domingo, 9 de setembro de 2012

Paracatu: renascendo para o turismo


            Num plano, iniciado há alguns anos, de visitar todas as cidades históricas de Minas Gerais, vejo-me em Paracatu, cidade localizada a 512 km de Belo Horizonte.
            Paracatu está sendo redescoberta aos poucos para o turismo. A cidade teve seu Núcleo Histórico tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2010, valorizando um belo conjunto de casas, ruas, igrejas, casarões e sobrados bem cuidados e que, a cada dia, melhoram seu aspecto e valor.
            A primeira pessoa que me chamou a atenção para Paracatu, foi meu irmão, Francisco, conhecido como Juninho. Proprietário de uma construtora especializada na restauração de monumentos históricos, Juninho passou vários meses fiscalizando a obra de um sobrado, localizado na cidade, que ameaçava desabamento. O casarão, que abrigará o futuro Museu do Ouro, ainda não foi totalmente restaurado, mas já está de pé novamente.
            Para se ter uma ideia, além deste, há outro museu sendo implantado na cidade: o de Arte Sacra. E o atual Museu Histórico está sendo totalmente restaurado para atender aos novos visitantes. A igreja do Rosário, outro importante monumento de Paracatu, também encontra-se em processo de restauro. Fiquei sabendo que os órgãos, como o IPHAN, estão buscando recursos para apoiar a melhoria dos edifícios particulares, células importantes para a manutenção das ruas em seu aspecto próximo ao original.
Hospedo-me na Pousada da Vila, um dos vários novos empreendimentos hoteleiros que a cidade ganhou nos últimos anos. Trata-se de um belíssimo casarão, localizado em uma das principais ruas do centro histórico (a Rua dos Ávila), com uma proposta de atendimento baseada na cordialidade e na mineiridade. Além do tradicional café da manhã, a pousada oferece também um delicioso lanche noturno, com direito a várias iguarias típicas da região, como o desmamado e o mané pelado de abacaxi.
Paracatu é um município de grande importância agropecuária e também possui uma das maiores minas de ouro do mundo, ainda em atividade. O turismo até então nunca tinha sido aventado como uma opção econômica. Com o tombamento histórico e a proximidade de Brasília, essa área vem crescendo.
            Durante a viagem, conhecemos o guia turístico João Paulo, estudante secundarista, 17 anos, bastante informado sobre a história e costume dos paracatuenses, apesar de ter nascido em São João del Rey. João trabalha no Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e nos acompanhou até a Cachoeira do Ascânio, no circuito das Cachoeiras do Prata. Como ele e seu irmão, Samuel, há um grupo de jovens interessados em apoiar essa nova realidade do município, capacitando-se em cursos, aprimorando o estudo de línguas estrangeiras e tomando contato com profissionais de outras partes do país e do mundo.
            Além de seu Núcleo Histórico, Paracatu oferece um portentoso turismo rural, baseado nas citadas cachoeiras – são 153, de acordo com João Paulo – e grutas. Equipes de espeliólogos estão mapeando algumas dessas cavernas, que têm mais de 4,5 km de profundidade, com salões belíssimos e significativos acervos palenteológicos. É preciso enfrentar estradas poeirentas para chegar às cachoeiras, mas o desgaste é recompensado. As quedas são fantásticas, a água é límpida e deliciosa. Na Cachoeira do Ascânio, com 40 metros de altura, havia uma pousada com serviço de almoço e estacionamento. É, ainda, cobrada uma taxa de R$ 10 a título de manutenção e preservação ambiental. A comida é deliciosa, com direito a um papo com a cozinheira e suas assistentes.
            Como quase toda cidade brasileira, Paracatu desenvolve-se rapidamente, ao som dos carros barulhentos, de uma juventude sem muitas opções de lazer e dominada por empresas de grande porte que nem sempre têm boas intenções na preservação de seu meio ambiente e da qualidade de vida da população. Há casos flagrantes de rios e córregos destruídos pela poluição. Há comunidades quilombolas sendo assoladas pela especulação imobiliária e pela falta de respeito para com as tradições culturais. Há um crescimento desordenado da população, sem um aparente bem planejado plano diretor (o novo centro e os bairros são feios e sem atrativos arquitetônicos). O cine teatro precisa de reforma urgente e melhores equipamentos.
            Hoje, os brasilienses têm, em Paracatu, uma segunda opção de turismo de fim de semana, ao lado da também histórica Pirenópolis, em Goiás. Por isso, e por suas tradições culturais, tem grande chance de reverter o quadro e ganhar um novo impulso, principalmente quando a mineração do ouro, que empresa cerca de 10 mil pessoas, esgotar-se em 2030.
            A atriz e comediante Cida Mendes, conhecida por seu papel de Concessa, é outra que aposta em Paracatu. Construiu, nas margens da BR-040, a Casa de Concessa, um restaurante com pratos típicos, que ainda oferece shows e bailes para os visitantes.
            No entanto, é triste saber que muito da cidade se perdeu. Prédios belíssimos, como o Philodramatico, um dos teatros pioneiros de Minas Gerais, de 1890, foi demolido sem dó nem piedade nos anos 1950, para abrigar um prédio horroroso. Mas Paracatu em um importante legado em seus artistas, escritores e intelectuais, como Afonso Arinos, Oliveira Netto  e outros. É de lá também o ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, uma das mais apreciadas autoridades éticas do país na atualidade. Que a nova geração paracatuense se espelhe nesses grandes exemplos, para transformar Paracatu em uma cidade cada vez mais próspera e humana.

