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Isaura Paulino: amor especial pela África |
Mineira de Belo Horizonte, Isaura Paulino é uma viajante que escolhe lugares tão distantes e diferentes como Tailândia e Argentina, Chile e Filipinas. Turismóloga por formação acadêmica, ela atua no setor de cultura e entretenimento há 14 anos, organizando shows e eventos de diversas naturezas, como pessoa física ou por meio de sua empresa, a Ubuntu Produções. Atualmente, ela trabalha em Dubai.
Embora tenha uma profunda conexão com a música, a paixão pela yoga e pelos vinhos, seu verdadeiro amor é viajar, em especial para a África, que chama de “continente mãe”. Lá ela conheceu Botswana, Namíbia, África do Sul e Moçambique. Estava presente no país sul africano quando seu ídolo, Nelson Mandela faleceu.
Nesta entrevista, feita com exclusividade para o DESCOBERTAS DO THELMO, Isaura Paulino conta um pouco de sua perambulação pelo mundo.
As fotos são do acervo pessoal de Isaura Paulino.
DESCOBERTAS DO THELMO - O que é viajar pra você?
ISAURA PAULINO - Viajar é sair fora da gente mesmo. É esquecer o que você sabe, pra poder ver com os olhos da primeira vez, da novidade. Sem vícios, achismos, (pre)conceitos. Viajar é se abrir para aprender. É ir de mochila vazia, caderno em branco, para preencher na jornada. Cada lugar novo que a gente passa, ou revisita, carrega uma história que só é possível entender ao vivo. Tudo é diferente. Ainda bem! Viajar pra mim é estar disposto, entregue e atento para “deixar e receber um tanto”. E pela lei natural das chegadas e despedidas, descobrimos que, muitas vezes, a beleza do movimento faz-se mais presente na jornada, do que no destino final.
“Passei pela África do Sul, Namíbia e Botswana. Nesse último, país do qual eu desconhecia a existência, morei por 20 dias, em uma vila de 3.000 habitantes. Fui a casamento, funeral, formatura, igreja. Passei meu aniversário, Natal, Réveillon. Virei atração turística.”
DESCOBERTAS DO THELMO - Quais as viagens que você mais gostou ou que mais marcaram a sua vida?
ISAURA PAULINO - Acho que a viagem mais marcante da minha vida, foi a minha primeira ida à África. Sonhava em ir à África desde pequena. Na contramão da Disney, eu sempre quis conhecer o continente mãe. Mandela sempre foi pra mim um ícone. Quase um avô distante, de quem eu sempre quis me aproximar. Entre 2013 e 2014, consegui realizar meu sonho e parti. Sem lenço. Sem planos feitos. Só com o documento. Comprei passagem de ida, sem saber da volta... Eu estava lá quando Mandela morreu. Eu vivi a comoção de uma nação inteira, sob a perspectiva de quem pertence. Eu me sentia em casa. Eu estava em casa. No resumo da obra, minha jornada durou 40 dias. Viajei de avião, carro, ônibus. Passei pela África do Sul, Namíbia e Botswana. Nesse último, país do qual eu desconhecia a existência, morei por 20 dias, em uma vila de 3.000 habitantes. Fui a casamento, funeral, formatura, igreja. Passei meu aniversário, Natal, Réveillon. Virei atração turística. Fui acolhida por uma família que me provou que nada é por acaso e que meu anjo da guarda está atento e vigilante. A família que conheci lá, hoje é família que chamo de minha. E como uma boa filha à casa sempre torna, voltei em Botswana em 2018 e falo com eles sempre. Assim que a pandemia deixar, pretendo retornar. Minha primeira viagem à África foi, sem sombra de dúvidas, um divisor de águas na minha vida. Mas, cada uma das aventuras que já me lancei, me marcou de forma diferente: as praias paradisíacas em Zanzibar, os corais e águas cristalinas das piscinas naturais de Porto de Galinhas, o rei da selva perseguindo os búfalos no safari do Kilimanjaro, o show da Beyoncé em Joanesburgo, a primeira viagem internacional com meus pais para o Uruguai, a costa de Moçambique, os túneis de guerra no Vietnã, o refúgio de elefantes na Malásia, o tufão que me prendeu nas Filipinas, os templos maravilhosos da Tailândia, o deserto do Atacama no Chile, o maracatu de Recife, os vinhos em Buenos Aires... E eu poderia ficar aqui horas falando sobre tudo o que já vi e que assimilei como parte do meu caminhar. Mas, prefiro aconselhar para que, assim que possível, você que está lendo se lance em qualquer aventura, para criar memórias inesquecíveis, como as minhas.
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Em Botswana |
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Jornal publicado no dia da morte de Nelson Mandela |
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Em Soweto |
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Paisagem da Tanzânia |
“Sabe aquele banheiro público no final de show? Pois bem, imagina ele no final do show, só que com a 'celite' assim rente ao chão, pra você pisar, agachar, ficar de cócoras e fazer o seu xixi. Acho que nunca vivi nada parecido. E o pior, era o sistema de descarga: um balde com uma panelinha pra você encher e jogar na “celite”. Fiquei encarando aquela realidade por alguns segundos, tentando entender como eu ia fazer.”
DESCOBERTAS DO THELMO - Conte alguma coisa que não deu certo ou que deixou você em uma saia justa.
