No bosque das bandeiras, atração do Salar de Uyuni |
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Chegamos à última postagem referente ao tour Atacama-Uyuni, realizado em março de 2025. Nesta época do ano (de dezembro a abril) é – segundo os especialistas - o melhor período para visitar o Salar de Uyuni, porque as chuvas o transformam em um imenso lago, com profundidades aproximadas de cinco centímetros. De maio a novembro, época do inverno na Bolívia, além das baixíssimas temperaturas, o piso do salar fica ressecado.
Porém, antes de chegarmos ao Salar, ainda temos que enfrentar um bom trecho de estrada. Como finalizei na postagem anterior, estávamos em Villamar, um pequeno vilarejo boliviano, localizado no meio da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. A maior parte da população é formada por descendentes dos povos originários.
Cidade de pedra
Os próximos 60 quilômetros serão tomados por uma paisagem singular. Há milhares de anos, erupções vulcânicas espalharam imensas quantidades de lava na região, formando um grande corredor de formações rochosas, que criam imagens singuares. Fazem parte desse contexto, alguns dos mais visitados ícones do local, como a Copa Del Mundo (que simula uma taça de futebol), a rocha do camelo, além da chamada cidade de pedra.
São ambientes cheios de reentrâncias, picos e protuberâncias rochosas, que aguçam a criatividade dos visitantes e se tornam palco e molduras para fotografias. Os guias turísticos costumam chamar essa região de “Itália Perdida”, pois remeteria à Pompéia, cidade devastada pelo Vulcão, em 79 d.C. Como não conheço o sítio arqueológico italiano, não pude comparar. No entanto, considerei esta parada como um dos pontos mais interessantes da viagem.
Percorrendo um pouco mais a estrada, alcançamos o Grand Cânion Anaconda. Ele tem este nome porque lembra uma grande serpente. Vi fotos na internet que mostram a existência de um rio no fundo do cânion. No período em que estive lá, o curso d´água estava seco. O lugar tem sua beleza, embora não tenha me impactado tanto quanto ao Wagner, que ficou maravilhado com a paisagem. É necessário ter cuidado com a descida até o mirante, pois o chão de terra é extremamente escorregadio. Eu me descuidei e quase perdi a minha câmera, que caiu no chão junto comigo. Não me machuquei, mas câmera caiu, mas não foi danificada.
Mirando o horizonte no entorno do cânion, observamos uma imensa planície (ou seria planalto?), ladeado por montanhas com seus cumes nevados e extensas plantações de quinoa, uma semente muito apreciada na região dos Andes, por ser rica em proteínas, fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes. A sua floração parece um verdadeiro arco-íris, devido às diversas cores que ela adquire durante sua maturação.
Banheiro inca
Como esse trajeto, na Bolívia, não tem muita infraestrutura, volta-e-meia os motoristas param à beira da estrada para usarmos o “banheiro inca”, ou seja, fazer xixi na natureza. Para as mulheres essas paradas se tornam menos divertidas do que para os homens, mas é o que a viagem oferece. Fomos em alguns banheiros considerados melhores e vimos que a situação é crítica. Mesmo pagando para usá-los, muitas vezes estão com mau cheiro ou sujos. A maioria não tem descarga, o que torna a situação mais dramática. Há uma espécie de galão contendo água para que o usuário, com a ajuda de um caneco ou coisa parecida, limpe a sujeira que fez. É meio nojento.
San Cristóbal
Choveu muito nos dias em que estivemos na Bolívia, embora não tenhamos visto a chuva. Ela acontecia nas encostas das montanhas. Pelo aumento da umidade, tivemos que alterar o nosso trajeto. Ao invés de visitarmos o povoado de Julaca, previsto no roteiro, passamos por San Cristóbal ou San Cristóbal de Lípez, uma cidade histórica da Bolívia, fundada em 1584.
A igreja principal é muito diferente de tudo que já vi relativo a templos católicos. As paredes são de pedras, há duas torres que parecem fortalezas e o telhado é coberto por uma palha. Infelizmente, o templo estava fechado.
