segunda-feira, 25 de abril de 2022

Pela região de Sacramento, no Triângulo Mineiro

 E visitando também Rifaina, Lagoa da Prata e o distrito de Martins Guimarães
Numa das cachoeiras do complexo do Azulim, em Sacramento
(foto de Wagner Cosse)

Clique nas fotos para ampliá-las


Sacramento é uma cidade mineira, localizada no Triângulo Mineiro, quase na divisa com o Estado de São Paulo. Fica a 480 km de Belo Horizonte e a aproximadamente 76 km de Uberaba. Nesta postagem, vamos conhecer um pouco do que o município nos oferece.

Por que Sacramento? Há alguns anos, por intermédio de meu irmão, Francisco Júnio, que é engenheiro, fiquei conhecendo, através de fotografias, o distrito de Desemboque, que pertence à Sacramento. O lugarejo, que não chega a ter 100 habitantes, foi um importante entreposto no século XVIII, quando os bandeirantes abriam novos caminhos para descobrir novas minas de ouro no interior do país. No caso, as ricas minas de Goiás e Mato Grosso, que encontraram mais tarde. Por seu local estratégico e por ter encontrado o rico mineral na região, Desemboque desenvolveu e até hoje conserva um pequeno, mas interessante patrimônio histórico.

Meu irmão foi o responsável, durante algum tempo, pela restauração da igreja matriz de Desemboque e aquelas imagens me chamaram a atenção para a região. Por ironia do destino, acabei não visitando o distrito, pois ele fica a 65 km da sede de Sacramento, em estrada de terra malconservada. Confesso que, pelos motivos que contarei daqui a pouco, não enfrentei esse obstáculo.

Mas conheci um pouco de Sacramento, Rifaina e outros lugares da região, que é marcada por grande quantidade de água, seja por meio das inúmeras cachoeiras ou pela represa de Jaguara, formada pelas águas do Rio Grande. 


BR-262: buracos e pedágios


O problema é chegar a Sacramento pela BR-262. A estrada, embora tenha sido privatizada, encontra-se em péssimas condições, com muitos e perigosos buracos, que a transformaram num prato cheio para os apreciadores de rali. E o pior: com quatro pedágios, que cobram valores que vão de R$ 6,70 a R$ 8,00 (valores de abril de 2022). Há menos de um mês, eles custavam R$ 2,90. A razão do aumento, ninguém explica. Caso para denúncia no Procon.

Suplantado o desafio, Sacramento apresenta-se como uma cidade pacata e aparentemente organizada. O hotel Manacá, aonde nos hospedamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse), foi plenamente satisfatório, com excelente atendimento. Além do café da manhã, que faz parte da diária, o hotel também abre o restaurante à noite, com boas opções culinárias e preços justos.

Não podemos dizer o mesmo dos valores cobrados pela empresa de turismo local para a realização dos passeios na região, que iam de um simples city tour a um passeio pelos atrativos da área do Parque da Serra da Canastra, que tem parte dela dentro do município de Sacramento. Os valores iam de R$ 250 a R$ 640, por pessoa, sem incluir as refeições. Por acharmos muito caro, preferimos nós mesmos encontrar os lugares que mais nos interessavam.

Como a viagem aconteceu em plena Semana Santa, achamos, a princípio, que iríamos encontrar tudo fechado. Mas, para nossa surpresa, o Museu Histórico estava aberto em plena sexta-feira da Paixão. No local estão vários objetos, fotografias, móveis, documentos e utensílios que contam um pouco da ocupação da cidade. Ficamos sabendo que lá é a terra de Lima Duarte (1930) - o grande ator nasceu em Desemboque, aonde ainda mantém uma residência; e da aclamada escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), cuja parte do acervo está no Arquivo Municipal, dentre outros vultos menos populares. Foi uma criança sacramentana que inspirou a personagem Lili, que por muitos anos protagonizou as estórias que ajudaram muitas crianças a aprender a ler.


Espiritismo e Eurípedes Barsanulfo


Outra personalidade natural de Sacramento é o médium Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), considerado um dos mais proeminentes espíritas da história brasileira. Eu desconhecia a sua existência até visitar a cidade. Lá pude conhecer um pouco mais de sua obra, que até hoje é marcante, não somente no campo religioso, mas também nas áreas de educação e da política. O nome de Barsanulfo e a Fazenda Santa Maria, localizada nas proximidades de Sacramento, atraem grande número de seguidores do Espiritismo para a região. Inclusive há roteiros turísticos próprios para isso.

Foi por meio do Espiritismo que conhecemos o casal Andreia e Ricardo, com seu filho João Ricardo, residentes em Santa Barbara do Oeste (SP). Hospedados no mesmo hotel, fizemos amizade logo no primeiro dia e, a partir de então, realizamos vários passeios juntos. 


