quarta-feira, 10 de abril de 2019

Na Trilha do Cangaço ou da Resistência 11 – Ilhéus

Em frente ao Vesúvio, fazendo pose ao lado de Jorge Amado (foto de Wagner Cosse)

Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
Clique nas fotos para ampliá-las



Hipoteticamente, Canudos encerraria o nosso trajeto principal – Trilha do Cangaço ou da Resistência. Mas, para retornarmos a Belo Horizonte, onde vivemos, tínhamos que optar por um caminho. Vasculhando os mapas, resolvemos passar pelo litoral baiano. Então, decidimos que a próxima parada seria Ilhéus, a 661 quilômetros de distância. Mal sabíamos que nesse retorno ainda viveríamos muitas emoções!
Estávamos no 23º dia de viagem, quando chegamos a Ilhéus, famosa cidade baiana, que integra o Circuito do Cacau. A cidade, cantada em prosa e verso por Jorge Amado, mescla uma interessante história com praias belíssimas.
Depois de conhecê-la, revisitei o mais famoso livro sobre esse local: “Gabriela Cravo e Canela”, que mostra como viviam os fazendeiros milionários, as prostitutas, os professores, estudantes, enfim, a população no início do século 20, quando o município viveu seu auge econômico.
Fixamo-nos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse) na área central da cidade, considerada seu núcleo histórico. Ali estão os principais patrimônios tombados, como o próprio hotel onde nos hospedamos. O Ilhéus Hotel, construído em 1930, é o primeiro edifício feito em concreto armado da cidade. Nele está o primeiro elevador da região, ainda em funcionamento. O hotel foi obra do barão do cacau Misael Tavares, um dos homens mais ricos do Brasil naquela época. Seus descendentes ainda administram o espaço, que não tem mais o luxo do passado, mas guarda uma certa aura de nostalgia. No térreo, há um pequeno museu em sua homenagem. O apartamento em que nos hospedamos, além de muito amplo, tinha uma vista fenomenal. Embora não ofereça café da manhã, é possível encontrar boas opções de desjejum nas proximidades.
Em torno do Hotel Ilhéus estavam outros prédios icônicos, como o Bataclan, o cabaré, prostíbulo de luxo e cassino administrado por Maria Machadão. Atualmente, o prédio de 1920 abriga um restaurante e casa de shows. É aberto a visitação, mediante o pagamento de uma taxa. No segundo andar, há o suposto quarto de sua antiga proprietária e fotos antigas da cidade. Perto dali está o Vesúvio, o bar de propriedade de Nacib, o sírio que se apaixonou por Gabriela, a cozinheira de muitos talentos. O Vesúvio ainda é um bar bastante concorrido, frequentado principalmente por turistas. Em frente a ele, está a estátua de Jorge Amado, ponto obrigatório para fotos. Claro que nós também fizemos este registro!
Do lado do Vesúvio está a catedral de São Sebastião, de 1931, o mais imponente templo de Ilhéus. Pouco adiante, encontram-se o Teatro Municipal (1931) e a Casa de Cultura Jorge Amado (1920). Visitamos ambos os locais, sendo que nos detivemos um tempo maior na antiga residência dos Amado, com a ajuda de um guia. Nela, encontramos uma exposição sobre o escritor, além de alguns móveis da época em que ele viveu na cidade. O prédio também tem uma arquitetura muito bonita. Há duas lojinhas, com artigos de artesanato bastante interessantes. Numa delas, encontrei a simpática Mírian de Oliveira. Nosso papo começou no balcão e continua, até hoje, nas redes sociais. Além de funcionária da Casa de Cultura, Mírian é contadora de histórias.
Prosseguindo na mesma rua, que é exclusiva para pedestres, chegamos ao belíssimo Palácio Paranaguá (1907), sede da prefeitura municipal. O edifício foi a residência particular do Coronel Ademi de Sá e marcou o novo ciclo da Ilhéus, voltado para a suntuosidade e o luxo. No segundo andar, há cômodos para visitação. Na praça do palácio, encontram-se a Associação Comercial (prédio em estilo Art Déco) e algumas estátuas do início do século passado.
Caminhando pela Avenida Soares Lopes, que beira a Praia da Avenida, chegamos à Praça Ruy Barbosa, onde estão as antigas residências de Misael Tavares (o mesmo que construiu o nosso hotel) e a casa de Tonico Bastos, bastante singela, por sinal, e escondida por trás de placas inadequadas à sua qualificação como patrimônio histórico. A matriz de São Jorge se encontra nas redondezas. Ela foi construída em 1556 e é um dos edifícios mais antigos de Ilhéus, só perdendo para a Capela de Santana, de 1534.
A interessantíssima Biblioteca Pública Municipal Adonias Filho ocupa o prédio de uma antiga escola, onde os homens eram separados das mulheres na hora de estudar. Não consegui encontrar a data de sua fundação. Quando estivemos lá, a biblioteca estava fechada. Não me lembro se era por conta de um recesso ou outro motivo. Mas os seguranças nos permitiram dar uma rápida olhada nos corredores centrais, com várias fotos históricas da cidade.
Percorrer as ruas centrais pode trazer algumas surpresas bem agradáveis, como a existência de galerias de arte com acervo de obras de pintores baianos. Uma delas há exemplares de presépios de diversas partes do mundo. 
Ilhéus oferece um litoral fabuloso, com 90 (isto mesmo, noventa!) quilômetros de praias. Para se ter uma ideia, é mais do que todo o litoral do Piauí. O nosso tempo lá não nos permitiu conhecê-las, mas nos convidamos a retornar um dia para apreciar esta outra parte do turismo que, aliás, é o preferido da maioria dos visitantes.
Resumo da novela ou da minissérie... ou quem sabe do filme: bela cidade, com muito charme e atrações encantadoras. Povo hospitaleiro e gentil, propenso a amizades e novos conhecimentos. Tudo que a gente aprecia em uma viagem.
Hora de arrumar as malas e pegar a estrada novamente. Resolvemos descer o litoral da Bahia até o norte do Espírito Santo, rumo a Linhares. A intenção principal é conhecer Redenção, onde está a foz do machucado Rio Doce.
Até lá.

