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O guia Assefa, eu e os vestígios de Lucy, de 3,2 milhões de ano |
Instalado no delicioso
Jupiter International Hotel, em Addis Ababa (lê-se Adís Abeba), escrevo as
primeiras notas da viagem que eu e Wagner Cosse, meu companheiro de viagem,
empreendemos pela África, com o objetivo de visitar a Etiópia, o Quênia e a
Tanzânia.
Agora,
estou mais tranquilo. Porém, nos últimos 10 dias, incluindo a semana que
antecedeu à viagem, tropecei em resfriados, dores de garganta, dores de cabeça
e um cansaço fora do normal. Cheguei a achar que estava com dengue, epidemia
que consome os moradores da capital mineira, Belo Horizonte, onde vivo. Mas,
não. Era um pouco de estresse com efeitos das oito vacinas que tomamos para
poder viajar com segurança: contra febre amarela (obrigatória), meningite C,
hepatites A e B, febre tifóide, tríplice viral, tétano e gripe.
A
viagem foi dominada pela tosse. Misturando com o cansaço de se não conseguir
dormir direito, trocas de aviões, aeroportos, ar condicionado, peso das bagagens...
ou seja, fiquei mal. Saímos de Belo Horizonte às 11h30 do dia 07 de maio de
2013 e chegamos à Addis Ababa, capital da Etiópia, no dia 8 de maio, às 20h30.
No meio do caminho, paramos em São Paulo, Johanesburgo, Harare (capital do
Zimbábue) e Lusaka (capital do Zâmbia; nesta, sem sairmos da aeronave). Além dos
meus problemas de saúde, Harare nos reservou o momento de maior tensão da
viagem. Tínhamos menos de uma hora para sair de um avião e pegar o outro voo
para a Etiópia. Por isso, pedimos que os funcionários do aeroporto tentassem
agilizar a nossa passagem pela imigração, procedimento comum nessas situações.
Eis que uma mocinha muito educada, que trabalha no local, nos ofereceu para
fazer o serviço, mas pegou os nossos passaportes e... não aparecia nunca mais
com eles. Na verdade, foram uns 20 minutos de expectativa e um certo pavor até
que ela surgiu novamente, com tudo resolvido. Ficamos constrangidos pela
desconfiança, pedimos desculpas e nos despedimos aliviados.
Depois
de uma noite de sono (e um certo incômodo ainda pela tosse), amanhecemos na
capital da Etiópia. Tudo que se lê a respeito do país é terrível. Quando
comentamos com nossos amigos que vínhamos para cá, todos acharam uma loucura.
Viajar para um país para ver a pobreza? Pobreza e Etiópia viraram sinônimos.
Mas há outras tantas coisas que, por causa do preconceito e as imagens
distorcidas, acabam ficando em segundo e até terceiro plano. Acredito que é o
mesmo sentimento em relação ao Brasil. A imagem de sexo/futebol/carnaval ainda
é forte, apesar todo o nosso desenvolvimento
e as melhorias pelas quais o país passou nos últimos anos. A Etiópia também é
mercada por sua fome, pelos regimes ditatoriais, pela pobreza em que vive a
maioria de sua população.
Sob
o viés do turismo internacional, descobrimos uma Addis Ababa mais cosmopolita, embora
ainda sejam percebidas as desigualdades sociais e econômicas. Há uma série de
belos edifícios sendo construídos nas ruas principais, a cidade é banhada pelo
verde e seu povo, além de simpático, é muito colorido e bonito. São pessoas
esguias, elegantes.
Visitamos
dois museus – um que pertence à universidade (que carece de melhores cuidados)
e outro, o Arqueológico (mais bem administrado), onde está a ossada do que se
conhece como a mais antiga manifestação do ser humano na Terra, o esqueleto de
Lucy, com 3,2 milhões de anos. Foi encantador perceber a história deste povo,
que já teve seus grandes momentos de importância na história da humanidade.
Grandes impérios, uma diversidade cultural imensa, laboriosos trabalhos
artesanais, instrumentos musicais sofisticados, obras de arte de expressão (inclusive
de pintura e escultura moderna) constroem uma nova imagem deste país para nós.
Outra
experiência marcante foi a ida ao mercado, considerado o maior a céu aberto da
África. Lá, vimos quase tudo que se pode imaginar da pretensa fama da Etiópia.
Ruas sem nenhuma infraestrutura, produtos de todos os tipos, inclusive os
artigos chineses - presentes no mundo inteiro -, além de artesanato, animais,
especiarias e muita, muita gente. Como estávamos de certa forma blindados pelo
nosso guia, fomos menos importunados do que o normal. Mas a presença de uma
câmera fotográfica e de rostos com ares de turistas são a senha para um sem
número de pedintes e, como na Turquia, de um assédio incrível dos vendedores.
Tudo, sem esquecer, com uma boa dose de simpatia. É um povo alegre, apesar de
tudo.
Percorremos
as ruas principais, fomos a um mirante, almoçamos em um charmoso restaurante típico, conhecemos a catedral e até fomos
abençoados por um pastor da igreja ortodoxa. Chamou-nos a atenção o fato de que
há censura em vários locais para fotografia. O guia nos alertava o tempo todo
do que podia ou não podia ser registrado. Por exemplo, órgãos públicos,
embaixadas, palácios governamentais e até alguns cemitérios. As fotos que
tiramos de lugares assim, poucas, foram com autorizações.
Por
fim, o dia terminou num singelo café, pois a Etiópia, além de ser o berço da
humanidade, também é o local onde o precioso líquido surgiu. E, dizem, onde é
fabricado o melhor pó do mundo. Até mesmo o Wagner, que não costuma tomar café,
quis experimentar essa iguaria etíope.
Addis
Ababa revela-se aos poucos, com seus cheiros, seu povo caloroso, seu trânsito
caótico e suas matizes.
Agora, hora de
descansar, curtir um show de jazz no restaurante do nosso hotel (quer mais?) e revigorarmos
para a próxima etapa da viagem.
Algumas observações:
É muito pequena a literatura sobre a África disponível em português. Tivemos dificuldade para pesquisar e até mesmo para formatar o nosso pacote. Para isso, foram importantíssimas as leituras de "Pé na África", de Fabio Zanini, e "Luzes da África", de Haroldo Castro.
Poucas agências brasileiras fazem o roteiro da Etiópia. Conseguimos realizar a viagem, a partir da atuação de Rita Conde, da Net Travel Diamond Mall, que conseguiu realizar o serviço, por meio da empresa Highland.