André Salles em frente à Sagrada Família, em Barcelona (Espanha) |
O
multiartista André Salles – ator, palhaço, instrumentista, iluminador – já viveu
duas importantes experiências de viagem em seus 25 anos de idade. A primeira
aconteceu em 2014, quando fez um mochilão pela Europa. Deste período, 22 dias
ele viajou sozinho, na cara e na coragem. Em 2017, ele voltou ao Velho
Continente para conhecer a Península Ibérica e visitar amigos. E ali ficou
quase dois meses. André faz do planejamento a principal arma para o sucesso de
suas viagens. Conheça um pouco das suas experiências na entrevista que concedeu
ao blog Descobertas do Thelmo.
Fotos
de André Salles e amigos
Descobertas do Thelmo- Como
foi que teve a ideia do mochilão pela Europa? Quantos anos tinha na época?
André Salles – A primeira vez que fiz o
mochilão foi em 2014, quando eu tinha 21 anos. O que me estimulou foi o fato de
ter um amigo que, na época, morava em Dublin (Irlanda). Comecei a pesquisar
destinos, conversar com quem já tinha ido e, principalmente, consultar amigos
para arrumar alguma companhia para a aventura. Ninguém se animou. Uns por falta de
coragem, outros por falta de dinheiro, outros por falta de tempo. Como eu tinha
dinheiro, tempo e coragem, arrumei as malas e fui sozinho. Foi a minha primeira
experiência independente fora do país, depois de ter ido aos EUA em 2010 por uma
empresa de turismo. Viajei 22 dias sozinho até encontrar com meu amigo em
Dublin para o Natal e, posteriormente, para o réveillon em Hogmanay, na
Escócia, considerado um dos melhores do Reino Unido. O ponto alto é um cortejo em
que a população carrega enormes tochas de fogo, ao som das gaitas de fole. Uma dica
importante: é preciso comprar o ingresso antecipado para ter acesso à festa, pela internet. Depois, juntos, viajamos um mês pela Europa.
Descobertas do Thelmo - Quais
os lugares que visitou?
André Salles – Conheci Viena (Áustria),
Praga e Kutná Hora (República Tcheca), Berlim e o campo de concentração nazista
de Sachsenhausen (Alemanha), Amsterdã (Holanda), Dublin, Londres, Edimburgo e Glasgow
(Reino Unido), Paris e Lille (França). Nessa última cidade, fiquei dois dias
para acompanhar o espetáculo Quidam, do Cirque du Soleil, que é uma das minhas
paixões.
Descobertas do Thelmo - O
que mais impactou na viagem?
André Salles - Foi ver o quanto o mundo
é grande e o quanto a Europa tem história para contar. Em Praga, por exemplo, tem
a Torre da Pólvora, que foi construída no século 15, antes da colonização do
Brasil, e continua lá, intacta, recebendo turistas. Esse interesse na
preservação do patrimônio é algo que precisamos aprender e trazer ao Brasil,
para conseguirmos perpetuar nossa cultura, nossos interesses, nossa história.
Em Viena, Paris e Glasgow, optei pela hospedagem amiga, por
meio do site www.couchsurfing.com. É uma experiência incrível, pois você fica
na casa dos moradores da cidade e sai um pouco do circuito turístico. Além do
intercâmbio entre culturas, a economia é considerável.
Descobertas do Thelmo - E
as condições de viagem? Os custos foram altos? Como fez para diminuir os
custos?
André Salles - Ao todo, gastei uns 12
mil reais. Como foi minha primeira grande viagem, tive gastos básicos, como por
exemplo comprar um mochilão, uma bota resistente, cachecol, luvas, touca e
casaco. Esses gastos são altos mas, se você investir em qualidade, são bens que
duram anos. Para minimizar os custos,
hospedei em hostels na maioria dos países. O ponto negativo é que você não tem
muita privacidade, pois divide os quartos com muitas pessoas. Em Londres, meu
quarto tinha 50 leitos. É preciso levar cadeados para guardar os pertences. Em Viena, Paris e Glasgow, optei pela hospedagem amiga, por meio do
site www.couchsurfing.com. É uma
experiência incrível, pois você fica na casa dos moradores da cidade e sai um
pouco do circuito turístico. Em Paris, hospedado por um técnico de sonoplastia
teatral chamado François. Ele me apresentou a seus amigos e me levou na garupa
de sua moto para conhecer os subúrbios da cidade, entre uma cerveja e outra,
sempre acompanhado de franceses, seus amigos. Além do intercâmbio entre
culturas, a economia é considerável.
