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Cachoeira do Crioulo, uma das principais atrações do Parque Estadual do Rio Preto |
Depois de
cinco dias visitando a cidade do Serro e arredores, em Minas Gerais, partimos
para a segunda etapa da viagem: conhecer o Parque Estadual do Rio Preto, na
cidade de São Gonçalo do Rio Preto, Vale do Jequitinhonha, 355 km ao norte da
capital mineira.
Após breves passagens por
Sabinópolis e Diamantina, rumamos para o parque, que fica a aproximadamente 150
km do Serro, sendo os últimos 14 km de terra. Este trecho final, apesar de
íngreme, é transitável por carros comuns e até vans e ônibus que, de vez em
quando, levam grupos ao local.
Como disse na postagem anterior,
estou me dedicando a conhecer os parques mineiros. Já estive em Ibitipoca,
Serra do Cipó, Vale do Peruaçu, Pico da Bandeira, Aiuruoca, Serra da Canastra
e, desta vez, neste recanto da natureza. O parque está inserido no ecossistema
do serrado. Nesta época do ano – julho – quase não chove e a paisagem está
ressecada. Por isso, as cachoeiras não estão em seu esplendor total, que
acontece a partir de novembro. Mas, no inverno, apesar do frio, é a melhor
época para conhecer a região. Com as chuvas, muitas áreas ficam alagadas e de
difícil trânsito. Algumas até fechadas às visitações.
Como ficaríamos (Wagner Cosse, meu
companheiro de viagem e eu) apenas quatro dias, escolhemos as principais
atrações para conhecer: as cachoeiras do Crioulo e Sempre Viva; as corredeiras
do Rio Preto; o poço do Veado; e o poço de Areia.
Vale ressaltar que a estrutura do
parque é fenomenal. Tem um alojamento de excelente qualidade e um receptivo de
alto nível por parte os empregados, sempre solícitos e atenciosos. Parece que
estamos em países do chamado Primeiro Mundo! Há um restaurante terceirizado,
comandado por Dona Conceição e seu filho Marcelino, que tem uma comida muito
saborosa e um café da manhã com frutas e quitandas feitas na hora. Tivemos que
ter um cuidado extra com a alimentação, pois é difícil parar de comer numa
situação dessas. Existe uma área de camping muito elogiada pelos usuários, sendo
que alguns estavam com sua família completa usufruindo os ambientes muito
limpos e organizados. Coroando tudo isso, os preços são impressionantes. Para
se ter uma ideia, pagamos a diária de R$ 60,00 pelo alojamento (para duas
pessoas!), R$ 12,50 pelo café da manhã e R$ 17,50 pelas refeições. Os preços do
café e da refeição são individuais, mas se pode comer à vontade. Ainda sobre o
alojamento, é possível acomodar até cinco pessoas, mas a tarifa tem preço
diferenciado. Parece que as tarifas vão aumentar, pois estão muito defasadas.
Depois da chegada e do
reconhecimento do terreno, fomos dormir para enfrentar, no dia seguinte, o
primeiro desafio: fazer a trilha de 13 km (ida e volta) para a região das
cachoeiras do Crioulo e Sempre Viva. Essas trilhas mais distantes são,
obrigatoriamente, conduzidas por um guia, no nosso caso, o Waldir. Wagner logo
puxou dele causos de assombrações, que ele nos contou com ênfase e animação. Tinha
várias experiências pessoais para nos contar. A trilha de ida foi feita somente
para nós dois (o parque oferece, neste caso, saídas às 9h, 10h e 11h; e o
passeio completo dura aproximadamente seis horas).
Durante o trajeto de ida, feito com
razoável facilidade, pudemos conferir a paisagem regional, tendo como ponto
alto do Pico dos Dois Irmãos, que mais parece um par de seios femininos. Havia
vários mirantes, estrategicamente localizados e muito bem conservados, de onde
admiramos a vista e os visuais.
A cachoeira do Crioulo é majestosa.
Cai sobre um grande poço de águas cor de conhaque, ladeado por rochedos e uma
praia de areias brancas, além de arbustos e flores. A água é fria, mas como o
clima estava bastante agradável, era impossível não entrar para relaxar e
combater o sol do meio dia. Na cachoeira, encontramos com Fernanda e Flávia,
amigas de Belo Horizonte e conhecemos Lara e Marcela. Estas duas, também
moradoras da capital mineira, foram nossas companheiras no retorno ao
alojamento. Na volta, é possível voltar pela trilha de ida, de trânsito mais
fácil, ou por um novo caminho, que ladeia o córrego das Éguas, com muitos
pedregulhos. Fernanda e Flávia optaram voltar pela trilha inicial, enquanto
Lara, Marcela, Wagner e eu, conduzidos por Waldir, voltamos pela beira do
córrego.
