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Em frente ao Vesúvio, fazendo pose ao lado de Jorge Amado (foto de Wagner Cosse) |
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
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Hipoteticamente, Canudos
encerraria o nosso trajeto principal – Trilha do Cangaço ou da Resistência.
Mas, para retornarmos a Belo Horizonte, onde vivemos, tínhamos que optar por um
caminho. Vasculhando os mapas, resolvemos passar pelo litoral baiano. Então, decidimos
que a próxima parada seria Ilhéus, a 661 quilômetros de distância. Mal sabíamos
que nesse retorno ainda viveríamos muitas emoções!
Estávamos no 23º dia
de viagem, quando chegamos a Ilhéus, famosa cidade baiana, que integra o
Circuito do Cacau. A cidade, cantada em prosa e verso por Jorge Amado, mescla
uma interessante história com praias belíssimas.
Depois de conhecê-la,
revisitei o mais famoso livro sobre esse local: “Gabriela Cravo e Canela”, que
mostra como viviam os fazendeiros milionários, as prostitutas, os professores,
estudantes, enfim, a população no início do século 20, quando o município viveu
seu auge econômico.
Fixamo-nos (eu e meu
companheiro de viagem, Wagner Cosse) na área central da cidade, considerada seu
núcleo histórico. Ali estão os principais patrimônios tombados, como o próprio
hotel onde nos hospedamos. O Ilhéus Hotel, construído em 1930, é o primeiro edifício
feito em concreto armado da cidade. Nele está o primeiro elevador da região,
ainda em funcionamento. O hotel foi obra do barão do cacau Misael Tavares, um
dos homens mais ricos do Brasil naquela época. Seus descendentes ainda
administram o espaço, que não tem mais o luxo do passado, mas guarda uma certa
aura de nostalgia. No térreo, há um pequeno museu em sua homenagem. O
apartamento em que nos hospedamos, além de muito amplo, tinha uma vista
fenomenal. Embora não ofereça café da manhã, é possível encontrar boas opções de
desjejum nas proximidades.
Em torno do Hotel
Ilhéus estavam outros prédios icônicos, como o Bataclan, o cabaré, prostíbulo
de luxo e cassino administrado por Maria Machadão. Atualmente, o prédio de 1920
abriga um restaurante e casa de shows. É aberto a visitação, mediante o
pagamento de uma taxa. No segundo andar, há o suposto quarto de sua antiga proprietária
e fotos antigas da cidade. Perto dali está o Vesúvio, o bar de propriedade de
Nacib, o sírio que se apaixonou por Gabriela, a cozinheira de muitos talentos.
O Vesúvio ainda é um bar bastante concorrido, frequentado principalmente por
turistas. Em frente a ele, está a estátua de Jorge Amado, ponto obrigatório para
fotos. Claro que nós também fizemos este registro!
Do lado do Vesúvio
está a catedral de São Sebastião, de 1931, o mais imponente templo de Ilhéus.
Pouco adiante, encontram-se o Teatro Municipal (1931) e a Casa de Cultura Jorge
Amado (1920). Visitamos ambos os locais, sendo que nos detivemos um tempo maior
na antiga residência dos Amado, com a ajuda de um guia. Nela, encontramos uma
exposição sobre o escritor, além de alguns móveis da época em que ele viveu na
cidade. O prédio também tem uma arquitetura muito bonita. Há duas lojinhas, com
artigos de artesanato bastante interessantes. Numa delas, encontrei a simpática
Mírian de Oliveira. Nosso papo começou no balcão e continua, até hoje, nas
redes sociais. Além de funcionária da Casa de Cultura, Mírian é contadora de
histórias.
Prosseguindo na mesma
rua, que é exclusiva para pedestres, chegamos ao belíssimo Palácio Paranaguá (1907),
sede da prefeitura municipal. O edifício foi a residência particular do Coronel
Ademi de Sá e marcou o novo ciclo da Ilhéus, voltado para a suntuosidade e o luxo.
No segundo andar, há cômodos para visitação. Na praça do palácio, encontram-se
a Associação Comercial (prédio em estilo Art Déco) e algumas estátuas do início
do século passado.
Caminhando pela Avenida
Soares Lopes, que beira a Praia da Avenida, chegamos à Praça Ruy Barbosa, onde
estão as antigas residências de Misael Tavares (o mesmo que construiu o nosso
hotel) e a casa de Tonico Bastos, bastante singela, por sinal, e escondida por
trás de placas inadequadas à sua qualificação como patrimônio histórico. A
matriz de São Jorge se encontra nas redondezas. Ela foi construída em 1556 e é
um dos edifícios mais antigos de Ilhéus, só perdendo para a Capela de Santana,
de 1534.
A interessantíssima Biblioteca
Pública Municipal Adonias Filho ocupa o prédio de uma antiga escola, onde os homens
eram separados das mulheres na hora de estudar. Não consegui encontrar a data
de sua fundação. Quando estivemos lá, a biblioteca estava fechada. Não me lembro
se era por conta de um recesso ou outro motivo. Mas os seguranças nos permitiram
dar uma rápida olhada nos corredores centrais, com várias fotos históricas da
cidade.
Percorrer as ruas centrais pode trazer algumas surpresas bem agradáveis, como a existência de galerias de arte com acervo de obras de pintores baianos. Uma delas há exemplares de presépios de diversas partes do mundo.
Ilhéus oferece um litoral
fabuloso, com 90 (isto mesmo, noventa!) quilômetros de praias. Para se ter uma
ideia, é mais do que todo o litoral do Piauí. O nosso tempo lá não nos permitiu
conhecê-las, mas nos convidamos a retornar um dia para apreciar esta outra
parte do turismo que, aliás, é o preferido da maioria dos visitantes.
Resumo da novela ou
da minissérie... ou quem sabe do filme: bela cidade, com muito charme e atrações
encantadoras. Povo hospitaleiro e gentil, propenso a amizades e novos
conhecimentos. Tudo que a gente aprecia em uma viagem.
Hora de arrumar as
malas e pegar a estrada novamente. Resolvemos descer o litoral da Bahia até o
norte do Espírito Santo, rumo a Linhares. A intenção principal é conhecer
Redenção, onde está a foz do machucado Rio Doce.
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