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O incrível por de sol de Essaouira (foto de Thelmo Lins)
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El Jadida e Essaouira, dois lindos
nomes que coincidem com a beleza natural que estes recantos marroquinos
representam. Situadas na costa oeste do país e banhadas pelo Oceano Atlântico, as
cidades são esplêndidas. Tanto que foram disputadas por portugueses, franceses,
árabes, corsários e berberes. E ambas são tombadas como patrimônios históricos
da humanidade pela Unesco.
A primeira a nos receber foi El Jadida.
Chegamos à linda cidade litorânea no final da tarde, a tempo de ver o sol
dourar as areias da praia principal, com a presença de muitos jovens enamorados.
É o balneário preferido os marroquinos, que lotam a cidade no verão (julho e
agosto). Na época em que a visitamos (Wagner, meu companheiro de viagem, e eu),
era inverno. A leve brisa e a temperatura de aproximados 17º não era exatamente
um convite para um banho de mar, mas o visual foi compensador.
Em El Jadida, ficamos hospedados no
que julguei o melhor hotel da turnê por Marrocos: o La Maison de Sud, também
administrado por um francês. Localizado em um bairro aparentemente estranho,
surpreendia com sua arquitetura interna, típica dos riads. Como em outras
viagens, sempre preferimos hotéis mais simples a luxuosos. Primeiro, por causa
do orçamento da viagem. E, por fim, porque esses hoteis típicos são mais
charmosos, como as pousadas no Brasil. Na verdade, pouco tempo temos para
usufruir dos benefícios de um hotel de luxo numa viagem como esta. Portanto,
simplicidade e qualidade nos serviços já bastavam, além – é claro – da limpeza.
Neste caso, diria que o riad era bem acima do que esperávemos, com um serviço
de qualidade superior (contratamos todos os hotéis no Brasil, por meio da
agência Marrocos.com). Tudo era divino: o jantar, o café da manhã, o quarto e
até o delicioso cheiro dos sabonetes, xampus e cremes.
Partimos, então, para conhecer El
Jadida. Com cerca de 145 mil habitantes, a cidade foi construída pelos portugueses,
com o nome de Mazagão, em 1506. A parte tombada é conhecida como Cidade Portuguesa.
É uma medina amuralhada, com ruas estreitas e uma saída para o oceano conhecida
como a Porta do Mar. No passado, ela foi usada pelas embarcações. Mas,
atualmente, é um ponto de apoio dos pescadores.
Além das lojinhas, restaurantes e de
alguns hotéis, a Cidade Portuguesa mostra marcas da colonização de Portugal,
como a Igreja da Assunção, um estranho templo católico dentro do universo
islâmico que hoje domina o país; a mesquita, cujo minarete era o antigo farol;
e o ponto principal: a cisterna, com lindas colunas e teto abobadado. Este
local foi usado, em 1954, para uma cena do filme “Othelo”, de Orson Welles.
Ficamos um bom tempo ali, espantados pela beleza e elegância do edifício.
Caminhando um pouco mais em direção
da Porta do Mar, subimos nas muralhas que circundam a medina e de onde avista o
oceano. Ali fizemos uma sessão de fotos, aproveitando o turbante que Wagner
conseguiu emprestado de um vendedor local. Poses e mais poses, como um ensaio
para uma revista de moda (rsrsrsrs). Ali perto também existe uma sinagoga e um
forno, que funciona como uma padaria comunitária. Existe um processo atual de
restauração de todo o complexo, como um empreendimento para atrair mais turismo
para a região.
Antes de sairmos da cidade,
aproveitamos para conhecer a parte mais moderna e mais frequentada pelos
turistas internos. A municipalidade fez um amplo projeto de urbanização, abrindo
largas avenidas ladeadas de palmeiras e outras árvores, de onde foi possível
vislumbrar um grande número de pássaros. Outro atrativo (dali e da região) é a
beleza dos postes de iluminação. Cada localidade apresenta um mais belo e
elegante do que outro, marcando os territórios pela diferenciação dos arabescos.
Todo o caminho para Essaouira foi
feito à beira mar. Passamos por várias cidadezinhas litorâneas e até paramos
para almoçar. O pescado é muito saboroso, em especial os frutos do mar,
sardinhas e outros peixes. O litoral apresenta, além das praias de areias
claras, falésias e muitos quilômetros de plantações. Como já disse, o povo
marroquino aproveita qualquer centímetro de boa terra para cultivar. E foi
impressionante ver o contraste entre o verde cultivado, a areia e o mar, numa
paisagem inusitada.
Cidade dos ventos fortes e das
gaivotas, o porto pesqueiro de Essaouira é impactante deste o primeiro momento.
Tivemos a felicidade de ficar nesse local abençoado por dois dias, curtindo com
mais tranquilidade suas ruas, vielas, museus, praças e muralhas. Fora da
medina, existem grandes praias de areia branca, muito populares no verão. Mas o
charme da medina é insuperável, principalmente porque ela não é somente
turística. Ela é viva, frequentada pelo povo local. E, como na maioria dos
centros históricos, todo o trajeto só pode ser feito a pé, sem a presença de
automóveis. No máximo um carrinho de mão, burros de carga ou motos.
Essaouira tem 70 mil habitantes. Sua
história é antiga, mas no século XVIII, precisamente em 1764, o sultão Sidi
Mohammed bem Abdallah ali se instalou e contratou um arquiteto francês para
criar uma cidade na areia, desenvolvendo uma arquitetura híbrida marroquino-europeia.
Foi o mesmo arquiteto que criou a francesa Saint-Malo. Podem-se notar,
inclusive, semelhanças entre as duas cidades. O local se notabilizou pelos seus
corsários, que mercavam com ouro, sal, marfim e até penas de avestruz.
Mas foi dos anos 1960 para cá que
Essaouira entrou no mapa do turismo. Graças, em parte, à visita de grandes
nomes do mundo artístico, como Jimi Hendrix. Os hippies chegaram à época e
ajudaram a lapidar o artesanato e as artes plásticas, tornando Essaouira
referência em todo o país. As lojas e galerias de artes são muito bonitas e
convidativas. Outro atrativo são os doces marroquinos, que podem ser adquiridos
por peso. São deliciosos e com preços muito razoáveis.
No entanto, nada se comparou ao cair
do dia. Por volta de 17h30, a população local e, principalmente, os visitantes
começam a se aglomerar nas imediações da Skala de la Ville, um bastião
construído ao longo de um penhasco, para ver o sol se pondo. O vermelho do
crepúsculo, associado às inúmeras gaivotas que circulam pelo local, apresenta
um cenário indescritível. Foi, com certeza, um dos fins de tarde mais belos que
vi em toda a minha vida. E notem que moro numa cidade famosa por eles, Belo Horizonte!
Hora de nos recolhermos para
descansar um pouco, depois de tamanha emoção. No caminho para o hotel, o tom
amarelado da iluminação noturna cria inúmeras possibilidades de luz e sombra,
mistério e magia, dignos do que vivemos em Essaouira. Sem dúvida, um lugar que jamais
esqueceremos!
Vamos interromper aqui nossa viagem,
mas voltaremos na próxima postagem com nossa última passagem por Marrocos: a
cidade vermelha ou, simplesmente, Marrakech.
Barakalaufik (Obrigado) pela
companhia e até mais!
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