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A catedral de San Cristóbal de las Casas |
Estamos viajando pelo México,
numa viagem de 18 dias. E, boa parte dela, está sendo feita de ônibus, em
entradas diversas, algumas bem retas e largas e, outras, mais estreitas e
cheias de curvas. Numa delas, em aproximadamente 100 quilômetros, tivemos que
suplantar cerca de 200 quebra-molas. Um porre!
Passamos também por uma situação
bastante inusitada em uma dessas vias, por causa de um bloqueio de um grupo de
motociclistas. Por falta de uma documentação requisitada pelas autoridades, as
motos foram apreendidas pelo governo. A falta de negociação e a demora em dar
um retorno aos prejudicados, quem sofreu fomos nós e mais de uma centena de
carros, ônibus e caminhões que ficaram presos na rodovia por quase três horas.
O inusitado da situação, uma vez que nos acostumamos a ver manifestações dessa
natureza no Brasil, foi o fato de irmos - quase todo o grupo que estava no
nosso ônibus - ao local da paralisação. Fizemos contato com os manifestantes, rimos,
brincamos e (alguns de nós) participamos de uma fotografia, portando pedaços de
madeira e facões. Foi, com certeza, surrealista. Wagner, usando uma camisa da seleção
brasileira de futebol, foi o alvo principal da simpatia dos manifestantes. Para
sorte da diplomacia internacional, o Brasil e o México haviam empatado, sem
gols, no jogo da Copa do Mundo que acontecera naquele dia. Acredito até que os
bloqueadores da estrada aceitariam uma trégua se Wagner os presenciasse com a
camisa canarinha.
Refeitos da interrupção,
chegamos ao belo hotel de Tuxtla Gutierrez, moderna capital do Estado de
Chiapas, na divisa com a Guatemala. Apenas dormimos no local, pois o atraso
imposto pela manifestação nos tirou preciosas horas de descanso e lazer.
Em Chiapas está localizado
um dos lugares mais impressionantes da viagem, o Canion do Sumidero. Fizemos
um passeio de barco por entre as imponentes formações rochosas, esculpidas pelas
águas caudalosas do rio Grivalda em milhares de anos. Conta a história que, na época
da chegada dos espanhóis, os povos pré-colombianos, assustados com a destruição
de suas cidades, suicidavam-se, atirando do alto do alto das pedras.
Almoçamos em Chiapas del Corzo, antiga capital do estado e rumamos para outra cidade histórica
da região, chamada San Cristóbal de las Casas, uma verdadeira joia. Ruas
coloridas, igrejas riquíssimas e uma forte influência da população indígena
transformam o local num refúgio charmoso. Há vários cafés e restaurantes de
qualidade, além de feiras e mercados. Um festival de doces regionais foi uma tentação
à parte.
San
Cristobal foi palco do movimento revolucionário zapatista em 1994 sob o comando
de Marcos, que conforme informações locais, não é o nome real do líder. Seu
nome é fruto de uma sigla, com os principais nomes da cidades que participaram
do levante. A guerrilha que durou apenas 6 dias, tinha como objetivo lutar pela
integração dos povos indígenas, reforma agrária e fim do NAFTA. Marcos recrutou
militantes e fundou o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) que
concentram-se sobremaneira no Estado de Chiapas. Talvez por ser um movimento
muito recente, até hoje existe um policiamento ostensivo nas ruas da cidade (leia
mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_zapatista)
Visitamos, ainda, o distrito de San Juan Chamula, onde existem manifestações tradicionais da cultura maia. Os povos misturaram os cultos tradicionais e a religião católica e criaram rituais bem diferentes dos que estamos acostumados. No dia em que visitamos a igreja (que não pode ser fotografada por dentro), a população local devotava aos santos suas dádivas, entre incensos, bebidas e orações. Eles não usam intermediários. Falam abertamente ao santo ou a Deus, fazendo seus pedidos, em voz alta. Usam, também, refrigerantes com gás, como Coca Cola e outros, para expelir (ou vulgarmente, arrotar) as coisas ruins que estão impregnadas dentro de seus corpos. Outra coisa interessante é que alguns santos ficam alijados das comemorações, usando roupas mais empobrecidas e em lugares menos privilegiados da igreja. É que eles pertenciam à antiga capela, destruída por um incêndio há vários anos. Como não souberam proteger a igreja, cairam em desgraça junto aos fieis.
Em Chiapas, conhecemos
os novos participantes do nosso grupo de viagem. Dezoito pessoas, sendo um
casal de meia idade e oito casais e lua de mel, todos italianos.
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