Patrimônio Histórico


Percorremos o centro de Sacramento, aonde pudemos perceber a existência (ou a sobrevivência, melhor dizendo) de antigos casarões, alguns deles transformados em órgãos públicos e outros, em lojas comerciais. Muitos estão bem conservados, com pinturas atrativas. O mais belo é o Colégio Allan Kardec, fundado por Barsanulfo no início do século XX e que mantém vivo o seu legado. No casarão há um café, uma livraria e uma loja de artesanato, cuja renda vai para manutenção da escola dedicada ao mestre, que fica ao lado do nosso hotel, e é uma das melhores instituições de ensino da região. O antigo prédio se transformou em ponto de encontro e referência para os religiosos.

Ganhamos, do casal Andreia e Ricardo, um livro sobre Eurípedes Barsanulfo, escrito por Corina Novelino. O texto narra a história do homem que foi (e continua sendo) uma lenda regional.

Outra curiosidade é o Hotel do Comércio, de 1911, considerado uma das mais antigas hospedagens do interior de Minas Gerais.


Gruta dos Palhares


A Gruta dos Palhares é a maior atração de Sacramento. Ela está situada a cerca de 10 km do centro e merece ser visitada. O ingresso custa R$ 5 (inteira). É considerada a maior gruta de arenito das Américas. Embora o seu interior estivesse fechado para visitas, ficamos sabendo que, em tempos não pandêmicos, é possível adentrar quase 450 m por seus salões e galerias. A gruta também abriga ninhos de andorinhas, maritacas, papagaios, dentre outras aves. 

Seu entorno foi urbanizado pelo governo municipal e se tornou um belo parque, com jardins, cascatas, lagoa e restaurante. Por causa da pandemia, muitas áreas ainda estão restritas ao público. Mas, aos poucos, elas vão sendo disponibilizadas.

No município, podem ser encontradas inúmeras cachoeiras e poços, com menor ou maior grau de dificuldade para serem acessados. Há, inclusive, uma queda d´água situada a 120 km da sede, em estradas que exigem automóveis com tração nas quatro rodas. 


Cachoeiras do Azulim


Indicado pelos funcionários do hotel, fomos ao complexo denominado Azulim. O acesso é pela rodovia que liga Sacramento a Rifaina (que vamos falar posteriormente), a aproximadamente 15 km do centro. Deixamos o carro no acostamento da rodovia e andamos cerca de 1,5 km até avistarmos a primeira piscina natural. A partir de então, caminhando mais uns dois quilômetros, passamos por várias quedas, corredeiras e cachoeiras, circundadas por uma bela vegetação. O acesso é bem tranquilo e, na ocasião, havia poucas pessoas no local. Infelizmente, como tem sido comum, encontramos vestígios humanos, por meio de algumas garrafas de cerveja ou plásticos deixados para trás. Tive o ímpeto de fazer uma coleta, mas não havia nenhuma lata por perto para depositar o lixo. E, com a pandemia, esse tipo de atividade ficou mais complicada. Resta apelar para a consciência de cada usuário, no sentido de preservar o bem precioso que a natureza nos fornece gratuitamente, sem causar poluição. Um pouco utópico, mas legítimo.


Rifaina


Deixamos um pouco Sacramento para cruzarmos a fronteira e conhecer o balneário de Rifaina (SP), a 35 km. A represa de Jaguara possibilitou a criação de uma deliciosa praia, com direito a faixa de areia e muitas barracas e restaurantes. A orla foi urbanizada e tem um belo calçamento e até um interessante teatro de arena. No almoço, comemos um ótimo peixe na telha, em uma das barracas, que também servem petiscos e bebidas. Rifaina tem menos de 4.000 habitantes, mas o turismo faz com que ela aparente ser bem mais populosa. Imaginei que deve ser um local bastante agradável para se viver. 

Para constar, lá também são oferecidos passeios de lancha pela represa, e há locais que alugam jet ski, caiaque e banana boats. Pelo que me informei, os preços são bastante acessíveis. Ou seja, há diversão para todos os gostos. 


Lagoa da Prata e Martins Guimarães


No retorno da viagem, que durou cinco dias, pernoitamos em Lagoa da Prata (MG), pois queríamos conhecer o distrito de Martins Guimarães, marcado por suas casinhas coloridas. O lugarejo é, realmente, muito bonito e vale a pena ser visitado. Pelo dia (terça-feira de manhã) quase não havia movimento, pois muitos locais estavam fechados. Há uma fábrica de cosméticos que vende somente pelo atacado. A nota triste é o estado terrível de abandono em que se encontra a estaçãozinha ferroviária. É de dar dó, principalmente porque o trem ainda circula por lá.