Hotel Ilhéus



Foto histórica da inauguração do hotel, em 1930

Vista da janela do hotel

Bataclan


Wagner na entrada do prédio

Antigo salão, que atualmente abriga um restaurante

Quarto de Maria Machadão

Imagens de Maria Machadão

Vesúvio


Igreja Matriz





Teatro Municipal


Mural instalado na entrada do teatro

Casa de Cultura Jorge Amado


Estátua de Jorge Amado em frente à casa

Detalhe dos azulejos


Exposição de peças do acervo pessoal do escritor


Wagner fotografa na sala de entrada da CCJA

Máquina de escrever que pertenceu a Jorge Amado

Exposição de sua trajetória


Objetos oferecidos nas lojas de artesanato



Rua de pedestres, vista da Casa de Cultura

Palácio Paranaguá




Estátua de Sapho


Detalhe da estátua de Sapho

Outro detalhe de Sapho

Igreja Matriz vista do Palácio Paranaguá

Salões do segundo andar do palácio


Árvore da praça da prefeitura

Associação Comercial



Vitral da Associação Comercial

Praça Ruy Barbosa


Pássaro na praça Ruy Barbosa

Palácio de Misael Tavares

Igreja de São Jorge

Casa de Tonico Bastos

Biblioteca

Antiga escola, atual Biblioteca, separava os alunos por gênero



Busto de Castro Alves

Fotos antigas de Ilhéus (em exibição na Biblioteca)







Detalhe de arquitetura local

Galerias de arte



Presépio português
Presépio mexicano

Wagner em uma das salas das galerias





A obra de arte e eu (foto de Wagner Cosse)


Fachada da Galeria Casa Baiana de Arte 

Galeria Goca Moreno

Praia Avenida









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