Thelmo Lins, tendo ao fundo a casbá de Ait Benhaddou (foto de Wagner Cosse) |
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No dia 13 de fevereiro de 2016,
começamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse) o tour por Marrocos.
Até o dia 27 deste mês percorremos várias cidades, entre elas Marrakesh,
Fez, Rabat, Casablanca e o deserto do Sahara, entre outras localidades,
cumprindo mais de 2.000km. No texto que escrevo, aparecem nomes de localidades
que, às vezes, soam complicados para a língua portuguesa e ainda alguns
substantivos como dar, riad, casbá, medina e outros, que mereceram um pequeno
dicionário no final deste texto, somente para que possa entrar no espírito.
Fiz, ainda, um mapa com os locais que
percorremos, com a ordem cronológica da viagem, somente para facilitar o entendimento
e o acompanhamento. Não pretendo, neste texto, esgotar o assunto, mas apenas
apresentar as sensações (e as imagens) deste país deslumbrante, ilustrado por
fotos que tiramos.
Confesso que, quando recebi o
convite para viajar a Marrocos, sugerido por Wagner, achei que iria repetir
muito as mesmas impressões da Turquia. Ledo engano. O país apresentou uma gama
variada de climas, sabores, cheiros, experiências que fogem a tudo que já havia
conhecido anteriormente.
Para começo de conversa, a viagem
foi realizada por intermédio de uma agência portuguesa que atua em Marrocos,
descoberta por meio do site da agência www.marrocos.com.
Os proprietários são os irmãos portugueses João e Rita Leitão. Eles vivem em
Oarzazate, uma das primeiras cidades visitadas, e portal de entrada do deserto
do Sahara. A comunicação foi bastante facilitada pelo fato de eles falarem
nossa própria língua. A agência oferece vários pacotes prontos, mas nós
propusemos algumas modificações, a partir da pesquia na internet e a leitura de
guias sobre o país, em especial o Lonely Planet, o único que encontrei com
tradução para o português (vejam o roteiro no mapa).
De Lisboa, onde estávamos, pegamos
um voo para Casablanca e, em seguida, fomos para Marrakech. Para quem mora em
Belo Horizonte, como nós, viajar para Lisboa e, depois, para o Marrocos, é uma
possibilidade, pois não temos que enfrentar a ponte aérea para São Paulo e
esperar algum tempo nos aeroportos, pois existe um voo direto entre São Paulo e
Casablanca. Mas acabamos tomando chá de aeroporto em Casablanca (mais de cinco
horas), pois não encontramos voo direto entre Lisboa e Marrakesh. Enfim,
chegamos exaustos a Marrakech já bem tarde da noite e eu só consegui fazer um
pequeno lanche, tomar um banho e cair na cama.
De manhã bem cedo, o motorista que
iria nos acompanhar toda a viagem já estava nos esperando após o café da manhã.
Seu nome é Ahmed e ele fala espanhol. O tour seria feito em um automóvel 4x4,
bastante confortável, somente nós três: Ahmed, Wagner e eu.
Na primeira etapa, atravessamos as
montanhas do Alto Atlas em direção a Oarzazate, totalizando 196km. Subíamos
estrada íngremes, mas com boa qualidade de pavimentação. As vistas da cordilheira
eram arrebatadoras. Ela divide Marrocos em duas partes: a parte oeste, voltada
para o Oceano Atlântico, com terras mais férteis, por causa da maior incidência
de chuva; e a parte leste, voltada para o Sahara, mais árida, pontuada por
alguns vales e oásis.
No caminho, visitamos Telouet e o Vale
de Ounila. Em Telouet, Ahmed nos apresentou a um lugar impressionante: a casbá
do outrora poderoso paxá Glaoui. Ele caiu em desgraça por ter apoiado a França,
país que colonizou o Marrocos até 1956, contra a independência. Fruto disso são
a ruína de suas antigas propriedades, que foram deixadas ao seu próprio destino
pelo governo marroquino, de família opositora. Embora muito destruídas, elas
mantém algumas dependências luxuosas, como as salas de recepção do segundo
andar, que, atualmente, são guardadas por pessoas humildes da região, que
cobram um valor simbólico de 20 dirhans para visitação. A seu modo, eles lutam
bravamente pela preservação desse belíssimo monumento.
Um pouco mais adiante, outro esplendor:
a casbá de Ait Benhaddou. Encravada em uma montanha, com uma paisagem de tirar
o fôlego, a pequena vila é considerada patrimônio da humanidade pela Unesco. Ao
contrário de Glaoui, está muito bem preservada, considerando sua longevidade:
ela foi fundada em 757 D.C. Logo ficamos sabendo que o local foi cenários de
vários filmes, entre eles “Lawrence da Arábia”, “Jesus de Nazaré” e “O
Gladiador”, dentre tantas outras películas. Enveredamos por suas ruazinhas,
repletas de pequenas lojas e alguns cafés para chegarmos até o topo, onde
tínhamos uma vista de 360º da região.
