sábado, 17 de março de 2018

ENTREVISTA - André Salles mochilando pela Europa

André Salles em frente à Sagrada Família, em Barcelona (Espanha)


O multiartista André Salles – ator, palhaço, instrumentista, iluminador – já viveu duas importantes experiências de viagem em seus 25 anos de idade. A primeira aconteceu em 2014, quando fez um mochilão pela Europa. Deste período, 22 dias ele viajou sozinho, na cara e na coragem. Em 2017, ele voltou ao Velho Continente para conhecer a Península Ibérica e visitar amigos. E ali ficou quase dois meses. André faz do planejamento a principal arma para o sucesso de suas viagens. Conheça um pouco das suas experiências na entrevista que concedeu ao blog Descobertas do Thelmo.

Fotos de André Salles e amigos

Descobertas do Thelmo- Como foi que teve a ideia do mochilão pela Europa? Quantos anos tinha na época?
André Salles – A primeira vez que fiz o mochilão foi em 2014, quando eu tinha 21 anos. O que me estimulou foi o fato de ter um amigo que, na época, morava em Dublin (Irlanda). Comecei a pesquisar destinos, conversar com quem já tinha ido e, principalmente, consultar amigos para arrumar alguma companhia para a aventura. Ninguém se animou. Uns por falta de coragem, outros por falta de dinheiro, outros por falta de tempo. Como eu tinha dinheiro, tempo e coragem, arrumei as malas e fui sozinho. Foi a minha primeira experiência independente fora do país, depois de ter ido aos EUA em 2010 por uma empresa de turismo. Viajei 22 dias sozinho até encontrar com meu amigo em Dublin para o Natal e, posteriormente, para o réveillon em Hogmanay, na Escócia, considerado um dos melhores do Reino Unido. O ponto alto é um cortejo em que a população carrega enormes tochas de fogo, ao som das gaitas de fole. Uma dica importante: é preciso comprar o ingresso antecipado para ter acesso à festa, pela internet. Depois, juntos, viajamos um mês pela Europa.

André (dir.) com o amigo Filipe, em Dublin: motivo para viajar


Descobertas do Thelmo - Quais os lugares que visitou?
André Salles – Conheci Viena (Áustria), Praga e Kutná Hora (República Tcheca), Berlim e o campo de concentração nazista de Sachsenhausen (Alemanha), Amsterdã (Holanda), Dublin, Londres, Edimburgo e Glasgow (Reino Unido), Paris e Lille (França). Nessa última cidade, fiquei dois dias para acompanhar o espetáculo Quidam, do Cirque du Soleil, que é uma das minhas paixões.

Descobertas do Thelmo - O que mais impactou na viagem?
André Salles - Foi ver o quanto o mundo é grande e o quanto a Europa tem história para contar. Em Praga, por exemplo, tem a Torre da Pólvora, que foi construída no século 15, antes da colonização do Brasil, e continua lá, intacta, recebendo turistas. Esse interesse na preservação do patrimônio é algo que precisamos aprender e trazer ao Brasil, para conseguirmos perpetuar nossa cultura, nossos interesses, nossa história.

Em Viena, Paris e Glasgow, optei pela hospedagem amiga, por meio do site www.couchsurfing.com. É uma experiência incrível, pois você fica na casa dos moradores da cidade e sai um pouco do circuito turístico. Além do intercâmbio entre culturas, a economia é considerável.