Lagoa da Prata, embora não seja uma cidade turística, tem uma bela lagoa, com uma faixa de areia, aonde a população se diverte nos finais de semana. Foi um lindo local para encerrarmos o fim de um dia, aguardando o crepúsculo e o início da noite. 

Foi uma viagem simples, adequada aos dias atuais, ainda restritos, em que ainda estamos saindo de uma pandemia tão marcante. Além, é claro, dos altos custos que viagens mais ousadas têm alcançado nos últimos tempos, como se quisessem resgatar tudo que foi perdido nesses quase dois anos de paralização. Mas foram momentos bastante agradáveis para relaxar e apreciar a natureza.

Até o próximo encontro! 

Centro Histórico de Sacramento


Prefeitura Municipal

Basílica do Santíssimo Sacramento








Colégio Allan Kardec

Busto de Eurípedes Barsanulfo



Estação ferroviária

Estátua de João Canudo, um benfeitor local

Arquivo Público, aonde está parte do acervo da 
escritora Carolina Maria de Jesus

Igreja do Rosário


Museu Histórico









Gruta dos Palhares












Cachoeiras do Azulim



Wagner, com o casal Andreia e Ricardo e seu filho João:
companheiros de viagem

João Ricardo, Andreia e Ricardo













Rifaina 











Lagoa da Prata e Martins Guimarães






Martins Guimarães










Wagner caminha nos trilhos









Outras paisagens 














Vitrais da basílica de Sacramento


Nossa Senhora padroeira de Sacramento

Fim de tarde na cidade


Na BR-262, um inusitado encontro de garças e outras aves














sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Mergulhando nas cachoeiras de Carrancas

No complexo da Zilda, em Carrancas 

A cidade é famosa por ter mais de 70 cachoeiras

Quando se pensa em turismo ecológico, especialmente em número de cachoeiras, a primeira cidade que me vem à cabeça é Carrancas (MG), 280 km da capital mineira. O município fica na mesma região de São João del Rey, Tiradentes e Lavras.

            Conheci Carrancas há mais de 20 anos, quando o turismo ali ainda era incipiente e só havia uma pousada. Ouvi falar do lugarejo por meio de algumas cenas utilizadas em vários programas e novelas da Rede Globo, como “O fim do mundo” (1996), “Alma gêmea” (2005), “Império” (2014), dentre outras. Naquela época, a gente alugava casas para passar os dias na cidade. Fomos no período do carnaval, quando a população local realiza retiros espirituais, alheios à folia de outras cidades. Portanto, o sossego era geral.

            Atualmente, mesmo com pouco mais de 4 mil habitantes, Carrancas é outro município. Nota-se pelo grande número de hotéis e pousadas e o desenvolvimento do turismo ecológico, com guias especializados em levar grupos para conhecer as principais atrações, as cachoeiras.

            Duas décadas atrás, a gente encontrava as cachoeiras por dicas dos próprios moradores. Não precisava pagar para entrar e nem elas possuíam as infraestruturas que dispõem atualmente, como restaurantes, rampas de acesso, escadarias, etc. Parte da região foi transformada em um parque municipal, o que, de certa forma, ajuda a preservar o meio ambiente.

            Na virada de 2021, dias depois do Natal, visitamos Carrancas e ficamos (Regina, Wagner e eu) hospedados em uma casa alugada por meio do Booking. Mesmo fora da área central, o local era silencioso e próximo de uma cafeteria muito boa, que servia um farto café da manhã, o Cafezim Cachoeira. Estávamos de carro, mas na região central da nada era tão distante assim que não pudesse ser percorrida a pé.

            Pagamos ao guia R$ 80,00 por pessoa para visitar seis cachoeiras, no primeiro dia de viagem. O passeio durou o dia inteiro. É o preço médio praticado pela maioria dos guias da cidade, utilizando o nosso próprio veículo. Indo com o guia, o valor é mais alto. Há vários passeios disponíveis, pois Carrancas dispõe de mais de 70 cachoeiras.

         Visitamos o complexo Zilda 1, onde fica o Parque Serra do Moleque, com um grupo de aproximadamente 10 pessoas. Numa pequena área, com uma caminhada bastante tranquila, o grupo conheceu as cachoeiras de Guatambu, da Proa e da Zilda. Na parte da tarde, depois do almoço, parte da turma foi conhecer a Cachoeira do Escorrega (que eu não conheci) e a do Índio.

            Há muito tempo que eu não tomava banho de cachoeira e esse, em especial, foi providencial. Principalmente depois de quase dois anos de pandemia, recolhimento e as inúmeras situações ruins pelas quais estamos passando. Foi uma espécie de limpeza para o corpo e para a alma.

