Na Praça de São Pedro |
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Como é
difícil imaginar, no início de fevereiro de 2021, quando escrevo este texto,
que ficaríamos quase um ano assolados pela pandemia do Covid-19, que nos
obrigou a uma temporada de isolamento social, sem viagens, com as esperanças
balançadas. Ainda mais no Brasil, um país que está com dificuldades de criar um
plano de vacinação e a imunização da população corre a passos de tartaruga.
E, nesse período, não pude e não quis viajar, preservando
a minha vida. O turismo despencou no mundo inteiro, causando muito prejuízo. Mas,
embora eu tenha me afastado um pouco do blog, tenho ainda pendências relativas
à viagem de fiz em 2019 à Europa e que, apesar do tempo passado, ainda são
pertinentes. Nesse tour, com os amigos Conceição, Vinicius e Wagner, passamos
por Portugal, Espanha, França, Áustria e Itália. Grande deste percurso está
narrado e devidamente ilustrado aqui, no Descobertas do Thelmo.
Um dos locais, ainda inédito, abordo neste texto: o
Vaticano. Há muito eu queria conhecer o epicentro do catolicismo, em especial
as maravilhosas obras de arte que estão ali guardadas. Para isso, foi preciso
comprar com muita antecedência, ainda no Brasil, tíquetes para visitar o Museu
do Vaticano, com direito a uma guia que falava português. Ela, por sinal, era muito
espirituosa e até mesmo irônica quando narrava a procedência das obras
expostas, muitas obtidas de maneira ilícita ou pouco convencional para os
padrões éticos de uma entidade religiosa, o que nos provocava risos. O valor do
ingresso gira em torno de 20 euros.
Naquela
época, em pleno verão europeu de 2019, quando não havia pandemia, o Museu do
Vaticano recebia cerca de 40 mil pessoas por dia. Isso mesmo: 40 mil!!! É mais
do que a população de muitos municípios. Façam as contas deste número
multiplicado pelo valor do ingresso... Então, imagine a logística para atender
tanta gente. Vale a pena ressaltar que eles exigem que a pessoa visite o espaço
com roupas menos mais sociais, evitando bermudas, blusas muito decotadas etc. e
tal. Afinal, íamos estávamos praticante dentro de uma igreja.
O
museu – ou os museus, como alguns dizem – abrangem várias ramificações da
história da arte. Visitei o acervo egípcio, as obras greco-romanas, a ala dos
mapas e a galeria das tapeçarias. Nessas situações em que existe um acervo
imenso e difícil de se conhecer em algumas horas, tenho, por hábito, me deixar
levar pelas sensações e registro as obras que mais me chamam a atenção ou me
comovem, além, é claro das obras primas.
Uma
delas é o Lacoonte. A estátua o retrata ao lado de seus filhos, Antífanes e
Timbreu, sendo estrangulados por duas serpentes marinhas, uma lenda relatada na
“Eneida”, de Virgílio, dentre outras obras. Lacoonte era um sacerdote de Apolo,
e este ficou bastante irritado quando seu discípulo se casou e teve filhos. Em represália,
Apolo mandou duas serpentes para matarem os dois rapazes. Lacoonte morreu ao
lado deles, na tentativa de salvá-los.
Dito
isso, vem o mais interessante. A escultura propriamente dita foi criada entre 40
a.C. e o ano de 68 d.C. (segundo especialistas) e atribuída aos romanos
Agesandro, Atenodoro e Polidoro. Depois disso, ela ficou mais de 1.000 anos
desaparecida até que, em 1506, descobriram que ela estava soterrada debaixo das
antigas Termas de Tito, em Roma. Fizeram sua retirada, embora ela estivesse desfeita
em cinco pedaços. Logo ela foi identificada e restaurada. A sua beleza e
técnica apurada chamou a atenção dos artistas e admiradores da arte, inclusive Miguelângelo,
o maior escultor da época e talvez da história. Ele confessou que a escultura o
fez repensar nas possibilidades técnicas de sua própria obra. Naquele momento,
a história respirava os novos ares do Renascimento.
A
decoração do espaço, digo do museu, também é digna de nota. É um deslumbre,
pois são todas obras de arte, do chão até o teto. Um antigo piso feito em
mosaico, que havia pertencido a uma terma romana, me chamou a atenção pela
beleza e conservação.
Conduzidos
pela guia, acabamos não visitando um dos lugares mais famosos do museu, as
Salas de Rafael, aonde está, dentre outras, “A Escola de Atenas” (1511).
Infelizmente, nem tudo é possível e acabei me conformando.
A
visita se encerra com chave de ouro: a capela Sistina, onde está a obra prima
de Miguelângelo e talvez uma dos mais marcantes e famosos afrescos já criados
por um artista, tanto nas paredes quanto no forro. Pintados entre 1508 e 1512,
com o auxílio de andaimes, a obra é famosa pelos sofrimentos causados ao
artista, em especial pelos embates que travava com o papa da época, Júlio II.
Este tema é retratado no filme “Agonia e Êxtase”, de 1965, com Rex Harrison e
Charlton Heston. Embora romanceada, vale a pena conferir a película.
Podemos ficar na capela não mais do que uns 15
minutos. Então, imagine a quantidade de choques que recebemos de todos os lados.
É uma das coisas mais lindas que eu já vi em toda a minha vida. Só de entrar na
capela, já valeu toda a viagem. A vontade é que ali estivesse vazio e que
pudéssemos deitar no piso e ficar horas admirando cada detalhe. Não é permitido
fotografar a capela. Então, me resta recordar os detalhes nos livros, na
internet ou por meio de vídeos e filmes.
Quando
a gente pensa que já viu tudo, a saída do museu passa pela Basílica de São
Pedro, principal edifício do Vaticano e da Igreja Católica. E é um dos maiores
templos do mundo, também. Tudo ali respira arte, mais até do que devoção ou
oração. É muita obra de arte reunida, a começar pela Pietá, de Miguelângelo, a
escultura mais famosa do mestre renascentista. O domo, de 136,5 metros, é
arrebatador. E o Baldaquino, que fica no altar, impressiona por sua riqueza de
detalhes.
Saio
da basílica, acompanhado por meu amigo Vinícius (Conceição e Wagner foram em
outra direção) e adentramos a praça de São Pedro, onde acontecem as principais
festas religiosas. Geralmente, o papa aparece às quartas-feiras para dar a sua
bênção. Nossa visita aconteceu numa segunda-feira. Descobrimos, por isso, que
era um dos dias com menos afluxo de pessoas.
Ah,
também vimos os famosos soldados da Guarda Suíça Pontifícia, que são
responsáveis pela segurança do complexo e, por conseguinte, do papa.
A
tarde caia e era hora de relaxar um pouco, caminhando pelas ruas históricas, e
admirar a beleza que o céu azul de Roma proporcionava.
Arrivederci!
Em breve, a gente se encontra para mais histórias.
Coleção Egípcia
Lacoonte e seus filhos
Outras obras
Piso de mosaicos |
Outro piso de mosaico, desta vez em formato arredondado |
Galeria das tapeçarias
Galeria dos mapas
Basílica de São Pedro
Pietá, de Miguelângelo |
Baldaquino |
Cúpula e Baldaquino |
Museus recebem 40 mil pessoas diariamente, em seu funcionamento normal |
Detalhe do Baldaquino e altar da basílica |
Praça de São Pedro
Guarda Suíça |
Vinícius observa os detalhes da arquitetura |
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