quinta-feira, 26 de junho de 2014

Nos sítios maias de Palenque, Uxmal e Chichén Itza

No sítio histórico de Palenque, uma das principais cidades maias


Falar do México é falar um pouco do Brasil e da saga dos povos latino-americanos. Na TV, durante as partidas de futebol da Copa do Mundo, torcemos apaixonadamente pelos países desse imenso bloco, como Costa Rica, Uruguai, Colômbia... Há exceções, é claro, quando se trata da nossa arqui-inimiga, a Argentina. Mas, mesmo assim, nos embates internacionais, vivemos uma disputa pelo que é nosso, seja falando em português ou castelhano.
As carreteras (rodovias) mexicanas são tão ruins quanto as nossas e por lá é visto o mesmo predomínio dos caminhões e, é claro, dos buracos. Mas – vejam só - vi veredas nas estradas, senti o mesmo friozinho das nossas montanhas e o calor úmido da zona tropical. O México e países vizinhos, como Belize e Guatemala, têm o segundo maior pulmão florestal do mundo, atrás apenas da floresta amazônica.
Uma boa surpresa foi conhecer o parque de Água Azul, que me fez lembrar de muitas cidades mineiras, com suas cachoeiras maravilhosas, em especial, Carrancas, próxima de São João del Rey. Só que, no México, somam-se cerca de 300 quedas-d’água, em uma área compacta, impressionando pelo seu tom azulado e pela exuberância. Wagner e eu aproveitamos para espantar um pouco do calor, deixando que essas águas abençoadas renovassem nossas energias.
Talvez a grande (ou principal) diferença entre nós e os mexicanos está na sua ancestralidade. Os sofisticados povos pré-hispânicos construíram fantásticas cidades, ao contrário dos indígenas brasileiros, que podem ser atestados nas construções sobreviventes ao domínio espanhol.
 Na zona tropical, reinaram os maias que, em minha opinião, são os povos que mais encantam pela beleza de seus costumes e riqueza do seu legado. Eles desenvolveram um calendário com os mesmos 365 dias adotados pela civilização ocidental, sem qualquer contato com ela. São 18 meses, sendo 17 de 20 dias e um de apenas cinco dias. O ano começa em agosto e é cíclico. Nunca acaba, pois eles achavam que a vida continua depois da morte e que todas as ações tinham continuidade na outra esfera. As inscrições e hieróglifos são de uma sofisticação ímpar.
Palenque é o primeiro sítio que conhecemos dos povos maias e é considerado um dos mais importantes do México. Quando foi descoberto, estava totalmente tomado pela vegetação. Muitos dos seus mistérios ainda estão sendo desvendados, pois os arqueólogos continuam no incessante trabalho de exploração.
Na região de Palenque nos hospedamos num hotel típico das áreas tropicais que, de certo modo, é parecido com alojamentos da África. Tem uma infraestrutura sensacional, com piscinas, SPA e um restaurante bastante agradável. Os italianos se esbaldaram as pastas oferecidas pelo chefe. Uma dor de garganta, fruto talvez do cansaço acumulado da viagem, conduziu-me ao apartamento, onde aproveitei para dar um cochilo restaurador. Depois, uma incrível massagem relaxante, que quase me derruba de vez. Fiquei tão mole, que saí de lá cambaleante, mas revigorado.
Visitamos, ainda, outros dois sítios impressionantes, na região de Yucatán: Uxmal, que fica próximo de Mérida, e Chichén Itza, no caminho para Cancún. Tal como Palenque, ali os maias fizeram construções mirabolantes, com pirâmides deslumbrantes. A de Chichén Itza foi apontada recentemente como uma das sete maravilhas do mundo. Na verdade, achei as de Uxmal e Palenque bem mais bonitas.
Os costumes maias estão presentes em cada templo. Há representações de sacerdotes oferecendo corações humanos aos deuses, como nos acostumamos a ver em produções cinematográficas. Há também serpentes e muitas representações do deus Chac, que era o responsável pela atração de chuva, imprescindível para os povos da antiguidade, que viviam basicamente da agricultura. Na maioria das vezes, observei que a dor e o sacrifício estavam mais presentes do que a festa e a comemoração. E até questionei se eles sentiam alguma sombra de felicidade. Ou se, talvez, seja a tristeza que tenha prevalecido nas inscrições que chegaram aos nossos dias.
Campeche e Mérida também foram surpresas agradáveis. Campeche, situada à beira mar, é uma cidade que viveu muitos períodos históricos, alguns deles com saques piratas e contrabando. Toda região urbana, hoje o centro histórico, ganhou um muro de proteção. Depois, alguns anos de ostracismo e abandono até que, recentemente, foi encontrado petróleo na sua bacia. Com isso, vieram os investimentos em infraestrutura e turismo. O que se vê, atualmente, é uma cidade preservada, com belíssimo e colorido casario, e uma atmosfera interiorana. Tinha até bingo na praça da matriz.
Já Mérida foi um centro econômico de grande importância no início do século 20, graças ao florescimento das plantações de sisal. Podem ser vistos os frutos desse crescimento em casarões enormes, ruas belíssimas e grandes edifícios públicos. Depois, perdeu sua posição e caiu em abandono, lembrando um pouco a questão da borracha no norte do Brasil. Nos anos 1970, voltou a se desenvolver graças ao turismo. Ela é a capital e a maior cidade do Estado à qual pertence Cancún e a Riviera Maia, que atrai mais de 12 milhões de turistas anualmente ao México. O centro histórico é muito bonito e tem a mais antiga matriz do México. Na praça principal, tivemos tempo para ver danças típicas locais. A rede hoteleira é de primeiríssimo nível.
Encerrando essa etapa da viagem ao México, vale aqui ressaltar as amizades e relações que tecemos com os nossos companheiros. A despeito das línguas (espanhol e italiano), vamos nos comunicando e vivendo momentos de emoção, que vão do riso às lágrimas. E as experiências e relatos de cada um enriquecem mais ainda a viagem, além é claro de ser um curso intensivo de, pelo menos, castelhano.
Outra coisa legal é o clima de cordialidade e alegria, que contou com a grande experiência da guia Silvia para driblar algumas dificuldades, como pessoas que se atrasavam ou que fumavam em locais proibidos. E as próprias pessoas se revelam aos poucos, compondo a trama desse delicioso tear.
Em especial, gostaria de ressaltar os nomes empregados para as paradas nas estradas para fazer pipi. São chamadas de paradas técnicas ou hidráulicas. Ainda não havia escutado as expressões, que julguei bem criativas.
Viajar é, com certeza, um dos maiores prazeres do homem.

Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse.

Cachoeiras de Água Azul




Hotel em Palenque lembra as hospedagens africanas

Palenque





Campeche









Uxmal


Com a máscara do deus Chac, da chuva




Trono do jaguar com duas cabeças

Conceição, Angela, Nieves e Marimar: novas amigas da turnê


Pirâmide principal de Uxmal

Mérida
Catedral de Mérida, a mais antiga do México





Dançarina de grupo folclórico em Mérida

Dança folclórica em Mérida

Dança folclórica

Praça principal do centro histórico de Mérida


Monumento em homenagem aos povos maias, em Mérida

Detalhe de tela da artista Carol Hermeto, de Mérida

Chichen Itza

Em frente à pirâmide mais famosa do México




Wagner em Chichen Itza


O maior campo de pelotas do país

Wagner brinca com a serpente que adorna do campo de pelota

Iguana, uma das atuais moradores de Chichen Itza

Observatório astronômico

Angela, Nieves, Marimar, Luciana, Rosa, Elena, Nica (motorista), Giorgio, Wagner, Silvia (guia), Roberto,
Conceição, Alessandro, Sergio Camilo e Blanca: companheiros de viagem

Grupo unido e bem humorado


domingo, 22 de junho de 2014

Entre cidades belíssimas, um cânion de tirar o fôlego e manifestações nas estradas

