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Os castelos de Gondar |
É no interior de um país que o povo se revela nas formas originais de seus costumes e hábitos culturais. Pegamos a estrada para Gondar, em uma van, na companhia de nosso guia Asafa e do motorista. Era sábado, dia do mercado, a mais genuína manifestação social dos etíopes. Nas estradas, um trânsito intenso de pessoas, algumas em bandos, outras em grupos familiares, carregando toda a sorte de produtos, como animais, peles, mantimentos, frutas e outras mercadorias.
Parecia uma cena do Êxodo. Multidões às margens da rodovia, com suas vestimentas características, sendo que os homens portavam um cajado, que serve para pastorear os animais e, em outras ocasiões, para se defenderem dos perigos e dos adversários. Em alguns momentos, vêem-se homens e mulheres de vestes brancas participando de rituais que, de acordo com nosso guia, podem ser velórios. Apesar do motivo triste, a cena é de grande beleza estética.
Ao longo de toda a rodovia nos deparamos com flagrantes de rara emoção, como os das mulheres carregando seus bebês nas costas, sorrisos largos, cortes de cabelos exóticos, cânticos coletivos, manadas de carneiros e cabras, construções típicas das pequenas fazendas e muita cor e panos brancos. Caso não soubéssemos das extremas dificuldades porque passa este país julgaríamos que se trata de um dos mais altos índices de felicidade do mundo, considerando a quantidade de sorrisos por metro quadrado.
Talvez seja porque, também, a Etiópia vive uma fase de intenso desenvolvimento econômico, com índices de crescimento médios de 8% ao ano. Pode parecer pouco, considerando a situação de pobreza e de muitas barreiras para serem suplantadas, inclusive os serviços básicos de saúde, educação e saneamento básico, mas já é o suficiente para atrair os olhos vorazes dos empreiteiros chineses e brasileiros, que querem cortar este país de estradas asfaltadas e construir grandes hidrelétricas.
Chegamos a Gondar, atraídos pelos castelos tombados pela Unesco. Eles foram construídos entre 1600 e 1750, num período extremamente próspero do país. A fase áurea foi capitaneada pelo imperado Teodoro, homenageado em várias estátuas espalhadas pelas praças. A cidade foi a capital e o principal centro administrativo do país por centenas de anos.
A Etiópia é o único país da África que não passou por nenhuma colonização europeia. Por isso, talvez, tenha conservado tantas características originais, mas foi invadida em épocas diversas por vários povos, entre eles, os portugueses e os italianos. De Portugal, observamos algumas influências arquitetônicas nos prédios do sítio histórico de Gondar. A história com os italianos é mais recente, do período anterior à Segunda Guerra Mundial. Instalado nos castelos de Gondar, o exército italiano foi bombardeado e vencido pelos ingleses. O triste legado para os etíopes, que não tinham nada a ver com o conflito, foi a destruição de alguns desses elegantes edifícios. Felizmente restaram vários deles para atestar o passado glorioso do país.
Há tantos nomes na árvore genealógica dos soberanos de Gondar, que precisaríamos criar um índice onomástico para melhor identificação daqueles não tão ambientados com essa fase da história do mundo. Para se ter uma ideia, eles remontam à rainha de Sabá e vão até o líder Ras Tafari, no século 20.
A beleza do sítio histórico ganhou uma contribuição excepcional, pelo menos para nós, os visitantes. Por volta das quatro da tarde, o espaço foi literalmente invadido por quatro casamentos. Como disse anteriormente, era sábado. Os noivos, seus familiares, padrinhos e convidados rumam a este local para fazerem as fotos do álbum. E nada mais grandioso do que este cenário de contos de fada.
Junto aos grupos, vários músicos que tocavam a masenqa, um instrumento típico, que visualmente parece uma mistura de rabeca com percussão. O som da única corda, pressionada pelos dedos do músico e pelo arco, produz um som que mexe com os corpos dos etíopes, com ênfase nos ombros, que ganham movimentos arrebatados e extremamente sensuais. Eu até me arrisquei na masenqa, enquanto o Wagner tomava lições de dança com uma das convidadas dos casamentos. Mais tarde, o nosso hotel foi o palco de uma das recepções. E dá-lhe mais danças, só que comandadas por um DJ, que misturava música tradicional com sons eletrônicos. O noivo se revelou um expert no ritmo, dando um show à parte.
Claro que o Wagner também se rendeu, entrando no corpo de baile puxado por um grupo de convidados. Não se trata propriamente de uma dança e, sim, o iscesta (fala-se isquistá), um ritmo contagiante muito popular na Etiópia.
Dos castelos de Gondar, fomos visitar uma impressionante igreja ortodoxa. Internamente, como em Bahir Dar, o templo era coberto de pinturas maravilhosas. O destaque principal é o teto, único do mundo, com centenas de faces de anjos com olhos arregalados. Segundo a iconografia, representam a proteção dos céus para os homens que frequentam aquele local e são tementes a Deus.
Por fim, Gondar nos reservou mais uma atração, um charmoso castelo do século 18, construído sobre um poço que se transforma em uma enorme piscina. Atualmente desativada, por causa dos problemas de abastecimento enfrentados pelo país, a piscina recebe água em ocasiões especiais, como rituais religiosos. Uma vez preenchida, é disponibilizada à população local, que transforma a oportunidade em uma grande diversão. Eu apelidei o monumento de Castelo da Livinha, em homenagem à minha amiguinha de quatro anos, que vive em Belo Horizonte, e adora estórias de princesa.
É bom - e ao mesmo tempo reconfortante - lembrar que Gondar, além de uma importante cidade histórica, é um dos principais centros universitários da Etiópia, possuindo a maior a faculdade de medicina do país.
Até mais!
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Dia do mercado |
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Homens mercando |
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Dia do mercado |
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Mercado |
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Crianças etíopes |
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Véus brancos das mulheres etíopes |
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Wagner mostra fotografia para crianças etíopes |
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Criança etíope |
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Velório |
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Montanha na estrada para Gondar |
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Criança etíope |
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Mercado de Gondar |
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No castelo de Gondar |
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Sítio histórico de Gondar |
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Wagner e o guia Asafa, no salão de concertos do castelo de Gondar |
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Flor que brota das pedras do castelo |
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Pássaro |
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Outro detalhe do castelo |
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Wagner arrisca-se no incesta |
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Casamento no cenário de contos de fadas |
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Festa total dos convidados dos casamentos |
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Eu arrisco tirar um som da masenqa |
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O pastor da igreja ortodoxa, que celebrou os casamentos |
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Jovem etíope realiza fotos no castelo |
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Estilo da garota etíope, convidada para um dos casamentos |
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Foto para o álbum |
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Eu e o guia Asafa |
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O teto da igreja ortodoxa: anjos nos observando e abençoando |
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Na frente do templo |
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O castelo da Livinha |
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Outra do castelo da Livinha |
Adoramos os castelos da Livinha, ela deu pulinhos de alegria!!! Amamos vocês! Beijão cinquentão!!!
ResponderExcluirLivinha e Gô!
Oba, queridas. Continuem prestigiando o blog. Beijos!
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