O avião às vezes parece uma Kombi velha, mas vale a pena o
desconforto pela economia.
Descobertas do Thelmo –
Você usou os mesmos recursos para comer e dormir?
André Salles - Para comer, eu sempre
recorria às opções mais baratas. Como eu viajei no inverno, uma dica é visitar
os mercadinhos. Lá, a gente come guloseimas incríveis, doces, salgados e alcoólicos,
por preços acessíveis.
Para
me locomover, viajei de ônibus, pela empresa Eurolines. As passagens são
baratíssimas e você pode (e deve) comprar tudo pela internet, do Brasil mesmo. Os
ônibus têm aquecedor, Wi-Fi e são confortáveis. E as estradas são lindas. Quando
precisei pegar avião, optei por companhias como Vueling, RyanAir e EasyJet, cuja
passagem custa cerca de 10 euros, com um custo adicional de bagagem. O avião às
vezes parece uma Kombi velha, mas vale a pena trocar o conforto pela economia.
Outra dica legal é Sandemans, uma empresa de turismo que opera tours na maioria
das capitais europeias. Ela é administrada por gente jovem e os guias são bem preparados
e humorados.
André (ao fundo), fazendo amizade com canadenses e franceses em um trem na República Tcheca |
Descobertas do Thelmo - Você
também viveu uma experiência em Portugal. Como foi?
André Salles - Em 2016, meu amigo que
morava em Dublin havia se mudado para Lisboa. Novamente, motivado por esse
contato, fui ao Velho Continente. Fiquei dois meses viajando, conheci Portugal (Lisboa,
Fátima, Óbidos, Guimarães, Porto, Vila Nova de Gaia, Sintra, Cascais, Évora,
Batalha, Coimbra) e a Espanha (Madrid e Barcelona). Dessa vez, como fui
acompanhado de uma amiga e sua mãe, decidimos optar por hospedagens mais
confortáveis – o que aumentou nossos gastos. Mas alugamos apartamentos pelo
AirBnb, considerando os valores justos e a boa localização. Em Portugal usamos
muito o trem como transporte. Era bom e barato. Quando viajamos de ônibus,
optamos pela a Rede Expressos, considerada a melhor da Península Ibérica.
Com os amigos Filipe e Gabriela, à beira do Rio Mondego, em Coimbra (Portugal) |
Em Coimbra tive a sorte de assistir a uma defesa de doutorado
na Sala dos Capelos da Universidade. Os estudantes usam o tradicional traje que
inspirou J.K.Rowling a criar os uniformes dos Hogwarts, nos livros do Harry
Potter.
Descobertas do Thelmo – O
que mais chamou a atenção em Portugal?
André Salles - Lisboa é uma cidade
lindíssima e cheia de comida boa! Destaco a LX Factory, uma fábrica antiga e
abandonada, que se tornou um grande centro comercial, com restaurantes com
conceitos superinteressantes, cafés e livrarias mirabolantes, startups de
publicidade e um ótimo bar chamado Rio Maravilha. No interior, visitei lugares
belíssimos, com já citei. Mas em Coimbra, tive a sorte de assistir a uma defesa
de doutorado na Sala dos Capelos da Universidade. Os estudantes usam o
tradicional traje que inspirou J.K.Rowling a criar os uniformes dos Hogwarts, nos
livros do Harry Potter. Por ser uma cidade universitária, vivi uma experiência antológica
numa festa das repúblicas. Conheci a República dos Kágados. Para entrar, você
grita bem forte: "Kágados!!!". Quando os estudantes ouvem seu chamado,
eles jogam pela janela a chave pendurada em um pequeno paraquedas. É bom tomar
cuidado com os portugueses, pois não são muito simpáticos, principalmente com
relação aos brasileiros. Eles consomem muito nossa cultura, principalmente
música e novelas, mas em certos momentos eles demonstram muita antipatia por
nós.
