podem incrementar o setor, inclusive o fato de existir um hotel do porte do que nós nos hospedamos, o Ares do Sertão, que traz conforto para os hóspedes e visitantes.
            A viagem terminou com mais um trecho do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, interpretado por Elson. Desta vez, ele narrou a morte da Diadorim, um dos momentos mais marcantes desta obra fenomenal.
            Na viagem de volta, que percorre – dentre outras – a Rodovia Guimarães Rosa, paisagens belíssimas que nos convidavam, a todo momento, a estacionar o carro e sacar a máquina fotográfica. Momentos inesquecíveis que guardaremos por toda vida.



Mire veja o que a gente é: mal dali a um átimo, eu selando meu cavalo e arrumando meus dobros, e já me muito entristecia. Diadorim me espreitava de longe, afetando a espécie de uma vagueza. No me despedir, tive precisão de dizer a ele, baixinho: — “Por teu pai vou, amigo, mano-oh-mano. Vingar Joca Ramiro...” A fraqueza minha, adulatória. Mas ele respondeu: — “Viagem boa, Riobaldo. E boa-sorte...” Despedir dá febre
(Guimarães Rosa)


Vão dos Buracos





Rio Buraquinhos















Guia Elson: condução e interpretação de textos de Guimarães Rosa

Wagner em uma das trihas do cânion






 Serra das Araras


Igreja de Santo Antônio


Trilha do Peregrino












Gruta do Coração

Wagner e Elson no alto da montanha

 Cachoeira da Arara Vermelha e Rio Catarina
















Elson dizendo textos de Guimarães Rosa

Estrada



Cueca virada, uma iguaria local

Com Artur (recepção) e Everton, proprietário do hotel Ares do Sertão

Rodovia Guimarães Rosa

Ipê branco à beira da rodovia





Viagem ao Peru - Parte VII - Vale Sagrado dos Incas

  Em Ollantaytambo (foto de Wagner Cosse) Clique nas fotos para ampliá-las                Para conhecer melhor o Peru, em especial o Vale Sa...