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Thelmo Lins e o Rio Bagagem, de onde eram extraídos os famosos diamantes de Estrela do Sul (foto de Silvana Barbalho) |
Diamantes imensos,
corrida ao garimpo, Dona Beja, histórias de sangue, suor e lágrimas são alguns
dos argumentos disponíveis no trailer cinematográfico da pequena Estrela do
Sul, localizada no Alto Paranaíba, justamente no cantinho entre o nariz e a
testa de Minas Gerais, na divisa com o Estado de Goiás. Ali, a 512 quilômetros
da capital mineira, empreendi (ao lado da minha amiga e professora de História
Silvana Barbalho) a tarefa de conhecer a única cidade histórica da região do
Triângulo Mineiro.
A história do local remonta a 1722, quando,
às margens do Rio Bagagem, foram descobertos os primeiros diamantes pelo
bandeirante João Leite da Silva Ortiz, o mesmo que fundou o antigo vilarejo que
veio a ser Belo Horizonte. Mas Ortiz buscava ouro e as belas pedras não o
entusiasmaram. No entanto, o local passou a chamar a atenção de centenas de
garimpeiros da região e de outros pontos do país. No local onde ficavam as
bagagens dos pioneiros, instalou-se o povoado, depois a vila.
Bagagem teve sua
história marcada pela descoberta, em 1853, de um dos maiores diamantes do mundo,
o Estrela do Sul, que mais tarde viria a batizar o município. A pedra, que hoje
pertence à Casa Cartier, em Paris, chamou a atenção internacional para o
pequeno vilarejo. Em pouco tempo, estavam ali mais de 50 mil pessoas (alguns
dizem 30 mil), elevando consideravelmente a população local, que era de pouco
mais de 15 mil almas, segundo historiadores. Atraiu até a atenção da mais
famosa cortesã do país, Dona Beja, famosa por sua beleza e pela habilidade em
ganhar dinheiro. Beja, como outras pessoas da elite da época, começou a
garimpar naquela localidade, onde passou a residir até sua morte, em 1873, aos
73 anos anos.
Deste passado
glorioso, restaram alguns casarões, documentos, escombros, fantasmas. A antiga
mansão de Beja foi destruída (só restam algumas pedras, que parecem ser de uma
escadaria). A ponte de madeira que mandou construir para atravessar o rio foi
levada por uma forte enchente nos anos 1980. Os descuidos com o patrimônio
histórico se incumbiram de arrasar com a outra parte: o belo casario que ainda
hoje podemos ver estampado em fotografias antigas. É possível, também, entrar
nesse passado por meio do livro “O garimpeiro”, de Bernardo Guimarães. O autor
de “A escrava Isaura” lançou, em 1872, um livro ambientado no lugarejo, com
descrições bem fiéis.
Mas ainda restam
esperanças. Há um museu municipal, onde estão guardadas diversas relíquias,
entre elas duas supostas fotografias de Dona Beja (constestadas por alguns
historiadores) e um sem-número de documentos à espera de organização. Há a bela
capela de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, que passou por uma desastrada
reforma e, atualmente, aguarda sua restauração. O aspecto do tempo, solitário
em sua luta contra a extinção, é de dar pena.
Alguns bravos
habitantes envergam a quixotesca batalha pela preservação da história, que pode
ser observada em vários casarões restaurados ou não. Há planejamento para a
construção de hotéis na região, o que poderia alavancar o turismo, totalmente
incipiente na atualidade.
Os jovens – por falta
de informação ou interesse – se digladiam nas praças principais (bem cuidadas,
aliás), com seus poderosos carros com som automotivo, que fazem vibrar nossos
tímpanos pela noite adentro com músicas de baixa qualidade e forte cunho
erótico.
Resta, no entanto, a
chama de uma boa prosa. Os moradores que conhecemos (Silvana e eu), gostam de
contar os causos, lembram fatos históricos e apostam em um novo tempo, com mais
investimentos e sensibilidade por parte do poder público para com a cultura
estrelassulense.
