sexta-feira, 30 de março de 2018

Belo Horizonte para os íntimos

Em frente ao museu Casa JK, na Pampulha

Fotos de Thelmo Lins



            Vivo em Belo Horizonte há quase 30 anos. Mas a cidade me acolheu há mais tempo, quando eu ainda era estudante e fazia o percurso de 55 km entre minha cidade natal – Itabirito – e a capital mineira.
            Por isso, nesta postagem, vou falar de alguns locais que gosto da cidade, dentre tantos outros, que vou revelando aos poucos. Nem todos são lugares turísticos, mas são pontos de grande beleza e interesse.
            Vamos começar pelo Cemitério do Bonfim. Isso mesmo. Especialmente nos meses de junho e julho, quando é costume a capital mineira se abrir em flor. É nessa época que os ipês florescem. O cemitério tem vários deles. E muito mais. As tumbas são lindas, lembranças de um passado aristocrático. Há de tudo nelas: desde as construções neoclássicas do início do século 20 até o estilo Brasília-JK. Flanar pelo cemitério, tirando a tristeza que muitas vezes o local evoca, é como se estivesse em um belo jardim. O local é tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual.
            Por falar em JK, ou melhor, Juscelino Kubitscheck (1902-1976), ex-prefeito da capital, governador de Minas e presidente do Brasil, num período entre os anos 1940 e 1960, é impossível não associá-lo à Pampulha, sua obra mais famosa em Belo Horizonte. Hoje, patrimônio da Humanidade, os prédios desse elegante bairro que circunda a famosa lagoa, são ícones da cidade. Um dos lugares menos conhecidos é o museu Casa JK, chamado assim por ter sido a residência do político. Ela foi projetada por Niemeyer e teve os jardins criados por Burle Marx, os mesmos nomes que projetaram a Pampulha. O interior da casa é formado por belíssimos móveis de época. A gente se sente nos meados dos anos 1950, em um estilo de mobiliário conhecido como styling ou popularmente conhecidos como pés-de-palito. Eu adoro.
            A Praça da Liberdade é outro local icônico de Belo Horizonte. O antigo centro do poder (substituído recentemente pela Cidade Administrativa, também projetada por Niemeyer), a praça hoje concentra vários centros culturais nos locais das antigas secretarias de estado. Um dos mais belos locais é o Palácio da Liberdade, antiga sede do governo de Minas. Há poucos anos, era possível visitá-lo e conhecer sua arquitetura e sua decoração interna. Inclusive a deslumbrante escadaria de ferro belga, um de seus principais destaques. Infelizmente a visita foi proibida mais recentemente, por causa de danos em sua estrutura. Mas eu tive esta oportunidade e fiz alguns registros desse belo monumento. De qualquer maneira, a visão da fachada, das palmeiras e dos jardins já valem a pena.
            Na Região do Horto Florestal, zona leste da capital mineira, existe outro ponto que eu aprecio. Trata-se do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG. Trata-se de uma das mais impressionantes áreas verdes de Belo Horizonte. Lá dentro, é um paraíso para pessoas de todas as idades, pois há atrações para os estudantes (nas áreas de Arqueologia, Paleontologia, Geologia, Botânica, Zoologia, Cartografia Histórica, Etnografia, Arte Popular e Documentação Bibliográfica e Arquivística, dentre outras), há lagoa, locais para caminhadas, passeios noturnos da floresta. A maior atração, no entanto, é o Presépio do Pipiripau, construído desde 1906 por Raimundo Machado de Azevedo em sua casa e, posteriormente, adquirido pela UFMG e instalado no local. São 580 personagens tipicamente mineiros, movendo-se e narrando a vida de Cristo em 45 cenas. O presépio passou por uma completa restauração e está brilhando de tão bonito. As exibições têm horários previamente marcados. Aproveite para almoçar no local. A comidinha é deliciosa.


            Encerrando essa postagem sobre Belo Horizonte (outras virão posteriormente), ressalto o crepúsculo que deu o nome à cidade desde que ela foi fundada, em 1887. É seu famoso pôr-do-sol e as profundas maravilhas formadas em seu céu que lhe deram esse nome que hoje perpetua-se diariamente ao alcance de todos os moradores e visitantes.

  

Casa JK






 Cemitério do Bonfim







 Palácio e Praça da Liberdade










 Museu de História Natural






 Pôres-do-sol









Centro de BH com viaduto Santa Teresa

domingo, 25 de março de 2018

ENTREVISTA - Viajando de bicicleta com a escritora Clara Arreguy

Clara Arreguy, na Estrada Graciosa (Paraná): o desafio de viajar de bicicleta


A jornalista, escritora e editora Clara Arreguy é autora de diversos livros para crianças e adultos. Duas de suas obras – Siga as setas amarelas (2014) e Dias de sol em tempos de chuva (2015) - são relatos de viagem. Ela fez vários trajetos de bicicleta, esporte que desenvolveu já na maturidade. Descobertas do Thelmo entrevista a escritora, que já teve passagens por importantes veículos de comunicação, como a Veja Brasília, Estado de Minas e Correio Braziliense.  Ela também criou e dirige a Outubro Edições, que já publicou 35 livros, entre os de sua autoria e os de outros escritores. Natural de Belo Horizonte, Clara vive atualmente em Brasília (DF).

