domingo, 20 de julho de 2014

Cidade do Panamá: uma bela surpresa no final da viagem


Na eclusa de Mirafores, no canal do Panamá


Depois de uma temporada em México e Cuba, dois países maravilhosos, dois dias no Panamá pareciam apenas uma passagem antes de voltarmos para o Brasil. Para nossa surpresa, o pequeno país de pouco mais de quatro milhões de habitantes, está com fôlego para alçar voos mais altos, tanto na economia quanto no turismo.
Dizem que o Panamá quer se tornar uma espécie de Dubai da América Latina, com um livre comércio internacional e uma espécie de paraíso fiscal, para atrair tanto grandes investidores e turistas. Ao sobrevoarmos a Cidade do Panamá, capital do país, já notamos que por ali houve uma transformação impressionante. Uma extensa área à beira mar abriga um sólido conjunto de grandes arranha-céus, alguns estilosos, como o apelidado de Parafuso, com sua arquitetura ousada.
Wagner e eu nos hospedamos na área mais moderna da cidade, praticamente dominada por hotéis, grandes bancos, cassinos, restaurantes e lojas. Aliás, ali é a meca das compras, para muitos que são atraídos por produtos, principalmente eletrônicos, com preços supostamente abaixo dos praticados no Brasil. A economia é totalmente dolarizada, sendo esta moeda a oficial do país. Sem muito dinheiro para gastar e já no fim de viagem, me contentei em observar tudo e adquirir somente aquilo que representasse a cultura local.
A primeira atração foi o próprio hotel, com uma decoração bastante contemporânea, que brinca o tempo todo com a nossa imaginação, usando e abusando do jogo de luz e sombra. Segundo a recepcionista, trata-se de uma reforma recente, uma vez que o hotel já tem mais de 40 anos.
Logo ao acordarmos na primeira manhã no Panamá, integramos um grupo multinacional de turistas, formado por mexicanos, paraguaios, equatorianos, peruanos, espanhóis e nós, brasileiros. A primeira parada foi o famoso Canal do Panamá. Esta impressionante obra está completando 100 anos de atividades em 2014. Visitamos a eclusa de Miraflores, mais próxima da cidade, e onde se localiza o museu dedicado ao canal. São ao todo 85 km de extensão, entre o oceano Pacífico e o oceano Atlântico. Além de Miraflores, foram construídas mais duas eclusas que se unem ao mar e a um grande lago artificial, no centro do país, represado a partir da junção de vários rios da região. Assim, os navios podem atravessar numa complicada obra de engenharia, em que a água é usada para elevar as embarcações até o nível do lago, localizado nas montanhas da área central do país e, em seguida, abaixar até alcançar o nível do Atlântico. No museu, há um simulador em que nos sentimos em cima de um transatlântico passando pelas várias etapas até cumprir os 85 km do canal. Com essa obra, foram economizados 32 dias, o tempo que levaria para dar a volta no sul do Chile e da Argentina.
A ideia original da obra faraônica veio do visconde francês Lesseps, no final do século 19. No entanto, a equipe francesa abandonou a construção, após a falência da empresa, devido aos inúmeros obstáculos enfrentados no país, tais como a natureza muito arredia, insetos gigantescos, doenças tropicais e escassez de recursos, por causa da iminente Primeira Guerra Mundial. A obra foi concluída pelos norte-americanos, que fizeram um tratado de administrar os recursos provenientes do canal para sempre, repassando uma parte pequena do lucro para os panamenhos. Mas, resumindo a história, em 1964 houve um levante estudantil contra a ocupação americana, que deflagrou num tratado posterior, assinado em 1976, pelo presidente então dos EUA, Jimmy Carter, e o presidente do país, Torrijos Herrera, devolvendo o canal ao Panamá a partir de primeiro de janeiro de 2000.
Foram nos recentes 14 anos de administração do canal que deixaram o Panamá numa situação privilegiada em relação a seus vizinhos na América Latina. Os navios pagam de 200 mil a 500 mil dólares para atravessarem o canal, de acordo com sua pesagem, sendo que mais de 30 embarcações por lá passam diariamente. Num cálculo aproximado, seria uma média de 10 milhões de dólares diários. Até 2015 estão previstas novas eclusas, para navios de maior monta, o que ampliará esse recurso.