Outras observações:

Casamentos e mais casamentos: em quatro dias em Paracatu, presenciei dois casamentos na Igreja Matriz de Santo Antônio. Um deles, com direito a fogos. Como a igreja fica atrás da pousada, o espetáculo foi visto de camarote. E, numa surpresa final, minutos depois, surgem os noivos para uma sessão exclusiva de fotos no casarão da pousada, com direito a poses românticas.

É uma pena ver o estado lastimável do teatro de arena construído no anexo da Casa de Cultura. O espaço é muito bonito, mas teve sérios problemas estruturais por causa de uma tubulação de água que passa no terreno onde está instalado. Nem bem foi utilizado e ele foi tragado por vários abalos que deixaram sua estrutura totalmente comprometida. Engenheiros, arquitetos e técnicos estudam uma solução para o impasse, com o objetivo de fazer o local funcionar de vez.

Confira o trabalho de preservação da memória em Paracatu: www.paracatumemoria.wordpress.com

E mais: http://www.youtube.com/watch?v=Ly8AqBZq63c

Rua do Ávila, a principal do Núcleo Histórico

Flores na janela

Casa de Cultura de Paracatu
Teatro de Arena: problemas de infiltração atrasam a inauguração

Detalhe arquitetônico

Rua do Ávila

Postes de amarrar cavalos

Detalhe do edifício da Casa de Cultura

Praça da Jaqueira

Almofada criada por artesãos paracatuenses

Casarão

Detalhes arquitetônicos e paisagísticos

Arquitetura colorida

Chafariz e Passo da Paixão

Detalhe do Chafariz da Traiana

Capela de Santana: destruída em 1935 e reconstruída posteriormente

Praça de Santana: vida tranquila do interior mineiro

Pausa para uma água de coco debaixo da árvore

Fundos do Sobrado Dona Beja

Matriz de Santo Antônio

Cine Teatro Santo Antônio

Detalhe da fachada da matriz

Praça JK, em Paracatu

Interior da Matriz de Santo Antônio

Arquivo Público de Paracatu

Casa de Afonso Arinos

Desmamada: um quitute típico de Paracatu

Outra iguaria: Mané Pelado com Abacaxi

Vereda

Cachoeira do Ascânio: queda menor

Eu e Wagner Cosse na queda maior da Cachoeira do Ascânio

Comidinha saborosa na Cachoeira do Ascânio

Um gatinho da região rural de Paracatu
Wagner Cosse e João Paulo, nosso guia muito bem informado

