|
Na igreja de São Jorge, em Lalibela |
Se o sábado é o dia dedicado ao
comércio e às festas na Etiópia, o domingo é reservado às orações. Uma vez por
mês, os cristãos ortodoxos, maioria religiosa do país, celebram a Ressurreição
de Cristo, com rituais e cerimônias. O dia 12 de maio de 2013 foi um desses
domingos. Durante toda noite, ouviam-se sons e cantos dos monastérios e, no
caso dos muçulmanos, nas mesquitas.
Nesse dia, o programa inclui a
visita a Lalibela, uma das mais famosas atrações turísticas da Etiópia, por
causa de suas igrejas esculpidas na pedra. Por ser uma cidade religiosa,
observamos (Wagner, meu companheiro de viagem, e eu) o povo com seus véus
impecavelmente brancos em todos os lugares. Em várias situações, vimos pequenos
andores e procissões, que demonstram o fervor da população.
No caminho entre o aeroporto e
a cidade de Lalibela, notamos que a região é montanhosa e árida. Ainda é outono
e a estação das chuvas acontece entre julho e setembro. Mas a terra já foi
arada e preparada para as plantações. Etiópia é um país agrário. Por volta de
80% da população vive no campo. O principal produto de exportação é o café, mas
a planta para a produção da injera, uma espécie de pão, um prato largamente
consumido pelos etíopes, é outra prioridade.
O clima é maravilhoso, como,
aliás, em todo o país, e lembra muito a temperatura brasileira nessa época do
ano, embora seja primavera. Dias ensolarados ou levemente nublados, entre 17 e
24 graus. A secura incomoda um pouco, mas de vez em quando cai uma garoinha
para aliviar a barra.
Lalibela é conhecida como a
Petra etíope, em comparação ao famoso monumento jordaniano esculpido na rocha.
Ou mesmo de “a nova Jerusalém”. No caso de Petra, embora eu não a conheça, percebo
algumas similaridades por causa de imagens divulgadas no cinema e até mesmo em
uma novela brasileira, exibida há alguns anos. O título de “a nova Jerusalém”
se dá pelo sonho ambicioso de se criar uma cidade sagrada imune à ação do tempo
e à destruição causada pelos conflitos e guerras.
O empreendimento, realizado a
partir do século 13, é audacioso e comprova o extremo desenvolvimento da
engenharia do país. Alguns textos relatam que foram necessários 40 mil escravos
para dar forma aos planos dos arquitetos etíopes da Idade Média. A precisão das
esculturas - são 15 igrejas no sítio histórico - é de embasbacar,
principalmente se considerarmos que tudo foi escavado na rocha dura.
Em alguns templos, existem
arabescos decorativos, pinturas e esculturas em pedra e tintas de uma beleza
indescritível, revelando o imenso talento dos artistas da época. A grande
atração, no entanto, é a igreja de São Jorge que, além de esculpida em vários
andares, ainda traz o formato de uma cruz. É preciso descer um caminho de
aproximadamente 200 metros para se alcançar a entrada principal.
As igrejas têm várias colorações,
embora o tom rosado prevaleça na maioria. Mas os musgos, com matizes que vão do
verde ao amarelo, criam uma pintura natural em todo o patrimônio. Numa das
igrejas, existe o túmulo de Adão. Acredita-se que o casal do Gênesis tenha
vivido na região depois de expulsos do paraíso.
Todo o complexo é tombado pela
Unesco, mas administrado pelos monges da igreja ortodoxa cristã. Por isso, em
cada templo, há um guardião, que fica paramentado com trajes rituais. A pedido
do nosso guia, eles exibiram as cruzes que simbolizam cada igreja. São
belíssimos objetos de ouro ou prata, que identificam os templos. Réplicas
dessas cruzes podem ser adquiridas nas lojinhas de artesanato locais, como
suvenir.
Vimos, em Lalibela, turistas de
várias partes do mundo, principalmente da Europa (italianos, franceses, alemães
e espanhóis) e um grupo de documentaristas norte americanos, que estava
gravando um vídeo sobre o país. Isso prova que a Etiópia está em franco
desenvolvimento na área. De acordo com a chefe da agência de turismo Travel
Ethiopia, Samrawit Moges, que nos atendeu no país, em cinco anos a realidade do
turismo será completamente diferente. Para nós, brasileiros, já é possível
pegar um voo direto para o país, a partir de junho de 2013, com saídas do Rio e
São Paulo.
Ao deixarmos Lalibela para
voltarmos para Addis Ababa e, assim, finalizarmos o tour pela Etiópia, ainda
vimos outra manifestação popular que nos chamou a atenção. Tratava-se de um
aglomerado de pessoas vestidas de branco ou cores claras. Perguntamos se era um
ritual religioso e nosso guia diz se tratar de um velório. Uma multidão estava
apinhada na montanha rochosa, chorando por seu ente querido, que era
transportado em uma maca, como deveria ser na época de Cristo.
|
Lenços brancos anunciam o domingo de orações |
|
Imperador Teodoro |
|
Crianças e a paisagem de Lalibela: montanhas e vale |
|
Wagner na cidade de pedra |
|
Monge mostra uma das cruzes de Lalibela |
|
Em Lalibela |
|
Monge guardião de uma das igrejas |
|
O monge paramentado, com outra cruz de Lalibela |
|
Interior da igreja toda escavada e esculpida na rocha |
|
Pintura no interior da igreja |
|
Pintura do rosto de São Jorge (detalhe) |
|
Menina etíope |
|
Menina etíope |
|
Wagner fotografa interior da igreja |
|
Ao lado de uma das esculturas de pedra |
|
No túmulo de Adão e Eva |
|
Construção típica da região |
|
Montanhas de Lalibela |
|
Igreja |
|
Na entrada de uma das igrejas de Lalibela |
|
Interior do templo |
|
Pássaro da região |
|
Garoto etíope |
|
Wagner recebe a bênção do monge |
|
Igreja de Lalibela, a "Petra" da Etiópia |
|
Na fachada lateral de uma das igrejas esculpidas na rocha |
|
Monge com o guarda chuva cerimonial |
|
Tambores utilizados nos rituais |
|
Wagner e a igreja de São Jorge (detalhe): musgos amarelos na pedra rósea |
|
Jovem faz suas orações |
|
Wagner e a fachada da igreja de São Jorge, em Lalibela |
|
Garotas etíopes |
|
Artesanato local reproduz as cruzes de Lalibela |