No sítio histórico de Palenque, uma das principais cidades maias |
Falar do México é falar um
pouco do Brasil e da saga dos povos latino-americanos. Na TV, durante as
partidas de futebol da Copa do Mundo, torcemos apaixonadamente pelos países
desse imenso bloco, como Costa Rica, Uruguai, Colômbia... Há exceções, é claro,
quando se trata da nossa arqui-inimiga, a Argentina. Mas, mesmo assim, nos
embates internacionais, vivemos uma disputa pelo que é nosso, seja falando em
português ou castelhano.
As carreteras (rodovias)
mexicanas são tão ruins quanto as nossas e por lá é visto o mesmo predomínio
dos caminhões e, é claro, dos buracos. Mas – vejam só - vi veredas nas
estradas, senti o mesmo friozinho das nossas montanhas e o calor úmido da zona
tropical. O México e países vizinhos, como Belize e Guatemala, têm o segundo
maior pulmão florestal do mundo, atrás apenas da floresta amazônica.
Uma boa surpresa foi
conhecer o parque de Água Azul, que me fez lembrar de muitas cidades mineiras,
com suas cachoeiras maravilhosas, em especial, Carrancas, próxima de São João
del Rey. Só que, no México, somam-se cerca de 300 quedas-d’água, em uma área
compacta, impressionando pelo seu tom azulado e pela exuberância. Wagner e eu
aproveitamos para espantar um pouco do calor, deixando que essas águas
abençoadas renovassem nossas energias.
Talvez a grande (ou
principal) diferença entre nós e os mexicanos está na sua ancestralidade. Os
sofisticados povos pré-hispânicos construíram fantásticas cidades, ao contrário
dos indígenas brasileiros, que podem ser atestados nas construções
sobreviventes ao domínio espanhol.
Na zona tropical, reinaram os maias que, em
minha opinião, são os povos que mais encantam pela beleza de seus costumes e
riqueza do seu legado. Eles desenvolveram um calendário com os mesmos 365 dias
adotados pela civilização ocidental, sem qualquer contato com ela. São 18
meses, sendo 17 de 20 dias e um de apenas cinco dias. O ano começa em agosto e
é cíclico. Nunca acaba, pois eles achavam que a vida continua depois da morte e
que todas as ações tinham continuidade na outra esfera. As inscrições e
hieróglifos são de uma sofisticação ímpar.
Palenque é o primeiro sítio
que conhecemos dos povos maias e é considerado um dos mais importantes do
México. Quando foi descoberto, estava totalmente tomado pela vegetação. Muitos
dos seus mistérios ainda estão sendo desvendados, pois os arqueólogos continuam
no incessante trabalho de exploração.
Na região de Palenque nos
hospedamos num hotel típico das áreas tropicais que, de certo modo, é parecido
com alojamentos da África. Tem uma infraestrutura sensacional, com piscinas, SPA
e um restaurante bastante agradável. Os italianos se esbaldaram as pastas
oferecidas pelo chefe. Uma dor de garganta, fruto talvez do cansaço acumulado
da viagem, conduziu-me ao apartamento, onde aproveitei para dar um cochilo
restaurador. Depois, uma incrível massagem relaxante, que quase me derruba de
vez. Fiquei tão mole, que saí de lá cambaleante, mas revigorado.
Visitamos, ainda, outros
dois sítios impressionantes, na região de Yucatán: Uxmal, que fica próximo de
Mérida, e Chichén Itza, no caminho para Cancún. Tal como Palenque, ali os maias
fizeram construções mirabolantes, com pirâmides deslumbrantes. A de Chichén
Itza foi apontada recentemente como uma das sete maravilhas do mundo. Na
verdade, achei as de Uxmal e Palenque bem mais bonitas.
Os costumes maias estão
presentes em cada templo. Há representações de sacerdotes oferecendo corações
humanos aos deuses, como nos acostumamos a ver em produções cinematográficas.