Aqui passou a estrada que ligava Minas a Goiás, na época dos bandeirantes

Câmara Municipal de Paracatu à noite

Beco e a Igreja do Rosário (fundo)

Sobrado Dona Beja

Praça do Rosário, com uma gameleira fantástica

Sobrado da Rua do Ávila

Restaurante da Concessa

Detalhe de pintura do século 18, retratando N.Sra. do Rosário

Janela do Museu Histórico, em restauração

Praça e Matriz de Santo Antônio

Fechadura

Philodramatico: teatro destruído em 1952

Rua do Ávila à noite

Pousada da Vila

Fachada

Jardins internos

Sala de leitura

Jardins internos

Bordado com o desenho da fachada da pousada

Salão do café

Sala principal

sábado, 5 de maio de 2012

Aeroportos, esperas e volta para casa

No teatro, à espera de Los Vivancos

             Deveria haver um antídoto contra as mazelas que acontecem em viagens. E um dos maiores problemas que enfrentamos nessa temporada de férias na Espanha e na Turquia são relativos ao transporte aéreo. Primeiramente foi a Spanair que faliu e nos deixou na mão em dois trechos, nos obrigando a comprar novas passagens. Depois vieram os atrasos nos voos que saíram e chegaram de Istambul (uma cidade que tem os mesmos problemas enfrentados por São Paulo). Os atrasos chegaram a duas horas e meia. Mas, completando a nossa saga, ainda tivemos que enfrentar a má administração do Basílica Hotel, de Istambul, que não manteve a nossa reserva e nos obrigou a passar uma noite inteira no aeroporto.

Restou-nos a resignação de ficar em um  cyber café do aeroporto, que estava fechado, mas com suas mesas, cadeiras e poltronas à disposição de outros viajantes que, como eu, estávamos obrigados a passar a noite em claro ou, quase isso, dormindo do jeito que der.

Mas, como em toda a situação há sempre uma saída, esse momento serviu para conhecermos uma bela garota, Talita Ibrahim, brasileira como nós, de São Paulo, que passava a noite no local a espera de seu voo para Londres. Talita é uma viajante na concepção mais ampla da palavra. Saiu de São Paulo para viver uma experiência internacional. Ao invés de escolher locais mais tradicionais, como Paris, Madri ou Roma, preferiu se enfrentar, sozinha, países distantes como Tailândia, Índia, Coreia e Turquia.

Quando nos encontramos, Talita estava na parte final de sua viagem e confessou-nos um certo desencantamento por locais como a Índia, por exemplo, em que se sentiu muito mal tratada por ser mulher e estar sozinha. Os relatos de Talita eram tantos e tão interessantes, que a noite no aeroporto ficou pequena. As nossas mazelas ficaram menores perante o que aquela menina havia enfrentado - e sem nenhuma companhia. Disse a ela que deveria escrever um livro sobre a experiência, do tipo “Comer, amar e rezar”, que se tornou um filme famoso com a Julia Roberts. Infelizmente, a foto que tiramos com ela desapareceu de meus arquivos, assim como outras imagens que eu fiz desses momentos finais da viagem. Mas, eu fui à página dela no Facebook e pincei uma imagem dessa bela mulher, com seus olhos a procurar  no mapa a sua próxima atração. Espero encontrá-la em outras ocasiões, de preferência no lançamento de seu livro de viagens.

De Istambul, fomos para Madri. Chegamos à capital espanhola por volta de meio dia e tínhamos 18 horas para pegarmos nosso voo de volta para casa, que ainda faria uma escala em Frankfurt, na Alemanha. Ficar esperando no aeroporto de Madri era um programa impensável, mesmo com o cansaço e a falta de uma boa noite de sono. Por isso, Wagner (meu companheiro de viagem) e eu depositamos nossa mala em um bagageiro do aeroporto e partimos para o centro da cidade. Diga-se de passagem, entre o aeroporto e o centro de Madri – ou em qualquer localidade dessa capital – é possível ir de metrô. Com apenas 2,50 euros, você chega em qualquer estação. Ai, que inveja!

