segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Brasil Profundo 7 - Belém

Na escadaria de ferro inglês do Mercado das Carnes, em Belém. Herança do período da borracha.

Clique nas fotos para ampliá-las. Fotos de Thelmo Lins

Desde muito novo eu sonhava conhecer a capital do Pará. Quando era adolescente, adquiri uma coleção de arte e arquitetura brasileira que mostrava alguns prédios de Belém da época do Ciclo da Borracha. Eram palacetes belíssimos, em estilo Neoclássico, que ficavam em uma cidade circundada por imensas mangueiras, parques e rios. Uma cidade em que toda a tarde chovia um pouco. Aquelas imagens ficaram em meu imaginário infanto-juvenil e volta-e-meia, algum amigo me trazia notícias de lá. Os cantos de Fafá de Belém, no início de sua carreira, também ecoavam essa espécie de paraíso.
            O fato de conhecermos o casal de advogados Maíra e José Maria e a sugestão que recebemos deles para visitarmos a Marujada de Bragança, como narrei em Brasil Profundo 5, facilitou essa ponte. Na verdade, eles vivem na capital e, aproveitando a ocasião, nos convidaram para hospedar em sua casa durante os dias em que ficamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse) em Belém.
            Chegamos no dia 28 de dezembro e permanecemos na cidade até a manhã do dia 02 de janeiro. E esses cinco dias foram incríveis. Mergulhamos na vida da metrópole, com o auxílio luxuoso de um casal que vive e respira a cidade e que nos conduziu aos seus pontos de maior interesse. Mas o carinho e atenção foram além, pois eles acabaram envolvendo toda a família nessa empreitada. Em especial, Irene Weyl, mãe de José Maria, que foi um cicerone de primeira linha, nos levando a atrativos históricos, como o Mercado Ver-O-Peso, a Estação das Docas, igrejas, praças, galerias de arte e museus.
Gostei particularmente das Docas. O local foi totalmente restaurando há alguns anos e se transformou em uma área de restaurantes, lojas e salas de exposição. Situado às margens do Rio Guajará, de lá pudemos apreciar um dos mais belos pores-do-sol de Belém.
            Encantei-me com o Theatro da Paz, localizado no centro histórico de Belém, construído em 1878, no auge do Ciclo da Borracha. A região, inclusive, tem outros prédios muito bonitos, embora boa parte deles esteja encoberta por tapumes de uma restauração extremamente prolongada que ainda não terminou. Ali também fica o Cine Olímpia, o mais antigo em atividade no país, embora tenha passado por sucessivas reformas que o descaracterizaram. Chama também a atenção o Hotel Hilton, que foi construído no lugar do antigo Hotel Nacional, joia da arquitetura Art Deco, destruída sem dó nem piedade para dar lugar a um edifício moderno completamente destituído de charme.
            Na área do Ver-O-Peso, é onde se conhece mais profundamente os cheiros, cores e sabores do Pará. Um sem número de frutas e vegetais, além de peixes, farinhas e peças de artesanato fazem encher os nossos olhos. No setor de ervas, chama a atenção a quantidade de produtos para todo tipo de enfermidade ou necessidade. Do espanto ao mau olhado ao Viagra natural. Vimos (e compramos) sabonetes que limpam o corpo e servem como atrativo para todo tipo de opção sexual.
            Aproveitamos a ocasião para tomarmos um banho de cheiro. Afinal, o complicado ano de 2016 estava acabando e queríamos entrar em 2017 com o corpo e alma limpos e renovados.
            Ao lado o Ver-O-Peso estão localizados o Mercado dos Peixes e o Mercado das Carnes, todos construídos em ferro. As estruturas requintadíssimas, do início do século 20, foram trazidas da Inglaterra e montadas em Belém, atestando o luxo em que viviam os habitantes da cidade naquela época.
            Mas Belém também remete aos séculos 17 e 18 em construções como a Casa das Onze Janelas (que infelizmente estava fechada no dia em que a visitamos), a Catedral da Sé e o Forte do Presépio, por exemplo.
            Ficamos com a impressão de que a parte histórica da cidade precisa urgentemente passar por uma reforma, inclusive na limpeza das ruas (a maioria sem esgotamento sanitário) e dos prédios mais importantes. Percebe-se o desleixo das autoridades públicas com esse rico patrimônio, único no país, que faz com que Belém lembre uma Paris tropical. Para o visitante ou turista, é sempre melhor andar ou vagar por lugares mais saudáveis.
            Ressalto, ainda, dois locais que valem a pena a visita: a Ilha de Combu e o Mangal das Garças. Na primeira, estivemos a convite de Maíra. Para chegar até lá, cruzamos o Rio Guaíra em uma pequena embarcação. Não mais que 10 minutos. Lá, o barco nos deixou no restaurante Saldosa (com “l” mesmo) Maloca, onde apreciamos um peixe saborosíssimo. O local também permite banhos. Dali avistamos o percurso da chuva que cai toda a tarde sobre Belém e que, minutos depois, some completamente, deixando o céu novamente azulado. Wagner e Maíra aproveitaram para tomar um banho de chuva e descarregar as tensões. Na ilha, conhecemos também a impressionante samaumeira, árvore centenária, com uma raiz gigantesca.
            A respeito do Mangal das Garças, estivemos com Irene e José Mara lá para almoçar no restaurante Manjar das Garças, um respeitado bufê de comidas locais e internacionais. A arquitetura já é um convite para entrar na cultura paraense, pois lembra uma oca indígena. Como chovia, não pudemos usufruir daquela região da cidade, que é muito bonita e arborizada.
            Voltamos à Ilha do Combu na passagem de ano, para uma festa em uma casa de amigos de Maíra e José Maria. Particularmente, eu estava muito cansado, pois o calor e a umidade de Belém deixam a gente prostrado. Mas o encontro com pessoas tão especiais foi agradabilíssimo. Além do charme de se cruzar o rio em uma lancha e ter a vista noturna da capital do Pará na outra margem, com seus prédios iluminados. Houve poucos fogos, pois a prefeitura estava em contenção de despesas. Se fomos privados do espetáculo pirotécnico, pelo menos descansamos o ouvido de tanto barulho.
            Por fim, Belém ainda teve um sabor bem familiar. Convivemos com os amigos e parentes do casal hospedeiro. Pessoas bem humoradas, elegantes e sinceras, que nos fizeram sentir em casa. Fomos muito bem recebidos, em meio a conversas inteligentes, francas e solidárias. Reflexo de um país que não se vê na televisão e, sim, na vida real.
            Trouxemos de Belém também alguns livros, músicas de artistas da cena local e artesanatos. Sabores dos sorvetes, sucos, comidinhas e afetos. O jeito de conversar nos belenenses, conjugando o verbo sempre na segunda pessoa, é um bálsamo para os ouvidos.
            Mas já é hora de nos despedirmos dessa impressionante cidade, rumo ao Maranhão, pois novas aventuras nos esperam.

