sábado, 14 de abril de 2012

Granada e o deslumbrante Alhambra

Noite em Granada, tendo o Alhambra iluminado ao fundo

Ao nos despedir de Sevilha, no Domingo de Páscoa, lembrei-me do Brasil e da estreia do programa Arte no Ar, da TV Horizonte, que apresento a partir de abril de 2012. Deixei nove programas gravados antes de viajar e não pude acompanhar a estreia, com a reação do público. Fiquei pensando e mandando energias positivas para que tudo ocorresse bem. Aprendi uma palavra há algum tempo e a repito diariamente como um mantra: Sho Ku Rei! Não sei bem a tradução, mas seu significado é como um pensamento positivo, um voto de felicidade e de esperança. Por isso, a palavra (ou expressão) aqui foi reproduzida para nos proporcionar sempre paz, saúde e harmonia!
            Já estou no avião para Barcelona, escala que faremos antes de embarcarmos para Istambul. Daqui relembro a chegada a Granada, cidade que fica a aproximadamente 350 quilômetros de Sevilha.
            Um amigo nosso nos diz que é possível identificar os serviços de um hotel pela qualidade de suas toalhas. Quando se viaja por um longo tempo, como estamos fazendo agora, hospedando-nos em vários locais, começamos a comparar os hotéis. Este tem um gelzinho para colocar na banheira, aquele oferece internet gratuita, o outro não inclui o café da manhã. Alguns são barulhentos, mas bem localizados. Outros, silenciosos, que distam dos principais pontos turísticos. No entanto, nada até agora se comparou com o hotel Vinnci Granada. Além de ser um confortável hotel quatro estrelas, bem localizado, da janela do apartamento é possível vislumbrar a mais bela vista que vimos na Espanha: a Serra Nevada, o centro histórico de Granada e o Alhambra. Numa disposição monetiana (referindo-se ao pintor impressionista Monet), fotografamos a paisagem em todas as horas do dia, observando cada minúcia na inserção da luz sobre a montanha e o casario. É impactante. O visual é incrível, extraordinário. Faz-se uma viagem somente na janela do hotel, percorrendo cada ponto da cidade ali ofertada, imaginando o que as pessoas estão fazendo, como construíram aquelas casas, como plantaram essa civilização.
            Ainda na noite do Domingo de Páscoa, fomos visitar o velho bairro de Albaicin, um antigo reduto árabe na cidade de Granada. Como vimos na Jogaria, em Córdoba, o local é um labirinto de ruazinhas, lojas, restaurantes, cafés e casas de chá (teterias). À noite, com uma bela luz amarelada, as calles ganham uma tonalidade dramática, sensual. Os aromas dos chás tomam conta do local, direcionando nossos pensamentos para o reino de Sherazade e de Aladin e sua lâmpada maravilhosa.
            Optamos por fazermos um lanche em uma teteria, escolhendo chás com nomes sugestivos como “Mil e Uma Noites” e “Embrujo de Granada”. Hum, que delícia! Para acompanhar, crepes que parecem obleias (conhecem?), recheados de queijo, tâmaras e passas. Os doces também evocam o mundo árabe.
            A noite avançou pelas ruas de Albaicin, até um mirante em que pudemos vislumbrar um belíssima vista da cidade e do complexo de Alhambra. Para nosso encantamento, a lua (ainda cheia) marcou sua presença, por detrás daquele castelo deslumbrante, colorido de uma palheta de diversos matizes.