Almoçamos em um restaurante delicioso de Madri, quase centenário, que serviu uma comida farta e ofereceu um serviço excelente. Bebericamos vinho e cerveja e ainda conhecemos uma família bem jovem, que tinha como sua “estrela” o lindo Daniel, um garotinho de pouco mais de um ano. Logo logo nos entrosamos e ficamos amigos. Pena que sua foto, também, desapareceu de meus arquivos.

Wagner sugeriu que fôssemos a uma atividade cultural, de preferência show musical ou balé. Pegamos o guia da programação e, meio no escuro, ele escolheu um espetáculo de um grupo espanhol chamado Los Vivancos. Nós nunca tínhamos ouvido falar desse grupo, mas ficamos estupefatos com a qualidade do espetáculo, que misturava dança flamenca, artes marciais, música e circo. Todo o cansaço se esvaiu com o talento daqueles sete rapazes bonitos e sarados, dançando e tocando com um talento excepcional. Eles acenderam a plateia, que retribuiu com muitos gritos e aplausos. Depois, descobrimos, para nosso espanto, que os sete rapazes são irmãos. Bem, já era impressionante se não fossem, mas considerando ainda que são todos de uma mesma família, ficamos simplesmente embasbacados. Los Vivancos: guardem esse nome!

Já é hora de voltar para casa. Uma breve parada na Alemanha, mas nosso destino é Rio de Janeiro e, por fim, Belo Horizonte. Uma boa dose de realidade ao chegar no Galeão, depois de tanta beleza nessa viagem. Um aeroporto que não faz juz ao nome que tem - “Antonio Carlos Jobim” - e nem à cidade que o abriga. Está sujo, cheio de goteiras, com lojas mal organizadas e poucas atrações para se passar o tempo antes de pegar o próximo voo. Dá pena saber que ele é a porta de entrada de muitos estrangeiros que chegam ao país. O Brasil é melhor do que isso e as autoridades precisam mudar essa situação. A Copa do Mundo e as Olimpíadas vêm aí e temos que mudar essa realidade.

Bem, chegar em Belo Horizonte é chegar em casa. Aonde está nosso trabalhos, nossos amigos, nosso canto. Agora, é começar a planejar a nossa próxima viagem. E que seja breve. Até lá!

Talita Ibrahim: uma viajante ousada

Wagner e o cartaz de Los Vivancos, em Madri

Los Vivancos

No belíssimo Mercado de S. Miguel, em Madri


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Entrando pelos labirintos de uma cidade subterrânea

Com Wagner, na fábrica de vinho da cidade subterrânea

Já estou de volta ao Brasil, enquanto escrevo as últimas postagens sobre a viagem que eu e Wagner, meu companheiro de viagem, fizemos pela Espanha e Turquia, em abril de 2012. Insiro este contexto, pois é diferente contar uma história vivida no local e outra, baseada nas memórias, já instalado na mesa de meu apartamento, ouvindo palavras em português e as sonoridades típicas de nosso país.

Antes de escrever esta postagem sobre o segundo dia de nossa viagem à Capadócia – e o penúltimo da nossa viagem – já conversei com amigos brasileiros, troquei as experiências da viagem, postei fotos no Facebook e desfiz minhas malas. E até mesmo encarei o trabalho, com menos ansiedade do que de costume, mas de um modo a sentir que há muita coisa para se fazer daqui para frente.

Voltemos à Capadócia. Gostaria de ressaltar que o tempo colaborou com a nossa visita a essa parte da Turquia. O céu azul, os dias ensolarados, a temperatura de aproximadamente 25º durante o dia tornaram os contornos geológicos mais belos, o voo de balão mais atrativo e o caminhar mais leve, pois estava desprovido de capotes e outros agasalhos para combater o frio. E já pensou se estivesse chovendo?

