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Vista da área central do Serro, cidade histórica mineira |
Minas Gerais é um estado riquíssimo
em patrimônio histórico e natural. E conhecê-lo sempre foi um dos meus
objetivos. Percorrer todas as cidades históricas, principalmente aquelas
fundadas durante o ciclo do ouro e do diamante, no século 18, e os parques
estaduais e federais que estão no Estado, tem sido minha meta.
Desta vez, o rumo apontaria para o
Vale do Jequitinhonha, onde está uma das mais belas cidades brasileiras, o
Serro, e seus arredores encantadores. E, em seguida, mergulhar nas belezas do
Parque Estadual do Rio Preto, na cidade de São Gonçalo do Rio Preto (355 km da
capital mineira).
Nesta primeira postagem, vamos falar
sobre o Serro.
Partimos de Belo Horizonte (Wagner
Cosse, meu companheiro de viagem, e eu) no dia 21 de julho de 2016. Pegamos a
estrada pela Serra do Cipó, passando por Conceição do Mato Dentro e,
finalmente, chegando ao Serro. São aproximadamente 220 km. Deste total, cerca
de 30 km são de estrada de terra (bem conservada, por sinal). O restante é
asfaltado. Optamos por este caminho por dois motivos: primeiramente porque a
estrada é muito bonita, sinuosa, com belas paisagens e menos fluxo de trânsito
do que a BR-040, a outra opção; em segundo lugar, porque encurta o caminho.
Chegamos ao Serro já na parte da
tarde. Deixamos nossa bagagem na Pousada Marina, que fica em frente ao Fórum, e
partimos para uma primeira expedição fotográfica. A cidade tem poucas e
singelas pousadas, carecendo de um investimento maior na área de hotelaria.
Soubemos que um hotel está sendo construído, o que facilitaria o acesso de
grandes grupos ao local. Mas a pousada é simpática, com um bom café da manhã e equipe
bastante atenciosa.
O fim de tarde revelou a beleza do
por do sol manchando o casario histórico com suas tonalidades avermelhadas. Pela
localização de nossa pousada, chegamos por trás da Igreja de Santa Rita, cartão
postal do Serro, com sua escadaria de 57 degraus. Dali se tem uma ótima vista
da parte central da cidade, que foi a primeira no país ser tombada pelo governo
federal, isso em 1938. Logo abaixo dos degraus está a praça principal, onde
fica a prefeitura e a Igreja do Carmo. Nela, há uma cerca viva, onde centenas
de pássaros fazem seus ninhos e, no crepúsculo, eles estão em plena algazarra.
Já estive na região do Serro em
outras viagens. A mais recente aconteceu há aproximadamente 10 anos, quando
participei da impressionante Festa do Rosário, com certeza uma das maiores e
mais tocantes manifestações folclóricas e religiosas do país. Mas desta vez,
com a cidade mais calma, pudemos admirar melhor todo o potencial da cidade, que
bem merecia configurar na lista de patrimônio histórico da Humanidade, como sua
vizinha Diamantina, Ouro Preto, Congonhas e, recentemente, o conjunto da
Pampulha, em Belo Horizonte. Além de seus monumentos conservados (ainda que
merecessem mais cuidados), nasceram na localidade importantes nomes da história
do Brasil, como os irmãos Teófilo e Cristiano Ottoni, o jurista Edmundo Lins, a
cozinheira Dona Lucinha, o escritor Oswaldo França Junior, o ator Carlos Nunes,
dentre outros. Todos eles estão biografados no livro “Valores do Serro”,
escrito por Maria de Lourdes Moreira Pires e lançado em 2015. Esta coletânea de
perfis foi fundamental para entender quem é quem na trajetória do município.
Foi o meu livro de cabeceira nos dias da viagem e, ao final dela, acabei
ganhando um exemplar de presente.
Visitamos quase todos os principais
monumentos, como as igrejas, a chácara do Barão do Serro e a residência dos
Ottoni (que atualmente é um museu). Há um posto de atendimento ao turista na
rua principal, de onde extraímos ótimas informações, além de obtermos panfletos
e livros alusivos à cidade. Em quase todos os locais, havia guias – a maioria
jovens ou adolescentes – que nos conduziam e revelavam alguns detalhes
históricos. É possível, inclusive, saber o revezamento dos horários de
funcionamento dos edifícios, graças a uma planilha que nos é repassada antecipadamente.