Há muito que se
fazer. Por exemplo, explorar o artesanato local, que está escondido em casas
particulares. As lojas não abrem nos fins de semana, impedindo que conheçamos o
comércio local. Muitas igrejas estão fechadas, também, apesar de visitarmos a
cidade na Semana Santa, época que normalmente as cidades históricas deixam os
tempos abertos à visitação e à oração. A única agência bancária também lacra
suas portas, pois já teve seus caixas eletrônicos estourados em duas ocasiões.
As estradas rurais precisam de conservação, para que o turista possa visitar as
cachoeiras, fazendas e montanhas famosas pela beleza.
Pessoas interessantes
como o professor Mário Rosa, o Henrique (que cuida do museu), o Romildo
(jardineiro da prefeitura, que faz as vezes de guia e interpreta o personagem
Caifás na encenação da Paixão de Cristo), Fabiano e Eliane, da pousada local, o brincalhão Nelson e sua esposa, a cozinheira do restaurante, fizeram a viagem valer a pena. Fizeram-nos acreditar que a chama está acesa,
aguardando apenas um bom combustível para que se desenvolva e se torne perene.
Visitando a região
Aproveitando a
viagem, visitamos também alguns locais nas proximidades, como a singela
Cascalho Rico, a desenvolvida Araguari (com sua maravilhosa estação ferroviária
e o cinema que virou restaurante) e Araxá (com o belo conjunto formado por
casarões e o Grande Hotel). Além, é claro, de paisagens de tirar o fôlego nas
estradas de Minas, comprovando a resistência da natureza em nos brindar com
seus diamantes mais perfeitos.
Fotos de Thelmo Lins e Silvana Barbalho (*)
Algumas dicas:
- Experimente o guaraná Mineiro, fabricado em Uberlândia. Gostamos, também, da cerveja Cristal, muito saborosa;
- Leve dinheiro, pois o Banco do Brasil não fica aberto nos finais de semana e nem todos os locais aceitam cartão de crédito;
- Evite usar carro de passeio para ir à zona rural. As estradas são pedregosas. Segundo nos disseram, existem pessoas na cidade que levam turistas de jipe com tração nas quatro rodas para conhecer a parte rural da cidade, cachoeiras e o Morro Vermelho, ponto de atração turística. Infelizmente, não conseguimos fazer os passeios.
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Paisagem na estrada |
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Estrela do Sul: vista geral |
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Matriz de Nossa Senhora dos Homens |
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Casarões na praça da matriz |
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Suposta foto de Dona Beja, já idosa |
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O diamante Estrela do Sul (fonte internet) |
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O guia e jardineiro Romildo, no museu municipal |
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Casarão |
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Fazenda na área urbana de Estrela do Sul |
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Igreja de Santa Rita |
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Thelmo Lins e Silvana Barbalho numa das praças bem cuidadas de Estrela do Sul |
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Brinquedo de uma escola da cidade |
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Capela de N.Sra.do Rosário e São Benedito: carente de restauração |
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Paisagem urbana |
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Fachada da capela de N.Sra. do Rosário e São Benedito |
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Thelmo Lins e o guaraná Mineiro (*) |
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Silvana Barbalho, numa pose de namoradeira |
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Cidade tem recantos tranquilos |
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N.Sra. das Dores preparada para a procissão |
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Cristo em seu leito de morte (procissão) |
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O guia Romildo vestido de Caifás |
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O jovem anjo de Estrela do Sul |
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Paineira em flor |
Arredores
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A singela Cascalho Rico |
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Residência em Cascalho Rico |
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Detalhe da arquitetura colonial de Cascalho Rico |
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A suntuosa estação ferroviária de Araguari |
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Casarão de Dona Beja, em Araxá |
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Detalhe das Termas de Araxá |
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Grande Hotel de Araxá |