Mostrando postagens com marcador Na Trilha do Cangaço ou da Resistência 10 – Canudos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Na Trilha do Cangaço ou da Resistência 10 – Canudos. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 25 de março de 2019

Na Trilha do Cangaço ou da Resistência 10 – Canudos

Canudos: testemunha de um genocídio (foto de Wagner Cosse)



Quem viaja longas distâncias de carro, como estamos fazendo nesta jornada, a paisagem é a eterna companheira. O automóvel, principalmente, permite que a gente aprecie as nuances da natureza e possa parar a todo momento em que sentimos a necessidade de um clique. Vimos belíssimas paisagens, em todos os recantos, mesmo em lugares onde o asfalto era precário ou nem havia calçamento.
            Dito isto, vamos ao tema desta postagem: Canudos, na Bahia. A cidade é legendária. A resistência dos seguidores do líder religioso Antônio Conselheiro (1830–1897), no final do século 19, ao Exército Brasileiro é antológica. E foi narrada em inúmeros livros, mais notadamente em “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, considerado um clássico da nossa literatura.
            A Canudos atual é feia, descuidada, com poucas opções de hospedagem e alimentação. O que a salva é a sua história. E ela mora nos corações dos conselheiristas, como se denominavam os seguidores do Conselheiro.
E é fora da área urbana que se encontra seu maior atrativo: o Parque Estadual de Canudos, palco da tragédia (ou genocídio, como prefiro) cometido contra aquele povo pobre e humilde. No parque é que Canudos se concretiza.
            Para nos ciceronear, tivemos a alegria de encontrar um guia que também é poeta: José Américo Amorim. Profundo conhecedor da história e autor de vários livros, ele também é capaz de citar outros autores que narraram o episódio de Canudos, que ampliaram a nossa compreensão sobre os fatos.
            A primeira Canudos foi completamente destruída pelo fogo, em 1897. Lá viviam 25.000 pessoas (mais do que a população atual, que gira em torno de 17 mil habitantes). No início do século 20, os antigos moradores começaram a retornar às suas terras e reconstruíram uma nova cidade. Nos anos 1940, em visita à cidade, o presidente Getúlio Vargas anunciou a construção de um açude e uma barragem. A partir de 1950, toda a “nova” Canudos foi inundada pela represa de Cocorobó. Em 1969, ela desapareceu completamente debaixo das águas. As ruínas da antiga igreja podem ser vistas quando há secas fortes e o nível da água baixa. A terceira Canudos é a que conhecemos nessa viagem. Segundo seus habitantes, depois do fogo e da água, a nova Canudos perece pela carência e pobreza.
            Nas colinas ou partes mais altas do parque estão os principais vestígios da guerra de 1896-1897. Lá encontram-se as trincheiras tanto do exército quanto dos conselheiristas, a área onde existiu a Fazenda Velha (ponto de apoio do exército) e o pavoroso Vale da Morte ou da Degola, onde os moradores da velha Canudos, a maioria idosos, mulheres e crianças morreram e tiveram suas cabeças cortadas pelos militares. Na área aonde os soldados organizaram o hospital, podem-se ainda observar vestígios de ossadas humanas.
            O parque também expõe imagens de vários fotógrafos, inclusive Pierre Verger, que contam um pouco da história do povo canudense. Dentre as imagens, há as clássicas fotos registradas na época do conflito narrado por Euclides da Cunha.
            Atualmente, o parque é um símbolo de resistência. Cada vez mais a guerra é reconhecida como uma chacina, pois foi uma luta entre dois adversários com forças diferenciadas. O exército, com suas armas de foto e canhões. O povo, com foices, enxadas e facões, objetos que usavam comumente na lavoura. Por incrível que pareça os conselheiristas conseguiram vencer três das quatro tentativas do exército de exterminar Canudos. Mas a derrota teve um gosto amargo e abriu uma dolorosa chaga na história do Brasil. Respingos dela podem ser notados nos dias atuais. Até mesmo na utilização de uma planta, muito encontrada na região de Canudos, e que agora dá nome aos conjuntos de casas construídos de forma desordenada nas grandes cidades brasileiras: favela.
            José Américo nos levou, ainda, à sede da Universidade da Bahia, onde conhecemos o belo jardim euclidiano, com a belíssima flora do sertão. O programa incluiu uma passagem pela Barragem de Cocorobó e uma subida ao mirante, onde está uma enorme estátua do Conselheiro.

Breve passagem por Jeremoabo

            Gostaria de ressaltar uma passagem pela cidade de Jeremoabo antes de chegar a Canudos. Ela também pertenceu ao circuito do Cangaço. Lampião e seu bando estiveram por lá várias vezes e foram acoitados por grandes fazendeiros da região. Jeremoabo conserva pequeno casario histórico, com destaque para a igreja matriz e a Casa de Cultura, onde há um pequeno museu histórico.
            A antiga casa do barão de Jeremoabo está em ruínas, completamente abandonada ao seu destino. Segundo um funcionário público local, há planos para restaurá-la. Esperemos que isso se concretize, para o bem da história do Brasil.

Próxima parada: Ilhéus

            Ficamos por aqui. Na próxima postagem, falaremos de Ilhéus, na Bahia, terra do cacau, onde visitaremos os lugares que marcaram a obra de Jorge Amado. Até breve!

Na estrada

 Parque Estadual de Canudos



Área da antiga Canudos que foi inundada pela represa




Local das antigas trincheiras


José Américo: poeta e guia



Ao lado de Wagner, no local do novo cruzeiro

Canudos no final do século 19, antes de ser destruída pelo Exército Brasileiro


Vale onde milhares de conselheiristas foram assassinados

Ossada encontrada na região 


Exposição de fotografias ao ar livre. Em primeiro plano, foto de Pierre Verger


José Américo aprecia a imagem de Pierre Verger

Fotografia da Guerra de Canudos, mostrando o hospital do Exército


Wagner próximo a um dos monumentos do parque

 Universidade da Bahia e Museu de Canudos


Foto do século 19

Utensílios encontrados em Canudos antes da construção da represa


Máscara de Antônio Conselheiro, feita para o filme estrelado por José Wilker

Mapa da primeira Canudos

Foto de Antonio Conselheiro morto

 Jardim Euclidiano



Planta favela, que deu nome aos aglomerados construídos nos morros do Rio de Janeiro










José Américo e estátua estilizada de Antônio Conselheiro

 Barragem de Cocorobó




 Mirante


Vista da Canudos atual, a terceira cidade desde o século 19

Wagner e eu, com a barragem ao fundo

Estátua do Conselheiro

Serra das Araras

 Jeremoabo

Praça da Matriz


Igreja Matriz

Casario da área central

Casa de Cultura e museu local

Detalhe da fachada

Objetos expostos no museu





Antigos moradores de Jeremoabo

Antigo Mercado, que foi destruído

A mais antiga casa da cidade

Capela e Casa do Barão de Jeremoabo, coiteiro de Lampião

Vista da cidade


Viagem ao Peru - Parte VII - Vale Sagrado dos Incas

  Em Ollantaytambo (foto de Wagner Cosse) Clique nas fotos para ampliá-las                Para conhecer melhor o Peru, em especial o Vale Sa...