ISAURA PAULINO - Em 2016, eu estava na Tailândia. Tinha agendado um passei pra sair de Chiang Mai e visitar diversos pontos. Às 7h30 da matina a van passou no hotel para nos buscar. Na primeira parada do passeio, nos aconselham a usar o banheiro, já que a partir dali a viagem prosseguiria por alguma hora. Eu já tinha lido sobre os banheiros típicos tailandeses. Mas, não pensei que fosse ter que usar um. Minha vontade era a de procurar um matinho. Mas, não tinha nenhum discreto o suficiente. Sabe aquele banheiro público no final de show? Pois bem, imagina ele no final do show, só que com a “celite” assim rente ao chão, pra você pisar, agachar, ficar de cócoras e fazer o seu xixi. Acho que nunca vivi nada parecido. E o pior, era o sistema de descarga: um balde com uma panelinha pra você encher e jogar na “celite”. Fiquei encarando aquela realidade por alguns segundos, tentando entender como eu ia fazer. Tive que desenvolver o desapego da privada normal e ainda aprimorar minhas técnicas de yoga, pra conseguir ficar de cócoras sem cair dentro da privada. O passeio valeu? Muito! Mas é isso... ou você se hidrata no passeio e fica sujeita à casinha do terro, ou morre seca e não usa o banheiro das paradas. No final, tudo vira história!
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Latrina na Tailândia |
“Da minha percepção, a identidade de Dubai era pautada apenas em recordes vazios. Tipo, no meio de todos esses recordes, quem é daqui gosta do quê? Come o quê? Se expressa de que forma? Depois de vir pra cá, consegui conhecer um pouco mais da história, visitar a parte antiga da cidade, entender como Dubai cresceu e, impressionantemente, como se tornou esse polo de negócios e turismo.”
DESCOBERTAS DO THELMO - Fale um pouco sobre a experiência de morar em Dubai. Como é a cidade, as surpresas e decepções.
ISAURA PAULINO - Me mudei pra Dubai por conta de um projeto profissional. Dubai nunca tinha feito parte da minha lista de desejos, mas morar fora do Brasil era sonho antigo. Famoso pela arquitetura arrojada e pelo luxo, o Emirado é um destino bem diferente dos outros por onde passei. No conceito geográfico/antropológico, pra mim se enquadrava como um “não lugar”: aquele que não nos fornece um sentido, uma história. O maior prédio do mundo, o maior shopping do mundo, o maior jardim do mundo, o maior prédio residencial do mundo, a maior pista de ski indoor do mundo, o hotel mais luxuoso do planeta. Da minha percepção, a identidade de Dubai era pautada apenas em recordes vazios. Tipo, no meio de todos esses recordes, quem é daqui gosta do quê? Come o quê? Se expressa de que forma? Depois de vir pra cá, consegui conhecer um pouco mais da história, visitar a parte antiga da cidade, entender como Dubai cresceu e, impressionantemente, como se tornou esse polo de negócios e turismo. Entendi também que a maior parte da população aqui é de estrangeiros, que vieram pra cá ou nasceram aqui, em busca de melhores oportunidades. Então, natural a dificuldade de se encontrar uma identidade única pra expressar um lugar que na sua composição é tão plural e diverso. Estar no Oriente Médio é uma sensação diferente. Os costumes são outros. E, no início, a gente pensa que a liberdade tem outra nuance. Mas, está aí a magia de desvendar outras culturas e estar receptiva a entender o que a gente desconhece. Aprendo todo dia. Ainda é diferente pra mim ir à praia de biquini e ver uma mulher de burquini (burca) do meu lado. Mas, hoje eu entendo, que mesmo o conceito de liberdade, depende do referencial. E está tudo certo.
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Golden Triangle, na Tailândia (2016) |
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Krabi, Tailândia (2016) |
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Na Tailândia (2016) |
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Templo Branco, na Tailândia (2016) |
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No Vietnã (2016) |
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Batu Caves, na Malásia (2016) |
DESCOBERTAS DO THELMO - Quais os planos de viagem para depois da pandemia?
ISAURA PAULINO - Eu tenho vários planos de viagem, assim que a pandemia permitir. Penso em ir a Europa, que é um continente ainda desconhecido pra mim. Mas, acho que devo adiar temporariamente meus planos também por conta de trabalho e para receber meus pais e minha irmã em Dubai até o final de 2021. Para além da Europa, Egito e Índia estão na minha lista de próximos destinos. O plano é ficar em Dubai até abril de 2022, concluir essa etapa profissional e depois voar pra outro porto. Com uma parada estratégica no meu país Minas Gerais, claro. Sinto muita falta do meu mar de morros e das cachoeiras. Depois de trabalhar em tantas cidades diferentes, de conhecer outros países e culturas, tenho pra mim que meu lar é onde meu coração está. E o meu coração é do mundo. Mas, apesar disso, é sempre bom saber que a gente tem pra onde voltar. E vai ser sempre o Brasil.
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Saltando de paraquedas em Dubai |
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Abu Dhabi (2020) |
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Centro Histórico de Dubai (2021) |
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Dubai
Outros destinosNa ordem: Fotos 1 e 2 (Deserto do Atacama, 2015); Foto 3 (Serra do Cipó, Minas Gerais, Brasil) Fotos 4 e 5 (viajando com a família para o Uruguai, em 2019) Foto 6 (Porto de Galinhas, Pernambuco, Brasil, em 2021) Foto 7 (Fazendo yoga em Dubai, em 2021)
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