quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Brasil Profundo 9 – Parnaíba

Delta do Parnaíba: um dos mais belos pontos da viagem
Clique nas fotos para ampliá-las. Fotos de Thelmo Lins


            Saímos de Codó no dia 04 de janeiro de 2017 em direção à Parnaíba (PI). Para chegarmos lá, utilizamos por um caminho alternativo no nordeste do Maranhão, passando por Coroatá, Vargem Grande, Chapadinha e São Bernardo, dentre outras pequenas cidades. Paramos em alguns momentos da estrada, admirados pela paisagem encantadora. Já são quase 5.000 quilômetros rodados desta viagem ao Brasil Profundo.
            Como disse em postagem anterior, a costa do Piauí não constava originalmente dos planejamentos da viagem. Mas os elogios quanto à beleza de suas praias e ao Delta do Rio Parnaíba nos obrigaram a refazer o roteiro. E não ficamos decepcionados.
            O primeiro contato foi com a cidade de Parnaíba, onde nos hospedamos na pousada Chalé Suíço, que contratamos pelo Booking. Tivemos dois dias para conhecer os principais atrativos. E eles começaram pela própria cidade, que conserva um belo casario, que vai do período colonial até os dias de hoje, com ênfase para o período Neoclássico, no início do século 20. O centro histórico é muito charmoso, em especial na beira do rio Igarassu, no Porto das Barcas, onde concentram-se restaurantes, bares, lojas de artesanato e agências de turismo. Era para lá que rumamos todas as noites para jantar.
            No primeiro dia optamos por passear pelas praias do Piauí. São apenas 66 km de orla marítima, o que pode ser feito em apenas um dia. Visitamos algumas praias, como Macapá, Carnaubinha e Praia do Coqueiro. Elas ainda conservam aquele ar de vilas de pescadores (exceto Carnaubinha, que possui um resort bem estruturado), circundadas por grandes dunas, como se fosse um prolongamento dos Lençóis Maranhenses. Na praia de Macapá, a mais bela de todas que visitei, os ventos permitem a prática de kitesurfe.
            Foi também em uma dessas praias que eu experimentei, pela primeira vez, a famosa cajuína, bebida típica do Piauí. Bem geladinha, à beiro mar, ela foi um refrescante para uma temperatura que chegou a 47 graus.
            Em determinado momento do dia, Wagner quis continuar a sua peregrinação às praias até finalizar o dia na Pedra do Sal, já em Parnaíba, onde há um famoso pôr do sol. Cansado, eu resolvi retornar ao hotel. Como não encontrei um táxi à disposição, resolvi pegar um transporte coletivo. Fiquei simplesmente horrorizado com a situação vivida no dia-a-dia pelos piauienses. O transporte é alternativo (por meio de van), que vai catando as pessoas em todos os pontos e, enquanto ela não fica completamente lotada, não prossegue a viagem. Uma verdadeira lata de sardinha.
            No segundo dia da estadia em Parnaíba, fomos fazer o famoso passeio de barco pelo Delta. Há vários tipos de passeios, sendo o mais popular o que nós fizemos. Ele sai por volta de 9h e retorna entre 15 e 16h, depois de passar por vários pontos do rio, visitar ilhas, praias e dunas. Durante o passeio, são servidas três refeições. Uma somente de frutas, o almoço propriamente dito e uma caranguejada.
            O visual é impressionante, com paisagens deslumbrantes. Para nossa felicidade, a altura do som estava razoável, apesar da trilha sonora ser completamente brega. Pelo menos, para o meu gosto. Na minha opinião, com tantas lindezas, o melhor era ficar em silêncio completo. E isso acabou acontecendo, por sorte. Em determinada área, onde há grande concentração de manguezais, os barcos desligam o som, por determinação do Ibama, e a embarcação desliza tranquila pelas águas mansas.
            Antes de voltarmos para a pousada, fizemos uma parada no Sesc Parnaíba, um belo edifício localizado no centro histórico da cidade. Além de exposições e outras atividades (a maioria delas em recesso), paramos no pequeno café para fazer um lanche. O local é tocado por um português, que escolhei viver no Piauí. Daí, o papo rolou solto, com trocas de experiências.
            Bem, agora era hora de fechar as malas, pegar o carro e prosseguir para a nossa próxima parada: o Parque Nacional de Sete Cidades, em Piripiri. Até lá!

Estrada entre Codó e Parnaíba







Centro Histórico de Parnaíba



Rio Igarassu






Wagner no Porto das Barcas










Sesc Parnaíba

Interior do Sesc Parnaíba


Porto das Barcas à noite

Orla piauiense

Na Praia de Macapá, completamos 5.000 km de viagem

Praia de Macapá

Praia de Macapá



Kitesurfe




Kitesurfe


Resort na praia de Carnaubinha

Praia dos Coqueiros

Cajuína

Delta do Parnaíba











Manguezais




"Homem-lama", interpretado por um funcionário da embarcação, mostra os carangueijos macho e fêmea




Pôr do sol na Pedra do Sal



terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Brasil Profundo 8 - Codó



Com Maria dos Santos e Pedro de Oxum, em Codó (MA)