Clara Arreguy (foto divulgação)


Fotos de Paulo de Araújo e do acervo pessoal de Clara Arreguy

Capa de Siga as setas amarelas

"São só doze quilômetros, mas parece que o coração vai sair pela boca. São só doze quilômetros, mas a ladeira é a maior da vida de todos. (...) Como se o mundo se espalhasse aos seus pés e alguém sussurrasse ao seu ouvido tudo isto será teu contanto que te ajoelhes e me adores, mas não há que adorar ninguém, porque o mundo se espalha abaixo e adiante e o céu encosta em você, em seu peito e em seu cucuruto e as nuvens de um branco total radiante se emendam com seus pensamentos dividindo-se e multiplicando-se ad infinitum(trecho de Siga as setas amarelas, página 121. Outubro Edições)



Descobertas do Thelmo - Qual o significado de viajar para você?
Clara Arreguy - Viajar é conhecer, ampliar horizontes, ganhar o mundo, ser do mundo, e não apenas da aldeia da gente. Experimentar o diferente, sabores, odores, paisagens. Falar outras línguas, pensar diferente, estranhar, desconhecer, depois entender... Ir, ir, ir... e depois voltar! Que é a melhor parte da viagem: voltar pra casa.

Descobertas do Thelmo - Quais as viagens mais importantes ou significativas?
Clara Arreguy - Quando eu era mais nova, viajei pela Europa sozinha e com amigos. Pelos Estados Unidos, México, Cuba, Turquia, América do Sul, Brasil, praias, nordeste e sul. Fiz uma inesquecível viagem sozinha pela Grécia e Itália, com direito a cruzeiro nas ilhas gregas. Depois, de bicicleta e em grupo, duas viagens para Compostela, uma por Holanda, Bélgica e França, uma pela Estrada Real, de Diamantina a Paraty, de Salvador a Vitória, algumas pelo litoral de Santa Catarina e outras pelo do Espírito Santo, uma no interior do Rio Grande do Sul, até São Borja, na fronteira.

Na França

A bicicleta é excelente metáfora:
você precisa pedalar o tempo todo, senão cai.
Nem depressa demais nem devagar.



Descobertas do Thelmo - Você descreveu, em um livro, seu trajeto de bicicleta pelo caminho de Compostela (o livro Siga as Setas Amarelas). Como foi essa experiência em sua vida? Quais os frutos (físicos e emocionais) advindos dela? Quais foram as impressões mais fortes da viagem? Foi cansativa?
Clara Arreguy - Foi tão importante que escrevi um livro (risos)! A metáfora da viagem me inspirou o tempo todo. A bicicleta é excelente metáfora: você precisa pedalar o tempo todo, senão cai. Nem depressa demais nem devagar. Os desafios, afinal fiz a primeira vez aos 50 anos, e nunca fui atleta, nunca fui “forte”, e me sentia tentada a resistir, dar conta a qualquer custo. Ao final aprendi várias coisas, entre elas que não tenho que dar conta de tudo, posso parar, descansar, não ir de bike um dia e sim no carro de apoio; e a desapegar da bagagem que pesa e não serve pra nada: maus sentimentos, cargas negativas inúteis. Muita gente faz essa viagem como peregrinação de sentido espiritual. Eu não. Fui com espírito cultural e de desafio pessoal, mas aprendi muito e vi coisas maravilhosas. Recomendo a leitura do livro... (risos). Sim, foi muito cansativa. De 1.200km que meus amigos fizeram, eu completei apenas 400 e poucos, em 25 dias. Foi punk!

 
Clara (bicicleta), em Santiago de Compostela, com os amigos Maninho, Clarice e Glória
Comecei a andar de bicicleta aos 48 anos, há exatos dez. Não tinha hábito nem de pedalar nem de praticar nenhum tipo de esporte.



Descobertas do Thelmo - Andar de bicicleta é um hábito em sua vida?
Clara Arreguy - Comecei a andar de bicicleta aos 48 anos, há exatos dez. Não tinha hábito nem de pedalar nem de praticar nenhum tipo de esporte. Nunca gostei de academia nem de ginástica. Com a bicicleta, me desloco, me exercito, mas sobretudo havia as viagens, que já mencionei, que eram anuais, nas férias, de 20 ou 25 dias, e aquelas de feriado e fim de semana, trilhas etc. Essas viagens não faço mais. A última foi em 2015. Mantenho a bicicleta como meio de transporte para trechos curtos, perto de casa, no meu bairro e nos bairros vizinhos.

Descobertas do Thelmo - Turismo combina com arte? Quais os livros, filmes ou outras manifestações artísticas que você mais apreciou que tinham a ver com turismo ou lugares de forte impacto turístico?
Clara Arreguy - Além de ter escrito o Siga as setas amarelas, sobre Compostela, escrevi também o Dia de sol em tempo de chuva, após uma viagem por Portugal. Então, claro que combina com todas as formas de arte. Os filmes inclusive inspiram na gente o desejo de conhecer lugares. Fui à Europa pela primeira vez instigada pela leitura de portugueses como Saramago, Camões e Eça, de italianos como Italo Calvino (que não nasceu na Itália!), aos Estados Unidos por causa de Philip Roth e dos filmes de Woody Allen sobre Nova York. As leituras e os filmes são tantos que a gente mal consegue citar.

Na Cidade do Porto, em Portugal

 Descobertas do Thelmo - Tem planos para outras viagens?
Clara Arreguy - Fiquei uns anos sem ir pra longe, por restrições financeiras, mas pretendo voltar a viajar. Ainda não tenho um plano concreto, mas sonho com a Toscana e, se possível, com pedalar na Toscana. Claro que inspirada pelo filme “Cartas para Julieta”, uma bela viagem por aquela região italiana.

Outras aventuras


Com Paulo de Araújo, em Amsterdã (Holanda)

Amsterdã

Bélgica

Bélgica

Espanha

Londres

Turquia

Com Moacir Assunção, em Nova York, quando ainda existiam as Torres Gêmeas


Turnê Atacama/Uyuni Parte IV: Salar de Uyuni

  No bosque das bandeiras, atração do Salar de Uyuni Veja as fotos no final do texto Clique nas fotos para ampliá-las      Chegamos à última...