Na igreja do Carmo, em Sabará, com os altares cobertos com os panos roxos da Quaresma |
Fotos de Thelmo Lins. Clique nas imagens para ampliá-las
Os
mineiros dão pouca atenção a Sabará e, numa corrente negativa, isso também
acontece com os turistas. Assim como Santa Luzia, outra cidade histórica, ela é
pouco visitada talvez por ficar tão perto de Belo Horizonte e sofrer com a
descaracterização das periferias da capital mineira.
Os anos
de desgoverno da cidade também colaboraram com seu atual estado. O casario se
desmancha, as ruelas centrais são invadidas por um volume incontrolável de
automóveis e falta um sensato planejamento urbano.
No
entanto, mesmo com todas essas agruras, a cidade ainda respira sua importância
histórica. Sabará foi o Eldorado brasileiro. Uma das mais ricas aglomerações
urbanas da América Latina, desde que os bandeirantes descobriram o ouro no
final do século 17.
A rua
Pedro II, a única que se manteve razoavelmente intacta, exibe as marcas desse
período áureo. Ali está o interessantíssimo teatrinho, antiga Casa de Ópera,
obra prima das artes cênicas do século 19, atualmente em restauração, dentre
outros prédios exuberantes.
Sempre
admirei Sabará por sua culinária (as deliciosas jabuticabas e o maravilhoso
ora-pro-nobis) e por suas igrejas barrocas. Nesta postagem, enfatizo três
templos católicos que exprimem todo o poder que a cidade exerceu durante o
período em que esteve em voga: Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Igreja do
Carmo e a Igreja do Ó. Três pérolas que valem a pena visitar.
A Matriz
de Nossa Senhora da Conceição é a que mais chama a atenção à primeira vista. A
impressão é de que não há um metro quadrado que não seja coberto de ouro,
retábulos retorcidos e pinturas. De acordo com o viajante Saint-Hilaire, que
esteve no local no século 19, “os dourados foram aí empregados em espantosa
profusão”. Os púlpitos de madeira são considerados os mais belos de Minas
Gerais. Sabe-se que a paróquia foi
instituída em 1701, mas as obras de construção devem ter acontecido entre 1710
e 1714, quando se deu a inauguração.
Tombada
pelo IPHAN (Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico), a matriz
passou por várias restaurações. Atualmente, um profissional executa obras em
uma porta lateral, que estava impregnada pelos cupins. A impressão geral é
ótima. O atual pároco da matriz, Padre Nivaldo, é um profundo conhecedor da
história de Sabará, sua terra natal. E isso tem ajudado a valorizar não só a
sua arquitetura, como também as tradições e costumes da cidade.
A Igreja
de Nossa Senhora do Monte do Carmo, de 1763, não tem o mesmo douramento da
matriz. Ela pertence ao último período do Barroco Mineiro, quando o excesso
decorativo foi substituído por linhas mais objetivas e maior quantidade de
paredes brancas. O estilo conhecido como Rococó.
O que
chama a atenção no templo são as obras do Aleijadinho, o maior artista
brasileiro do século 18. Seu entalhe está presente no frontispício da igreja,
no coro e nas balaustradas. As duas figuras que suportam o coro são as mais
impressionantes. Retratam dois homens musculosos, com traços que remetem aos
profetas de Congonhas (MG).
No piso
da igreja, podem ser vistos os locais onde antigamente eram sepultados os
nobres e ricos da cidade. O hábito caiu em desuso, devido ao mal cheiro e as
questões higiênicas. Por isso, em frente à igreja, há um cemitério onde a
partir de então foram depositados os restos mortais dos falecidos.
Quando estive na cidade, os altares da igreja estavam cobertos com o pano roxo do período da Quaresma.
Na
direção da fábrica da Arcelor (antiga Belgo Mineira) chega-se à Igreja de Nossa
Senhora do Ó. O curioso nome deve-se às ladainhas cantadas nas principais
festividades, sempre precedidas por um Oh! A sua repetição constante definiu o
nome da capela. A imagem que está no altar é de uma Maria grávida, à espera do
Menino Jesus.
A
igrejinha do Ó é encantadora. Parece um caixa de joias, esplendidamente
decorada. Sua construção se deu no início do século 18 e ela traz os traços da
primeira fase do Barroco Mineiro. Além da profusão dos dourados, o ambiente enegrecido
pela parca iluminação dão a ela um ar soturno. O que mais chama a atenção são
as pinturas que reproduzem imagens chinesas, conhecidas como chinesices (que
também podem ser observadas na Matriz de Nossa Senhora da Conceição). Ali, no
entanto, elas são mais nítidas. Isso se deve, segundo os especialistas, às
influências de Macau, colonizada pelos portugueses, na arte mineira.
Em todas
as três igrejas cobra-se uma taxa de visitação, valores bem simbólicos que
garantem a manutenção básica e limpeza. Os horários são fixos, com
funcionamento inclusive às segundas-feiras. Não é permitido fotografar as
igrejas. Para este blog, tive que pedir permissão à Arquidiocese de Belo
Horizonte, por meio de sua assessoria de imprensa.
Espero
que, com esta pequena contribuição, você se interesse em visitar a cidade e
ainda aproveitar para adquirir alguns de seus belos produtos artesanais, com as
palmas douradas, que são sua maior tradição. Há várias lojinhas na área
central.
Serviço:
Matriz de Nossa Senhora da
Conceição e Igrejinha do Ó: telefone (31) 3671-1724.
Igreja Nossa Senhora do Carmo: telefone
(31) 3671-2417
Assessoria de Comunicação e
Marketing da Arquidiocese de Belo Horizonte: telefone (31) 3269-3161; site: www.arquidiocesebh.org.br
Matriz de Nossa Senhora da Conceição
Chinesices |
Porta principal da matriz |
Igreja do Carmo
Frontispício da igreja atribuído a Aleijadinho |
Púlpito atribuído a Aleijadinho |
Atribuído a Aleijadinho |
Atribuído a Aleijadinho |
Atribuído a Aleijadinho |
Acima imagem ao lado da famosa palma de Sabará |
Igreja do Ó
Chinesices |
Chinesices |
Chinesices |
Chinesices |
Chinesices |
Outros edifícios históricos de Sabará
Ruínas da Igreja do Rosário |
Ruínas da Igreja do Rosário |
Cemitério |