Confesso que o impacto da
primeira impressão que tive da Etiópia me roubou o sono à noite. O que nos
esperaria (a mim e ao Wagner, meu companheiro de viagem), nos próximos dias?
Temos um roteiro a cumprir, mas sempre somos assaltados pelo inusitado, pela forte
ação do homem na natureza e pela profunda e milenar cultura desse país.
Tomamos um avião para Bahir
Dar, cidade banhada pelo lago Tana, uma região conhecida internacionalmente
pelo grande número de monastérios. A
companhia aérea Etiopian já é por si só uma agradável surpresa. Os voos saem
regularmente no horário, com uma precisão suíça.
A chegada a Bahir Dar foi
fantástica, pois as principais avenidas estão repletas de belíssimas palmeiras,
conferindo-lhe um aspecto imperial.
A cidade, aliás, conserva este
passado em algumas construções, principalmente as religiosas.
O outro impacto positivo foi o
hotel, o melhor da viagem até agora. Trata-se de um sofisticado spa localizado
às margens do lago Tana, com uma infraestrutura impressionante. É claro que aproveitamos
um pouco dos benefícios da pousada, com massagens relaxantes, mas isto foi mais
tarde. O primeiro programa em Bahir Dar foi um passeio de barco, fazendo a
travessia do lago. Como aconteceu das outras vezes, o serviço foi exclusivo
para mim e para o Wagner.
O barco aportou num singelo píer,
de onde prosseguimos por um caminho montanhoso, mas de fácil acesso. Ao longo
da trilha, nos encantamos com árvores frondosas e pequenas lojas de artigos
artesanais. O povo etíope, como comentei anteriormente, é de tamanha simpatia,
que logo tentamos travar uma difícil, embora saudável, comunicação. A língua oficial
é o incompreensível amárico, mas boa parte fala ou pelo menos arranha algumas
expressões em inglês.
A proposta era visitar um dos
mais famosos monastérios do país, o da Virgem Maria, administrado pela igreja
ortodoxa. São mais de 30 espalhados na região de Bahir Dar, que foi um
importante centro religioso no passado.
Por fora, o monastério é uma
construção circular sem grandes atrativos, o que poderia provocar uma decepção
à primeira vista. Mas é na parte interna que esse edifício do século 16 revela
toda a sua suntuosidade e justifica o título de patrimônio da humanidade,
conferido pela Unesco. Os antepassados legaram ao povo etíope uma obra de arte
ímpar, além de um templo religioso de proporções épicas. As imagens não só
retratam os principais personagens do cristianismo, mas também as cortes reais,
os costumes da época, os preceitos bíblicos, as guerras, conflitos e festas. Um
festival de cores e estampas extremamente minuciosas e sofisticadas, com um estilo
marcante.
Ao lado do templo encontra-se
outra construção de mesmo estilo, só que de menor tamanho, onde são observadas,
em uma vitrine, várias coroas cerimoniais de religiosos e reis, que por ali
passaram ao longo dos séculos. Apenas uma dessas preciosidades da joalheria
etíope já justificaria a existência de um museu no local.
Compramos alguns objetos
artesanais, mas os vendedores ainda oferecem café em grãos, sacos de incensos
perfumadíssimos e pequenos barquinhos feitos de papiro, que saiu daquela região
para o mundo. Neste contexto, vale ressaltar a alegria e a vibração dos
comerciantes. Ficamos emocionados com a beleza e a ternura de uma família de
mulheres (mãe e três filhas), que nos atenderam com cordialidade e gentileza.
O lago Tana, em Bahir Dar, é de
onde nasce o Nilo Azul, um dos afluentes do rio Nilo. Além do misticismo e do
peso histórico do caudaloso curso d´água, a sua visão é de grande beleza. As
suas margens e pontes são fiscalizadas pelo exército, que restringem até mesmo
as fotografias. Fomos registrá-lo em um mirante, de onde se vê boa parte a área
central de Bahir Dar.
