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Eu, Wagner e Hassan "atravessando o Deserto do Sahara..." (foto de Ahmed) |
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Esta é a segunda parte da viagem a Marrocos, iniciada no
dia 13 de fevereiro de 2016. Estamos – eu e meu companheiro de viagem, Wagner
Cosse – em Oarzazate, cidade da área central do país, pouco mais de 190 km de
Marrakech.
Além de ser o principal polo cinematográfico de Marrocos,
Oarzazate é também a porta de entrada para quem quer conhecer o deserto do
Sahara. É uma cidade em franco desenvolvimento econômico e turístico, com cerca
de 280 mil habitantes. Depois do café da manhã do Dar Rita, pousada de nossa
anfitriã, Rita Leitão, partimos com o motorista Ahmed para a região de
Merzouga, onde situam-se as dunas de Chebbi, ou Erg Chebbi, na divisa com a
Argélia, ponto inicial do Sahara.
Fizemos a rota entre Orzazate e Merzouga, passando pelo
Oásis de Skoura, o Vale do Drá, o Vale das Rosas e pelas Gargantas do Todra. A
entrada, conhecida como a Rota dos Mil Casbás, enfrentada duramente, pois neste
dia fomos acometidos por um vendaval, que provocou uma tempestade de areia e
poeira. Ela foi fruto, segundo Ahmed, dos ventos gelados que vinham das
montanhas do Alto Atlas, anunciando que a temperatura iria cair nos próximos
dias. O que acabou se confirmando.
Encerrados no conforto do automóvel, com ar
condicionando, vimos a penúria que a população passa quando acontece um efeito
climático desta natureza. Quando chegamos ao Oásis de Skoura, patrimônio
tombado pela Unesco, tivemos dificuldade de caminhar, tamanha era a ventania –
acompanhada de muita areia e pó. Neste local, com um extenso palmeiral,
visitamos a casbá Amridil, uma impressionante construção do século 17. Dentro,
parece que tudo se acalmava e ficávamos protegidos das intempéries. A casbá conserva a forma tradicional das construções
marroquinas do deserto, com os hábitos e costumes que marcam o povo berbere.
Ali pudemos observar os pátios internos, repletos de utensílios que demonstram as
formas de subsistência da população, como a obtenção da escassa fonte de água
para suas plantações, o seu modo de vida e de como comercializa e defende sua
família. O guia Réba nos recepcionou e fez um deslumbrante relato sobre todas
as dependências, fazendo-nos entender e conhecer um pouco melhor a história de
seu povo. A visita custou em torno de 20dh (cerca de dois euros) por pessoa e durou cerca de uma
hora.
Em seguida, o caminho enveredou pelo pelos vales do Drá e
das Rosas. O primeiro tem esse nome por causa do rio que o banha. O segundo, devido
ao cultivo das flores, que são transformadas em diversos produtos cosméticos e
de limpeza. Aproveitei para comprar um
perfume, destes que a gente borrifa no ambiente, para sempre me lembrar dos
odores do Marrocos. Passamos também por uma sequência palmeirais e plantações onde
pudemos observar como o povo marroquino aproveita cada migalha de água que
consegue. Era impressionante ver como o verde serpenteava entre as montanhas
ressecadas pelo calor e pela falta de chuva. Os vales funcionam como pulmões,
que alimentam e proporcionam vida àquela população.
Ventanias à parte, conseguimos chegar às Gargantas do
Todra, já sentindo a queda da temperatura. O sol coloria as imensas rochas de
vermelho. No interior, um pequeno riozinho gelado atravessava a garganta, dando
formato às pedras e alagando o palmeiral, permitindo o desenvolvimento de todas
as comunidades, graças à abundância de água na região. Um rico manancial dentro
de um ambiente tão inóspito.
Saímos dali em direção a Merzouga, com uma sequência de
vistas deslumbrantes da estrada, entre
vales e montanhas. De repente, um grande portal demarca a entrada na cidade.
Rumamos diretamente para o ponto de apoio, de onde iríamos pegar os dromedários
para percorrer aproximadamente uma hora e meia até o local onde passaríamos a
noite.
É bom frisar que não se fala “camelo” no Marrocos e, sim,
“dromedário”. As diferenças são que camelo tem duas corcovas, ao invés de uma.
