segunda-feira, 22 de abril de 2019

Na Trilha do Cangaço ou da Resistência 12 – Linhares e Regência

Wagner e eu na foz do Rio Doce, em Regência (ES): desastre ambiental

Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
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No 26º dia de viagem chegamos ao Espírito Santo. Começamos a rota no dia 26 de dezembro de 2018, a partir de Belo Horizonte (MG). Já andamos quase 5.000 quilômetros (de um total de 5.650), por Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe. Estamos voltando para casa.
O ponto de repouso seria em Linhares, mas antes passamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse), na interessantíssima São Mateus, famosa pela praia de Guriri. A intenção não era conhecer a praia, mas o centro histórico, que fica às margens do rio que deu nome à cidade.
Chegamos ao local já à noite, por isso, a visão foi ainda mais espetacular, graças à iluminação. Há uma curiosidade em relação a esta parte de São Mateus. Sua preservação deu-se, segundo um monumento erigido na principal praça da área histórica, às prostitutas que trabalhavam e viviam no local. Elas garantiram, por meio de reinvindicações, que o casario não fosse destruído.
São Mateus fica a 215 km de Vitória, capital do Estado. E é um dos municípios mais antigos do Brasil, fundado em 1544. Por lá passaram, dentre outros, o padre Anchieta. Com cerca de 150 mil habitantes, é considerada a Capital Cultural do Espírito Santo.
Depois da breve parada em São Mateus, rumamos a Linhares, 108 quilômetros dali pela BR-101. O hotel, da rede Best Western, foi o mais confortável de nossa viagem.
Linhares fica às margens do Rio Doce, a principal razão para ficarmos na cidade. Depois do desastre de Mariana, quando a barragem da Vale/Samarco despejou milhões de toneladas de barro e metais no rio, seu curso de 600 quilômetros foi dado como morto. É a maior tragédia ambiental já ocorrida no mundo. Embora sua aparência esteja preservada, a lama ainda está acumulada no fundo de seu leito e, desde então, a maioria dos peixes morreu e milhares de pessoas ficaram sem trabalho e perspectivas.
Na cidade, vivem mais de 170 mil pessoas. Seus principais atrativos turísticos são as belas lagoas e a praça central, muito bem cuidada. A área praieira foi totalmente contaminada pelos detritos lançados no Rio Doce.
O distrito de Regência é onde está a foz do rio. Talvez seja uma das comunidades mais afetadas pelo desastre ambiental. Ponto de pescadores, o local também era visitado por muitos turistas. Atualmente, boa parte das pousadas fechou e os pescadores foram impedidos de pescar, por causa da alta toxidade da água. Moradores locais (a população não chega a mil habitantes) nos disseram que eles estão tentando mudar a economia, por meio da agricultura. No entanto, todas as vezes que o rio alaga as plantações, os detritos apodrecem a terra e não nasce nem mato.
Na localidade, conhecemos o museu, o píer e a unidade do projeto Tamar. Fomos ainda ao farol e à praia principal, onde talvez esteja a parte mais triste de todo o episódio. Toda a área está vazia, sem nenhum turista. Os três salva-vidas passam o dia inteiro sem trabalho, pois não o local não recebe visitantes desde o rompimento da barragem. E a água do mar tem a cor alaranjada. Os banhistas preferem ir a outras praias menos contaminadas ou às lagoas. O comércio praticamente fechou. Há poucos restaurantes funcionando. Ou seja, o mundo ruiu para aquela comunidade. O clima é de desolação.
Enquanto almoçávamos, vimos uma reportagem na TV local sobre um grupo de pescadores que fazia vigília na porta da empresa mineradora, querendo ser recebidos. As indenizações são falhas e muita gente perdeu tudo, sem reposição. Na matéria, embora as pessoas fizessem um piquete na porta da empresa, nenhum representante veio recepcioná-los, o que gerou muita revolta.
Visitamos Regência numa segunda-feira. Na sexta-feira, quando já estávamos de volta a Belo Horizonte, houve o rompimento da Barragem de Brumadinho (MG), que matou centenas de pessoas e arruinou a economia da região, além de poluir gravemente o Rio Paraopeba. Ou seja, nem mesmo a catástrofe do Rio Doce foi suficiente para que o Brasil reveja suas leis ambientais e puna com mais rigor as mineradoras que só visam o lucro e tratam o ser humano como os detritos que elas jogam nos rios.
Apesar da tristeza, conhecemos alguns fatos marcantes da história de Regência. A mais famosa é a do Caboclo Bernardo. Seu nome de batismo era Bernardo Brumatti José dos Santos. Negro, ele nasceu na Vila de Regência, em 1859, e morreu em Barra do Rio Doce, em 1914. Trabalhou toda sua vida como pescador. Em 1887, graças à sua destreza como nadador, salvou 128 marinheiros do Cruzador Imperial Marinheiro, da Marinha Imperial do Brasil, que naufragou na região. Por isso, foi condecorado pela princesa Isabel e tratado como herói nacional. Sua biografia pode ser encontrada com mais detalhes no Google.
Resolvemos voltar para BH margeando o Rio Doce. Passamos por Colatina e Baixo Gandu até atravessarmos a fronteira de Minas Gerais, quando chegamos ao próximo destino dessa viagem, Aimorés, cidade natal do fotógrafo Sebastião Salgado. Mas isso é assunto para a próxima postagem.

BR-101 e São Mateus




Praça de São Mateus

Casario do centro histórico

Região portuária do Rio São Mateus

Placa em homenagem às prostitutas

Chafariz

Casario

Iluminação noturna valoriza os prédios

O carro que nos leva nesta aventura pelo Brasil

 Linhares


Praça central






Rio Doce




Uma das lagoas preferidas dos moradores e visitantes de Linhares

 Regência

Praça central

Caboclo Bernardo, herói nacional nascido em Regência

Ruas abandonadas

Alerta de uma pousada

Comerciantes locais não foram indenizados pelas mineradoras

Projeto Tamar


Entrada principal

Jardim interno

Exposição de animais encontrados na região

Wagner e a jubarte

Aquário de peixes do Rio Doce


Pier do Rio Doce

Pier do Rio Doce

Desolação

Bancos abandonados no porto

Capela de Regência

Farol de Regência


Praia deserta
Mar tem tons barrentos

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