Pelo cronograma original da viagem pelo Brasil Profundo, a próxima parada após Belém (PA) seria Teresina (PI). Mas de antemão sabíamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse) que seria um percurso muito cansativo para se fazer em um só dia, cerca de 915 km. Então, prevemos uma parada entre as duas cidades para repousar.
            No entanto, os amigos de Belém haviam nos falado das belezas do Delta do Parnaíba (PI) e percebemos o quanto estaríamos perto para perdermos esta oportunidade. Imediatamente refizemos os planos e, ao invés de irmos diretamente para Teresina, reorganizamos a viagem para rumarmos para Parnaíba (PI).
            Sendo assim, pesquisamos no mapa qual seria a melhor cidade para pernoitar entre Bacabal, Codó e Caxias, todas no Maranhão. Codó acabou vencendo por dois motivos. O primeiro é que Wagner aventou a possibilidade de reencontrar com algum parente. A família Cosse é proveniente do Maranhão, onde seu pai, Luiz Cosse, nasceu. Alguns parentes podiam ainda estar em Codó ou Caxias, no interior do estado. O outro motivo é que Codó é conhecida como a capital dos pais de santos, a cidade que tem mais terreiros de umbanda por habitante em todo o Brasil, quiçá no mundo. São mais de 300. Não encontramos nenhum Cosse por lá. Entretanto, queríamos conhecer um pouco dessa incrível tradição afro-brasileira.
            Estávamos no dia 03 de janeiro de 2017, cerca do quilômetro 4.500 desta viagem. Depois de uma noite relaxante, amanhecemos em nosso hotel em Codó, que contava com uma boa infraestrutura. Na bela piscina, ainda havia mesas e cadeiras instaladas para a noite de Ano Novo, festejada naquele local. Bem próximo da piscina, foi colocado o bufê do café da manhã. Muito farto, mas repleto de moscas. Moscas, moscas, moscas. A gente usava uma mão para pegar o alimento e outra para afastar os insetos. Inacreditável. Nenhum ventilador para afastar as desagradáveis criaturinhas. Depois desse Bom Dia indigesto, resolvemos dar uma volta para conhecer a cidade. A temperatura estava por volta de 29 graus e o tempo estava nublado com possibilidade de chuvas.
            À primeira vista, Codó não passou no teste. Uma cidade de aproximadamente 120 mil habitantes, com trânsito meio caótico (principalmente de motocicletas) e a ausência completa de edificações interessantes. Somente a estação ferroviária, recentemente restaurada, e uma meia dúzia de prédios salvava a aparência. Gostei muito de uma antiga ponte de madeira para pedestres.
            Codó começou a se descortinar para nós a partir do momento em que conhecemos Pedro de Oxum, um dos pais de santo da cidade. Extremamente articulado e profundo conhecedor das tradições locais, o religioso nos levou para vários terreiros, inclusive o mais famoso da cidade, comandado pelo Mestre Bita do Barão. Sua fama se deu principalmente pelo fato de ele ser o mentor espiritual da família Sarney. No entanto, ele também realiza uma série de serviços na cidade de fundo assistencial, que tornam seu nome muito admirado na região. A estrutura do terreiro comandado pelo Mestre é imensa, com muitos salões e uma decoração rebuscada, chegando ao kitsch (cafona).
            De acordo com Pedro de Oxum, mesmo com toda a tradição e muitos seguidores, a umbanda ainda é um tabu em Codó. As igrejas evangélicas e até mesmo a católica muitas vezes satanizam os rituais, embora já houve alguns avanços no sentido de haver uma relação de respeito e boa convivência entre as entidades.
            Um dos locais que mais me emocionou na viagem foi a visita ao terreiro onde Pedro assume a entidade de Xica Baiana. O ambiente, que ocupa uma sala de sua residência, é simples, mas muito autêntico. Ele contrata com o luxo das roupas usadas por sua entidade, mostradas por Pedro com extremo orgulho. No final da visita, ele nos ofereceu uma guia (uma espécie de colar ou pulseira) com contas verdes, amarelas e vermelhas. São as cores que trarão, segundo ele, bons fluidos para 2017. Agradecemos com fé.
            No dia 04 de janeiro, antes de sairmos de Codó, Wagner compareceu a uma cerimônia na Tenda Espírita Santa Bárbara, comandada pela mãe de santo Maria dos Santos, que aconteceu logo que amanheceu o dia. O evento abriu os festejos do ano, com direito a danças, orações, batuques, roupas brancas e ambiente perfumado. Entre um mosquito e outro, resolvemos tomar nosso café da manhã no quarto do hotel, resguardados pelo ar condicionado. É hora de continuar a viagem.


Saravá!

Estação ferroviário de Codó

Igreja Matriz

Praça

Igreja de Nossa Senhora das Graças


Interior da Igreja de N.S.das Graças

Pinturas da igreja de N.Sra. das Graças


Prefeitura Municipal de Codó

Praça principal, com estação ao fundo
Wagner e a cruz que é o símbolo da cidade


Adicionar legenda

 Tenda Espírita da Rainha Iemanjá, do Mestre Bita










Terreno de Pedro de Oxum ou Xica Baiana





Pedro e Wagner e as revistas em que o pai de santo é citado.

 Paisagens noturnas






Ponte de pedestres


Wagner aproveita a piscina do hotel em Codó

Família do guaraná Jesus, bebida tipicamente maranhense

Festa da Tenda Espírita Santa Bárbara




Turnê Atacama/Uyuni Parte IV: Salar de Uyuni

  No bosque das bandeiras, atração do Salar de Uyuni Veja as fotos no final do texto Clique nas fotos para ampliá-las      Chegamos à última...