            Alhambra

            O ritual de nossa curta estadia em Granada era o mesmo: ao chegar ao hotel, caminharmos diretamente para a janela, para saber como a paisagem se oferecia naquele momento. E, se possível, registrar cada pincelada da natureza. Afinal, como disse anteriormente, a inspiração de Monet ainda estava presente.
            Granada é um lugar para caminhar, por entre ruas que vão do século X ao século XXI. A arquitetura estampa todos esses períodos em menos de um quilômetro quadrado. A Gran Via de Colon lembra uma cidade do início do século XX, com prédios em art deco (um pouco parecida com a Gran Via de Madri). Mais ao lado, entra-se por uma ruela pitoresca, que nos dá acesso à catedral e ao bairro medieval. Em Albaicin, que visitamos na noite passada, influência dos povos mouros que conquistaram essa região há muitos anos. Observamos, nos anúncios, a oferta de apartamentos e salas comerciais em edifícios high tech, que parecem similares aos prédios de Dubai.
            Em um imenso calçadão – que aqui se chama Paseo – cruzamos com centenas de pessoas fazendo exercícios, patinando, correndo, andando de skate. O seus jardins são adornados por estátuas que homenageiam seus filhos mais ilustres, como o grande compositor Manuel de Falla e o poeta Garcia Lorca.
            A nossa meta, nesse dia, era chegar ao Alhambra, complexo de palácios e castelos que tiveram sua construção iniciada em 1237, pelo sultão Muhammad I, fundador da dinastia Nazari. Felizmente, havíamos comprado os nossos ingressos há mais de um mês, pela internet. É muito difícil comprá-los no dia da visita, sempre esgotados com antecedência. Há, inclusive, o horário fixado para visitar os palácio Nazaríes, joias mais reluzentes do conjunto.
            O local concentra inúmeros jardins, caminhos, ruínas, sítios arqueológicos com nomes exóticos como Alcazaba, Comares, Generalife, Partal, Bibrrambla, Cadi, entre outros. Em todos os pontos, avistamos aqueles ciprestes finos e altos, que colorem e dão um ar elegante às paisagens. Lilazes enfeitavam e espalhavam seu perfume pelos pátios, torres e escadarias. Belas árvores com flores cor-de-rosa completavam o cenário, provocando deslumbramento. Eram locais ótimos para uma rápida parada para descanso.
            Os palácios Nazaríes são uma maestria na arte decorativa. São impressionantes os arabescos, os detalhes impressos em cada parede, em gesso e mármore, rodeados de fontes e piscinas de água. De acordo com os muçulmanos, a água tem o significado de purificação. Eles se banham ou, pelo menos, lavam suas mãos e pés antes de entrar em uma mesquita. Por isso, no Alhambra, a água está em todos os lugares.
            Um dos pátios mais procurados pelos visitantes é o da fonte dos leões. Mesmo em restauração, com alguns tapumes característicos das obras de engenharia, nota-se a beleza do local. Um brasileiro, que vestia uma camisa do Botafogo, espantou-se: “esses leões agora ficaram novinhos em folha!” Eles têm mais de 600 anos!
            Depois de percorrer todas aquelas salas e recantos, avistar a paisagem de Granada aos pés do imponente complexo, sentir o perfume de suas flores e a beleza mágica da Serra Nevada sempre emoldurando o espaço, resta-nos aquele cansaço não de exaustão, mas de êxtase. Uma quase dormência!
            Durante os dias desse tour pela Espanha, Wagner finalizou a leitura de livro sobre a arte de viajar. Nele, o autor, o filósofo Alain de Botton, compilou frases e situações em que o impacto da visita a uma bela cidade provocam em um viajante. As marcas indeléveis proporcionam uma revisão da vida e até da nossa observação da natureza e da nossa realidade social. Comentou, inclusive, a necessidade que temos, ao flagrar esses instantes mágicos, de querer se apossar deles através de fotografias, suvenires e lembranças. Mas a retina nos alimenta de novas e mais instigantes aventuras, fruto da vontade humana de se superar e buscar o inatingível. Carregarei – ou carregaremos – conosco esse poço de lembranças. Um líquido purificador que percorre nossas veias e memórias ampliando nossa percepção, encorajando-nos a continuar a nossa luta e nos dando a impressão de que a vida está sempre ali nos esperando e nos convidando a experimentá-la.

Granada e a Serra Nevada no fim de tarde

O Alhambra à noite

Granada à noite
Albaicin à noite

Wagner e a teteria no Albaicin

A vista da Serra Nevada de manhã, da janela do hotel

Oferta de chás nas ruas de Granada

Rua comercial em Granada

Granada vista do Alhambra

Com o audioguia, conhecendo a história desse lugar maravilhoso

Wagner descansa debaixo de uma florida árvore dos jardins do Alhambra

Granada vista do Alhambra

Pátio interno do Alhambra

Decoração do Alhambra: clima oriental

Rebuscadas colunas do Alhambra

Cômodo do Alhambra parece uma gruta

Wagner observa dos detalhes do teto

Vista parcial da Catedral de Granada

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Córdoba e sua mesquita-catedral