Espanha é um país incrível, onde eu adoraria morar. Os
espanhóis são muito simpáticos, alegres e sabem muito bem administrar o país
Descobertas do Thelmo – E
a Espanha?
André Salles – É um país incrível, onde
eu adoraria morar. Os espanhóis são muito simpáticos, alegres e sabem muito bem
administrar o país. Enquanto Madrid é mais sóbria, mais clássica, apesar de ter
uma ótima vida noturna, Barcelona é o caos, a juventude, a esbórnia - mas
claro, com pontos turísticos clássicos e incríveis.
Descobertas do Thelmo - Quais
os outros conselhos ou dicas que você daria para as pessoas que pretendem fazer
uma viagem nesses moldes?
André Salles – O mais importante é o planejamento.
Saí do Brasil com as hospedagens e os deslocamentos pagos. Portanto, não
precisei perder com isso e aprovei meu tempo melhor nos passeios. Faça
tabelinhas e imprima, anotando aonde você vai ficar, que dia e horas parte seu ônibus
ou avião. Isso adianta muito! Converse com quem já viajou, anote os principais
pontos de cada cidade. Não tenha vergonha de perguntar, quando se sentir
perdido. Na hora de se vestir, opte pelo conforto. Cuide dos bolsos e mochilas!
Em transportes públicos fique de olho em sua mochila. E preste atenção nas
especificidades de cada lugar. Em Berlim, por exemplo, eu fui multado por não
validar o bilhete do metrô. Lá, como em outros países europeus, não existe
catraca. Você deve validar o ticket em uma máquina para, depois, entrar no trem. Como
eu havia me esquecido, fui pego por um fiscal e ele me aplicou uma multa de 60
euros.
E preste atenção nas especificidades de cada lugar. Em Berlim,
por exemplo, eu fui multado por não validar o bilhete do metrô.
Descobertas do Thelmo - Há
planos para a próxima viagem?
André Salles - Agora que já conheci boa
parte da Europa como turista, sinto que está na hora de subir um degrau: ir
morar no lá para estudar, buscar uma qualidade de vida mais barata e melhor. Sinto
uma dor no coração de deixar o Brasil, minha pátria amadíssima, mas sinto que é
hora de buscar novos desafios.
Descobertas do Thelmo - O
que significa viajar para você? Quais suas melhores lembranças de viagens?
André Salles - Viajar me ensinou o
quanto somos pequenos no mundo. No Brasil, temos casa, família, profissão. Na
Europa, não somos nada, não representamos nada. Isso é uma bela lição de
humildade, de como ir conquistando seu espaço aos poucos, como se fosse um
livro com as páginas em branco. Além disso, como artista, visitar outros países
é aprender com suas variadas culturas. No entanto, as minhas lembranças mais
queridas estão nas mesas: seja almoçando, jantando, tomando café ou cerveja,
vivi momentos incríveis em diversos lugares, sempre cercado de gente do mundo
inteiro.
Amsterdã, Holanda |
Na fábrica da Heineken, em Amsterdã |
Entrada do campo de concentração nazista na Alemanha |
Experimentando uma cerveja local em Praga |
Festa das Tochas, em Edimburg |
Igreja dos Ossos, em Kutná Hora (República Checa) |
Na roda gigante London Eye, em Londres (Inglaterra) |
Em frente à Notre Dame em Paris (França) |
Num parque de Viena (Áustria) |
Portugal e Espanha
Cascais |
Cascais |
Sintra |
Porto (Mercado do Bolhão) |
Mosteiro da Batalha |
Mosteiro da Batalha |
Lisboa |
Porto |
Tapas espanhois |
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