quinta-feira, 9 de maio de 2013

Embarcando para a África

O guia Assefa, eu e os vestígios de Lucy, de 3,2 milhões de ano

         Instalado no delicioso Jupiter International Hotel, em Addis Ababa (lê-se Adís Abeba), escrevo as primeiras notas da viagem que eu e Wagner Cosse, meu companheiro de viagem, empreendemos pela África, com o objetivo de visitar a Etiópia, o Quênia e a Tanzânia.
            Agora, estou mais tranquilo. Porém, nos últimos 10 dias, incluindo a semana que antecedeu à viagem, tropecei em resfriados, dores de garganta, dores de cabeça e um cansaço fora do normal. Cheguei a achar que estava com dengue, epidemia que consome os moradores da capital mineira, Belo Horizonte, onde vivo. Mas, não. Era um pouco de estresse com efeitos das oito vacinas que tomamos para poder viajar com segurança: contra febre amarela (obrigatória), meningite C, hepatites A e B, febre tifóide, tríplice viral, tétano e gripe.
            A viagem foi dominada pela tosse. Misturando com o cansaço de se não conseguir dormir direito, trocas de aviões, aeroportos, ar condicionado, peso das bagagens... ou seja, fiquei mal. Saímos de Belo Horizonte às 11h30 do dia 07 de maio de 2013 e chegamos à Addis Ababa, capital da Etiópia, no dia 8 de maio, às 20h30. No meio do caminho, paramos em São Paulo, Johanesburgo, Harare (capital do Zimbábue) e Lusaka (capital do Zâmbia; nesta, sem sairmos da aeronave). Além dos meus problemas de saúde, Harare nos reservou o momento de maior tensão da viagem. Tínhamos menos de uma hora para sair de um avião e pegar o outro voo para a Etiópia. Por isso, pedimos que os funcionários do aeroporto tentassem agilizar a nossa passagem pela imigração, procedimento comum nessas situações. Eis que uma mocinha muito educada, que trabalha no local, nos ofereceu para fazer o serviço, mas pegou os nossos passaportes e... não aparecia nunca mais com eles. Na verdade, foram uns 20 minutos de expectativa e um certo pavor até que ela surgiu novamente, com tudo resolvido. Ficamos constrangidos pela desconfiança, pedimos desculpas e nos despedimos aliviados.
           
            Depois de uma noite de sono (e um certo incômodo ainda pela tosse), amanhecemos na capital da Etiópia. Tudo que se lê a respeito do país é terrível. Quando comentamos com nossos amigos que vínhamos para cá, todos acharam uma loucura. Viajar para um país para ver a pobreza? Pobreza e Etiópia viraram sinônimos. Mas há outras tantas coisas que, por causa do preconceito e as imagens distorcidas, acabam ficando em segundo e até terceiro plano. Acredito que é o mesmo sentimento em relação ao Brasil. A imagem de sexo/futebol/carnaval ainda é       forte, apesar todo o nosso desenvolvimento e as melhorias pelas quais o país passou nos últimos anos. A Etiópia também é mercada por sua fome, pelos regimes ditatoriais, pela pobreza em que vive a maioria de sua população.
            Sob o viés do turismo internacional, descobrimos uma Addis Ababa mais cosmopolita, embora ainda sejam percebidas as desigualdades sociais e econômicas. Há uma série de belos edifícios sendo construídos nas ruas principais, a cidade é banhada pelo verde e seu povo, além de simpático, é muito colorido e bonito. São pessoas esguias, elegantes.
            Visitamos dois museus – um que pertence à universidade (que carece de melhores cuidados) e outro, o Arqueológico (mais bem administrado), onde está a ossada do que se conhece como a mais antiga manifestação do ser humano na Terra, o esqueleto de Lucy, com 3,2 milhões de anos. Foi encantador perceber a história deste povo, que já teve seus grandes momentos de importância na história da humanidade. Grandes impérios, uma diversidade cultural imensa, laboriosos trabalhos artesanais, instrumentos musicais sofisticados, obras de arte de expressão (inclusive de pintura e escultura moderna) constroem uma nova imagem deste país para nós.
            Outra experiência marcante foi a ida ao mercado, considerado o maior a céu aberto da África. Lá, vimos quase tudo que se pode imaginar da pretensa fama da Etiópia. Ruas sem nenhuma infraestrutura, produtos de todos os tipos, inclusive os artigos chineses - presentes no mundo inteiro -, além de artesanato, animais, especiarias e muita, muita gente. Como estávamos de certa forma blindados pelo nosso guia, fomos menos importunados do que o normal. Mas a presença de uma câmera fotográfica e de rostos com ares de turistas são a senha para um sem número de pedintes e, como na Turquia, de um assédio incrível dos vendedores. Tudo, sem esquecer, com uma boa dose de simpatia. É um povo alegre, apesar de tudo.
            Percorremos as ruas principais, fomos a um mirante, almoçamos em um charmoso restaurante típico, conhecemos a catedral e até fomos abençoados por um pastor da igreja ortodoxa. Chamou-nos a atenção o fato de que há censura em vários locais para fotografia. O guia nos alertava o tempo todo do que podia ou não podia ser registrado. Por exemplo, órgãos públicos, embaixadas, palácios governamentais e até alguns cemitérios. As fotos que tiramos de lugares assim, poucas, foram com autorizações.
            Por fim, o dia terminou num singelo café, pois a Etiópia, além de ser o berço da humanidade, também é o local onde o precioso líquido surgiu. E, dizem, onde é fabricado o melhor pó do mundo. Até mesmo o Wagner, que não costuma tomar café, quis experimentar essa iguaria etíope.
            Addis Ababa revela-se aos poucos, com seus cheiros, seu povo caloroso, seu trânsito caótico e suas matizes.
Agora, hora de descansar, curtir um show de jazz no restaurante do nosso hotel (quer mais?) e revigorarmos para a próxima etapa da viagem.

Algumas observações: 
É muito pequena a literatura sobre a África disponível em português. Tivemos dificuldade para pesquisar e até mesmo para formatar o nosso pacote. Para isso, foram importantíssimas as leituras de "Pé na África", de Fabio Zanini, e "Luzes da África", de Haroldo Castro.
Poucas agências brasileiras fazem o roteiro da Etiópia. Conseguimos realizar a viagem, a partir da atuação de Rita Conde, da Net Travel Diamond Mall, que conseguiu realizar o serviço, por meio da empresa Highland.

No mais, muita pesquisa na internet.


Detalhe da catedral ortodoxa de Addis Ababa

Pastor da igreja ortodoxa que nos abençoou

Interior da catedral

Um dos vitrais da catedral, que contam as histórias da Bíblia

Detalhe da área central de Addis Ababa

Instrumentos musicais no museu da universidade

Detalhe de pintura do século XV

Ingera, prato típico da Etiópia

Wagner no museu da Lucy

Lucy e eu

Vestimenta bordada em ouro dos antigos reis etíopes

Jovem observa pintura no museu da Etiópia

Pintura de Gebre Kristos, pintor contemporâneo da Etiópia

Interior do museu: história da humanidade

Sandálias usadas pelos antigos etíopes

Detalhe de pintura do século XV

Estátua de antigo líder etíope

Eu na cafeteria de Addis Ababa, experimento "o melhor café do mundo"

O povo etíope e o mercado















Um comentário:

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