No entorno, havia uma feira de produtos diversos (roupas, artesanatos, utensílios domésticos, eletroeletrônicos), um mercado e algumas casas comerciais. Dentre elas, diversas cafeterias ou confeitarias, onde pudemos finalmente tomar um café de verdade, diante dos insistentes cafés solúveis oferecidos durante todo o percurso. Gostei também dos murais que adornavam os prédios próximos.
Uma coisa que me chamou a atenção desde o primeiro momento, não somente em San Cristóbal, mas também em outras localizadas, são pequenos enfeites colocados nas portas das casas e, por vezes, dependurados em varais, tal qual guirlandas e bandeirolas. Disseram-me que eram relativos ao Carnaval. Além de servirem como decoração, eles têm a função de pedir proteção e progresso para aquelas famílias. Uns enfeites são industrializados e outros (a maioria) feitos a mão, utilizando recortes de revista, punhados de mantimentos, imagens de dinheiro e outros.
Cemitério de trens
O dia está finalizando e notamos que, à medida em que nos aproximamos da cidade de Uyuni, há uma série de alagamentos. Parecem lagoas, mas foram feitas com a água da chuva. Os espelhos d´água já dão uma dimensão do Salar, que visitaremos no dia seguinte.
Uma última parada do dia no cemitério de trens, na entrada de Uyuni. De acordo com o nosso guia, as locomotivas e vagões (que estão enferrujando naquele local) foram usados no passado, quando o transporte ferroviário foi instalado na Bolívia. Com o tempo, muitas ferrovias foram desativadas e, nas que sobraram, o maquinário foi modernizado. A intenção era transformar tudo aquilo em um museu, mas o projeto foi adiado e, atualmente, existem somente as sucatas.
O confronto das velhas e enferrujadas máquinas com o pôr-do-sol e a lua cheia, que nascia do outro lado do horizonte, fez um belo contraste e gerou alguns registros fotográficos bastante inspirados (vejam no final deste texto).
Dormimos na cidade de Uyuni, em um hotel convencional. Estava previsto, originalmente, que iríamos dormir em um hotel de sal, ou seja, um prédio erigido com blocos feitos com o material extraído do salar. As chuvas atrapalharam os planos, pois as áreas inundadas não permitiram que os automóveis nos levassem até os prédios. Isso deixou em suspense se conseguiríamos ou não visitar o salar. Chuva de menos é ruim. Contudo, chuva de mais atrapalha.
Salar de Uyuni
Acordamos de madrugada, com o dia ainda escuro e rumamos para o salar, que fica a aproximadamente 27 km. A intenção era observar o nascer do sol. Todavia, a frustração veio pouco tempo depois, quando o dia clareou coberto de nuvens. Não havia sol.
O salar é muito bonito, mas ele é ainda mais bonito quando há um contraste entre o céu azul e o branco do piso de sal com a pequena camada de água que o deixa com uma aparência de lago. Sem sol, tudo ficou cinza. Havia pouco ou quase nenhum contraste. Além disso, o frio era intenso e o vento, cortante. Para descermos dos automóveis e caminharmos pelo salar, foi preciso alugar botas de borracha ou calçados impermeáveis.
De acordo com a Wikipedia, o Salar de Uyuni “é o maior e mais alto deserto de sal do mundo, com 10.582 quilômetros quadrados”. Está localizado a 3.656 metros acima do nível médio do mar, no sudoeste da Bolívia. Por curiosidade, “é o único ponto natural brilhante que pode ser visto do espaço” e serviu de guia para os astronautas da Apollo 11, quando estes pousaram na Lua em 1969.
“O salar foi formado como resultado de transformações entre diversos lagos pré-históricos. (...) A crosta serve como uma fonte de sal de cobre e de uma piscina de salmoura, que é extremamente rica em lítio”, conforme a enciclopédia digital. Ali estão de 50 a 70% das reservas mundiais deste precioso mineral, utilizado principalmente nas baterias de celular e de carros elétricos. Este fato preocupa os ambientalistas, uma vez que pode ameaçar o importante destino turístico.
