segunda-feira, 23 de abril de 2012

A maneira turca de abordar, o comércio e o palácio de Topkapi

No Harem do palácio Topkapi

Mais um dia em Istambul e aproveito para fazer uma referência ao estilo de abordagem dos turcos. No princípio, ao chegar à cidade, assustei-me com a sua insistência. Eles praticamente nos agarram, levam para suas lojas ou comércios e nos envolvem com conversas, chás e uma boa lábia, tentando nos convencer, claro, de adquirir algum produto. Desconfiado do jeito que sou, fico com o sinal de alerta ligado.
            Wagner, que viaja comigo, é totalmente diferente. É sorridente a cada abordagem, puxa assunto, deixa-se levar pela conversa e, muitas vezes, acaba caindo na teia. Obviamente, nem todos os momentos a abordagem é voltada para o comércio. Às vezes é somente o jeito turco de se aproximar. São pessoas simpáticas, que adoram conversar, independente da dificuldade imposta pelos idiomas. No aeroporto de Istambul, havia um senhor, funcionário da companhia aérea, que não falava. Acho que era mudo, mesmo. Mas sua simpatia e atenção nos chamou a atenção. Por incrível que pareça, sem dizer uma palavra, foi uma das pessoas mais comunicativas que encontrei nessa viagem.
            Em determinados momentos, a abordagem chega a ser sufocante. Quando se está numa rua de restaurantes, eles quase nos obrigam a entrar e sentar nas mesas. Às vezes é preciso fingir que não está entendendo nada para prosseguir o caminho. Chega a ser cômica a situação. Ou mesmo insuportável.
            Feito esse preâmbulo, volto à Istambul, para falar do palácio Topkapi. Adoro visitar museus. São a parte predileta das minhas viagens, paralelamente aos dias em que tiro para não fazer absolutamente nada além de andar a esmo pelas ruas, quase sem destino determinado. Wagner e eu temos modos diferentes de observar os museus e, por isso, quase sempre preferimos fazer visitas em dias diferentes, para não haver nenhum conflito (um esperando pelo outro muito tempo, entre outras coisas). E, para quem gosta de um bom museu e quer sentir o clima de Istambul, nada mais impressionante do que o Topkapi. Ele fica na mesma região da basílica Santa Sofia e da mesquita Azul, ou seja, a menos de um quilômetro do hotel onde nos hospedamos. A barreira, como em quase todos os locais em Istambul (ou em cidades turísticas dessa magnitude) são as extensas filas. E veja que estamos em baixa estação, pois aqui é o início da primavera. Mas são milhares de turistas, a ponto de o museu ter que cercear o número de visitantes, para não haver um excesso de pessoas circulando o espaço no mesmo momento. Fiquei imaginando como dever ser isso na alta estação!
            O palácio do Topkapi é construção e jardins. E paisagem. E todos com um visual de tirar o fôlego. Nos ambientes externos, as flores e árvores bem cuidados criam verdadeiras molduras para a nossa travessia para o passado. Nos pavilhões, todos aqueles arabescos árabes, com detalhes minuciosos e deslumbrantes, coroados por entalhes e mais entalhes dourados. Veem-se, em todos os ambientes mais requintados, os maravilhosos azulejos Isnik, que conduziram a azulejaria mundial  uma forma de arte. São tantos e em tamanha gama de cores e estampas, que se gastam horas para admirar cada padronagem.
            Fiquei muito impressionado com as joias e as armas dos sultões. As que ainda sobreviveram, mesmo com milhares de anos e muitas guerras e pilhagens, são verdadeiras obras primas. As joias trazem grande quantidade de ouro, diamantes e pedras preciosas. E elas estão em braceletes, capacetes, cetros e até alfinetes que os sultões usavam em seus turbantes. E eu já havia lido que os turbantes são tão variados quanto os graus de nobreza da corte. O seu estilo e formato denotavam a importância da pessoa na sociedade de então e até seu túmulo era coroado por esses enfeites, esculpidos em mármore. Aqui também está exposta a famosa adaga Topkapi, que inspirou um filme nos anos 60 com Melina Mercouri, Maximilian Schell e Peter Ustinov.