Há também serpentes e muitas representações do deus Chac, que era o responsável
pela atração de chuva, imprescindível para os povos da antiguidade, que viviam
basicamente da agricultura. Na maioria das vezes, observei que a dor e o
sacrifício estavam mais presentes do que a festa e a comemoração. E até
questionei se eles sentiam alguma sombra de felicidade. Ou se, talvez, seja a
tristeza que tenha prevalecido nas inscrições que chegaram aos nossos dias.
Campeche e Mérida também
foram surpresas agradáveis. Campeche, situada à beira mar, é uma cidade que
viveu muitos períodos históricos, alguns deles com saques piratas e
contrabando. Toda região urbana, hoje o centro histórico, ganhou um muro de
proteção. Depois, alguns anos de ostracismo e abandono até que, recentemente,
foi encontrado petróleo na sua bacia. Com isso, vieram os investimentos em
infraestrutura e turismo. O que se vê, atualmente, é uma cidade preservada, com
belíssimo e colorido casario, e uma atmosfera interiorana. Tinha até bingo na
praça da matriz.
Já Mérida foi um centro
econômico de grande importância no início do século 20, graças ao florescimento
das plantações de sisal. Podem ser vistos os frutos desse crescimento em
casarões enormes, ruas belíssimas e grandes edifícios públicos. Depois, perdeu
sua posição e caiu em abandono, lembrando um pouco a questão da borracha no
norte do Brasil. Nos anos 1970, voltou a se desenvolver graças ao turismo. Ela
é a capital e a maior cidade do Estado à qual pertence Cancún e a Riviera Maia,
que atrai mais de 12 milhões de turistas anualmente ao México. O centro
histórico é muito bonito e tem a mais antiga matriz do México. Na praça
principal, tivemos tempo para ver danças típicas locais. A rede hoteleira é de
primeiríssimo nível.
Encerrando essa etapa da
viagem ao México, vale aqui ressaltar as amizades e relações que tecemos com os
nossos companheiros. A despeito das línguas (espanhol e italiano), vamos nos
comunicando e vivendo momentos de emoção, que vão do riso às lágrimas. E as
experiências e relatos de cada um enriquecem mais ainda a viagem, além é claro
de ser um curso intensivo de, pelo menos, castelhano.
Outra coisa legal é o clima
de cordialidade e alegria, que contou com a grande experiência da guia Silvia
para driblar algumas dificuldades, como pessoas que se atrasavam ou que fumavam
em locais proibidos. E as próprias pessoas se revelam aos poucos, compondo a
trama desse delicioso tear.
Em especial, gostaria de
ressaltar os nomes empregados para as paradas nas estradas para fazer pipi. São
chamadas de paradas técnicas ou hidráulicas. Ainda não havia escutado as
expressões, que julguei bem criativas.
Viajar é, com certeza, um
dos maiores prazeres do homem.
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse.
Cachoeiras de Água Azul
Hotel em Palenque lembra as hospedagens africanas |
Palenque
Campeche
Uxmal
Com a máscara do deus Chac, da chuva |
Trono do jaguar com duas cabeças |
Conceição, Angela, Nieves e Marimar: novas amigas da turnê |
Pirâmide principal de Uxmal Mérida |
Catedral de Mérida, a mais antiga do México |
Dançarina de grupo folclórico em Mérida |
Dança folclórica em Mérida |
Dança folclórica |
Praça principal do centro histórico de Mérida |
Monumento em homenagem aos povos maias, em Mérida |
Detalhe de tela da artista Carol Hermeto, de Mérida Chichen Itza |
Em frente à pirâmide mais famosa do México |
Wagner em Chichen Itza |
O maior campo de pelotas do país |
Wagner brinca com a serpente que adorna do campo de pelota |
Iguana, uma das atuais moradores de Chichen Itza |
Observatório astronômico |
Angela, Nieves, Marimar, Luciana, Rosa, Elena, Nica (motorista), Giorgio, Wagner, Silvia (guia), Roberto, Conceição, Alessandro, Sergio Camilo e Blanca: companheiros de viagem |
Grupo unido e bem humorado |
Qué bonito recorrido por la memoria. Muchas gracias por dejar estas lindas Memorias de Viaje
ResponderExcluirBeijos!!!