A catedral de San Cristóbal de las Casas


Estamos viajando pelo México, numa viagem de 18 dias. E, boa parte dela, está sendo feita de ônibus, em entradas diversas, algumas bem retas e largas e, outras, mais estreitas e cheias de curvas. Numa delas, em aproximadamente 100 quilômetros, tivemos que suplantar cerca de 200 quebra-molas. Um porre!
Passamos também por uma situação bastante inusitada em uma dessas vias, por causa de um bloqueio de um grupo de motociclistas. Por falta de uma documentação requisitada pelas autoridades, as motos foram apreendidas pelo governo. A falta de negociação e a demora em dar um retorno aos prejudicados, quem sofreu fomos nós e mais de uma centena de carros, ônibus e caminhões que ficaram presos na rodovia por quase três horas. O inusitado da situação, uma vez que nos acostumamos a ver manifestações dessa natureza no Brasil, foi o fato de irmos - quase todo o grupo que estava no nosso ônibus - ao local da paralisação. Fizemos contato com os manifestantes, rimos, brincamos e (alguns de nós) participamos de uma fotografia, portando pedaços de madeira e facões. Foi, com certeza, surrealista. Wagner, usando uma camisa da seleção brasileira de futebol, foi o alvo principal da simpatia dos manifestantes. Para sorte da diplomacia internacional, o Brasil e o México haviam empatado, sem gols, no jogo da Copa do Mundo que acontecera naquele dia. Acredito até que os bloqueadores da estrada aceitariam uma trégua se Wagner os presenciasse com a camisa canarinha.
Refeitos da interrupção, chegamos ao belo hotel de Tuxtla Gutierrez, moderna capital do Estado de Chiapas, na divisa com a Guatemala. Apenas dormimos no local, pois o atraso imposto pela manifestação nos tirou preciosas horas de descanso e lazer.
Em Chiapas está localizado um dos lugares mais impressionantes da viagem, o Canion do Sumidero. Fizemos um passeio de barco por entre as imponentes formações rochosas, esculpidas pelas águas caudalosas do rio Grivalda em milhares de anos. Conta a história que, na época da chegada dos espanhóis, os povos pré-colombianos, assustados com a destruição de suas cidades, suicidavam-se, atirando do alto do alto das pedras. 
Almoçamos em Chiapas del Corzo, antiga capital do estado e rumamos para outra cidade histórica da região, chamada San Cristóbal de las Casas, uma verdadeira joia. Ruas coloridas, igrejas riquíssimas e uma forte influência da população indígena transformam o local num refúgio charmoso. Há vários cafés e restaurantes de qualidade, além de feiras e mercados. Um festival de doces regionais foi uma tentação à parte.
San Cristobal foi palco do movimento revolucionário zapatista em 1994 sob o comando de Marcos, que conforme informações locais, não é o nome real do líder. Seu nome é fruto de uma sigla, com os principais nomes da cidades que participaram do levante. A guerrilha que durou apenas 6 dias, tinha como objetivo lutar pela integração dos povos indígenas, reforma agrária e fim do NAFTA. Marcos recrutou militantes e fundou o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) que concentram-se sobremaneira no Estado de Chiapas. Talvez por ser um movimento muito recente, até hoje existe um policiamento ostensivo nas ruas da cidade (leia mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_zapatista)
Visitamos, ainda, o distrito de San Juan Chamula, onde existem manifestações tradicionais da cultura maia. Os povos misturaram os cultos tradicionais e a religião católica e criaram rituais bem diferentes dos que estamos acostumados. No dia em que visitamos a igreja (que não pode ser fotografada por dentro), a população local devotava aos santos suas dádivas, entre incensos, bebidas e orações. Eles não usam intermediários. Falam abertamente ao santo ou a Deus, fazendo seus pedidos, em voz alta. Usam, também, refrigerantes com gás, como Coca Cola e outros, para expelir (ou vulgarmente, arrotar) as coisas ruins que estão impregnadas dentro de seus corpos. Outra coisa interessante é que alguns santos ficam alijados das comemorações, usando roupas mais empobrecidas e em lugares menos privilegiados da igreja. É que eles pertenciam à antiga capela, destruída por um incêndio há vários anos. Como não souberam proteger a igreja, cairam em desgraça junto aos fieis.

Em Chiapas, conhecemos os novos participantes do nosso grupo de viagem. Dezoito pessoas, sendo um casal de meia idade e oito casais e lua de mel, todos italianos.

Vamos seguindo...


Paralisação na rodovia

Equipe multinacional para resolver o problema

Membros do nosso grupo e manifestantes se unem

Canion do Sumidero







Chiapas del Corzo






San Cristóbal de las Casas

Com novos membros do gropo, visitando a cidade histórica de Chiapas






Igreja de Santo Domingo, em San Cristóbal

Detalhe do douramento da igreja de Santo Domingo






Máscaras à venda no mercado local




Mercado de San Cristóbal

Velas decoradas



Um quitute de Chiapas: formigas





Imagem de Jesus Cristo com cílios postiços

Feira de doces em San Cristóbal


San Juan de Chamula

Máscaras exibidas em loja de San Juan


Igreja de San Juan Chamula


Detalhe colorido da fachada da igreja

Tecidos locais


Turnê Atacama/Uyuni Parte IV: Salar de Uyuni

  No bosque das bandeiras, atração do Salar de Uyuni Veja as fotos no final do texto Clique nas fotos para ampliá-las      Chegamos à última...