Num plano, iniciado há alguns anos,
de visitar todas as cidades históricas de Minas Gerais, vejo-me em Paracatu,
cidade localizada a 512 km de Belo Horizonte.
Paracatu está sendo redescoberta aos
poucos para o turismo. A cidade teve seu Núcleo Histórico tombado pelo IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2010, valorizando
um belo conjunto de casas, ruas, igrejas, casarões e sobrados bem cuidados e
que, a cada dia, melhoram seu aspecto e valor.
A primeira pessoa que me chamou a
atenção para Paracatu, foi meu irmão, Francisco, conhecido como Juninho.
Proprietário de uma construtora especializada na restauração de monumentos
históricos, Juninho passou vários meses fiscalizando a obra de um sobrado,
localizado na cidade, que ameaçava desabamento. O casarão, que abrigará o
futuro Museu do Ouro, ainda não foi totalmente restaurado, mas já está de pé
novamente.
Para se ter uma ideia, além deste,
há outro museu sendo implantado na cidade: o de Arte Sacra. E o atual Museu
Histórico está sendo totalmente restaurado para atender aos novos visitantes. A
igreja do Rosário, outro importante monumento de Paracatu, também encontra-se
em processo de restauro. Fiquei sabendo que os órgãos, como o IPHAN, estão
buscando recursos para apoiar a melhoria dos edifícios particulares, células
importantes para a manutenção das ruas em seu aspecto próximo ao original.
Hospedo-me na Pousada da Vila, um dos vários novos
empreendimentos hoteleiros que a cidade ganhou nos últimos anos. Trata-se de um
belíssimo casarão, localizado em uma das principais ruas do centro histórico (a
Rua dos Ávila), com uma proposta de atendimento baseada na cordialidade e na
mineiridade. Além do tradicional café da manhã, a pousada oferece também um
delicioso lanche noturno, com direito a várias iguarias típicas da região, como
o desmamado e o mané pelado de abacaxi.
Paracatu é um município de grande importância agropecuária
e também possui uma das maiores minas de ouro do mundo, ainda em atividade. O
turismo até então nunca tinha sido aventado como uma opção econômica. Com o
tombamento histórico e a proximidade de Brasília, essa área vem crescendo.
Durante a viagem, conhecemos o guia
turístico João Paulo, estudante secundarista, 17 anos, bastante informado sobre
a história e costume dos paracatuenses, apesar de ter nascido em São João del
Rey. João trabalha no Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e nos acompanhou
até a Cachoeira do Ascânio, no circuito das Cachoeiras do Prata. Como ele e seu
irmão, Samuel, há um grupo de jovens interessados em apoiar essa nova realidade
do município, capacitando-se em cursos, aprimorando o estudo de línguas estrangeiras
e tomando contato com profissionais de outras partes do país e do mundo.
Além de seu Núcleo Histórico,
Paracatu oferece um portentoso turismo rural, baseado nas citadas cachoeiras –
são 153, de acordo com João Paulo – e grutas. Equipes de espeliólogos estão
mapeando algumas dessas cavernas, que têm mais de 4,5 km de profundidade, com salões
belíssimos e significativos acervos palenteológicos. É preciso enfrentar
estradas poeirentas para chegar às cachoeiras, mas o desgaste é recompensado.
As quedas são fantásticas, a água é límpida e deliciosa. Na Cachoeira do
Ascânio, com 40 metros de altura, havia uma pousada com serviço de almoço e
estacionamento. É, ainda, cobrada uma taxa de R$ 10 a título de manutenção e
preservação ambiental. A comida é deliciosa, com direito a um papo com a
cozinheira e suas assistentes.
Como quase toda cidade brasileira,
Paracatu desenvolve-se rapidamente, ao som dos carros barulhentos, de uma
juventude sem muitas opções de lazer e dominada por empresas de grande porte
que nem sempre têm boas intenções na preservação de seu meio ambiente e da
qualidade de vida da população. Há casos flagrantes de rios e córregos destruídos
pela poluição. Há comunidades quilombolas sendo assoladas pela especulação
imobiliária e pela falta de respeito para com as tradições culturais. Há um
crescimento desordenado da população, sem um aparente bem planejado plano
diretor (o novo centro e os bairros são feios e sem atrativos arquitetônicos).
O cine teatro precisa de reforma urgente e melhores equipamentos.
Hoje, os brasilienses têm, em
Paracatu, uma segunda opção de turismo de fim de semana, ao lado da também histórica
Pirenópolis, em Goiás. Por isso, e por suas tradições culturais, tem grande
chance de reverter o quadro e ganhar um novo impulso, principalmente quando a
mineração do ouro, que empresa cerca de 10 mil pessoas, esgotar-se em 2030.
A atriz e comediante Cida Mendes,
conhecida por seu papel de Concessa, é outra que aposta em Paracatu. Construiu,
nas margens da BR-040, a Casa de Concessa, um restaurante com pratos típicos,
que ainda oferece shows e bailes para os visitantes.
No entanto, é triste saber que muito
da cidade se perdeu. Prédios belíssimos, como o Philodramatico, um dos teatros
pioneiros de Minas Gerais, de 1890, foi demolido sem dó nem piedade nos anos 1950,
para abrigar um prédio horroroso. Mas Paracatu em um importante legado em seus
artistas, escritores e intelectuais, como Afonso Arinos, Oliveira Netto e outros. É de lá também o ministro do
Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, uma das mais apreciadas autoridades
éticas do país na atualidade. Que a nova geração paracatuense se espelhe nesses
grandes exemplos, para transformar Paracatu em uma cidade cada vez mais
próspera e humana.
Outras
observações:
Casamentos
e mais casamentos: em quatro dias em Paracatu, presenciei dois casamentos na
Igreja Matriz de Santo Antônio. Um deles, com direito a fogos. Como a igreja
fica atrás da pousada, o espetáculo foi visto de camarote. E, numa surpresa
final, minutos depois, surgem os noivos para uma sessão exclusiva de fotos no
casarão da pousada, com direito a poses românticas.
É
uma pena ver o estado lastimável do teatro de arena construído no anexo da Casa
de Cultura. O espaço é muito bonito, mas teve sérios problemas estruturais por
causa de uma tubulação de água que passa no terreno onde está instalado. Nem
bem foi utilizado e ele foi tragado por vários abalos que deixaram sua
estrutura totalmente comprometida. Engenheiros, arquitetos e técnicos estudam
uma solução para o impasse, com o objetivo de fazer o local funcionar de vez.