            Outro ponto de grande atração é o Harem. Para minha surpresa, é o local mais sofisticado do palácio, onde ficavam as mulheres à disposição dos sultões, retiradas da liberdade para se dedicarem totalmente a dar filhos para a manutenção da casa real. No Harem, como na corte, havia as diversas formas de poder. Desde a mãe do sultão, que era a mulher mais poderosa do palácio, passando pelos eunucos (geralmente homens negros africanos, que cuidavam para que nenhum homem adentrasse naquela região exclusivamente feminina) às odaliscas e concubinas. A disputa das mulheres para serem a preferida do sultão envolvia assassinatos e outras inúmeras estratégias e tramoias, que tornam esse deslumbrante local um triste ponto na história da humanidade. Muitas vezes a mais bela e preparada saia vencedora do embate, recebendo, em troca, o casamento com o sultão e a inclusão de seu filho na linha hierárquica do palácio.
            Mesmo na nossa sociedade moderna, e numa Turquia que está vivendo um grande crescimento econômico e social, é ainda estranho para os nossos olhos ocidentais ver as mulheres cobertas dos pés a cabeça por negras burcas. Elas são a minoria, é certo, mas quase todas as mulheres turcas usam lenços na cabeça e roupas que lhe cobrem quase todo o corpo. Essas vestimentas às vezes contrastam com figurinos sofisticados, óculos de marcas internacionais e saltos altos. E, mais ainda, com as visitantes ocidentais que por vezes estão vestidas apenas com minúsculos shorts e de chinelos de dedo. “Mundo mundo, vasto mundo”, com disse Drummond.

Grande Bazar

            O dia ainda teve espaço para uma visita ao Grande Bazar e ao Bazar de Especiarias, locais simplesmente fantásticos de Istambul. Nós que admiramos o nosso Mercado Municipal de Belo Horizonte, nem sonhamos com o tamanho desses locais na Turquia. São mais de quatro mil lojas, com todo tipo de mercadoria. Lojas de roupas, joias, artesanato, doces, cafés e restaurantes. É um labirinto que se estende pelas ruas paralelas, com milhares de visitantes. Os bazares são um estímulo ao olhar e, principalmente, ao olfato e ao paladar. Poderíamos ficar horas ali somente passeando pelos imensos corredores e degustando aquela culinárias maravilhosa. Realmente, nesses locais é que a cidade se mostra mais inteira e abrangente. E perfumada!

