|
Na escadaria de ferro inglês do Mercado das Carnes, em Belém. Herança do período da borracha. |
Clique nas fotos para ampliá-las. Fotos de Thelmo Lins
Desde muito novo
eu sonhava conhecer a capital do Pará. Quando era adolescente, adquiri uma
coleção de arte e arquitetura brasileira que mostrava alguns prédios de Belém
da época do Ciclo da Borracha. Eram palacetes belíssimos, em estilo
Neoclássico, que ficavam em uma cidade circundada por imensas mangueiras,
parques e rios. Uma cidade em que toda a tarde chovia um pouco. Aquelas imagens
ficaram em meu imaginário infanto-juvenil e volta-e-meia, algum amigo me trazia
notícias de lá. Os cantos de Fafá de Belém, no início de sua carreira, também
ecoavam essa espécie de paraíso.
O fato de conhecermos o casal de
advogados Maíra e José Maria e a sugestão que recebemos deles para visitarmos a
Marujada de Bragança, como narrei em Brasil Profundo 5, facilitou essa ponte. Na
verdade, eles vivem na capital e, aproveitando a ocasião, nos convidaram para
hospedar em sua casa durante os dias em que ficamos (eu e meu companheiro de
viagem, Wagner Cosse) em Belém.
Chegamos no dia 28 de dezembro e
permanecemos na cidade até a manhã do dia 02 de janeiro. E esses cinco dias
foram incríveis. Mergulhamos na vida da metrópole, com o auxílio luxuoso de um
casal que vive e respira a cidade e que nos conduziu aos seus pontos de maior
interesse. Mas o carinho e atenção foram além, pois eles acabaram envolvendo
toda a família nessa empreitada. Em especial, Irene Weyl, mãe de José Maria,
que foi um cicerone de primeira linha, nos levando a atrativos históricos, como
o Mercado Ver-O-Peso, a Estação das Docas, igrejas, praças, galerias de arte e
museus.
Gostei particularmente das Docas. O local foi totalmente
restaurando há alguns anos e se transformou em uma área de restaurantes, lojas
e salas de exposição. Situado às margens do Rio Guajará, de lá pudemos apreciar
um dos mais belos pores-do-sol de Belém.
Encantei-me com o Theatro da Paz,
localizado no centro histórico de Belém, construído em 1878, no auge do Ciclo
da Borracha. A região, inclusive, tem outros prédios muito bonitos, embora boa
parte deles esteja encoberta por tapumes de uma restauração extremamente
prolongada que ainda não terminou. Ali também fica o Cine Olímpia, o mais
antigo em atividade no país, embora tenha passado por sucessivas reformas que o
descaracterizaram. Chama também a atenção o Hotel Hilton, que foi construído no
lugar do antigo Hotel Nacional, joia da arquitetura Art Deco, destruída sem dó
nem piedade para dar lugar a um edifício moderno completamente destituído de
charme.
Na área do Ver-O-Peso, é onde se
conhece mais profundamente os cheiros, cores e sabores do Pará. Um sem número
de frutas e vegetais, além de peixes, farinhas e peças de artesanato fazem
encher os nossos olhos. No setor de ervas, chama a atenção a quantidade de
produtos para todo tipo de enfermidade ou necessidade. Do espanto ao mau olhado
ao Viagra natural. Vimos (e compramos) sabonetes que limpam o corpo e servem
como atrativo para todo tipo de opção sexual.
Aproveitamos a ocasião para tomarmos
um banho de cheiro. Afinal, o complicado ano de 2016 estava acabando e
queríamos entrar em 2017 com o corpo e alma limpos e renovados.
Ao lado o Ver-O-Peso estão
localizados o Mercado dos Peixes e o Mercado das Carnes, todos construídos em
ferro. As estruturas requintadíssimas, do início do século 20, foram trazidas
da Inglaterra e montadas em Belém, atestando o luxo em que viviam os habitantes
da cidade naquela época.
Mas Belém também remete aos séculos
17 e 18 em construções como a Casa das Onze Janelas (que infelizmente estava
fechada no dia em que a visitamos), a Catedral da Sé e o Forte do Presépio, por
exemplo.
Ficamos com a impressão de que a
parte histórica da cidade precisa urgentemente passar por uma reforma,
inclusive na limpeza das ruas (a maioria sem esgotamento sanitário) e dos
prédios mais importantes. Percebe-se o desleixo das autoridades públicas com
esse rico patrimônio, único no país, que faz com que Belém lembre uma Paris
tropical. Para o visitante ou turista, é sempre melhor andar ou vagar por
lugares mais saudáveis.
Ressalto, ainda, dois locais que
valem a pena a visita: a Ilha de Combu e o Mangal das Garças. Na primeira,
estivemos a convite de Maíra. Para chegar até lá, cruzamos o Rio Guaíra em uma
pequena embarcação. Não mais que 10 minutos. Lá, o barco nos deixou no
restaurante Saldosa (com “l” mesmo) Maloca, onde apreciamos um peixe
saborosíssimo. O local também permite banhos. Dali avistamos o percurso da
chuva que cai toda a tarde sobre Belém e que, minutos depois, some
completamente, deixando o céu novamente azulado. Wagner e Maíra aproveitaram
para tomar um banho de chuva e descarregar as tensões. Na ilha, conhecemos
também a impressionante samaumeira, árvore centenária, com uma raiz gigantesca.
