terça-feira, 15 de março de 2016

Marrocos Parte 6 - El Jadida e Essaouira, as deslumbrantes cidades litorâneas do país

O incrível por de sol de Essaouira (foto de Thelmo Lins)

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            El Jadida e Essaouira, dois lindos nomes que coincidem com a beleza natural que estes recantos marroquinos representam. Situadas na costa oeste do país e banhadas pelo Oceano Atlântico, as cidades são esplêndidas. Tanto que foram disputadas por portugueses, franceses, árabes, corsários e berberes. E ambas são tombadas como patrimônios históricos da humanidade pela Unesco.
            A primeira a nos receber foi El Jadida. Chegamos à linda cidade litorânea no final da tarde, a tempo de ver o sol dourar as areias da praia principal, com a presença de muitos jovens enamorados. É o balneário preferido os marroquinos, que lotam a cidade no verão (julho e agosto). Na época em que a visitamos (Wagner, meu companheiro de viagem, e eu), era inverno. A leve brisa e a temperatura de aproximados 17º não era exatamente um convite para um banho de mar, mas o visual foi compensador.
            Em El Jadida, ficamos hospedados no que julguei o melhor hotel da turnê por Marrocos: o La Maison de Sud, também administrado por um francês. Localizado em um bairro aparentemente estranho, surpreendia com sua arquitetura interna, típica dos riads. Como em outras viagens, sempre preferimos hotéis mais simples a luxuosos. Primeiro, por causa do orçamento da viagem. E, por fim, porque esses hoteis típicos são mais charmosos, como as pousadas no Brasil. Na verdade, pouco tempo temos para usufruir dos benefícios de um hotel de luxo numa viagem como esta. Portanto, simplicidade e qualidade nos serviços já bastavam, além – é claro – da limpeza. Neste caso, diria que o riad era bem acima do que esperávemos, com um serviço de qualidade superior (contratamos todos os hotéis no Brasil, por meio da agência Marrocos.com). Tudo era divino: o jantar, o café da manhã, o quarto e até o delicioso cheiro dos sabonetes, xampus e cremes.
            Partimos, então, para conhecer El Jadida. Com cerca de 145 mil habitantes, a cidade foi construída pelos portugueses, com o nome de Mazagão, em 1506. A parte tombada é conhecida como Cidade Portuguesa. É uma medina amuralhada, com ruas estreitas e uma saída para o oceano conhecida como a Porta do Mar. No passado, ela foi usada pelas embarcações. Mas, atualmente, é um ponto de apoio dos pescadores.
            Além das lojinhas, restaurantes e de alguns hotéis, a Cidade Portuguesa mostra marcas da colonização de Portugal, como a Igreja da Assunção, um estranho templo católico dentro do universo islâmico que hoje domina o país; a mesquita, cujo minarete era o antigo farol; e o ponto principal: a cisterna, com lindas colunas e teto abobadado. Este local foi usado, em 1954, para uma cena do filme “Othelo”, de Orson Welles. Ficamos um bom tempo ali, espantados pela beleza e elegância do edifício.
            Caminhando um pouco mais em direção da Porta do Mar, subimos nas muralhas que circundam a medina e de onde avista o oceano. Ali fizemos uma sessão de fotos, aproveitando o turbante que Wagner conseguiu emprestado de um vendedor local. Poses e mais poses, como um ensaio para uma revista de moda (rsrsrsrs). Ali perto também existe uma sinagoga e um forno, que funciona como uma padaria comunitária. Existe um processo atual de restauração de todo o complexo, como um empreendimento para atrair mais turismo para a região.