Descobertas do Thelmo - E as condições de viagem? Os custos foram altos? Como fez para diminuir os custos?
André Salles - Ao todo, gastei uns 12 mil reais. Como foi minha primeira grande viagem, tive gastos básicos, como por exemplo comprar um mochilão, uma bota resistente, cachecol, luvas, touca e casaco. Esses gastos são altos mas, se você investir em qualidade, são bens que duram anos. Para minimizar os custos, hospedei em hostels na maioria dos países. O ponto negativo é que você não tem muita privacidade, pois divide os quartos com muitas pessoas. Em Londres, meu quarto tinha 50 leitos. É preciso levar cadeados para guardar os  pertences. Em Viena, Paris e Glasgow, optei pela hospedagem amiga, por meio do site www.couchsurfing.com. É uma experiência incrível, pois você fica na casa dos moradores da cidade e sai um pouco do circuito turístico. Em Paris, hospedado por um técnico de sonoplastia teatral chamado François. Ele me apresentou a seus amigos e me levou na garupa de sua moto para conhecer os subúrbios da cidade, entre uma cerveja e outra, sempre acompanhado de franceses, seus amigos. Além do intercâmbio entre culturas, a economia é considerável.

O avião às vezes parece uma Kombi velha, mas vale a pena o desconforto pela economia.

Descobertas do Thelmo – Você usou os mesmos recursos para comer e dormir?

André Salles - Para comer, eu sempre recorria às opções mais baratas. Como eu viajei no inverno, uma dica é visitar os mercadinhos. Lá, a gente come guloseimas incríveis, doces, salgados e alcoólicos, por preços acessíveis.
Para me locomover, viajei de ônibus, pela empresa Eurolines. As passagens são baratíssimas e você pode (e deve) comprar tudo pela internet, do Brasil mesmo. Os ônibus têm aquecedor, Wi-Fi e são confortáveis. E as estradas são lindas. Quando precisei pegar avião, optei por companhias como Vueling, RyanAir e EasyJet, cuja passagem custa cerca de 10 euros, com um custo adicional de bagagem. O avião às vezes parece uma Kombi velha, mas vale a pena trocar o conforto pela economia. Outra dica legal é Sandemans, uma empresa de turismo que opera tours na maioria das capitais europeias. Ela é administrada por gente jovem e os guias são bem preparados e humorados.


André (ao fundo), fazendo amizade com canadenses e franceses em um trem na República Tcheca


Descobertas do Thelmo - Você também viveu uma experiência em Portugal. Como foi?
André Salles - Em 2016, meu amigo que morava em Dublin havia se mudado para Lisboa. Novamente, motivado por esse contato, fui ao Velho Continente. Fiquei dois meses viajando, conheci Portugal (Lisboa, Fátima, Óbidos, Guimarães, Porto, Vila Nova de Gaia, Sintra, Cascais, Évora, Batalha, Coimbra) e a Espanha (Madrid e Barcelona). Dessa vez, como fui acompanhado de uma amiga e sua mãe, decidimos optar por hospedagens mais confortáveis – o que aumentou nossos gastos. Mas alugamos apartamentos pelo AirBnb, considerando os valores justos e a boa localização. Em Portugal usamos muito o trem como transporte. Era bom e barato. Quando viajamos de ônibus, optamos pela a Rede Expressos, considerada a melhor da Península Ibérica.


Com os amigos Filipe e Gabriela, à beira do Rio Mondego, em Coimbra (Portugal)


Em Coimbra tive a sorte de assistir a uma defesa de doutorado na Sala dos Capelos da Universidade. Os estudantes usam o tradicional traje que inspirou J.K.Rowling a criar os uniformes dos Hogwarts, nos livros do Harry Potter.

Descobertas do Thelmo – O que mais chamou a atenção em Portugal?
André Salles - Lisboa é uma cidade lindíssima e cheia de comida boa! Destaco a LX Factory, uma fábrica antiga e abandonada, que se tornou um grande centro comercial, com restaurantes com conceitos superinteressantes, cafés e livrarias mirabolantes, startups de publicidade e um ótimo bar chamado Rio Maravilha. No interior, visitei lugares belíssimos, com já citei. Mas em Coimbra, tive a sorte de assistir a uma defesa de doutorado na Sala dos Capelos da Universidade. Os estudantes usam o tradicional traje que inspirou J.K.Rowling a criar os uniformes dos Hogwarts, nos livros do Harry Potter. Por ser uma cidade universitária, vivi uma experiência antológica numa festa das repúblicas. Conheci a República dos Kágados. Para entrar, você grita bem forte: "Kágados!!!". Quando os estudantes ouvem seu chamado, eles jogam pela janela a chave pendurada em um pequeno paraquedas. É bom tomar cuidado com os portugueses, pois não são muito simpáticos, principalmente com relação aos brasileiros. Eles consomem muito nossa cultura, principalmente música e novelas, mas em certos momentos eles demonstram muita antipatia por nós.