No citado museu do canal, podemos conhecer um pouco da sua história e inclusive conhecer alguns dos insetos e animais encontrados na região na época de sua construção. Coisas pavorosas, diga-se de passagem. Muita gente morreu para dar boas condições e de vida aos atuais panamenhos. E há também a curiosa história do chapéu, feito no Equador e no México, que ajudava os trabalhadores a se proteger do sol. Com o tempo, ele passou a ser conhecido como chapéu-panamá e, atualmente, é a estrela dos suvenires encontrados no país.
Depois do canal, fomos conhecer um pouco da cidade, incluindo a parte moderna, o cais e até o modernoso museu desenhado pelo mesmo criador do Guggenhein de Bilbao, Frank Gehry. Ele ainda não foi inaugurado, mas causa espanto e estranheza por suas cores extravagantes. Encerramos a visita no Casco Antigo, vulgo centro histórico. Ali, Wagner e eu nos despedimos do grupo, e partimos para uma inspeção pessoal.
Depois de almoçarmos em um charmoso restaurante ao lado da catedral, que nos ofereceu um delicioso menu (entrada, prato principal e um maravilhoso suco de limão com rapadura) por apenas sete dólares por pessoa, fomos prospectar a região histórica da cidade. Para nosso espanto, a região é belíssima e, do passado de abandono, ressurge com caprichadas restaurações. São dezenas de prédios em obras, que deverão se transformar brevemente em hotéis, restaurantes e em outros pontos e interesse turístico.
Ficamos tão encantados que permanecemos no local para ver a iluminação noturna, apesar de meu dedo mindinho latejar de dor todo o tempo (eu o havia prensado no táxi de Varadero para Havana, no dia anterior, lembram-se?), apresentando algum sangramento. Aproveitamos para concluir a noite, relaxando em um delicioso bistrô italiano, beliscando algumas iguarias e saboreando um cálice de vinho tinto. E no ar condicionado!
No dia seguinte, quando voltaríamos ao Brasil somente no voo de 21h, aproveitamos para deixar as malas no hotel e retornar o centro histórico para mais uma visitação. O calor não nos impediu de andar pelas ruas tranquilas e registar sua beleza. Fomos ao local denominado Praça de França, que homenageiam os homens que sonharam com a grande obra do canal. Entre eles, está o cubano Carlos Finlay, que descobriu como combater a febre amarela, tratando os empregados da construção.
Perto dali fica localizada uma área à beira mar, onde existem várias tendas com produtos criados pelas índias panamenhas. São bordados maravilhosos, baseados em sobreposição de tecidos, com motivos de animais, como pássaros e peixes. São tantas cores e opções, que temos vontade de levar tudo. Como isso não é possível por causa de espaço na mala ou dos nossos recursos financeiros, nos contentamos em adquirir algumas pelas e fotografar o local, para retermos na memória tamanha beleza.
Na cidade também assistimos à vitória, nos pênaltis, da Argentina contra a Holanda, colocando-a na final da Copa. Saboreávamos uma bebida em uma praça em frente ao belíssimo hotel Colômbia, ladeados por monumentos históricos.
Os jornais estampavam a incrível derrota do Brasil, que também era motivo de conversas nas ruas, argumentações dos taxistas que contratamos na cidade e dos colunistas esportivos nos diversos canais de televisão. Rostos em pânico e muitas lágrimas estavam por todos os lados, em bancas de revistas.
O Panamá é mais do que a capital, pois oferece outros pontos turísticos, como cidades coloniais e praias tanto do Atlântico ou do Pacífico, como pudemos observar em alguns guias de viagem. Ali também faz parte do Mar do Caribe, onde ficam algumas dos mais belos balneários do mundo. Mas o tempo da viagem estava no fim e era hora de voltar para o Brasil.
Rumo ao aeroporto, pegamos um engarrafamento, mostrando que o mundo capitalista (depois de tantos dias vivendo no socialismo cubano) era dos automóveis. Milhares, obstruindo as vias, num ritual que conhecemos bem em Belo Horizonte. Depedimo-nos do Panamá e dessa viagem encantadora, que agora viverá na memória, nas imagens e nos sons que trouxemos de lá. E concluímos, nesta postagem, o relato americano, acreditando que em breve teremos novidades. Até breve!
 Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse.