Por isso, acordar cedo e sentir aquele raiozinho de sol entrando na fresta da janela é meio caminho andado para felicidade. Ainda mais quando se está hospedado em um hotel tão agradável quanto o Kale Konak, de Uçhisar, de onde se avista o belíssimo vulcão coberto de neve. Um dos três que provocaram toda essa formação, quando há milhões de anos atrás derramaram suas lavas por esses vales.

Na Turquia, mesmo nos hotéis mais ocidentalizados, o café da manhã traz muita comida salgada e legumes, como beterraba, cenoura e pepino, além de azeitonas e queijos de várias espécies. O tomate, que é um fruto, mas parece legume, também é figurinha fácil. O pão é uma instituição nacional. São muitos e de vários tipos e sabores. Os turcos preferem o chá, mas há também turkish coffee, um café fortíssimo, mas delicioso, que vem servido em xícaras muito charmosas.

Logo cedo, nosso querido guia Hayru nos pegou no hotel, juntamente com o motorista Soliman, nome inspirado num famoso sultão turco. Por isso, nós sempre nos referíamos a ele como o “sultão”. Primeiramente, fomos para o Vale dos Pombos, uma espécie de rasgo formado entre as montanhas, aonde as populações antigas escavaram inúmeros pombais. As aves eram utilizadas para a alimentação, no inverno, quando escasseavam-se as caças; e suas fezes ainda são utilizadas no adubo para as plantações (principalmente a da batata,muito cultivada na Capadócia). O Vale dos Pombos também é um mirante maravilhoso, de onde se tem uma bela vista de Uçhisar, incluindo o majestoso castelo. Em duas pequenas árvores ressecadas, foram pendurados inúmeros “olhos gregos” (que na Turquia são chamados de “olhos turcos”), que atraem os turistas e visitantes para as fotos. Inclusive nós.

O próximo passo foi a visita a um dos locais mais impressionantes que eu já vi em toda a minha vida (pois é, a Turquia é uma novidade atrás da outra). Trata-se de uma cidade subterrânea. Na Capadócia, haviam de 150 a 200 cidades subterrâneas. Atualmente, três podem ser visitadas. Kaymakli, patrimônio da humanidade, é a mais famosa. Tem cerca de onze andares para o fundo da terra. Desse total, três estão abertos para visitas. Segundo alguns estudos – não há muita precisão, pois faltam dados científicos – as cidades devem ter sido construídas entre os séculos 5 e 10, como locais para esconderijo de populações, que fugiam do massacre dos exércitos.  Com extrema maestria, elas são obras ousadas de engenharia, com tubos de ventilação, poços artesianos, locais próprios para criação do rebanho, cozinhas, dormitórios, salas de repouso e refeições - e até uma fábrica de vinho. De acordo com Hayru, algumas dessas cidades abrigaram 5 mil refugiados, que ali passagem de até cinco dias, escondendo-se. Passado o perigo, voltavam à superfície.

Embrenhando por aquele labirinto de corredores, portas, janelas, vãos, sentimo-nos às vezes sufocados. Imagine uma multidão vivendo ali dentro, com toda a tensão provocada pelos conflitos que a ameaçava constantemente. Não há como não pensar na capacidade do ser humano de se adaptar às intempéries, quando o assunto é a sua sobrevivência. E, ainda, na força que aquele local impregna, com a energia que as pessoas utilizaram para escavar aquelas rochas com tanta precisão e praticidade.

