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Wagner e eu na foz do Rio Doce, em Regência (ES): desastre ambiental |
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
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No 26º dia de viagem
chegamos ao Espírito Santo. Começamos a rota no dia 26 de dezembro de 2018, a
partir de Belo Horizonte (MG). Já andamos quase 5.000 quilômetros (de um total
de 5.650), por Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe. Estamos voltando para
casa.
O ponto de repouso
seria em Linhares, mas antes passamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner
Cosse), na interessantíssima São Mateus, famosa pela praia de Guriri. A intenção
não era conhecer a praia, mas o centro histórico, que fica às margens do rio que
deu nome à cidade.
Chegamos ao local já
à noite, por isso, a visão foi ainda mais espetacular, graças à iluminação. Há
uma curiosidade em relação a esta parte de São Mateus. Sua preservação deu-se,
segundo um monumento erigido na principal praça da área histórica, às prostitutas
que trabalhavam e viviam no local. Elas garantiram, por meio de reinvindicações,
que o casario não fosse destruído.
São Mateus fica a 215
km de Vitória, capital do Estado. E é um dos municípios mais antigos do Brasil,
fundado em 1544. Por lá passaram, dentre outros, o padre Anchieta. Com cerca de
150 mil habitantes, é considerada a Capital Cultural do Espírito Santo.
Depois da breve parada
em São Mateus, rumamos a Linhares, 108 quilômetros dali pela BR-101. O hotel,
da rede Best Western, foi o mais confortável de nossa viagem.
Linhares fica às
margens do Rio Doce, a principal razão para ficarmos na cidade. Depois do
desastre de Mariana, quando a barragem da Vale/Samarco despejou milhões de
toneladas de barro e metais no rio, seu curso de 600 quilômetros foi dado como
morto. É a maior tragédia ambiental já ocorrida no mundo. Embora sua aparência
esteja preservada, a lama ainda está acumulada no fundo de seu leito e, desde
então, a maioria dos peixes morreu e milhares de pessoas ficaram sem trabalho e
perspectivas.
Na cidade, vivem mais
de 170 mil pessoas. Seus principais atrativos turísticos são as belas lagoas e
a praça central, muito bem cuidada. A área praieira foi totalmente contaminada
pelos detritos lançados no Rio Doce.
O distrito de
Regência é onde está a foz do rio. Talvez seja uma das comunidades mais
afetadas pelo desastre ambiental. Ponto de pescadores, o local também era
visitado por muitos turistas. Atualmente, boa parte das pousadas fechou e os
pescadores foram impedidos de pescar, por causa da alta toxidade da água.
Moradores locais (a população não chega a mil habitantes) nos disseram que eles
estão tentando mudar a economia, por meio da agricultura. No entanto, todas as
vezes que o rio alaga as plantações, os detritos apodrecem a terra e não nasce
nem mato.
Na localidade,
conhecemos o museu, o píer e a unidade do projeto Tamar. Fomos ainda ao farol e
à praia principal, onde talvez esteja a parte mais triste de todo o episódio.
Toda a área está vazia, sem nenhum turista. Os três salva-vidas passam o dia inteiro
sem trabalho, pois não o local não recebe visitantes desde o rompimento da
barragem. E a água do mar tem a cor alaranjada. Os banhistas preferem ir a
outras praias menos contaminadas ou às lagoas. O comércio praticamente fechou.
Há poucos restaurantes funcionando. Ou seja, o mundo ruiu para aquela
comunidade. O clima é de desolação.
Enquanto almoçávamos,
vimos uma reportagem na TV local sobre um grupo de pescadores que fazia vigília
na porta da empresa mineradora, querendo ser recebidos. As indenizações são
falhas e muita gente perdeu tudo, sem reposição. Na matéria, embora as pessoas
fizessem um piquete na porta da empresa, nenhum representante veio recepcioná-los,
o que gerou muita revolta.
Visitamos Regência numa
segunda-feira. Na sexta-feira, quando já estávamos de volta a Belo Horizonte,
houve o rompimento da Barragem de Brumadinho (MG), que matou centenas de pessoas
e arruinou a economia da região, além de poluir gravemente o Rio Paraopeba. Ou
seja, nem mesmo a catástrofe do Rio Doce foi suficiente para que o Brasil reveja
suas leis ambientais e puna com mais rigor as mineradoras que só visam o lucro e
tratam o ser humano como os detritos que elas jogam nos rios.
Apesar da tristeza,
conhecemos alguns fatos marcantes da história de Regência. A mais famosa é a do
Caboclo Bernardo. Seu nome de batismo era Bernardo Brumatti José dos Santos. Negro,
ele nasceu na Vila de Regência, em 1859, e morreu em Barra do Rio Doce, em 1914.
Trabalhou toda sua vida como pescador. Em 1887, graças à sua destreza como
nadador, salvou 128 marinheiros do Cruzador Imperial Marinheiro, da Marinha
Imperial do Brasil, que naufragou na região. Por isso, foi condecorado pela princesa
Isabel e tratado como herói nacional. Sua biografia pode ser encontrada com
mais detalhes no Google.
Resolvemos voltar
para BH margeando o Rio Doce. Passamos por Colatina e Baixo Gandu até atravessarmos
a fronteira de Minas Gerais, quando chegamos ao próximo destino dessa viagem, Aimorés,
cidade natal do fotógrafo Sebastião Salgado. Mas isso é assunto para a próxima
postagem.
BR-101 e São Mateus
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Praça de São Mateus |
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Casario do centro histórico |
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Região portuária do Rio São Mateus |
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Placa em homenagem às prostitutas |
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Chafariz |
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Casario |
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Iluminação noturna valoriza os prédios |
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O carro que nos leva nesta aventura pelo Brasil |
Linhares
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Praça central |
Rio Doce
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Uma das lagoas preferidas dos moradores e visitantes de Linhares |
Regência
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Praça central |
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Caboclo Bernardo, herói nacional nascido em Regência |
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Ruas abandonadas |
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Alerta de uma pousada |
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Comerciantes locais não foram indenizados pelas mineradoras |
Projeto Tamar
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Entrada principal |
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Jardim interno |
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Exposição de animais encontrados na região |
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Wagner e a jubarte |
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Aquário de peixes do Rio Doce |
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Pier do Rio Doce |
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Pier do Rio Doce |
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Desolação |
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Bancos abandonados no porto |
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Capela de Regência |
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Farol de Regência |
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Praia deserta
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Mar tem tons barrentos |
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