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Gustavo e sua moto em Salto (Colômbia) |
Fotos de Gustavo de Oliveira Marques
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O blog
Descobertas do Thelmo inaugura, com esta entrevista, uma série de papos com
viajantes apaixonados. Eles têm grandes histórias de viagens, algumas
verdadeiras aventuras.
Nosso
primeiro convidado é o administrador de empresas mineiro Gustavo de Oliveira Marques,
de 43 anos, que atualmente vive em Belo Horizonte. Motociclista ou motoviajante,
como ele gosta de se autodenominar, dono de uma Triumph modelo Tiger Explorer
1200cc (“foi o presente de 40 anos que eu me dei”), ele enfrentou recentemente
13.800 km por vários países da América Latina.
Descobertas do
Thelmo - Gustavo, esta é sua primeira experiência com uma viagem deste porte?
Gustavo - Não,
a terceira. A primeira foi em 2015/2016. Nesta viagem, percorri a rota que saiu
de Minas, passando por Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, São Paulo até
chegar no Peru, Chile, Argentina e Paraguai. A segunda viagem foi em 2016/2017.
Visitamos os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
descendo para o Uruguai, Argentina e o Chile. Foram duas experiências
diferentes. Na primeira, viajei com um amigo e uma moto de companhia; na
segunda, fui com filho Gustavo (na garupa) e com o amigo José Alcione.
DdoT - Este
ano, você fez um tour pela América Latina, que acompanhamos pelas redes sociais.
Quais foram os países e quantos quilômetros foram rodados? Foi sozinho ou
acompanhado?
Gustavo –
Nesta última viagem optei em ir só. Construí um projeto de viagem com uma
estimativa de tempo de 45 dias, alto grau dificuldade e um trajeto pouco comum
entre os motoviajantes. A meta era percorrer a Bolívia, Peru, Equador, Colômbia
e Venezuela, entre capitais, cidades principais e pontos turísticos. Foram
rodados 13.800 km até a cidade de Manaus (AM), de onde peguei um avião e
retornei a Belo Horizonte.
DdoT - Como
é a preparação para uma viagem deste porte?
Gustavo - A
preparação de uma viagem demanda um planejamento muito bem feito que necessita
de estudo. Começo pela definição do objetivo. No meu caso, foi conhecer a
Colômbia, seu povo, cultura, gastronomia, economia, segurança e mobilidade. Em
seguida, elenco as metas secundárias, ou seja, visitar todas as capitais e
principais cidades, interagindo com o povo, sua cultura e conhecendo a
gastronomia local. Em seguida, organizo um cronograma, para distribuir o tempo
disponível para viagem, que passa também pela relevância de cada ponto que eu
visito. Planejo, ainda, as melhores rotas para percorrer, o deslocamento médio
diário, os custos (combustível, hospedagem, alimentação, dentre outros). Reviso
também os equipamentos de segurança, organizando as roupas para o frio e para o
calor. Isso tudo deve caber numa bagagem pequena e prática. Faço, por fim, o
levantamento dos possíveis incidentes de viagem e preparo os equipamentos que
me deem segurança para enfrentar as situações de risco, tais como jogo de ferramentas,
galão de combustível e outras tranqueiras de motociclistas.
DeT - Quais
foram os maiores obstáculos?
Gustavo - O
primeiro desafio foi vencer os pessimistas de plantão que, no meu caso, foram
praticamente todas as pessoas, dentre eles os familiares, amigos e colegas.
Todos achavam que era perigoso viajar sozinho, principalmente percorrendo
países como a Colômbia e Venezuela. Enfrentei também todo tipo de intempéries,
como vários tipos de relevo e pisos das rodovias. O clima também variava muito,
com temperaturas que foram de zero a 42 graus. E isso foi extremamente
exaustivo de enfrentar. Por causa dessa variedade, a moto também vacilou.
Somente agora, quando retornei da viagem, consegui diagnosticar um problema com
a válvula termostática. Outro problema foi a permissão para entrar na
Venezuela. A aduana Venezuelana de Paraguajon (que faz divisa com Maicao, na
Colômbia) estava fechada para carros e motos há mais de três anos por motivos
políticos entre os dois países. Mas, felizmente, consegui superar este
obstáculo.
DdoT - Dos
lugares visitados, conte-me sobre as experiências mais inesquecíveis.
Gustavo - Cada
lugar tem sua relevância. Na Bolívia, por exemplo, conheci a capital La Paz,
Santa Cruz de la Sierra e a selva amazônica. No Peru, enfrentei o ponto mais
alto da rota, com 4.980 metros, em Desaguadeiro. Percorri também desertos e a rodovia
Panamericana, que margeava o Oceano Pacifico, num visual incrível. No Equador,
fiz a rota dos vulcões, que achei surpreendentes e maravilhosos, diferentes de todo
que já vi. Quito, a capital, é uma cidade movimentada, com seu povo
extremamente festivo e um grande potencial turístico. Encontrei uma Colômbia
pacificada, depois de tantos anos enfrentando problemas com o narcotráfico. As
rodovias, mesmo com os problemas
logísticos causados pelas cordilheiras (muitas subidas e descidas), são
tranquilas e seguras de trafegar. O povo colombiano é alegre e saudosista. A
capital Bogotá é gigante, linda, com manifestações culturais por toda a parte.
A noite é muito agitada, com pubs, restaurantes e uma grande quantidade de cervejas
artesanais deliciosas. Passei ainda por Medelín, onde encontrei pessoas do
mundo inteiro, e a fascinante cidade histórica de Cartagena das Índias. Fui até
a Ilha de San Andrés, onde conheci o Mar do Caribe. São lugares que ficarão
para sempre na minha memória. Por fim, a Venezuela, país devastado política e
socialmente, onde o povo vive abaixo da linha da miséria, com muitos passando
fome. Visitei cidades importantes como Maracaibo, Barquisimeto, El Tigre (maior
reserva de petróleo do pais), Ciudad Guayana. Fui à região de El Callao, El Eldorado
e Las Claritas, dominada pelo garimpo, onde nem a Guarda Nacional venezuelana
tem o controle sobre as ações de exploração. Atravessei La Gran Sabana com seus
montes, saltos e encantos que me deixaram extremamente emocionado, sem palavras.
Por fim, adentrei a região da selva entre Roraima e Amazonas, com suas
florestas, rios e cachoeiras que não me saem da memória.
DeT - Já tem
um novo projeto? Quando será?
Gustavo - Sim,
minha próxima meta é visitar as Guianas inglesa e francesa e o Suriname, me
deslocando pelos estados do Nordeste e do Norte do Brasil. Pretendo viajar em
julho de 2019.
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Na primeira viagem, visitando as Torres del Paine, no Chile |
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Com o filho Gustavo, na segunda viagem |
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Gustavo pai e Gustavo filho, em Perito Moreno, na Argentina
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Bolívia
Equador
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Rota dos Vulcões |
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Ao fundo o vulcão Cotopaxi |
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Quito |
Colômbia
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Bogotá |
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Bogotá |
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Cartagena |
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Medelin |
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San Andrés |
Venezuela e Brasil
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Na aduana entre Colômbia e Venezuela |
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La Gran Sabana |
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Monte Roraima |