O vale de Ounilla, que adentramos em
seguida, configurou-se na primeira forte impressão, que confirmaríamos nos dias
seguintes, da tenacidade do povo marroquino. Em rios praticamente secos, com
pouquíssima água (neste inverno choveu bem menos do que era esperado), eles
conseguem fazer aflorar plantações de algumas de suas principais culturas, com
a árvore de argan, a amendoeira e a tamareira, dentre inúmeros cultivos. Era
possível vislumbar, no meio das casas coloridas pelos tons da terra, a maioria cor
de ocre, os pontos verdejantes.
Por fim, chegamos a Oarzazate no final
do dia, onde iríamos nos hospedar na Dar Rita, hotel dos irmãos Leitão, coordenadores
de nosso tour pelo Marrocos. Fomos recebidos pelo tradicional chá marroquino
(verde, com hortelã), acompanhado por biscoitos. É a senha de boas vindas desse
país encantador.
Agora, um pouco de descanso para
enfrentarmos, na próxima etapa, o caminho para o deserto.
Akranwes daghr (até mais)!
Pequeno dicionário marroquino:
Ait – Família
Casbá – Espécie de forte ou cidadela;
posteriormente, centro administrativo de uma cidade.
Dar – Casa
Dirham – Moeda local. Em fevereiro de
2016, um euro equivalia a 10,60 dh (e, com um euro, podia-se comprar
aproximadamente 4,50 reais)
Erg - Dunas
Riad – Casa urbana, com jardim interno.
Virou sinônimo de hotel ou pousada em Marrocos. Mas, para ser um verdadeiro
riad, é necessário haver um jardim interno.
Medina – Centro velho, onde fica a
parte histórica das cidades.
Souq – Mercado
Observações:
Ao contratar um tour, saiba se ele
inclui ou não um guia. No nosso caso, acreditamos no início que Ahmed, nosso
motorista, também era um guia. Como suas respostas eram evasivas e pouco
informativas, começamos a ficar incomodados. Ficamos sabendo, posteriormente,
que ele é somente um motorista. Tivemos o auxílio de alguns guias, mais tarde, em
alguns pontos específicos, nas medidas de Fez, Marrakech e Rabat e em alguns
museus e centros culturais.
Não tivemos problemas com a comida. Os
restaurantes que frequentamos ofereciam comida marroquina e internacional.
Sempre optamos pela marroquina, cujos principais pratos são o tajine (ensopados
feitos em tradicionais panelas de barro, que pode ser de carne ou vegetariano),
o cuscuz e espetinhos. Em alguns casos, acompanhados de batata frita, arroz e
pães. Os menus tinham, como entrada, salada ou sopa. A sobremesa era sempre uma
fruta, em especial a laranja cortada em tiras, com canela. Atesto que, mesmo
para uma pessoa com algumas restrições alimentares, como eu, que detesta cebola
e não pode com frutos do mar, a comida do país é muito saborosa. Não tivemos
problemas com comida apimentada.
No campo gastronômico, é importante
saber que as porções marroquinas são muito fartas. Mais tarde, mais cientes da
situação, Wagner e eu começamos a pedir somente um prato (ao invés do menu completo).
Às vezes nos satisfazíamos apenas com a entrada. Os preços iam de 20 dh, para
uma sopa, acompanhada de pães, até 130 dh pelo menu completo. Como bebida, a
pedida era o delicioso suco de laranja (de 4 a 20 dh, em média).
Os marroquinos, maioria islâmicos, não
bebem álcool, pelo menos publicamente. Não existe o hábito de se sentar num bar
ou café para tomar cerveja ou outra bebida. O “uísque” deles é o chá, muito
popular e apreciado por toda população. Se quiser experimentar uma bebida, em
especial um vinho marroquinho (que tem boas safras), pode pedir no hotel ou em
restaurantes específicos, que atendem turistas, estrangeiros e pessoas que não
professam a religião islâmica.
Outro ponto, também, é a proibição de
visitação a mesquitas por pessoas não islâmicas. Existe apenas duas exceções no
país, sendo uma delas a grande mesquita Hassan II, em Casablanca, que cobra 120
dh por uma visita guiada de uma hora.
Por fim, vale a pena atentar para a
roupa. Não são bem vistos decotes acentuados ou shorts muito curtos
(especialmente para mulheres). Nada como uma boa calça jeans ou um agasalho
esportivo, com tênis confortáveis. A temperatura, nesta época do ano, é baixa,
mas pode esquentar durante o dia, chegando a 25º.
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
Mapa do tour em Marrocos. Marrekech foi o ponto de chegada e partida. |
Cordilheira do Alto Atlas |
Vale com plantações |
Plantações de argan |
Fruto de argan |
Amendoeira |
Telouat e a Casbá Glaoui
Thelmo em uma das janelas de Glaoui |
Vista da região |
Wagner no salão principal da casbá |
Vale de Ounilla
Casbá que se transformou em hotel, na região |
Ait Benhaddou
Wagner acena do alto da casbá |
Gastronomia
Cuscuz |
Espetinhos |
Tajine |
Chá com biscoitos |
Laranja com canela e ameixas |
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