A respeito do Mangal das Garças,
estivemos com Irene e José Mara lá para almoçar no restaurante Manjar das
Garças, um respeitado bufê de comidas locais e internacionais. A arquitetura já
é um convite para entrar na cultura paraense, pois lembra uma oca indígena.
Como chovia, não pudemos usufruir daquela região da cidade, que é muito bonita
e arborizada.
Voltamos à Ilha do Combu na passagem
de ano, para uma festa em uma casa de amigos de Maíra e José Maria.
Particularmente, eu estava muito cansado, pois o calor e a umidade de Belém
deixam a gente prostrado. Mas o encontro com pessoas tão especiais foi
agradabilíssimo. Além do charme de se cruzar o rio em uma lancha e ter a vista noturna
da capital do Pará na outra margem, com seus prédios iluminados. Houve poucos
fogos, pois a prefeitura estava em contenção de despesas. Se fomos privados do
espetáculo pirotécnico, pelo menos descansamos o ouvido de tanto barulho.
Por fim, Belém ainda teve um sabor
bem familiar. Convivemos com os amigos e parentes do casal hospedeiro. Pessoas
bem humoradas, elegantes e sinceras, que nos fizeram sentir em casa. Fomos
muito bem recebidos, em meio a conversas inteligentes, francas e solidárias.
Reflexo de um país que não se vê na televisão e, sim, na vida real.
Trouxemos de Belém também alguns
livros, músicas de artistas da cena local e artesanatos. Sabores dos sorvetes,
sucos, comidinhas e afetos. O jeito de conversar nos belenenses, conjugando o
verbo sempre na segunda pessoa, é um bálsamo para os ouvidos.
Mas já é hora de nos despedirmos
dessa impressionante cidade, rumo ao Maranhão, pois novas aventuras nos
esperam.
Dica
musical: Como gostamos muito de músicas, aproveitados a estadia em Belém para
conhecer um pouco mais da atual safra da cidade. José Maria e Maíra nos
aplicaram alguns nomes, que ainda não conhecíamos, como Livia Rodrigues, que
tem um estilo muito próprio de interpretar. Dona Onete, que já é conhecida dos
mineiros, também estava na play list, além de um dos volumes da série de CDs Terruá.
Trata-se da gravação de shows de artistas belenenses, apresentados anualmente
em São Paulo, que apresentam uma mostra da cultura local. Gravamos, também, o
novo disco de Fafá de Belém, que tem um forte acento da música que se produz
atualmente no Pará.
Arquitetura
|
Palacete Bolonha |
|
Casarão do centro da cidade |
|
Igreja das Mercês |
|
Interior da Igreja das Mercê |
|
Mercado das Carnes |
|
Theatro da Paz |
|
Interior do teatro |
|
Lustre e pintura do teto do teatro |
|
Detalhe da pintura do forro |
|
Sala de espetáculos |
|
Com Irene, nossa anfitrião em Belém |
|
Escadaria |
|
Piso |
|
Sala do teatro |
|
Detalhe da arquitetura do teatro |
|
Pintura na parede do teatro |
|
Piso |
|
Varanda do teatro |
|
Hall de entrada do teatro |
|
Piso do hall de entrada do teatro |
|
Boulevard na praça do teatro |
|
Boulevard |
|
Fachada atual do Cinema Olímpia |
|
Palácio Lauro Sodré |
|
Mercado dos Peixes |
|
Região portuária de Belém |
|
Catedral da Sé |
|
Forte e Mercado do Peixes (ao fundo), na região do Ver-O-Peso |
|
Palacete do Bispo de Belém |
|
Catedral |
|
Interior da catedral |
|
Igreja de S. João Batista |
|
Detalhe do interior da igreja |
|
Palacete Pinho |
|
Palacete Pinho |
|
Irene e Wagner no Portal da Amazônia |
|
Saldosa Maloca, na Ilha de Combu |
|
Vista de Belém da ilha |
|
Chuva da tarde |
|
Almoço |
|
Maíra e Wagner tomando banho de chuva |
|
Depois da chuva com Wagner, Maíra (saia amarela) e amigas |
|
Samaumeira |
|
Ilha de Combu |
Estação das Docas
Mercado Ver-O-Peso
|
Wagner e o "Viagra" natural |
|
Wagner toma um banho de cheiro |
|
Inteiro do Mercado dos Peixes |
|
Açaí |
Por do sol na Estação das Docas
|
(foto de Maíra Alencar) |
|
Flor da Vitória Régia |
Igreja de Nazaré
|
Família acolhedora: Wagner, Maria do Céu, Maíra, Faciola, Irene, Helninha, José Maria, Thais, Mariana e eu. |
|
Vista de Belém na noite do Reveillon |
|
Reveillon na Ilha Combu |
|
Garça em praça central de Belém |
|
Wagner e árvore da praça em Belém |
Nenhum comentário:
Postar um comentário