Em frente à matriz de São José das Três Ilhas (MG) |
O
principal motivo desta pequena viagem era conhecer São José das Três Ilhas,
distrito de Belmiro Braga, encravada na divisa entre Minas Gerais e Rio de
Janeiro, na Zona da Mata mineira. Há anos vi uma imagem de uma igreja imensa,
toda feita em pedra, que me encantou. Quis conhecer este lugar, mas nunca havia
tido a oportunidade.
Mas,
como o turismo naquela localidade ainda é incipiente, a primeira preocupação
seria a de buscar um hotel ou pousada que nos atendesse e ainda permitisse uma
circulação pela região, reconhecida nacionalmente pelas belezas naturais e
pelas históricas fazendas do período cafeeiro do século 19.
Pesquisando,
chegamos ao Solar dos Vieira, uma simpática pousada localizada em Juiz de Fora,
a menos de 100 quilômetros das principais atrações, e com uma boa estrutura de
hospedagem, além de um componente especial, que torna a viagem especial: uma
administração extremamente simpática, formada pelo casal Américo e Maria José e
pela gerente Hérika. Eles fizeram de tudo para nos deixar à vontade, com
comidinhas deliciosas, papo agradável e aquele espírito hospitaleiro que nos
encanta. Além disso, o lugar é lindo,
rodeado de uma mata nativa e belos jardins.
Uma
das coisas que logo me chamou a atenção quando entrei no casarão da pousada foi
um grande retrato, pintado a óleo, com a imagem do ator Leonardo Vieira
interpretando o personagem Pedro da Maia, da minissérie “Os Maias”, da Rede
Globo, de 2001. Logo soube que os proprietários são os pais do conhecido ator.
Admirador da minissérie (que eu tenho em DVD), quis logo guardar na memória a
imagem desse inusitado encontro.
O
segundo dia da viagem foi um sábado. Wagner Cosse, meu companheiro de viagem, e
eu organizamos um passeio pela região de Rio das Flores, onde visitamos uma
belíssima fazenda histórica. Geralmente, aos sábados, algumas dessas
propriedades, que se transformaram em museus ou hotéis, recebem turistas para
visitas guiadas. No caso da Fazenda União, a escolhida por nós, é oferecido almoço
com visita guiada, ao preço de R$ 90 por pessoa. No caminho, vimos várias
fazendas antigas, algumas em bom estado e outras em ruínas, atestando a
dificuldade de se preservar esses bens tão representativos, mas que têm um alto
custo de manutenção. E sempre que víamos palmeiras imperiais na estrada,
sabíamos que ali por perto havia uma bela edificação.
A
estrada (RJ-151), apesar do tempo seco e de muitas queimadas, reservou alguns
encantos. Perto de Paraibuna (ou Mont Serrat), no Estado do Rio, uma antiga
estação de trem, um belo pontilhão ferroviário, edifícios decorados e um lago
rodeado por uma grande rocha encheram os olhos. Um pouco mais adiante, já no
caminho de Rio das Fores, a rodovia é abraçada por uma série de belas árvores,
compondo uma paisagem encantadora.
Chegamos
à Fazenda União perto da hora do almoço. O calor era abrasador. Aproveitamos o
clima agradável do local para tirarmos umas fotos e depois almoçarmos. Confesso
que esperei mais da refeição, devido ao seu valor e ao requinte do local. Não
que estivesse ruim, mas era extremamente simples e sem atrativos. Em seguida,
fomos visitar as dependências da fazenda, acompanhados por uma guia vestida com
trajes típicos do período monárquico. O atual proprietário é um colecionador de
peças antigas, que foram integradas ao acervo da fazenda, que pertenceu ao
Visconde do Rio Preto, rico produtor de café. Quadros, mobília, pratos decorativos,
porcelanas e cristais brasonados e até peças que pertenceram à família real
ganharam explicações minuciosas. A gente aprendeu até a origem de termos como “espevitada”,
que vem da espevitadeira, objeto utilizado para apagar velas sem soprar (que,
para muitos, trazia mau agouro). Ou a água ardente, produzida nas senzalas com
o sumo da cana de açúcar, que pingava do teto após sua evaporação. Daí surgiram
a aguardente e a pinga.
O
complexo da Fazenda União, além da casa principal e dos quartos dos hóspedes
(construídos recentemente, mas com o estilo da época), inclui a senzala, o
museu de arte sacra, a capela ricamente adornada por pinturas de um jovem
artista local, a cozinha e o armazém. Todos realizados com bastante capricho e
referência histórica. Terminada a visita, voltamos para Juiz de Fora pela MG-353.
No
domingo, rumamos logo após o café da manhã para São José das Três Ilhas. O café
da manhã no Solar dos Vieira foi agitado, pois os proprietários estavam
recebendo amigos e parentes que foram ao local, no dia anterior, para um
casamento. Wagner e eu presenteamos, ao casal de proprietários, o nosso mais
recente CD Casa de Vinicius, dedicado à obra de Vinicius de Moraes e parceiros.
Imediatamente o disco foi colocado para tocar, o que causou uma comoção no
grupo, emocionando-nos imensamente. A sorte é que eu tinha vários exemplares no
porta-malas do carro, pois concretizamos uma boa venda entre os interessados em
levar para casa o nosso trabalho. Viva!