Arranha-céus da Cidade do Panamá

Prédios evidenciam poder econômico do país

Ao centro, o Parafuso


Navio atravessa a eclusa de Miraflores

Espécie de gafanhoso encontrado na região

Insetos gigantes do Panamá: sua picada pode ser mortal

Mapa do canal

Wagner no simulador do museu

Edifício de Frank Gehry: novo museu do Panamá

Postes do Casco Antigo

Catedral da Cidade do Panamá

Casarões do centro histórico

Casarões do centro histórico

Loja de artesanato

Detalhe da arquitetura do centro histórico

Wagner em uma das praças do centro histórico

Edifício histórico de madeira que imita uma embarcação

Desenho pintado na área histórica

Altar de madeira da igreja de San Juan

Wagner na Praça de França

Busto do francês Lesseps, que arquitetou o canal

Loja de bordados panamenhos









Praça no centro histórico da Cidade do Panamá

Hotel Colômbia

Arranha-céus da cidade moderna


Iluminação noturna do centro histórico

Praça da catedral à noite

Iluminação noturna

Iluminação noturna






sábado, 19 de julho de 2014

Varadero: o deslumbrante balneário de Cuba

Relaxando na praia de Varadero, em Cuba

Depois de aproximadamente 800 quilômetros de estrada a partir de Santiago de Cuba, chegamos a Varadero, o mais importante balneário de Cuba. A viagem começou em Havana, capital do país, de onde tomamos um avião até Santiago, que fica a quase 1.000 quilômetros de lá. De Santiago, partimos para Bayamo, Camagüey, Ciego de Ávila, Sancti Spiritus, Trinidad, Cienfuegos, Cárdenas e, finalmente, Varadero. Nesses lugares apenas paramos para um lanche ou visitamos por algumas horas ou pernoitamos. Foram visitas rápidas, pois há localidades que mereciam mais aprofundamento, mais conhecimento. Mas era isso que eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse, podíamos fazer naquele momento. Cuba merecerá nova visita, com um prazo mais alargado.
Enfim, ao chegarmos a Varadero, a viagem já completava 26 dias, entre o Brasil, México e Cuba. Ainda passaríamos dois dias em Varadero e dois dias no Panamá, totalizando 30 dias. Àquela altura do campeonato, o Brasil estava na semifinal da Copa do Mundo. Havia ganhado o jogo contra o Chile nos pênaltis e passaríamos também com sacrifício pela Colômbia, por 2x1. Ou seja, ainda estávamos esperançosos. O próximo jogo seria contra a poderosa Alemanha.
Na chegada a Varadero, foi possível notar que estávamos em um local internacional. O hotel era luxuoso, com uma praia praticamente particular, com aquele mar típico do Caribe, de inacreditáveis tonalidades de verde. Límpido, com areia branquíssima e coqueiros, muitos coqueiros. Paisagem encantadora, idílica. Os serviços, fantásticos. Piscina, vários restaurantes, bufê maravilhoso, atendimento vip. Conversamos com alguns garçons e notamos que quase todos tinham curso superior e falavam várias línguas, uma exigência dessa rede hoteleira. Foram muito amáveis e atenciosos. Nem bastava pedir e o objeto do desejo já estava ali, à nossa disposição. E tudo estava incluído na diária, inclusive as bebidas. As poucas coisas que tínhamos que pagar eram os atendimentos no spa e a internet que, como já escrevi, é um serviço caro no país.
Em contraponto a uma natureza exuberante e ao atendimento impecável, notamos a grosseria e falta de educação de muitos hóspedes. Considerando que estávamos em Cuba, um país com o histórico que ele tem, e não em outro balneário internacional qualquer, nos incomodava o desperdício de comida, a falta de gentileza em ações como arrastar cadeiras, não cumprimentar os atendentes e até, pasmem, cuspir insistentemente em vários lugares, inclusive no mar e na piscina. Apesar de tantos avisos, vi várias pessoas encharcadas de areia pulando na piscina e se limpando nas mesmas águas que outros hóspedes estavam se refrescando. Fiquei com tanta ojeriza desse tipo de atitude, principalmente de pessoas que são de uma classe social mais abastada, que comecei a buscar recantos menos frequentados. Refleti que, se essas pessoas, que têm acesso a uma boa educação e contam com uma vida financeira mais tranquila para fazer uma viagem dessas e frequentar um hotel de luxo, agem assim, imaginem quem não tem a mínima noção de convivência social. Triste, principalmente porque eles às vezes nem se dão conta de tamanha rispidez. Felizmente nem todos eram assim.