Entrada do palácio: multidão de turistas

Torre principal do palácio

Detalhe na decoração da varanda

Uma das alas internas do Topkapi

Azulejos de Isnik

Detalhe da forração da parede e do teto

Pátio interno do palácio

Detalhe interno de uma das alas do palácio

Visual de uma das partes do Harem

Istambul vista do Topkapi: minaretes

Mais detalhes da decoração

Um dos corredores do extenso Grande Bazar

Milhares de pessoas, lojas e sensações

Grande Bazar

Loja de luminárias

Café no Grande Bazar

Loja de roupas

Botas típicas da Turquia


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Navegando no Bósforo

A paisagem do Chifre de Ouro e o teleférico

           Como disse na postagem anterior, estou em Istambul, a mais importante e maior cidade turca. E, com certeza, uma das mais belas cidades do mundo. Os minaretes no horizonte reforçam a impressão de que aqui é a capital do oriente, a cidade onde iniciamos a viagem para dentro das páginas das mil e uma noites, com todos os requintes arquitetônicos, estéticos e sociais.
            Como um visitante que se preza, quero conhecer as águas da cidade, que a tornaram famosa e epicentro de dois mundos, a ponte entre o ocidente e o oriente. Para isso, Wagner Cosse (meu companheiro de viagem) e eu resolvemos fazer um passeio pelo Bósforo, este importante estreito que se tornou um canal universal de navegação. O Bósforo liga o Mar Mediterrâneo e o Mar de Mármara ao Mar Negro e, desde a antiguidade, fez de Istambul, na época Bizâncio e, outrora, Constantinopla, um disputado entreposto.
            O dia está lindo. Céu azul, quase nenhuma nuvem. O brilho do sol e o reflexo das águas somam-se aos maravilhosos edifícios que circundam as margens do estreito. São palácios, castelos, pontes e muralhas que formam uma trilha de mais de 2.600 anos de história. Chamou-nos uma especial atenção as velhas yalis, verdadeiras mansões de madeira que pontuam em alguns trechos da orla. Antigamente, elas eram muitas. Mas, como são feitas de um material perecível, sucumbiram ao tempo e aos incêndios. As yalis foram construídas por nobres e ricos das cortes sultanesas, como casas de verão. Atualmente, as poucas que sobreviveram valem milhões de euros (o guia nos informou que algumas foram comercializadas a cinco milhões de euros).
            É de impressionar, também, o palácio de Domalbahçe, que fica na margem esquerda do rio. Posteriormente, visitamos o palácio, construído no século 19 com toda a pompa e circunstância, para mostrar ao mundo que a Turquia ainda era uma potência internacional. Embora, nessa época, o país passava por dificuldades financeiras devido aos gastos excessivos nas guerras. Outros belos palácios, de outros nobres da corte, também estão na orla, deslumbrando a nossa vista com tantas riquezas de detalhes. Aliás, faço aqui um aparte sobre a minha admiração em relação à arquitetura das cidades. Gasto um bom tempo fotografando detalhes arquitetônicos que me chamam a atenção. E, em Istambul, eles são tantos e tão variados, que me deixam atordoado.
             Finalizado o passeio de barco, o nosso pacote ainda envolvia uma parada no Café Pierre Loti, no alto do Chifre de Ouro, o belo rio que corta Istambul. Lá viveu o romancista francês que deu nome ao local, por ter fixado residência naquelas paragens. Realmente, a beleza do local é impactante. O local abriga um teleférico que nos leva à parte mais baixa da cidade, onde prosseguimos o passeio. O mais interessante é que o teleférico foi construído em cima de um enorme cemitério, com tumbas belíssimas e inscrições em árabe. E, em todos os lugares que passamos, flores, muitas flores. Principalmente tulipas. Os jardineiros turcos não são simples serviçais. São artistas talentosos, que imprimem verdadeiras paisagens coloridas em todos os cantos da cidade. E são quilômetros e quilômetros de jardins, mesmo nas avenidas mais movimentadas.
Canteiro de Istambul