            Infelizmente, foi o único dia de sol que pudemos aproveitar. Nos outros dias, a chuva tomou conta da cena. Por sua altitude, 1.052m acima do nível do mar, e o fato de estar em um planalto, Carrancas é uma cidade que acumula muitas nuvens e, portanto, é muito chuvosa. Segundo alguns moradores, tem dias que é possível passar por todas as estações do ano. Durante nossa estadia lá, caiu uma chuva fortíssima que nos obrigou a ficar mais de 40 minutos dentro do carro, pois não havia guardachuva que suportasse o volume das águas. As ruas se transformaram em pequenos riachos. A melhor época para visitar a região é de março a setembro. O problema é que a água é gelada. Sem sol, fica difícil entrar.

            Além das cachoeiras, Carrancas está engatinhando no turismo. Há várias opções de hospedagem e nota-se que o público frequentador da cidade mudou. Antes, eram mochileiros e aventureiros; atualmente, muitos paulistas e cariocas da classe média estão conhecendo o local, o que obrigou à criação de restaurantes pretensamente mais sofisticados e com os preços nas alturas.

            Na pracinha principal, aonde situa-se a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, concentram-se as principais atrações gastronômicas. A própria praça é bastante encantadora e a igreja tem altares ricos em talhas barrocas. Na mesma região, está uma excelente loja de artesanato, o Quintal das Artes, com peças de todo o Brasil, escolhidas com muito bom gosto. Lembro que Carrancas está no circuito da Estrada Real, o que está ajudando bastante a alavancagem do turismo.

            Outro local que me chamou a atenção foi a loja Curupira, especializada em brinquedos artesanais, papelaria e uma livraria bastante singular, com livros diferenciados voltados para o público infantojuvenil. Comprei lá dois exemplares da coleção Anti-Heróis e Antiprincesas dedicados, respectivamente, ao escritor uruguaio Eduardo Galeano (autor de “As veias abertas da América Latina”) e a cantora e compositora chilena Violeta Parra, dois ícones da esquerda latina. As obras são editadas pelas editoras Sur e Chirimbote, de Santa Catarina.

            Há um centro de artesanato dedicado aos artesãos locais, com uma boa diversidade de produtos.

           Ficamos também encantados com um projeto social, desenvolvido por moradores que assumiram toda a jardinagem de uma rua de um determinado bairro da cidade. Em mutirão, eles cultivam flores e árvores e até construíram uma pequena gruta dedicada à Nossa Senhora de Lourdes. Além de plantarem, eles se revezam nos cuidados com o jardim. Ações como esta que deveriam servir de exemplo para outras comunidades, pois reforçam o papel da comunidade na melhoria da qualidade de vida da população.

            Dos pouco mais de 4 mil moradores, muitas pessoas chegaram a Carrancas recentemente, em menos de cinco anos, procedentes de outras cidades mineiras e até de outros estados. Lá montaram pousadas, restaurantes, cafés e lojas comerciais, apostando no desenvolvimento do turismo regional. Mesmo com a paralização provocada pela pandemia, muitos continuam investindo. Conhecemos uma família que assumiu recentemente um bar da cidade; um paulistano que trocou São Paulo pela tranquilidade do interior de Minas e lá construiu uma pousada; além de outros exemplos. Foi revigorante saber que os sonhos e esperanças de muitos estão se concretizando. Espero que, com tudo isso, eles valorizem a região e respeitem o meio ambiente, para que o progresso traga benefícios.

            É bom frisar que, em dezembro de 2021, Carrancas possuía apenas duas agências bancárias e nenhum caixa eletrônico. Para entrar nas cachoeiras, somente com dinheiro vivo e os pagamentos dos guias era feito por meio de PIX. O comércio local aceita cartões de crédito e débito.

            Em seguida, algumas fotos tiradas na região, que vale a pena ser conhecida. Boa viagem, sempre com respeito aos protocolos sanitários! 


Mapa ilustrativo das atrações locais

Cachoeira do Guatambu

Cachoeira da Zilda





Cachoeira do Índio

Regina caminha pela região


Wagner brinca nas águas da cachoeira

Wagner, Regina e eu curtindo as águas de Carrancas




Cafezim Cachoeira (fachada e interior)

Jardim comunitário







Quintal das Artes







Regina e Wagner com os bonecos da casa de artesanato local

Matriz de Nossa Senhora da Conceição






Viagem ao Peru - Parte VII - Vale Sagrado dos Incas

  Em Ollantaytambo (foto de Wagner Cosse) Clique nas fotos para ampliá-las                Para conhecer melhor o Peru, em especial o Vale Sa...