            Antes de sairmos da cidade, aproveitamos para conhecer a parte mais moderna e mais frequentada pelos turistas internos. A municipalidade fez um amplo projeto de urbanização, abrindo largas avenidas ladeadas de palmeiras e outras árvores, de onde foi possível vislumbrar um grande número de pássaros. Outro atrativo (dali e da região) é a beleza dos postes de iluminação. Cada localidade apresenta um mais belo e elegante do que outro, marcando os territórios pela diferenciação dos arabescos.
            Todo o caminho para Essaouira foi feito à beira mar. Passamos por várias cidadezinhas litorâneas e até paramos para almoçar. O pescado é muito saboroso, em especial os frutos do mar, sardinhas e outros peixes. O litoral apresenta, além das praias de areias claras, falésias e muitos quilômetros de plantações. Como já disse, o povo marroquino aproveita qualquer centímetro de boa terra para cultivar. E foi impressionante ver o contraste entre o verde cultivado, a areia e o mar, numa paisagem inusitada.
            Cidade dos ventos fortes e das gaivotas, o porto pesqueiro de Essaouira é impactante deste o primeiro momento. Tivemos a felicidade de ficar nesse local abençoado por dois dias, curtindo com mais tranquilidade suas ruas, vielas, museus, praças e muralhas. Fora da medina, existem grandes praias de areia branca, muito populares no verão. Mas o charme da medina é insuperável, principalmente porque ela não é somente turística. Ela é viva, frequentada pelo povo local. E, como na maioria dos centros históricos, todo o trajeto só pode ser feito a pé, sem a presença de automóveis. No máximo um carrinho de mão, burros de carga ou motos.
            Essaouira tem 70 mil habitantes. Sua história é antiga, mas no século XVIII, precisamente em 1764, o sultão Sidi Mohammed bem Abdallah ali se instalou e contratou um arquiteto francês para criar uma cidade na areia, desenvolvendo uma arquitetura híbrida marroquino-europeia. Foi o mesmo arquiteto que criou a francesa Saint-Malo. Podem-se notar, inclusive, semelhanças entre as duas cidades. O local se notabilizou pelos seus corsários, que mercavam com ouro, sal, marfim e até penas de avestruz.
            Mas foi dos anos 1960 para cá que Essaouira entrou no mapa do turismo. Graças, em parte, à visita de grandes nomes do mundo artístico, como Jimi Hendrix. Os hippies chegaram à época e ajudaram a lapidar o artesanato e as artes plásticas, tornando Essaouira referência em todo o país. As lojas e galerias de artes são muito bonitas e convidativas. Outro atrativo são os doces marroquinos, que podem ser adquiridos por peso. São deliciosos e com preços muito razoáveis.
            No entanto, nada se comparou ao cair do dia. Por volta de 17h30, a população local e, principalmente, os visitantes começam a se aglomerar nas imediações da Skala de la Ville, um bastião construído ao longo de um penhasco, para ver o sol se pondo. O vermelho do crepúsculo, associado às inúmeras gaivotas que circulam pelo local, apresenta um cenário indescritível. Foi, com certeza, um dos fins de tarde mais belos que vi em toda a minha vida. E notem que moro numa cidade famosa por eles, Belo Horizonte!
            Hora de nos recolhermos para descansar um pouco, depois de tamanha emoção. No caminho para o hotel, o tom amarelado da iluminação noturna cria inúmeras possibilidades de luz e sombra, mistério e magia, dignos do que vivemos em Essaouira. Sem dúvida, um lugar que jamais esqueceremos!
            Vamos interromper aqui nossa viagem, mas voltaremos na próxima postagem com nossa última passagem por Marrocos: a cidade vermelha ou, simplesmente, Marrakech.
            Barakalaufik (Obrigado) pela companhia e até mais!


Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse.









El Jadida - Cidade Portuguesa

























A moderna El Jadida





Na estrada






Plantações à beira do mar



Essaouira


Medina à noite

Doces variados na vitrine










Bastião, gaivotas e muralhas



Vista parcial, com gaivotas

Porto












Souq (mercado)



Sardinhas


Praia de Essaouira

Barco pesqueiro

Por do sol em Essaouira



Wagner na contraluz do crepúsculo





segunda-feira, 14 de março de 2016

Marrocos Parte 5 - Rabat e Casablanca, as maiores cidades marroquinas

No Tour Hassan, em Rabat (foto de Wagner Cosse)
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Reproduzo novamente o mapa (abaixo), para que você acompanhe a trajetória da viagem



            Chuva em Marrocos! Estranho, principalmente depois de enfrentarmos o deserto e tantas regiões reconhecidamente áridas. Mas choveu quando estávamos ainda em Chefchaouen e, nesta nova etapa, ela nos acompanhou. Claro que não eram chuvas torrenciais, como estamos acostumados nos verões brasileiros. Lá, quando chove, é no inverno. E na temporada 2015/2016, ela veio em pouca quantidade. Por isso, não me estressei. Agradeci a Deus, ou melhor, a Alah, a bem aventurança. Água sempre traz alegria.
            O circuito desta postagem perpassa por duas das maiores cidades marroquinas. Rabat, a capital, com 2,5 milhões de habitantes; e Casablanca, a mais importante cidade econômica do país, com mais de 4 milhões. Havíamos (meu companheiro de viagem Wagner Cosse e eu) pernoitado no Riad El Maati e o atencioso funcionário disse que havia reservado para nós a melhor suíte, com direito a um mezanino. Dormimos feito pedras!
            Após o café da manhã, o motorista Ahmed nos levou até o guia que iria nos acompanhar no passeio em Rabat. Youssef foi, ao lado de Réba, na casbá Amridil, o mais bem preparado guia que encontramos em Marrocos. Respondeu a todas as perguntas, sempre com informações que sempre aguçava a nossa curiosidade e nos explicou alguns detalhes da história do país com muita clareza.
            Visitamos vários pontos de Rabat que nos fizeram acreditar que ela talvez seja uma das mais belas e organizadas cidades do país. Foi, talvez, a maior surpresa da viagem. Como capital, é uma cidade imperial, cheia de palácios, fortalezas e avenidas largas e bem iluminadas, num confronto harmônico entre o antigo e o contemporâneo. Além disso, ela está localizada à beira mar, separada por um rio da também histórica Salé.
            Começamos pela medina, que atualmente é um bairro tranquilo, habitado, em grande parte, por estrangeiros, que compraram as casas (dar ou riads) e os transformaram em residências, hotéis, pousadas, cafés, lojas de artesanato ou restaurantes. Em seguida, fomos para a Casbá Les Oudaias, onde se encontram belíssimas muralhas e um jardim andaluz de tirar o fôlego. Daqui se avistam o porto, o rio e o oceano Atlântico.
            Mais tarde, conhecemos o Palácio Real, onde vive o atual rei, Mohammed VI. O local é muito bonito, mas não é tão impressionante como acreditávamos que seria. Como não é permitido entrar em suas dependências, aproveitamos para registrar a parte externa, em especial os guardas, com suas fardas diferenciadas. A chuva atrapalhou um pouco, impedindo que ficássemos mais tempo no local.
            Para terminar a visita a Rabat, fizemos o Tour Hassan, a principal atração turística da capital. Ali situa-se o Mausoléu de Mohammed V e de Hassan II, avó e pai do rei. O lugar é patrulhado pela guarda imperial, com seus belos trajes vermelhos. Alguns deles eram garbosos cavaleiros. O mausoléu é um edifício rebuscado, de elevada artesania, e está inserido no complexo da Grande Mesquita Samarra. O templo religioso iniciado no século XVIII, pretendia ser a maior mesquita do mundo. Problemas políticos e geológicos (o terremoto de 1775, que também destruiu Lisboa) acabaram transformando o local em uma obra inacabada. O minarete, inspirado na Giralda (de Sevilha) e na Koutoubia (de Marrakesh) ficou na metade do caminho. No entanto, as ruínas constituem em uma paisagem de grande beleza. O piso de mármore, molhado pela chuva, refletia as colunas destruídas. Só sobreviveram aquelas que foram retiradas de Volubilia para sustentar o prédio.
            Saímos de Rabat em direção a Casablanca. Esqueça todo o glamour do filme. Trata-se de uma megalópole cosmopolita com todos os problemas ligados a uma grande cidade, como trânsito caótico e favelas. Pouco sobrou dos antigos prédios históricos, mas é possível reconhecer edifícios art déco construídos pelos franceses no início do século XX. Ali também há praia e foi agradável almoçar próximo a um calçadão, vendo o movimento do mar. Um refresco que, às vezes, sinto falta em Belo Horizonte, uma cidade das montanhas.
            A grande atração de Casablanca é a Mesquita Hassan II, a maior do país e uma das maiores do mundo. Inaugurada em 1993, ela comporta 25 mil fiéis na parte interna, além de 80 mil nos pátios e praças próximas. Tentamos chegar a tempo para uma visita guiada, mas não conseguimos. Por isso, tivemos que contentar com a parte externa. A torre é gigantesca, com 210m de altura. É o maior minarete do mundo. As paredes e os pisos são cobertos de mármore e trazem lindos arabescos coloridos. Outro atrativo é que ela fica à beira mar, com uma deslumbrante vista do oceano e do calçadão de Casablanca. O local é um centro constante de peregrinação.
            O dia chega ao fim e preparamos para continuar a jornada para duas lindas cidades praieiras de Marrocos, que vamos conhecer na próxima postagem: El Jadida e Essaouira. Por enquanto, apreciem as fotos e deixem que a imaginação embale todas as fantasias. Confesso que está difícil de acordar deste sonho!


Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse


Rabat


Riad em Rabat: um charme

Riad: mezanino no quarto

Entrada da casbá Les Oudaias

Les Oudaias

Medina



Com Wagner nas ruelas da medina de Rabat



Vista do rio Bou Regreg


Porto de Rabat

Café em Les Oudaias

Jardim andaluz

Jardim andaluz

Wagner na entrada de Les Oudaias

Palácio real de Rabat

Porta principal do palácio

Guardas imperiais

Mesquita do palácio

Homem com traje típico de vendedor de água

Guarda real

Tour Hassan

Detalhe do edifício da Tour Hassan





Mausoléu dos reis marroquinos (parte interna)

Fachada do mausoléu



Guia Youssef e Wagner: qualidade das informações

Casablanca


Grande mesquita Hassan II














Calçadão de Casablanca

A mesquita e o mar

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