Nos dois dias e meio em que ficamos em Varadero, aproveitamos para curtir a praia e os benefícios do hotel, que incluíam alguns espetáculos e a natureza. Relaxamos, enfim. A praia é tranquila e não tem os costumeiros edifícios altos que vemos nas costas brasileiras. Os hotéis quase se escondem entre os coqueiros e ocupam uma larga área de terra, que mal dá para avistar as construções vizinhas. Um descanso para o corpo e para a alma.
Como tudo tem que acabar, preparamos para nosso retorno a Havana, 120 quilômetros dali, para tomarmos nosso voo para a Cidade do Panamá. Para nossa surpresa, ao invés de um ônibus ou uma van, veio nos buscar um motorista em um charmosíssimo Chevrolet 1957 rabo-de-peixe, adaptado com alguns confortos modernos, como ar condicionado, por exemplo. Foi uma delícia andar naquele carro espaçoso, ao som de música cubana, sentindo-me num tempo passado, cheio de glamour. Na estrada, fizemos duas paradas. Uma foi para fazer uma compra de última hora, que são dois perfumes da empresa cubana de cosméticos Suchel Camacho: o Mariposa (que presenteei à minha mãe, que aniversariou dias depois) e o Alicia, em homenagem a grande bailarina cubana Alicia Alonso, com o qual me presenteei. Queria sair do país carregando alguns de seus aromas. Paramos, em seguida, nas proximidades da ponte de Bacunayagua, a mais alta do país, com 110m de altura, construída no início dos anos 60. No local, uma bela vista da floresta tropical e do mar. Wagner aproveitou para se despedir da deliciosa Piña Colada.
A chegada a Havana não foi muito auspiciosa, apesar da agradabilíssima viagem. O primeiro pequeno desastre foi ter prensado meu dedo mindinho da mão direita na porta do carro, provocando uma dor terrível e muito sangramento. O acontecimento causou um grande constrangimento no motorista. Mas a culpa foi toda minha, por pura distração. Mais tarde, estanquei o sangue por meio de um curativo feito no ambulatório do aeroporto.
O próximo drama foi a cobrança de uma taxa, no aeroporto de Havana, para sair do país: 25 CUCs ou aproximadamente 66 reais por pessoa. Quem acompanha estes relatos de viagem, sabe o quanto estávamos desabonados em Cuba pelo fato do nosso cartão de débito não ter sido aceito no país, deixando-nos com um bom racionamento de dinheiro. O restante que ainda tinha, gastei nos perfumes. Por isso, agora não tínhamos os 50 CUCs para mim e para o Wagner. Como da vez anterior, Wagner conseguiu sacar com o cartão de crédito, aliviando a nossa barra. Gostaria de ressaltar, mais uma vez, que não fomos avisados em nenhum momento dessa taxa, o que nos deixou a descoberto. Nesse momento, é imprescindível a informação dos guias ou do agente de viagem. Falha terrível (e não foi a primeira da viagem) que quase nos fez perder o voo. Pagamos a taxa e fomos direto para a área de embarque internacional.
Não bastasse a dor no dedo, o curativo e a taxa de embarque, havia ainda outra notícia. Esta, trágica. Sim, o fatídico jogo do Brasil contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo. E com o Wagner exibindo orgulhosamente sua camisa canarinha. Ao olhar para o monitor da televisão, um choque: 4x0 para a Alemanha e o primeiro tempo nem havia terminado. Sem TV na área de embarque, ficamos sem notícias. Até que, ao entrar no voo para o Panamá, o comandante do avião avisou aos “fanáticos” que o primeiro tempo havia sido concluído com a acachapante vitória alemã por cinco a zero. Imediatamente houve um rebuliço no avião e muitos aplausos. Era um grupo de alemães satisfeitíssimo com o resultado. Para mim e, principalmente, para o Wagner (que vestia a camisa da seleção), silêncio e vergonha.
Pois é, ao chegarmos ao Panamá, já fomos avisados do 7x1. Pânico. O que teria acontecido? Não tínhamos visto nenhuma imagem. Agora, era aturar todos nos olhando com aquele olhar meio penalizado e meio debochado.
Fim de ciclo cubano. Depois da derrota da seleção, bastava-nos aproveitar a chance de conhecer um pouco este pequeno e desenvolvido país chamado Panamá. Mas isso é assunto para a próxima postagem!
            Até lá!



Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse.

Piscina do hotel em Varadero

Praia de Varadero: 20 quilômetros de extensão

Tonalidades da água

Wagner e o jardim de coqueiros no hotel em Varadero

Na piscina do hotel

No quiosque dos recém-casados

Wagner (com a camisa de seleção brasileira) e a praia de Varadero

Casal de passarinhos em plena dança do acasalamento

Será uma garça?

O nosso flamboyant é a árvore oficial de Cuba

Com o Chevrolet 1957

Frente o carro

Ponte de 110 metros de altura

Eu e Wagner comemoramos nossos dias em Varadero com champanhe

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Recebendo o carinho das crianças cubanas

Com crianças cubanas, divulgando nosso patriotismo e recebendo carinho


                      Estar em Cuba, para mim, teve outro sabor. Abrir mão de alguns confortos, como a internet. Não que ela não exista. Os hotéis oferecem, mas o custo é alto. Vai de 6 a 12 CUCs por hora. Ou seja, algo em torno de 11 a 23 reais. Desliguei-me da fissura de ficar consultando o Facebook, os e-mails e outras coisas que nos acostumamos a fazer, como havia desligado o celular logo que pisei em terras estrangeiras. Para ter uma ideia, em um único momento que liguei o aparelho telefônico, com o intuito de ouvir música, recebi uma chamada do Brasil. Tempos depois, ela foi cobrada na minha conta: R$ 11,90. E não durou nem um minuto! Sem celular e sem internet, estava também sem postagens neste blog. Por isso, estou rememorando todos os fatos uma semana depois do acontecido, já em casa, no Brasil.
A internet em Cuba é cara, porque ela é concedida pelos satélites chineses, uma vez que o embargo econômico norte-americano também inclui qualquer expansão nas redes cubanas. Nas escolas e nos hotéis, ela é liberada, mediante um controle do governo federal. O mesmo controle que é aplicado nas transmissões televisivas e radiofônicas. Nos hotéis, podemos acessar canais de várias partes do mundo, inclusive a CNN americana. Mas o predomínio, na TV aberta, que a maioria da população acessa, são as estatais cubanas e a Telesur, da Venezuela. Mas, como tudo que é controlado, há sempre formas de burlar a ordem estabelecida e hoje, com a entrada do celular no país (mesmo com chamadas caras para o padrão local), eles acabam recebendo notícias de todo o mundo.
O maior prazer de ficar fora do ar foi notar o quanto é bom nos desligarmos das redes sociais, dos sites, das mensagens, num refúgio tecnológico necessário. O mesmo eu digo em relação à limpeza provocada pela falta de tantos anúncios nas vias públicas. Nada de propaganda de bebida, refrigerante, redes de fast food ou telefonia celular. O máximo que vemos é o rum Habana Club, as marcas de charuto e um ou outro produto, como os sorvetes Coppelia e os similares da Nestlé ou da Kibon. Limpeza total. Nos outdoors, só imagens de Fidel, Che Guevara, Raul Castro, Hugo Chaves ou, até mesmo, de Nelson Mandela. E palavras de ordem revolucionárias.
Antes de chegarmos ao nosso próximo destino, que foi Varadero, Wagner e eu vivemos um momento de grande emoção juntamente com o nosso guia Ricardo e o motorista Fidel. Havíamos coletado em todos os hotéis que ficamos na viagem todos aqueles produtos que são oferecidos nos apartamentos, como xampus, sabonetes e cremes, que não tivemos oportunidade de usar. O propósito era fazer alguns pacotes e entregar para famílias pobres de Cuba, que carecem desses produtos no país. Como disse anteriormente, até papel higiênico é artigo de luxo. Além disso, carregávamos na bagagem algumas lembranças do Brasil, como bandeiras, chapéus e outros suvenires da Copa do Mundo. Pedimos ao nosso guia que parasse em algum lugar da estrada, onde houvesse famílias necessitadas, para fazermos a doação.
Em determinado ponto, vimos um grupo de crianças brincando com uma bola de futebol. O guia sugeriu que parássemos ali, pois era um lugar carente. Quando chegamos com os brindes, começaram a aparecer as famílias e, entre elas, crianças de várias faixas etárias. Ao notar que estávamos ali para dar-lhe um “regalo”, ficaram muito satisfeitas. Uma senhora pegou na mão do Wagner e o fez entrar em sua modesta residência e só permitiu que ele fosse embora carregando algumas frutas como agradecimento. Estremecemos pelo gesto e Wagner não conteve as lágrimas. O guia quis registrar os momentos conosco e as crianças. Nesse momento, notei que um dos meninos tinha algum problema físico e isso me tocou profundamente. Um ato tão simplório e tão corriqueiro para nós, brasileiros, que temos fartura da área de higiene pessoal e perfumaria, transformou-se em um dos mais belos e tocantes momentos de nossa viagem. E, confesso, os grandes presenteados fomos nós, que que recebemos tanto carinho dessas pessoas maravilhosas que são o povo cubano. 

Fotos de Thelmo Lins, Wagner Cosse e do guia Ricardo

Wagner (dir) e crianças: reparem, em sua mão, as bananas que ele recebeu da senhora







Viagem ao Peru - Parte VIII - Machu Picchu

  Conhecendo o esplêndido sítio arqueológico de Machu Picchu (Foto de Wagner Cosse editada por Thelmo Lins) Clique nas fotos para ampliá-las...