Jardins são obras de arte

Tulipas


Vista do palácio Domalbahçe

Mansão à beira do mar

Casal turco no barco

Prédios na orla do estreito

Outra mansão dos antigos paxás

Eu, o mar e o Domalbahçe

Mãe e filho turcos com as muralhas ao fundo

Algumas yalis à beira do Bósforo

Outro palacete

Uma antiga yali do império otomano

Istambul se revela nos seus minaretes


Wagner encantado com a beleza do mar e da cidade

Centro histórico de Istambul visto do Chifre do Ouro

Cemitério

sábado, 14 de abril de 2012

Na mística Istambul

Em frente à basílica de Santa Sofia

            Depois de dois dias ensolarados, embora um pouco frios, chove insistentemente. Estou em Istambul, no hotel que fica ao lado da Basilica Santa Sofia, com uma vista de tirar o fôlego, na qual alcanço o Palácio Topkapi, o Bósforo e o Chifre de Ouro. Não sabe do que estou falando? Pois é, esses nomes se tornaram familiares para mim, desde que resolvemos – eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse – realizar esta empreitada de conhecer a Turquia.
            Já enlevados com os arabescos árabes de Sevilha, Córdoba e Granada, chegamos à capital dos sultões, odaliscas, dervixes e das mesquitas, com seus pontudos e reluzentes minaretes. É uma cidade de 2.600 anos, cujo bairro denominado “novo” remonta ao século 18. Uma brincadeira, para nós brasileiros, que achamos que tudo que passou de 50 anos é velho.
             Após o dia extenuante de viagem, entre Granada-Barcelona-Istambul, com problemas de toda a ordem, inclusive os da falência da companhia espanhola Spainair, que nos obrigou a comprar novas passagens, conseguimos apenas um saldo suficiente de energia para um breve jantar e uma noite de sono. A proposta era acordar no dia seguinte, para realmente sentir os ares dessa mística cidade.
            Istambul tem 15 milhões de habitantes. É a quarta maior cidade do mundo. Desse total, 6 milhões vivem no lado europeu, que se separa do asiático, onde vive a maioria, pelo estreito de Bósforo. Dizem que por aqui trafegam em média 130 embarcações por dia. O porto movimentadíssimo transfere-se para o clima da metrópole, com sua população pulsante, barulhenta e enlouquecida. Homens de braços dados, sem qualquer conotação homossexual; mulheres de lenços na cabeça e até de burcas; edifícios antiquíssimos e construções moderníssimas se fundem esse labirinto de sensações, cheiros, sons e emoções.
            Considerando que o dia está ensolarado, a minha primeira atividade, depois de descansar bastante, foi me encaminhar para a Praça Sultanahmet, que fica a dois quarteirões do hotel. Nesta praça estão três símbolos de Istambul: a basílica Santa Sofia, a mesquita Azul e o palácio Topkapi. Embora muitos locais estejam em restauração, é comum encontrar nos jardins da cidade flores de várias cores e variedades, especialmente as belíssimas tulipas, que aqui, em abril, ganham um festival inteiramente dedicado a elas. Tulipas amarelas, vermelhas, lilazes, azul e até negras são observadas nos canteiros de diversos pontos da cidade, inclusive nas grandes avenidas movimentas. E, ao lado deles, uma horda de fotógrafos, tentando captar a melhor imagem para levar como lembrança.
            Dediquei a primeira visita à Santa Sofia. A antiga mesquita, que virou uma igreja católica e, finalmente, um museu é um palácio grandioso. O prédio espanta por suas dimensões, seus entalhes dourados, os candelabros, a pintura das paredes e, principalmente, pelos mosaicos da época de Constantino (Istambul chama-se Constantinopla até 1453, quando foi dominada pelos turcos otomanos). Embora alguns locais estejam necessitando de restauro – e os turcos estão fazendo esse minucioso e pesado trabalho – a basílica impressiona os visitantes.
            Aproveitei para matar a minha fome com uma “simit”, espécie de rosca de gergelim, muito popular por aqui, que custa uma lira turca (a moeda tem uma cotação similar à do real, facilitando a nossa conversão). Além dessa guloseima, é de deixar água na boca a beleza e quantidade de doces encontrados na cidade. As vitrines são uma profunda tentação. Os sabores, alguns exóticos, ativam aquele paladar mais oculto que conservamos em algum escaninho de nosso cérebro.
            O dia prosseguiu com uma caminhada, já noturna, pela região da torre de Gálata e da Istiklal Caddesi, uma rua super famosa por seu comércio requintado, a vida noturna agitada e por ser um corredor de pedestres, somente quebrado por um charmoso bondinho que passa de vem em quando. A rua é um turbilhão de pessoas, assim como os becos laterais, onde estão os restaurantes, bares e boates. São centenas de pequenas tabernas com música, bebida e muita gente.
            Em Istambul existem várias linhas de metrô a céu aberto que facilitam a vida da população e dos turistas. Os principais pontos de visitação estão inseridos na rede. Por isso, o transporte pela cidade torna-se ágil e barato.
            Bem, por enquanto, é só isso! Amanhã tem mais! Viva!

Praça Sultanahmet

Mulheres turcas com seus lenços cobrindo o cabelo

Homem turco com roupa colorida

Vista da basílica de Santa Sofia

Santa Sofia

Lustres da basílica

Mosaico com imagem de Jesus Cristo

Mosaico com imagem de Constantino


Santa Sofia vista da janela do hotel

Palácio Topkapi visto da janela do hotel

O Estreito de Bósforo

A mesquita Azul iluminada

A torre de Gálata

A Istiklal Caddesi
Vitrine de doces turcos

Tulipas das praças e jardins de Istambul


Turnê Atacama/Uyuni Parte IV: Salar de Uyuni

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