Saindo do subterrâneo, visitamos uma cooperativa de joias. Como acontece com a olaria que visitamos no primeiro dia da Capadócia, e a de tapetes, que não conhecemos, essa cooperativa faz parte de uma política do governo turco para preservar as tradições de tapeçaria, joalheria e cerâmica do país, que remonta a milhares de anos. O governo cede o espaço e o material e os artesãos entram com a mão de obra. Além disso, os artesãos têm acesso a peças famosas da joalheria turca, desde os tempos de Troia, passando pelos períodos bizantino e otomano, até os dias atuais, que são cedidas pelos principais museus, em consignação. Eles podem replicá-las e comercializá-las, difundindo a arte do país e mantendo a sua sobrevivência e continuidade desse tipo de manufatura. Nesse dia, além de me deslumbrar com a qualidade das joias, eu entendi na prática o que é política cultural. Sem leis de incentivo, sem passar o chapéu para empresas que nem sempre entendem a proposta cultural dos artistas e sem a frustração de ver tantas ideias se esfacelando por falta de patrocínio. É bom ressaltar que o carro-chefe da joalheria turca é a turquesa, pedra belíssima que leva o nome do país.

           Depois de uma pausa para um almoço agradabilíssimo na cidade de Mustafapaça, antiga colônia grega, prosseguimos para o Vale de Sogãnli. Esse passeio não consta em muitos guias, pois há poucos turistas que vão até aquele local. Hayru que o inseriu no nosso roteiro, por sua importância histórica. Por isso, é também um local menos visitado. Como Göreme, que estivemos no dia anterior, Sogãnli também era uma cidade escavada na rocha, com muitos templos e igrejas. Foi um local concorrido no passado e, até os anos 1990, abrigava uma população razoável, até que houve vários acidentes geológicos, que provocaram a derrubada de imensos paredões de rochas, matando muitas pessoas. De acordo com Hayru, foi uma comoção nacional, promovendo uma retirada das pessoas daquelas áreas mais perigosas. Ficou um local isolado, mas com suas belezas.

No interior das igrejas – que pudemos fotografar – há pinturas soberbas. No entanto, várias delas foram danificadas pela ação do tempo e do homem, que também quis imprimir naquelas rochas seus nomes e datas. Algumas remontam ao século 19. Outras, mais recentes. De acordo com Hayru, as depredações aconteceram por questões ideológicas ou religiosas. Em outros casos, porque até poucas décadas atrás o povo turco não tinha a noção do valor histórico das pinturas. Hoje, mesmo com os rabiscos, elas estão mais bem preservadas.

Bem, finalizado o passeio, é hora de despedir e ir para o aeroporto, de onde pegaremos o voo para Istambul. Na estrada, vemos as montanhas da cadeia de Taurus, com seus cumes gelados, inclusive o belíssimo vulcão Erciyes. Uma pequena parada na Argeus, na Capadócia, para conhecer pessoalmente Cíntia e tirar uma foto com a equipe da agência. Agora, é hora de ir embora.

Como não poderia deixar de ser, ficamos duas horas e meia de molho no aeroporto da Capadócia, antes de prosseguirmos para Istambul, de onde partiríamos para uma outra saga, antes de chegarmos a Belo Horizonte. Mas isso é história para uma nova postagem.

P.S. Peço perdão caso não tenha grafado os nomes turcos da forma correta. Tentei pesquisar para não cometer erros, mas a língua é muito difícil e às vezes incompreensível para mim. Espero não ter cometido erros tão crassos.

No Vale dos Pombos

Vista de Uçhisar

Reprodução fiel a joia pertencente à Helena de Troia

Joia produzida na cooperativa, respeitando a tradição turca

Joias com turquesas

Salões da cidade subterrânea

Na cidade subterrânea


Tapeçaria turca: estilos diversos

Vendedor de tapetes

Trama de tapete ao estilo hitita

Restaurante grego

Senhores turcos conversam

Em Sogãnli
Hayru explica a Wagner a história de Sogãnli

Pintura em igreja escavada na pedra

Igreja escavada

Afrescos do século 10

Bonequeiras de Sogãnli

Um dos vulcões belíssimos que provocou a formação de Capadócia

Wagner despede-se da Capadócia

Soliman, eu, Cíntia, Wagner e Hayru




Gramado e Canela: entre a memória e o presente

  No surpreendente Museu da Moda, em Canela Veja as fotos no final deste texto.  Clique nas fotos para ampliá-las. Gramado e Canela são duas...