Na ponte velha de Córdoba, sobre o rio Guadalquivir


Em pleno sábado de Aleluia, ainda hospedados em Sevilha, Wagner e eu tomamos um trem para conhecer Córdoba, a 150 quilômetros da cidade. O objetivo era visitar a catedral da cidade, que foi uma antiga mesquita durante o período em que os mouros administraram essa região da Península Ibérica, entre o século XI e XV.
            Da estação até o sítio histórico de Córdoba, chamado Judiaria, por causa dos judeus, faz-se em menos de 30 minutos a pé, passando por belas praças, passeios e bulevares. Bulevar! Aqui na Espanha estou conhecendo o que é um bulevar, ou seja, mais do que o nome de um shopping em Belo Horizonte ou um modo mais ecologicamente correto de chamar a ação de adaptar a região do ribeirão Arrudas para receber mais pistas de automóveis.
            A Judaria é charmosíssima. São becos e ruelas de casas branquinhas, cheias de lojas, ateliês, cafés e restaurantes. Dentro das casas, veem-se pátios floridos, com mesinhas e cadeiras, onde o sol é bem-vindo. Depois da chuva e do frio que alterou a temperatura de Sevilha, chegamos a uma Córdoba ensolarada, com o céu azul. A natureza resplandece e nos fortalece para enfrentar mais um dia de jornada. Digo isso, porque associada à emoção de ver e sentir tantas coisas belas, o corpo fica muito cansado, os pés e as costas doem de tanto andar, parar, observar...
            Suplantados os problemas físicos, chegamos ao nosso destino, a mesquita-catedral. É indescritível e, temo, ser difícil demonstrar o que vemos ali pelas fotos. É, sem dúvida, o templo mais bonito e impressionante que já vi em toda a minha vida. E olha que já passei pelas igrejas históricas de Ouro Preto, pela catedral de Praga e pela Notre Dame de Paris. Não há como dimensionar a fantástica mistura de duas culturas e religiões: árabes e europeus; muçulmanos e católicos. Construída como uma mesquita, lá pelos idos do século XI, o templo passou para a dominação dos reis católicos espanhóis que aproveitaram a influência oriental e inseriram os aspectos do cristianismo.
            Por isso, é possível ver imagens do Cristo crucificado e da Madona ao lado de inscrições árabes. As colunas e os arcos, típicos das mesquitas islâmicas, dividem o espaço com enormes altares dourados, imensos órgãos de tubos e rebuscados entalhes em madeira. A cada recanto, uma capela mais suntuosa do que a outra, ao lado de rebuscados arabescos das mil e uma noites. Pequenas vitrines com peças da arqueologia do templo antigo e peças utilizadas nas missas e cerimônias católicas.
            Mas Córdoba não é somente a Judaria e a mesquita-catedral. Há ainda, um extenso centro histórico, com várias teterias (casas de chá) onde se é possível degustar a bebida feita de várias especiarias, além de doces árabes e frutas secas, damascos, passas e dati (uma espécie de castanha). Os aromas das infusões dominam o ambiente decorado com motivos orientais e almofadas. É um momento de profundo deleite e relaxamento. Namastê!


Labirinto do bairro da Judaria

Judaria

A catedral-mesquita

Arquitetura árabe do interior da mesquita-catedral

Deslumbramento

Colunas impressionantes

A cúpula toda decorada com motivos islâmicos

Detalhe dos portais

Trecho do interior da catedral, depois que foi transformada em um templo católico

Altar do templo católico

Wagner observa o museu com antigas ruínas do templo

Arabescos das mil e uma noites

Outro portal

Uma das capelas laterais, dedicada a santos católicos

Teteria de Córdoba

Como é servido o chá

O bulevar de Córdoba


Semana Santa em Sevilha

Em frente ao "meu" palácio (de San Telmo), em Sevilha


Fiquei quase uma semana sem escrever, porque o cotidiano da viagem me atropelou. Em Sevilha, Córdoba e Granada, as três cidades espanholas que visitei, tive problemas com o acesso à internet. Daí a postagem estar atrasada.
            Hoje (quando escrevo) é dia 10 de abril de 2012. Estou no aeroporto de Granada esperando um voo para Barcelona, de onde partirei para Istambul, na Turquia. Tivemos um problema agora cedo, pois os bilhetes que compramos via o site www.decolar.com, de Granada para Barcelona, era da companhia área Spanair, que faliu em janeiro deste ano e nem nos avisou. Pagamos pelo trecho, mas não conseguimos embarcar. Tivemos que comprar outras passagens, para não perdermos o voo entre Barcelona e Istambul. Um incidente chato e caro, pois nos custou mais de 1.200 euros. Quando voltarmos ao Brasil, esperamos resgatar os valores pagos anteriormente. Seja o que Deus quiser, nessa batalha pelos direitos do consumidor!