Espanha é um país incrível, onde eu adoraria morar. Os espanhóis são muito simpáticos, alegres e sabem muito bem administrar o país

Descobertas do Thelmo – E a Espanha?
André Salles – É um país incrível, onde eu adoraria morar. Os espanhóis são muito simpáticos, alegres e sabem muito bem administrar o país. Enquanto Madrid é mais sóbria, mais clássica, apesar de ter uma ótima vida noturna, Barcelona é o caos, a juventude, a esbórnia - mas claro, com pontos turísticos clássicos e incríveis.

Descobertas do Thelmo - Quais os outros conselhos ou dicas que você daria para as pessoas que pretendem fazer uma viagem nesses moldes?
André Salles – O mais importante é o planejamento. Saí do Brasil com as hospedagens e os deslocamentos pagos. Portanto, não precisei perder com isso e aprovei meu tempo melhor nos passeios. Faça tabelinhas e imprima, anotando aonde você vai ficar, que dia e horas parte seu ônibus ou avião. Isso adianta muito! Converse com quem já viajou, anote os principais pontos de cada cidade. Não tenha vergonha de perguntar, quando se sentir perdido. Na hora de se vestir, opte pelo conforto. Cuide dos bolsos e mochilas! Em transportes públicos fique de olho em sua mochila. E preste atenção nas especificidades de cada lugar. Em Berlim, por exemplo, eu fui multado por não validar o bilhete do metrô. Lá, como em outros países europeus, não existe catraca. Você deve validar o ticket em uma máquina para, depois, entrar no trem. Como eu havia me esquecido, fui pego por um fiscal e ele me aplicou uma multa de 60 euros.

E preste atenção nas especificidades de cada lugar. Em Berlim, por exemplo, eu fui multado por não validar o bilhete do metrô.

Descobertas do Thelmo - Há planos para a próxima viagem?
André Salles - Agora que já conheci boa parte da Europa como turista, sinto que está na hora de subir um degrau: ir morar no lá para estudar, buscar uma qualidade de vida mais barata e melhor. Sinto uma dor no coração de deixar o Brasil, minha pátria amadíssima, mas sinto que é hora de buscar novos desafios.

Descobertas do Thelmo - O que significa viajar para você? Quais suas melhores lembranças de viagens?
André Salles - Viajar me ensinou o quanto somos pequenos no mundo. No Brasil, temos casa, família, profissão. Na Europa, não somos nada, não representamos nada. Isso é uma bela lição de humildade, de como ir conquistando seu espaço aos poucos, como se fosse um livro com as páginas em branco. Além disso, como artista, visitar outros países é aprender com suas variadas culturas. No entanto, as minhas lembranças mais queridas estão nas mesas: seja almoçando, jantando, tomando café ou cerveja, vivi momentos incríveis em diversos lugares, sempre cercado de gente do mundo inteiro.

Amsterdã, Holanda

Na fábrica da Heineken, em Amsterdã

Entrada do campo de concentração nazista na Alemanha

Experimentando uma cerveja local em Praga

Festa das Tochas, em Edimburg

Igreja dos Ossos, em Kutná Hora (República Checa)

Na roda gigante London Eye, em Londres (Inglaterra)

Em frente à Notre Dame em Paris (França)

Num parque de Viena (Áustria)

 Portugal e Espanha

Cascais

Cascais

Sintra

Porto (Mercado do Bolhão)

Mosteiro da Batalha

Mosteiro da Batalha

Lisboa

Porto

Tapas espanhois




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