domingo, 25 de março de 2018

ENTREVISTA - Viajando de bicicleta com a escritora Clara Arreguy

Clara Arreguy, na Estrada Graciosa (Paraná): o desafio de viajar de bicicleta


A jornalista, escritora e editora Clara Arreguy é autora de diversos livros para crianças e adultos. Duas de suas obras – Siga as setas amarelas (2014) e Dias de sol em tempos de chuva (2015) - são relatos de viagem. Ela fez vários trajetos de bicicleta, esporte que desenvolveu já na maturidade. Descobertas do Thelmo entrevista a escritora, que já teve passagens por importantes veículos de comunicação, como a Veja Brasília, Estado de Minas e Correio Braziliense.  Ela também criou e dirige a Outubro Edições, que já publicou 35 livros, entre os de sua autoria e os de outros escritores. Natural de Belo Horizonte, Clara vive atualmente em Brasília (DF).

Clara Arreguy (foto divulgação)


Fotos de Paulo de Araújo e do acervo pessoal de Clara Arreguy

Capa de Siga as setas amarelas

"São só doze quilômetros, mas parece que o coração vai sair pela boca. São só doze quilômetros, mas a ladeira é a maior da vida de todos. (...) Como se o mundo se espalhasse aos seus pés e alguém sussurrasse ao seu ouvido tudo isto será teu contanto que te ajoelhes e me adores, mas não há que adorar ninguém, porque o mundo se espalha abaixo e adiante e o céu encosta em você, em seu peito e em seu cucuruto e as nuvens de um branco total radiante se emendam com seus pensamentos dividindo-se e multiplicando-se ad infinitum(trecho de Siga as setas amarelas, página 121. Outubro Edições)



Descobertas do Thelmo - Qual o significado de viajar para você?
Clara Arreguy - Viajar é conhecer, ampliar horizontes, ganhar o mundo, ser do mundo, e não apenas da aldeia da gente. Experimentar o diferente, sabores, odores, paisagens. Falar outras línguas, pensar diferente, estranhar, desconhecer, depois entender... Ir, ir, ir... e depois voltar! Que é a melhor parte da viagem: voltar pra casa.

Descobertas do Thelmo - Quais as viagens mais importantes ou significativas?
Clara Arreguy - Quando eu era mais nova, viajei pela Europa sozinha e com amigos. Pelos Estados Unidos, México, Cuba, Turquia, América do Sul, Brasil, praias, nordeste e sul. Fiz uma inesquecível viagem sozinha pela Grécia e Itália, com direito a cruzeiro nas ilhas gregas. Depois, de bicicleta e em grupo, duas viagens para Compostela, uma por Holanda, Bélgica e França, uma pela Estrada Real, de Diamantina a Paraty, de Salvador a Vitória, algumas pelo litoral de Santa Catarina e outras pelo do Espírito Santo, uma no interior do Rio Grande do Sul, até São Borja, na fronteira.

Na França

A bicicleta é excelente metáfora:
você precisa pedalar o tempo todo, senão cai.
Nem depressa demais nem devagar.



Descobertas do Thelmo - Você descreveu, em um livro, seu trajeto de bicicleta pelo caminho de Compostela (o livro Siga as Setas Amarelas). Como foi essa experiência em sua vida? Quais os frutos (físicos e emocionais) advindos dela? Quais foram as impressões mais fortes da viagem? Foi cansativa?
Clara Arreguy - Foi tão importante que escrevi um livro (risos)! A metáfora da viagem me inspirou o tempo todo. A bicicleta é excelente metáfora: você precisa pedalar o tempo todo, senão cai. Nem depressa demais nem devagar. Os desafios, afinal fiz a primeira vez aos 50 anos, e nunca fui atleta, nunca fui “forte”, e me sentia tentada a resistir, dar conta a qualquer custo. Ao final aprendi várias coisas, entre elas que não tenho que dar conta de tudo, posso parar, descansar, não ir de bike um dia e sim no carro de apoio; e a desapegar da bagagem que pesa e não serve pra nada: maus sentimentos, cargas negativas inúteis. Muita gente faz essa viagem como peregrinação de sentido espiritual. Eu não. Fui com espírito cultural e de desafio pessoal, mas aprendi muito e vi coisas maravilhosas. Recomendo a leitura do livro... (risos). Sim, foi muito cansativa. De 1.200km que meus amigos fizeram, eu completei apenas 400 e poucos, em 25 dias. Foi punk!

 
Clara (bicicleta), em Santiago de Compostela, com os amigos Maninho, Clarice e Glória
Comecei a andar de bicicleta aos 48 anos, há exatos dez. Não tinha hábito nem de pedalar nem de praticar nenhum tipo de esporte.



Descobertas do Thelmo - Andar de bicicleta é um hábito em sua vida?
Clara Arreguy - Comecei a andar de bicicleta aos 48 anos, há exatos dez. Não tinha hábito nem de pedalar nem de praticar nenhum tipo de esporte. Nunca gostei de academia nem de ginástica. Com a bicicleta, me desloco, me exercito, mas sobretudo havia as viagens, que já mencionei, que eram anuais, nas férias, de 20 ou 25 dias, e aquelas de feriado e fim de semana, trilhas etc. Essas viagens não faço mais. A última foi em 2015. Mantenho a bicicleta como meio de transporte para trechos curtos, perto de casa, no meu bairro e nos bairros vizinhos.

Descobertas do Thelmo - Turismo combina com arte? Quais os livros, filmes ou outras manifestações artísticas que você mais apreciou que tinham a ver com turismo ou lugares de forte impacto turístico?
Clara Arreguy - Além de ter escrito o Siga as setas amarelas, sobre Compostela, escrevi também o Dia de sol em tempo de chuva, após uma viagem por Portugal. Então, claro que combina com todas as formas de arte. Os filmes inclusive inspiram na gente o desejo de conhecer lugares. Fui à Europa pela primeira vez instigada pela leitura de portugueses como Saramago, Camões e Eça, de italianos como Italo Calvino (que não nasceu na Itália!), aos Estados Unidos por causa de Philip Roth e dos filmes de Woody Allen sobre Nova York. As leituras e os filmes são tantos que a gente mal consegue citar.

Na Cidade do Porto, em Portugal

 Descobertas do Thelmo - Tem planos para outras viagens?
Clara Arreguy - Fiquei uns anos sem ir pra longe, por restrições financeiras, mas pretendo voltar a viajar. Ainda não tenho um plano concreto, mas sonho com a Toscana e, se possível, com pedalar na Toscana. Claro que inspirada pelo filme “Cartas para Julieta”, uma bela viagem por aquela região italiana.

Outras aventuras


Com Paulo de Araújo, em Amsterdã (Holanda)

Amsterdã

Bélgica

Bélgica

Espanha

Londres

Turquia

Com Moacir Assunção, em Nova York, quando ainda existiam as Torres Gêmeas


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