            Mas, voltemos à viagem. Ao lado bom dela, é claro. E, agora, vou relatar um pouco do que vimos e sentimos em Sevilha.
            Chegamos à cidade – eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse – em plena festividade da Semana Santa, que aqui é coisa seriíssima. As várias irmandades ligadas às principais igrejas da cidade preparam-se para esse evento com pompa e circunstância. Em todas as instituições, são preparados altares esplendorosos, encimados por belíssimas imagens de Nossa Senhora, Senhor do Passos e outras figuras bíblicas, entre velas e flores. Os andores são obras-primas em ouro, prata e outros materiais requintados, deslumbrando todos os visitantes e tocando os seus corações para a fé católica.
            Aqueles homens de capuzes pontudos, que também vemos em algumas cidades brasileiras (em Goiás Velho, por exemplo), estão aqui em várias cores: roxo, azul, preto e branco, cinza. Crianças vestidas com hábitos, que lembram coroinhas ou os meninos cantores, também estão pelas ruas. As mulheres vestem seus hábitos negros, com véus e penetas nos cabelos, numa indumentária típica da região – e do que associados à Espanha também. Esse colorido invade a cidade, que prepara uma imensa infraestrutura de cadeiras e camarotes nos pontos especiais por onde as procissões transitam. Além disso, nota-se no ar o cheiro perfumado do incenso e as diversas sonoridades das corporações musicais, que trazem trajes diferenciados: uma hora são centuriões, noutra soldados fardados e, até mesmo, emplumados personagens.
            Os eventos acontecem durante todo o dia e, em alguns dias, avançam pela madrugada. As ruas ficam lotadas de pessoas de todas as idades, inclusive bebês, admirando as procissões. A arquidiocese distribui um panfleto com a programação completa. Acompanhar todas as procissões é abdicar do direito de dormir ou descansar. São muitas irmandades e, em alguns momentos, várias delas estão nas principais ruas e ruelas de Sevilha. Até as maneiras de desfilar, de carregar o andor, de marchar são bem definidas, formando pessoas específicas para cumprir as diversas missões que o cerimonial exige.
            Toda a tradição já seria de embasbacar qualquer visitante da cidade. Mas quando tudo isso acontece em meio às construções belíssimas de Sevilha, o ritual se torna uma apoteose. É tudo incrível. Wagner exclama, a cada momento, “que maravilha”, “que maravilha”,  “que maravilha”. Lembrei-me da minha querida amiga e professora de canto, Babaya, que diria “arrasou!”. Sevilha é um deslumbre. Cidade espanhola por excelência, que emana vibrações, cores, sonoridades, cheiros, tradição. Mistura a fé católica com as influências mouras, fazendo uma ponte incrível entre o ocidente e o oriente que forjaram o desenvolvimento da Andaluzia.
            Em determinado momento, entrei num dos templos católicos – e eles são incrivelmente decorados com gigantescos altares dourados – para fazer algumas fotos, quando estava acontecendo uma cerimônia religiosa. O coral entoada uma linda canção, enquanto os fiéis se enfileiravam para comungar. Aquelas velas acesas, os panos vermelhos, as vestimentas dos religiosos, os andores riquíssimos fizeram-me emocionar e, de joelhos, agradeci a Deus por me permitir viver essa experiência. Levarei para a minha vida todas as emoções provocadas por essa cidade tão especial, que está no coração de todos os espanhóis e de seus visitantes.
            Ah, só mais um comentário. Toda esta passagem por Sevilha foi coroada pela lua, que se encheu toda e se instalou no céu, para nosso encanto e admiração.


Detalhe de um andor

As imagens lacrimosas de Nossa Senhora estão presentes em todas as irmandades

Detalhe de um andor

Detalhe da imagem de Cristo

Crianças paramentadas para a festa

Outro andor: cada um é mais luxuoso que o outro

Capuchinhos desfilam na procissão

Capuchinhos rumam para a procissão

Procissão arrasta multidões de fieis e turistas


Loja de artigos para toureiros e outras vestimentas andaluzas

Mulheres vestidas à moda sevilhana

Uma das ruas principais da cidade

Veja o esquema preparado para a festa, com cadeiras e camarotes

A noite mostra a face iluminada dos prédios históricos

A lua marca presença por trás da Giralda

Detalhe de prédio paramentado para as cerimônias da Semana Santa

O passeio de carruagem, um charme a mais em Sevilha

A deslumbrante Plaza de Espanha

A velha torre coroa o belo passeio à veira do  rio  Guadalquivir

Paisagem noturna de Sevilha

A Giralda

O mítico rio Guadalquivir iluminado

Multidão diverte-se nas ruas e becos de Sevilha
Loja com artigos femininos bem típicos da região



Turnê Atacama/Uyuni Parte IV: Salar de Uyuni

  No bosque das bandeiras, atração do Salar de Uyuni Veja as fotos no final do texto Clique nas fotos para ampliá-las      Chegamos à última...