Dica musical: Como gostamos muito de músicas, aproveitados a estadia em Belém para conhecer um pouco mais da atual safra da cidade. José Maria e Maíra nos aplicaram alguns nomes, que ainda não conhecíamos, como Livia Rodrigues, que tem um estilo muito próprio de interpretar. Dona Onete, que já é conhecida dos mineiros, também estava na play list, além de um dos volumes da série de CDs Terruá. Trata-se da gravação de shows de artistas belenenses, apresentados anualmente em São Paulo, que apresentam uma mostra da cultura local. Gravamos, também, o novo disco de Fafá de Belém, que tem um forte acento da música que se produz atualmente no Pará.

Arquitetura


Palacete Bolonha






Casarão do centro da cidade


Igreja das Mercês

Interior da Igreja das Mercê


Mercado das Carnes








Theatro da Paz

Interior do teatro

Lustre e pintura do teto do teatro

Detalhe da pintura do forro

Sala de espetáculos

Com Irene, nossa anfitrião em Belém

Escadaria

Piso

Sala do teatro

Detalhe da arquitetura do teatro

Pintura na parede do teatro

Piso

Varanda do teatro

Hall de entrada do teatro

Piso do hall de entrada do teatro



Boulevard na praça do teatro


Boulevard

Fachada atual do Cinema Olímpia



Palácio Lauro Sodré




Mercado dos Peixes



Região portuária de Belém


Catedral da Sé


Forte e Mercado do Peixes (ao fundo), na região do Ver-O-Peso


Palacete do Bispo de Belém

Catedral

Interior da catedral






Igreja de S. João Batista

Detalhe do interior da igreja

Palacete Pinho

Palacete Pinho

Irene e Wagner no Portal da Amazônia

Saldosa Maloca, na Ilha de Combu

Vista de Belém da ilha

Chuva da tarde

Almoço

Maíra e Wagner tomando banho de chuva

Depois da chuva com Wagner, Maíra (saia amarela) e amigas

Samaumeira

Ilha de Combu


Estação das Docas





Mercado Ver-O-Peso


















Wagner e o "Viagra" natural





Wagner toma um banho de cheiro


Inteiro do Mercado dos Peixes

Açaí

Por do sol na Estação das Docas

(foto de Maíra Alencar)






Flor da Vitória Régia

Igreja de Nazaré







Família acolhedora: Wagner, Maria do Céu, Maíra, Faciola, Irene, Helninha, José Maria, Thais, Mariana e eu.

Vista de Belém na noite do Reveillon

Reveillon na Ilha Combu

Garça em praça central de Belém

Wagner e árvore da praça em Belém





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