Vale inserir aqui uma situação
vivida por nós no alto desse mirante, resultante - eu acredito - de uma certa
histeria que a gente adquire por viver no Brasil, onde ocorrem muitos assaltos,
principalmente em lugares ermos. Um grupo de jovens, com faixa etária ente 16 e 18 anos me
abordou. Logo, com meu preconceito, achei que se tratava de um assalto. Até que
um deles me pediu licença e anunciou que eles faziam parte de um time de futebol
que estava fazendo uma rifa para comprar uma bola oficial. Fiquei com vergonha
do meu sentimento, dei uma ajuda para a turma, que ainda quis participar de uma
fotografia quando souberam que nós éramos brasileiros, da terra de alguns de
seus principais ídolos.
A moeda etíope se chama birr.
Com um real, conseguimos comprar aproximadamente nove birr, o que tornam os
serviços e compras extremamente vantajosos para nós. Para se ter uma ideia, um
jantar completo com entrada e sobremesa sai por 130 birr. Com 2.000 birr, ou
seja, um pouco maia de 200 reais, faz-se uma festa numa lojinha de artesanato.
As gorjetas nos hotéis e restaurantes não passam de 20 birr. Um jovem engraxate
nos cobrou 10 birr para dar um trato em cada par de sapatos. Comprei um xarope
egípcio para minha tosse e um vidrinho de álcool (com uma estranha coloração
arroxeada) por 40 birr. Um CD sai por 100 birr.
Outra coisa que nos chamou a atenção
foram os aeroportos. São extremamente vigiados pelo exército e pela polícia. O
passaporte é apresentado, no mínimo, duas vezes. Passamos, também duas vezes
pelo scanner e raio-x de bagagens, tirando os sapatos, laptop, tablet, câmeras
fotográficas em todas as ocasiões. Numa das vezes quase confiscaram uma fita
crepe que carrego par vedar os frascos de xampu e outros líquidos. Segundo a
segurança, o adesivo deveria (e acabou sendo transferido) para a bolsa que vai ao
maleiro da aeronave.
Bem, após uma boa noite de sono
no spa de Bahir Dar, em camas totalmente à prova de pernilongos e outros
insetos, que felizmente não nos incomodaram, tomamos um café da manhã dos
deuses e rumamos de carro para Gondar, a 180 quilômetros.
Existe uma lenda de que a famosa ARCA DA ALIANÇA judia, estaria bem guardada numa das inumeras igrejas etiopes...
ResponderExcluirNa década de 60, os governo israelense reconheceu uma tribo etiope como sendo judia e promoveu a emigração em massa deles (aliah) para Israel... são os felashas... assim é comum vc ver soldados negros etiopes no exercito israelense...
abs
Ruy
Oi Ruy, existe um monumento em Aksum com a arca da aliança, que foi a razão fundadora da Etiópia. Infelizmente, não pudemos ir lá. Abraços
ExcluirThelmo, muito legal seu blog.
ExcluirEu queria ser organizado para escrever um blog para mim sobre as aventuras que já tive em diversos países.
Você poderia me passar seu email para tirar umas dúvidas sobre o timing pros diversos passeios da Etiópia? (aleborges@gmail.com)
Eu estou indo para o Sudeste Asiático com a Ethiopian Airlines e pretendo fazer um stopover na capital da Etiópia.
Tudo o que você puder me passar sobre planejamento e o que fazer ou o que é dispensável vale. Inclusive como se chegar em Aksum (AXUM), Lalibela, rIO oMO e as tribos, monastérios, etc
Quantos dias são o bastante para cada lugar...
Como você vê só perguntas!!! Acho que esse é o lado ruim de se ter um blog
Viajando em seus comentários e maravilhosas fotos, para variar. Gracias. bjs.
ResponderExcluirEsqueci-me de assinar.Mas acho que já sabiam quem era, né?bjs. Gracias novamente. Marina
ResponderExcluirMaravilha, querida. Grande beijo
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