Neste caminho, além de usufruir da
beleza das águas, há uma parada obrigatória pela cachoeira Sempre Viva, que não
vimos no caminho inicial. Nesta cachoeira, ao contrário do Crioulo, tivemos a
oportunidade de curtir a ducha formada pela queda das águas, devido ao seu
acesso facilitado.
No retorno, ainda nos deparamos com
um sem número de plantas, inclusive inúmeros tipos de flores, como orquídeas
minúsculas e canelas de ema. Outro atrativo é a Forquilha, local onde o córrego
das Éguas se encontra com o rio Preto, misturando as águas. Por causa da
necessidade de se preservar a nascente deste rio, que o parque foi criado em
1994.
No caminho final, confesso, já
estava cansado. Os pés davam sinais de sua existência, pois as pedras cobram um
preço alto das nossas articulações, em especial a dos joelhos. Encontramos com
o resto da turma e rumamos diretamente para o restaurante, onde nos aguardava a
comida saborosa de Dona Conceição.
Durante a noite, já no alojamento,
momentos para prosas e observação das estrelas. Wagner e eu nos propusemos a
ler, em voz alta, o livro Grande Sertão, Veredas, de Guimarães Rosa, que narra
a trajetória de Riobaldo e Diadorim por aquelas paragens. Foi emocionante!
O dia seguinte também amanheceu
límpido, com o céu de um azul imaculado. Compensamos o cansaço da trilha do dia
anterior, com um passeio menos extenso. Era dia de visitar o poço do Veado, num
percurso de aproximadamente 5 km (ida e volta). O poço tem este nome por causa
da pintura rupestre de um veado, feita em um paredão. Como na cachoeira do
Crioulo, o local tem uma grande praia de areias brancas e um poço deslumbrante.
Dentro das águas, peixes de vários tamanhos. Alguns, bem pequenos, vinham roçar
nossos pés, fazendo-nos um misto de cócegas e massagem.
No dia seguinte, penúltimo de nossa
viagem ao parque, enfrentamos mais uma trilha de 11 km (ida e volta) até as
corredeiras do Rio Preto. Desta vez, na companhia do guia Marcílio e de mais
dois participantes: Ilton e Luiz. Depois de uma subida bastante íngreme,
descemos uma trilha meio encascalhada até as corredeiras. As águas escuras do
rio se derramam sobre um extenso lajeado e forma vários poços. Um local
paradisíaco, formado por muitos tipos de pedras, com cores e formas variadas.
Ilton, que é geólogo, nos dava algumas dicas sobre as rochas. No retorno, ainda
conhecemos o poço de Areia e uma pequena cachoeira.
Depois de uma comidinha deliciosa,
leituras de Guimarães Rosa e outros autores e uma boa noite de sono, acordamos
na manhã de sábado para arrumar as coisas e voltar para casa. Na bagagem, a
memória de lugares tão especiais desses Gerais, nossa querida terra, registrada
em um sem número de imagens fotográficas, que sempre tocarão na delicada corda
de nossa emoção.
Espero que tenham apreciado esta
viagem. Mais informações sobre o parque acesse www.ief.mg.gov.br.
E até a próxima!
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
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Alojamentos |
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Trilha para a cachoeira do Crioulo |
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Pico dos Dois Irmãos |
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Mirante |
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Dois Irmãos: ou seios femininos? |
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Poço da cachoeira do Crioulo |
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Cachoeira do Crioulo |
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Córrego das Éguas |
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Cachoeira Sempre Viva |
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Eu, Wagner, Mariana e Lara |
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Forquilha: encontro dos rio Preto com o córrego das Éguas |
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Fernanda, Flávia, Mariana, Lara, Waldir e Wagner |
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Fernanda, Flávia, Lara, Mariana, Waldir e eu |
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Pico Dois Irmãos no fim de tarde |
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Poço do Veado |
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Pintura rupestre |
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Wagner acena de dentro do poço do Veado |
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Fim de tarde no mirante da Serra |
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Trilha das corredeiras |
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Corredeiras |
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Ilton e Luiz, companheiros de trilha |
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Wagner e eu nas corredeiras |
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No poço da Areia |
Parabéns Thelmo! Belo relato... Riqueza de detalhes.
ResponderExcluirThelmo, eu estava ansiosa pelas fotos e relatos, amei!
ResponderExcluirUma das maravilhas da viagem foi conhecer vocês! :)
Abraços,
Lara