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Clara Arreguy, na Estrada Graciosa (Paraná): o desafio de viajar de bicicleta |
A
jornalista, escritora e editora Clara Arreguy é autora de diversos livros para
crianças e adultos. Duas de suas obras – Siga
as setas amarelas (2014) e Dias de
sol em tempos de chuva (2015) - são relatos de viagem. Ela fez vários
trajetos de bicicleta, esporte que desenvolveu já na maturidade. Descobertas do
Thelmo entrevista a escritora, que já teve passagens por importantes veículos
de comunicação, como a Veja Brasília, Estado de Minas e Correio Braziliense. Ela também criou e dirige a Outubro Edições,
que já publicou 35 livros, entre os de sua autoria e os de outros escritores. Natural
de Belo Horizonte, Clara vive atualmente em Brasília (DF).
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Clara Arreguy (foto divulgação) |
Fotos de Paulo de Araújo e do acervo pessoal de
Clara Arreguy
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Capa de Siga as setas amarelas |
"São só doze quilômetros, mas parece que o coração vai sair pela boca. São só doze quilômetros, mas a ladeira é a maior da vida de todos. (...) Como se o mundo se espalhasse aos seus pés e alguém sussurrasse ao seu ouvido tudo isto será teu contanto que te ajoelhes e me adores, mas não há que adorar ninguém, porque o mundo se espalha abaixo e adiante e o céu encosta em você, em seu peito e em seu cucuruto e as nuvens de um branco total radiante se emendam com seus pensamentos dividindo-se e multiplicando-se ad infinitum" (trecho de Siga as setas amarelas, página 121. Outubro Edições)
Descobertas do Thelmo - Qual
o significado de viajar para você?
Clara Arreguy - Viajar é conhecer,
ampliar horizontes, ganhar o mundo, ser do mundo, e não apenas da aldeia da
gente. Experimentar o diferente, sabores, odores, paisagens. Falar outras
línguas, pensar diferente, estranhar, desconhecer, depois entender... Ir, ir,
ir... e depois voltar! Que é a melhor parte da viagem: voltar pra casa.
Descobertas do Thelmo - Quais
as viagens mais importantes ou significativas?
Clara Arreguy - Quando eu era mais nova,
viajei pela Europa sozinha e com amigos. Pelos Estados Unidos, México, Cuba, Turquia,
América do Sul, Brasil, praias, nordeste e sul. Fiz uma inesquecível viagem
sozinha pela Grécia e Itália, com direito a cruzeiro nas ilhas gregas. Depois,
de bicicleta e em grupo, duas viagens para Compostela, uma por Holanda, Bélgica
e França, uma pela Estrada Real, de Diamantina a Paraty, de Salvador a Vitória,
algumas pelo litoral de Santa Catarina e outras pelo do Espírito Santo, uma no
interior do Rio Grande do Sul, até São Borja, na fronteira.
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Na França |
A bicicleta é excelente metáfora:
você precisa pedalar o tempo todo, senão cai.
Nem depressa demais nem devagar.
Descobertas do Thelmo - Você
descreveu, em um livro, seu trajeto de bicicleta pelo caminho de Compostela (o
livro Siga as Setas Amarelas). Como
foi essa experiência em sua vida? Quais os frutos (físicos e emocionais)
advindos dela? Quais foram as impressões mais fortes da viagem? Foi cansativa?
Clara Arreguy - Foi tão importante que
escrevi um livro (risos)! A metáfora da viagem me inspirou o tempo todo. A
bicicleta é excelente metáfora: você precisa pedalar o tempo todo, senão cai.
Nem depressa demais nem devagar. Os desafios, afinal fiz a primeira vez aos 50
anos, e nunca fui atleta, nunca fui “forte”, e me sentia tentada a resistir,
dar conta a qualquer custo. Ao final aprendi várias coisas, entre elas que não
tenho que dar conta de tudo, posso parar, descansar, não ir de bike um dia e
sim no carro de apoio; e a desapegar da bagagem que pesa e não serve pra nada:
maus sentimentos, cargas negativas inúteis. Muita gente faz essa viagem como
peregrinação de sentido espiritual. Eu não. Fui com espírito cultural e de
desafio pessoal, mas aprendi muito e vi coisas maravilhosas. Recomendo a
leitura do livro... (risos). Sim, foi muito cansativa. De 1.200km que meus
amigos fizeram, eu completei apenas 400 e poucos, em 25 dias. Foi punk!
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Clara (bicicleta), em Santiago de Compostela, com os amigos Maninho, Clarice e Glória |
Comecei a andar de bicicleta aos 48 anos, há exatos dez. Não
tinha hábito nem de pedalar nem de praticar nenhum tipo de esporte.
Descobertas do Thelmo - Andar
de bicicleta é um hábito em sua vida?
Clara Arreguy - Comecei a andar de
bicicleta aos 48 anos, há exatos dez. Não tinha hábito nem de pedalar nem de
praticar nenhum tipo de esporte. Nunca gostei de academia nem de ginástica. Com
a bicicleta, me desloco, me exercito, mas sobretudo havia as viagens, que já
mencionei, que eram anuais, nas férias, de 20 ou 25 dias, e aquelas de feriado
e fim de semana, trilhas etc. Essas viagens não faço mais. A última foi em
2015. Mantenho a bicicleta como meio de transporte para trechos curtos, perto
de casa, no meu bairro e nos bairros vizinhos.
Descobertas do Thelmo - Turismo
combina com arte? Quais os livros, filmes ou outras manifestações artísticas
que você mais apreciou que tinham a ver com turismo ou lugares de forte impacto
turístico?
Clara Arreguy - Além de ter escrito o Siga as setas amarelas, sobre
Compostela, escrevi também o Dia de sol
em tempo de chuva, após uma viagem
por Portugal. Então, claro que combina com todas as formas de arte. Os filmes
inclusive inspiram na gente o desejo de conhecer lugares. Fui à Europa pela
primeira vez instigada pela leitura de portugueses como Saramago, Camões e Eça,
de italianos como Italo Calvino (que não nasceu na Itália!), aos Estados Unidos
por causa de Philip Roth e dos filmes de Woody Allen sobre Nova York. As
leituras e os filmes são tantos que a gente mal consegue citar.
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Na Cidade do Porto, em Portugal |
Descobertas do Thelmo - Tem
planos para outras viagens?
Clara Arreguy - Fiquei uns anos sem ir
pra longe, por restrições financeiras, mas pretendo voltar a viajar. Ainda não
tenho um plano concreto, mas sonho com a Toscana e, se possível, com pedalar na
Toscana. Claro que inspirada pelo filme “Cartas para Julieta”, uma bela viagem
por aquela região italiana.
Outras aventuras
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Com Paulo de Araújo, em Amsterdã (Holanda) |
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Amsterdã |
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Bélgica |
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Bélgica |
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Espanha |
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Londres |
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Turquia |
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Com Moacir Assunção, em Nova York, quando ainda existiam as Torres Gêmeas |
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