O Serro tem uma boa culinária,
embora não tenha restaurantes notáveis. A melhor surpresa é o Trapiche, inaugurado
recentemente, que propõe um trabalho gastronômico um pouco mais requintado. Os
caldos são deliciosos e vale a pena experimentar o sorvete do “vulcão”. Além
disso, é possível encontrar, nos outros restaurantes, comida típica de Minas
Gerais, em especial do bambá de couve, que é um dos meus pratos favoritos. Ah,
e o queijo... o queijo é um episódio à parte. Delicioso! Há uma cooperativa
onde podem ser adquiridos vários tipos fabricados na região.
Nos arredores do Serro existem
distritos e vilas irresistíveis. O meu preferido é São Gonçalo do Rio das
Pedras, que conheci há mais de 20 anos e que mantém seu charme. Em Milho Verde,
mais conhecida atração regional, havia uma grande movimentação em torno do
Encontro Cultural. Por isso, o lugarejo estava cheio de gente e poeira. Mas
ficou na lembrança a deliciosa comidinha caseira de Dona Geralda, uma graça de
pessoa. No meio do caminho, passamos por Três Barras. Ali encontramos uma
expedição fotográfica, comandada pelo fotógrafo Tom Alves, da qual participava
uma querida amiga, Fernanda Jardim (quem encontraríamos mais tarde no parque
estadual).
Das novidades, dois lugares
especialíssimos e muito curiosos. O primeiro é a vila Deputado Augusto
Clementino, popularmente conhecida como Mato Grosso. Fica a 15 km da sede. Na
Vila da Capelinha, no alto da Serra do Caroula, encontra-se um lugarejo
fantasma, ou seja, ele só é habitado uma vez por ano, em julho, durante os
festejos da padroeira. No resto do ano, ninguém mora lá, exceto uma família que
toma conta do casario. Como fomos logo após a festa, a maior parte das casinhas
estava com pintura recente e alguns enfeites. Como ela fica localizada no alto
de uma montanha, o visual é esplêndido.
Outra novidade foi Capivari, que
fica na mesma direção de Milho Verde, cerca de 20 km da sede. A maior parte da
estrada é de terra. A vila fica ao sopé do Pico do Itambé e tem cachoeiras
maravilhosas. Visitamos uma delas, a Tempo Perdido, batizada por causa da caça
a uma onça que não foi bem sucedida (nada a ver com a canção da Legião Urbana).
A trilha para a cachoeira, feita a pé (cerca de 2 km) é de tirar o fôlego.
Trabalho dobrado para os fotógrafos, que querem gravar todas aquelas
impressões. Na capelinha de Capivari também tive outra surpresa. No campanário,
havia um sino datado de 1942, com as palavras “Itabirito” (minha terra natal) e
“João Glória”. Pesquisando, descobri que João foi um importante sineiro
itabiritense de meados do século 20, que conseguiu distribuir suas obras por
várias cidades brasileiras e até estrangeiras. Ou seja, havia ali um pouco de meus
conterrâneos, o que muito me emocionou. Em Capivari, existe o investimento no
turismo doméstico. Ou seja, os moradores abrem suas casas para receber os
visitantes para hospedagem ou alimentação. Almoçamos numa dessas residências.
A impressão geral foi bastante
positiva. Como se desligássemos aquele relógio que corre sem parar e nos desse
uma pausa para meditar e reconhecer as belezas que nos circundam. Depois de
cinco dias na cidade, resolvemos bater em retirada para o Parque Estadual do
Rio Preto. Detalhes desta viagem, vamos contar na próxima postagem.
Ótimo post. Essa região é realmente muito linda e preciosa, tanto com sua beleza natural e paisagística, quanto com a cultura e simplicidade do seu povo. Faço aqui uma observação; o Pico do Itambé também é um Parque Estadual - que inclusive vale muito a pena conhecer, com suas belas trilhas e cachoeiras. E toda essa região - Milho Verde, Capivari, São Gonçalo - são também protegidos por uma Área de Proteção Ambiental e por um Monumento Natural. Enfim, vale muito a pena mesmo visitar essa região. Aproveito para mandar um salve para a Serra do Espinhaço e nossos campos rupestres. ADORO
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