Começamos o programa com um café da manhã em um antigo hotel de sal, hoje um museu que também funciona como base para os guias e motoristas. Não há mais hospedagem, porém é possível observar alguns quartos da época que ainda recebiam hóspedes. Confesso que não achei muito aconchegante. Por fim, uma loja com artesanatos típicos da região.
Fotos divertidas
Perto do museu, estão situados dois concorridos pontos de visitação: o bosque das bandeiras, criado com flâmulas de vários países do mundo e até de alguns Estados brasileiros; e o monumento Dakar Bolívia, construído em 2014 com blocos de sal. O famoso rali internacional passou pela Bolívia, pela primeira vez, em 2009, fazendo o circuito que incluía Argentina, Chile e Peru.
Houve ainda uma parada específica, mais no centro do imenso lago, para fazermos as tais “fotos divertidas”, em as pessoas simulam poses e situações que se aproveitam do horizonte quase infinito e das perspectivas induzidas pelo salar. Nosso grupo fez vários registros para guardarmos na memória.
Sentimos não termos podido ficar no salar até o final da tarde, quando finalmente o sol apareceu e pode proporcionar paisagens mais intensas e belas. Neste tipo de passeio, costurado por uma agência, temos sempre metas para serem cumpridas e era hora de nos despedirmos e fazermos o retorno para o Chile. Como já comentei, foi a primeira vez em anos que fizemos este tipo de viagem e a experiência não foi totalmente boa.
Nova espera na fronteira do Chile
Novamente, pernoitamos em Villamar. Durante a madrugada, ficamos sem energia elétrica. O breu foi minimizado pelas lanternas dos celulares e os faróis dos automóveis. Felizmente conseguimos tomar banho na noite anterior, quando ainda havia eletricidade.
Na fronteira, outro exercício de paciência. Desta vez, ficamos parados seis horas e meia (!!!), tudo porque um turista francês que vinha do Chile havia perdido o um importante documento. Desta feita, fomos obrigados a esperar ao ar livre, no frio, sem qualquer infraestrutura. Nem mesmo banheiros. Deve haver um modo de mudar esta situação, pois isso deixou todos bastante enervados.
Chegamos a São Pedro de Atacama já no final da tarde, quando tivemos tempo para nos alimentarmos e comprarmos algumas lembranças. No dia seguinte, bem cedo, iríamos para Calama para pegar o nosso voo de volta para o Brasil.
Balanço final
O balanço final inclui alegrias e frustrações. As paisagens valem todos o percurso (e os sacrifícios!), principalmente as bolivianas, que foram as minhas preferidas. Os lugares carecem de mais conforto e infraestrutura. Em todos os sentidos: alimentação, hospedagem, paradas para banheiros, burocracia nos postos de aduana, excesso de atividades impostas pela agência de turismo, cansaço.
O que fica, no final das contas, é a beleza dos lugares flagrada nas fotografias e as pessoas que a gente conhece no percurso, que tornam tudo mais divertido e leve.
Até a próxima!
FOTOS
Enfeites do Carnaval que fazem oferendas e pedem proteção |
Cidade das pedras
Com Wagner na Copa del Mundo |
Pedra do camelo |
Colorida plantação de quinoa |
Região do cânion de Anaconda |
Plantação de quinoa |
San Cristóbal
Igreja matriz |
Uma das torres da igreja |
Área inundada prenuncia a chegada do salar |
Cemitério dos trens
O contraste do final da tarde com o nascimento da lua |
Salar de Uyuni
Região inundada próxima de Uyuni |
Salar: horizonte infinito |
Monumento Dakar Bolívia, feito de blocos de sal |
Com Guto, Márcia, Wagner, Josi e Leo, companheiros de viagem |
Praça das bandeiras |
Série de fotos divertidas |
Posando no carro que nos transportou pela Bolívia |
Museu de sal, onde tomamos o café da manhã |
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Wagner e os companheiros de viagem brincam no salar |
Paisagem no retorno para o Chile |