Continuando
a viagem, fomos para São José das Três Ilhas, passando por Belmiro Braga
(MG-353). A partir da cidade, são nove quilômetros de estrada de terra bem
empoeirada, mas com boa conservação. No caminho, lindas paisagens e alguns
mirantes naturais, onde pudemos ver as infinitas cadeias montanhosas. Em
determinada curva, avistamos ao longe a imensa igreja de pedra e as casinhas ao
redor. Estávamos chegando a São José.
Trata-se
de um pequeno distrito, com no máximo mil habitantes. Era domingo, 12 de
outubro, dia das crianças e de Nossa Senhora Aparecida e a igreja estava
aberta. Respeitamos o aviso para não fotografar ou filmar o interior, por questões
de segurança. As pinturas, desgastadas pelo tempo, estão carecendo de
restauração. Há belas imagens, mas a imensidão da arquitetura é o que mais
chama a atenção na parte interna do templo. O seu tamanho denota que a região
já foi muito rica no passado e que havia gente suficiente (ao contrário dos dias
atuais) para lotar os bancos.
Nas
proximidades da igreja, uma bela rua de residências e casarões coloniais
cercada por montanhas. Há Passos da Paixão – alguns decorados com azulejos –
além árvores florescidas. Cavalos soltos compunham uma paisagem bastante rural.
Visitamos ainda um armazém bem característico, com mobiliário antigo, e
almoçamos no restaurante caseiro da dona Nilza, que serviu uma comida simples,
mas bem temperada.
Em
termos de cenário, Três Ilhas está pronta para a exploração turística. É um
local encantador, que precisa apenas de investimento em hotelaria, restaurantes
e até mesmo no comércio de produtos locais, como laticínios (em especial o
queijo, que não conhecemos, mas foi citado por moradores como de excelência) e
artesanato. Como era domingo, não vimos as lojas abertas, impedindo de uma visão
mais apurada do movimento local. É uma joia quase oculta em um dos pontos mais
conhecidos da região Sudeste, entre Rio de Janeiro, Petrópolis, Vassouras e
Juiz de Fora, merecendo mais atenção por parte das autoridades e dos
investidores.
Chegamos
ao Solar dos Vieira no fim de tarde, a tempo de aproveitar um pouco da piscina,
uma vez que o calor estava infernal. Por sugestão da gerente do hotel, Hérika,
fomos jantar no Assunta, restaurante e pizzaria em Juiz de Fora, famoso por uma
decoração caprichada. Foi construído no local de uma antiga pedreira, com
arquitetura arrojada. O forte é o rodízio de pizzas, mas também havia serviço À
La Carte, o que preferimos.
Escolhemos um delicioso bacalhau espanhol, acompanhado por um delicioso vinho do porto.
Escolhemos um delicioso bacalhau espanhol, acompanhado por um delicioso vinho do porto.
Na
manhã de segunda-feira, refeitos do cansaço e do calor, tomamos o café da manhã
e nos despedimos do Solar. Agora, era hora de voltar para Belo Horizonte, nossa
casa. Na rodovia BR-040, uma paisagem catastrófica, com muitas queimadas,
trânsito caótico, motoristas imprudentes, obras intermináveis que provocavam
filas gigantescas e, é claro, calor e sensação de baixíssima umidade do ar.
Ufa!
Aproveitamos
que tínhamos tempo e fizemos uma parada em Santos Dumont para conhecer a famosa
casa onde nasceu o Patriarca da Aviação, em Cabangu. O local hoje abriga um
parque sob a guarda do Ministério da Aeronáutica. Mas existe ainda uma parte
administrada pela prefeitura municipal e por um instituto criado especialmente
para gerir o complexo. Apesar de tantos pais ou padrinhos, o local necessita de
reformas urgentes. Embora abrigue peças relevantes, elas estão dispostas sem
muito interesse por parte dos turistas e menos ainda, acredito, por parte das
crianças. Na minha opinião, considerando o teor de inventividade do criador do
14 Bis e do relógio de pulso, o espaço merecia mais magia e interatividade.
Mas, enfim, vale a pena conhecer esse local mítico.
Depois
desse entreato, retorno ao lar e aguardar a próxima oportunidade para uma nova
viagem.
Algumas dicas:
Conhecemos o Solar dos Vieira por meio do
Booking. Mas o hotel tem página no Facebook e no site www.pousadasolardosvieiras.com.br.
Para conhecer a Fazenda União sem se
hospedar, é preciso agenda a visita antecipadamente no site www.fazendauniao.com.br
Domingos Custódio Guimarães, o primeiro barão
e visconde com grandeza do Rio Preto, nasceu em São João del-Rei (1802) e faleceu
na Fazenda Paraíso, em Valença, no dia 7 de setembro de 1868.
Para saber um pouco mais sobre São José das
Três Ilhas, o melhor é entrar em contato com a prefeitura de Belmiro Braga www.belmirobraga.mg.gov.br. Para falar no pequeno
distrito é preciso paciência. Apesar das inúmeras tentativas, não conseguimos.
Ou seja, fomos no risco total.
Sobre o Museu do Cabangu, informações no site
www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/a-casa-de-cabangu
Curiosidades a respeito do Pai da Aviação na
página www.santosdumontdepropriopunho.com.br
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
Solar dos Vieira
O proprietário Américo, o retrato de Pedro da Maia, Thelmo e Wagner Cosse |
Thelmo, Hérika, Maria José e Wagner Região das fazendas centenárias |