terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Brasil Profundo 8 - Codó



Com Maria dos Santos e Pedro de Oxum, em Codó (MA)


Pelo cronograma original da viagem pelo Brasil Profundo, a próxima parada após Belém (PA) seria Teresina (PI). Mas de antemão sabíamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse) que seria um percurso muito cansativo para se fazer em um só dia, cerca de 915 km. Então, prevemos uma parada entre as duas cidades para repousar.
            No entanto, os amigos de Belém haviam nos falado das belezas do Delta do Parnaíba (PI) e percebemos o quanto estaríamos perto para perdermos esta oportunidade. Imediatamente refizemos os planos e, ao invés de irmos diretamente para Teresina, reorganizamos a viagem para rumarmos para Parnaíba (PI).
            Sendo assim, pesquisamos no mapa qual seria a melhor cidade para pernoitar entre Bacabal, Codó e Caxias, todas no Maranhão. Codó acabou vencendo por dois motivos. O primeiro é que Wagner aventou a possibilidade de reencontrar com algum parente. A família Cosse é proveniente do Maranhão, onde seu pai, Luiz Cosse, nasceu. Alguns parentes podiam ainda estar em Codó ou Caxias, no interior do estado. O outro motivo é que Codó é conhecida como a capital dos pais de santos, a cidade que tem mais terreiros de umbanda por habitante em todo o Brasil, quiçá no mundo. São mais de 300. Não encontramos nenhum Cosse por lá. Entretanto, queríamos conhecer um pouco dessa incrível tradição afro-brasileira.
            Estávamos no dia 03 de janeiro de 2017, cerca do quilômetro 4.500 desta viagem. Depois de uma noite relaxante, amanhecemos em nosso hotel em Codó, que contava com uma boa infraestrutura. Na bela piscina, ainda havia mesas e cadeiras instaladas para a noite de Ano Novo, festejada naquele local. Bem próximo da piscina, foi colocado o bufê do café da manhã. Muito farto, mas repleto de moscas. Moscas, moscas, moscas. A gente usava uma mão para pegar o alimento e outra para afastar os insetos. Inacreditável. Nenhum ventilador para afastar as desagradáveis criaturinhas. Depois desse Bom Dia indigesto, resolvemos dar uma volta para conhecer a cidade. A temperatura estava por volta de 29 graus e o tempo estava nublado com possibilidade de chuvas.
            À primeira vista, Codó não passou no teste. Uma cidade de aproximadamente 120 mil habitantes, com trânsito meio caótico (principalmente de motocicletas) e a ausência completa de edificações interessantes. Somente a estação ferroviária, recentemente restaurada, e uma meia dúzia de prédios salvava a aparência. Gostei muito de uma antiga ponte de madeira para pedestres.
            Codó começou a se descortinar para nós a partir do momento em que conhecemos Pedro de Oxum, um dos pais de santo da cidade. Extremamente articulado e profundo conhecedor das tradições locais, o religioso nos levou para vários terreiros, inclusive o mais famoso da cidade, comandado pelo Mestre Bita do Barão. Sua fama se deu principalmente pelo fato de ele ser o mentor espiritual da família Sarney. No entanto, ele também realiza uma série de serviços na cidade de fundo assistencial, que tornam seu nome muito admirado na região. A estrutura do terreiro comandado pelo Mestre é imensa, com muitos salões e uma decoração rebuscada, chegando ao kitsch (cafona).
            De acordo com Pedro de Oxum, mesmo com toda a tradição e muitos seguidores, a umbanda ainda é um tabu em Codó. As igrejas evangélicas e até mesmo a católica muitas vezes satanizam os rituais, embora já houve alguns avanços no sentido de haver uma relação de respeito e boa convivência entre as entidades.
            Um dos locais que mais me emocionou na viagem foi a visita ao terreiro onde Pedro assume a entidade de Xica Baiana. O ambiente, que ocupa uma sala de sua residência, é simples, mas muito autêntico. Ele contrata com o luxo das roupas usadas por sua entidade, mostradas por Pedro com extremo orgulho. No final da visita, ele nos ofereceu uma guia (uma espécie de colar ou pulseira) com contas verdes, amarelas e vermelhas. São as cores que trarão, segundo ele, bons fluidos para 2017. Agradecemos com fé.
            No dia 04 de janeiro, antes de sairmos de Codó, Wagner compareceu a uma cerimônia na Tenda Espírita Santa Bárbara, comandada pela mãe de santo Maria dos Santos, que aconteceu logo que amanheceu o dia. O evento abriu os festejos do ano, com direito a danças, orações, batuques, roupas brancas e ambiente perfumado. Entre um mosquito e outro, resolvemos tomar nosso café da manhã no quarto do hotel, resguardados pelo ar condicionado. É hora de continuar a viagem.


Saravá!

Estação ferroviário de Codó

Igreja Matriz

Praça

Igreja de Nossa Senhora das Graças


Interior da Igreja de N.S.das Graças

Pinturas da igreja de N.Sra. das Graças


Prefeitura Municipal de Codó

Praça principal, com estação ao fundo
Wagner e a cruz que é o símbolo da cidade


Adicionar legenda

 Tenda Espírita da Rainha Iemanjá, do Mestre Bita










Terreno de Pedro de Oxum ou Xica Baiana





Pedro e Wagner e as revistas em que o pai de santo é citado.

 Paisagens noturnas






Ponte de pedestres


Wagner aproveita a piscina do hotel em Codó

Família do guaraná Jesus, bebida tipicamente maranhense

Festa da Tenda Espírita Santa Bárbara




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