E dromedário é um animal típico da África, ao contrário de camelo, que é
oriundo da Ásia, em especial da região do Oriente Médio. Pelo menos foi assim
que nos explicaram e lemos.
A trilha, adentrando as areias do Sahara, seria feita
somente por Wagner, por mim e pelo responsável pelos dromedários, Hassan.
Adianto que não consegui me sentir confortável no dromedário. Embora seu passo
seja tranquilo, a partir de um tempo – mesmo com o acolchoamento – a corcova
começa a incomodar. Além disso, o sacolejo me impediu de fotografar. Depois de
um tempo, pedi para descer e enfrentei o resto da trilha a pé.
O por do sol esperado, atração principal do passeio, não
veio, pois os ventos cobriram o céu de nuvens. Então, não obtivemos aqueles belos
efeitos que o crepúsculo provoca nas dunas. Mas, depois de enfrentarmos a
trilha/caminhada e o frio intenso que se já incomodava, chegamos às tendas onde
passaríamos a noite. Era um acampamento considerado luxuoso, no meio do deserto
exclusivo para mim, para o Wagner, que estávamos ali sozinhos (sem contar com
os profissionais). Os outros três hóspedes que haviam reservado cancelaram a
noitada.
Fomos recebidos com o tradicional chá e, um pouco mais
tarde, por um jantar digno dos paxás. A ideia é que nos fazer sentir como
saídos das páginas das Mil e Uma Noites. Tapetes, tecidos coloridos, lamparinas
e muito charme formavam a decoração do ambiente. Para dar um charme especial,
Hassan e o gerente do hotel, Hami (que também era o talentoso cozinheiro),
apresentaram um pequeno show musical com canções do deserto. Ao falarmos que
éramos cantores brasileiros, participamos da segunda parte da apresentação,
cantando canções do nosso país, acompanhados por tambores berberes. Foi
emocionante e inusitado!
O dia amanheceu por volta das 6h30 da manhã. Neste
horário, já estávamos no alto de uma duna, acompanhando o nascer do sol, com
todos os relevos que o jogo de luz e sombra provoca nas dunas. Acarinhados por
um belo dia que se descortinava, já sem os ventos do dia anterior, descemos
para tomar o café da manhã na tenda principal do acampamento. Em seguida, mais quarenta
minutos de dromedário até o ponto em que o nosso motorista estava nos esperando
para darmos prosseguimento a nossa jornada pelo Marrocos. Por incrível que
pareça, consegui enfrentar essa parte sem tanto sofrimento, em cima do animal.
E acreditando que estava vivendo uma experiência única em minhas vida.
Bessalama (Tchau)!
Durante a noite, no
acampamento, choveu intensamente. Acordei com o barulho das águas na lona das
tendas. Não pude evitar certa tristeza ao saber que os dromedários estavam lá
fora, presos nos pés e obrigados a ficar ajoelhados durante toda a noite,
tomando aquele temporal. São algumas coisas assim, da viagem, que fazem nosso
coração cortar, mas que integram a tradição do país.
Outro ponto negativo foi a
falta de água quente no acampamento/hotel. Ou seja, simplesmente passamos a
noite sem banho, pois o frio era de rachar. No dia seguinte, soubemos que os
outros três hóspedes haviam cancelado a pernoite por causa disso.
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Entrada principal de um dos estúdios de cinema em Oarzazate |
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Com o guia Réba, na entrada da casbá de Amridil |
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O interior de Amridil |
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Amridil |
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Amridil e o Oásis de Skoura |
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Vale fértil do Drá |
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Vale do Drá |
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Gargantas de Todra |
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Todra e a lua |
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Gargantas de Todra |
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Vale das Rosas |
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Montanhas do Vale das Rosas |
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Vale das Rosas |
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Tinejdad |
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Antiga prisão marroquina |
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Oásis |
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Portal de entrada de Merzouga |
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Cuidado: dromedários na pista! |
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Em Erg Chebbi, no Deserto do Sahara |
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Acampamento |
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Interior da sala de jantar do acampamento |
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Wagner no dormitório do acampamento: clima das Mil e Uma Noites |
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Jantar no acampamento |
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Hassan e Hami no show particular |
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Amanhecer no deserto |
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No Deserto do Sahara (foto de Wagner Cosse) |
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Foto de Wagner Cosse |
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Foto de Wagner Cosse |
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