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Wagner Cosse e eu no Parque Quilombo dos Palmares (foto de Dandara Thaty) |
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
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Genocídio no Brasil Colonial
Décimo terceiro dia de viagem e
estamos saindo de Maceió rumo a União dos Palmares, no interior de Alagoas.
Setenta e oito quilômetros separam as duas cidades e uma rodovia que passa por
parte do que restou da Mata Atlântica alagoana.
Logo no trevo de União dos Palmares
vemos o símbolo máximo da cidade: Zumbi, o grande herói, que se transformou em
um símbolo da resistência dos afro-brasileiros. Mas não foi ele quem fundou o
Quilombo. Quando Zumbi nasceu, em 1655, Palmares já tinha atingido o ápice de
seu desenvolvimento, que se deu em 1630.
Tudo começou com sua avó materna,
Aqualtune, uma nobre congolesa. Ela foi capturada e veio ao Brasil na condição
de escrava. Foi ela quem iniciou a revolta entre os negros e arquitetou a fuga
e a fundação de um reino onde os negros, índios e até brancos pobres pudessem
viver em liberdade, cultivando a própria terra e defendendo suas fronteiras.
Aqualtune é mãe de Ganga Zumba e avô de Zumbi.
Ela e seus seguidores escolheram a
Serra da Barriga, na Zona da Mata Alagoana na divisa entre Alagoas e
Pernambuco, para fundar seu território nos idos de 1580. O complexo era
centralizado na Cerca Real do Macacos, onde a maioria dos moradores vivia. É
neste local que está a sede do Parque Memorial Quilombo dos Palmares,
inaugurado em novembro de 2007.
No dia 06 de fevereiro de 1694, após
várias tentativas, os grupos armados chefiados pelos bandeirantes Domingos
Jorge Velho e Antônio Furtado conseguiram derrotar a resistência dos
palmarinos. A maioria dos 5.000 habitantes (uma população equivalente à da
cidade do Recife na época) foi morta e decapitada. Zumbi conseguiu fugir e
manteve-se escondido por quase dois anos, até que sofreu uma traição por parte
de seus companheiros e foi assassinado no dia 20 de novembro de 1695, data em
que é comemorado o Dia da Consciência Negra.
Boa parte dessas informações foi
repassada pela guia local Dandara Thaty, uma jovem de 24 anos, mas com uma
imensa integração com a história de sua cidade e seu povo. Seus relatos de
Palmares nos comoveram. Wagner, que é mais sensível do que eu para determinadas
atitudes, chorou em vários momentos do passeio. Parecia que, além de estarmos
em território sagrado, pisávamos numa espécie de Auschwitz, o mais célebre
campo de extermínio nazista.
Foi tocante conhecer a gameleira
branca, considerada a árvore sagrada dos palmarinos. Ela é representa uma Irôco
ou Orixá do Tempo, testemunha ocular da história, com seus mais de 400 anos.
Também foi emocionante conhecer os lugares onde aconteceram os rituais e as
batalhas, mesmo que eles estejam totalmente diferentes das construções
originais, que foram todas destruídas pelos portugueses.
Conhecemos outros heróis, como
Dandara, Acotirene, Adalaquituche, Gana Zona, dentre outros, muitas vezes
apagados dos nossos livros de história. Foram eles que, com sua força e
resistência, garantiram que novos brasileiros de pele negra ou parda
conseguissem garantir sua sobrevivência. Dentre eles, está o professor Abdias
do Nascimento, grande referência na preservação da memória do povo
afro-brasileiro. Suas cinzas foram nas raízes de um baobá plantado na subida do
Morro das Graças, parte mais alta da Serra da Barriga, no dia 13 de novembro de
2011.
Nossa guia também nos levou além de
Palmares. Fomos conhecer os novos quilombos, em especial a comunidade de
Muquém, onde vivem os quilombolas de hoje. Dentre eles, mestres artesãos,
músicos, dançarinos ou simplesmente trabalhadores do Brasil, que lutam no dia a
dia contra a pobreza e a discriminação.
Em União dos Palmares conhecemos
ainda dois museus, dedicados a dois moradores que marcaram a história do
município. O primeiro homenageia Maria Mariá (1917-1993), professora,
folclorista, historiadora, jornalista, colecionadora e ativista cultural da
cidade. Mesmo sendo de família de posses, sofreu preconceito por ser uma mulher
à frente de seu tempo. A casa onde morou hoje abriga seu acervo pessoal, com
móveis, roupas, utensílios domésticos e obras de arte.
Outro famoso palmarino é o escritor
e poeta Jorge de Lima (1893-1953). A casa onde nasceu abriga uma exposição
sobre sua trajetória, em grandes painéis com fotos e textos. Lima é autor,
dentre outros, de clássicos da literatura como A Túnica Inconsútil (1938) e
Invenção de Orfeu (1952).
No centro de União dos Palmares,
onde antigamente era a o complexo ferroviário, funciona um centro de
artesanato, que expõe material de artistas da região.
Gostaria, antes de terminar este
texto, de fazer um agradecimento especial ao professor Helcias Pereira, membro
do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô e assistente técnico da
Representação Regional da Fundação Cultural Palmares. Foi o professor que nos
indicou a guia Dandara (ele mesmo faz este papel, mesmo morando na capital
alagoana), impossibilitado de nos acompanhar. Graças ao seu carinho e
generosidade, conhecemos Dandara e, posteriormente, a indígena Graciliana Selestino
Wakanã, que nos levou para conhecer um pouco dos hábitos e costumes de seu
povo, os Xucuru Kariri. Mas este é o tema para a próxima postagem. Helcias,
além de um grande lutador, é uma referência para a cultura alagoana.
Despedindo dessa cidade, nossa
próxima parada será Palmeira dos Índios, também no interior de Alagoas.
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Trevo de União. Ao fundo, uma escultura em homenagem a Zumbi |
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Complexo ferroviário da cidade, onde atualmente funciona loja de produtos artesanais |
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Antiga estação ferroviária (foto de Wagner Cosse) |
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Museu Jorge de Lima |
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Interior do Museu Jorge de Lima |
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Wagner e eu, ao lado da foto de Jorge de Lima (Foto de Dandara Thaty) |
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Escultura de Zumbi dos Palmares, no centro da cidade |
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Santa Maria Madalena, padroeira da cidade |
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Escola do município |
Museu Maria Mariá
Parque Memorial Quilombo dos Palmares
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Área principal do museu |
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Dandara explica quem é quem na formação do quilombo |
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Uma das árvores sagradas |
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Buscando as energias positivas da natureza |
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Réplica do palácio de Zumbi |
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Local mais alto do palácio, onde os guardas avistavam os inimigos |
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Banneres que homenageiam negros famosos da cultura brasileira |
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Wagner ouve as explicações de Dandara |
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Reprodução das ocas onde viviam os índios palarinos |
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Mirante ou atalaia, para observar os possíveis invasores |
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Área que, antigamente, pertencia ao quilombo |
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Construções do Parque Memorial |
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Escultura de Ganga Zumba e seu sobrinho Zumbi |
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Local onde estão as cinzas de Abdias do Nascimento |
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A gameleira sagrada ou irôco |
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Lagoa dos Negros |
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Irôco: testemunha de Palmares |
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Chuva no parque |
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Criança observa a chuva dentro de uma das contruções |
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Dandara |
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Almoço na região de União dos Palmares |
Povoado Quilombola de Muquém
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Visitando as artesãs locais |
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Dandara, Wagner, a artesã D. Irinéia e seu esposo. |
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