Em frente ao teatro de Rio de Contas (foto de Wagner Cosse) |
Estamos aos últimos dias da nossa
rota pelo Brasil Profundo, que começou no dia 15 de dezembro de 2016 e terminou
no dia 20 de janeiro de 2017. Trinta e sete dias intensos, de carro, pelos
Estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Belém, Piauí, Pernambuco e
Bahia, perfazendo quase 8.700 km.
Depois de passarmos por Petrolina e
Juazeiro, descemos a BR-407 em direção ao Parque Nacional da Chapada
Diamantina, em especial na cidade de Mucugê (BA). Já conhecemos (eu e meu
companheiro de viagem, Wagner Cosse), o parque e a cidade. Inclusive fiz
postagem sobre a região neste blog. Portanto, Mucugê foi apenas uma escolha de
pernoite agradável, para fugir do circuito Feira de Santana / Teófilo Ottoni /
Governador Valadares para retornar a Belo Horizonte. Fizemos isto por dois
motivos. Primeiro, porque é uma área de intenso tráfego de caminhões e, também,
por causa do surto de febre amarela que incidiu sobre essa região no início de
2017.
De Mucugê não temos muitas
novidades, além de uma pequena volta pelo centro da cidade, revendo o belo casario
colonial. Jantamos numa pizzaria muito legal, com interessantes opções de
massa. Pernoitamos na Pousada Nossa Senhora Aparecida, sem muitos recursos, mas
com bom atendimento. Surpreendentemente, o café da manhã foi divino, com opções
deliciosas, o que fez valer a hospedagem.
Bem alimentados, saímos cedo de
Mucugê em direção a Rio de Contas, pequena cidade histórica baiana, que fica
próxima ao circuito da Chapada. O velocímetro apontava 7.589 km de viagem. A
temperatura estava amena: 23 graus. Para chegar lá, passamos por boas rodovias.
Somente em um pequeno trecho, próximo a Jussiape, pegamos estrada de terra.
É até covardia conhecer uma cidade
tão linda como Rio de Contas em apenas algumas horas. Planejamos chegar lá por
volta de 11h e ficamos até 15h. Rodamos o centro histórico, que fica em torno
de uma pracinha encantadora, e almoçamos no restaurante Esquina do Sabor. Além
da comida deliciosa, a trilha sonora era fantástica, composta por canções
tranquilas, a maioria instrumental, entre violinos, pianos e violoncelos.
Tomamos a liberdade e pedimos para gravar as canções em um pen drive, que fomos
ao ouvindo ao longo da estrada.
Conhecemos alguns edifícios
históricos, como a igreja de pedra, o grupo escolar, o teatro municipal, a
prefeitura municipal, dentre outros, e o centro de artesanato. Boa parte estava
fechada no horário de almoço, quando boa parte do Nordeste fecha as portas para
descansar do forte calor. Mesmo assim, ficamos impressionados com a limpeza das
ruas e das casas, todas bem conservadas e pintadas. Um dos prédios que mais
chamou a atenção foi a Pousada Rio de Contas, na qual fomos convidados a fazer
uma pequena visita. A decoração e o pátio interno são maravilhosos. Do
artesanato, adquirimos duas belas peças – uma toalha e um caminho de mesa – em crivo,
bordado típico do local.
Nos arredores de Rio de Contas as
paisagens são de tirar o fôlego. Altas montanhas, com cachoeiras e uma densa
arborização criam um espetáculo deslumbrante. Várias vezes paramos na estrada
para fotografar.
Rio de Contas marcou (em alto
estilo, diga-se de passagem) uma espécie de despedida da viagem pelo Brasil
Profundo. Dali, voltamos para Belo Horizonte, com uma pequena pernoite em
Janaúba (MG), somente para descansar. O retorno foi tranquilo, sem percalços. A
única ressalva que pode ser feita é o péssimo estado do asfaltamento na divisa
de Minas com Bahia e na região próxima a Montes Claros, em especial na
inacreditável BR-251. Nesse trecho, há centenas de caminhões com cargas
pesadíssimas que deixam o trânsito muito lento e fazem marcas profundas no piso
da rodovia, transformando-a em um dos pontos mais perigosos de toda a jornada.
No mais, a viagem também nos marcou
profundamente pela urgente necessidade de se traçar um plano ambiental para o
Brasil. Vimos muitas situações aterradoras, como lixões à beira das rodovias,
cidades sem esgotamento sanitário, rios secos ou intermitentes, grandes
desmatamentos, ocupações territoriais desordenadas.
Fiquei, também, incomodado com o
poder da mídia, em especial da Rede Globo, em todos os lugares. Até nos mais
simples muquifos, onde às vezes parávamos para tomar um cafezinho ou ir ao
banheiro, a TV estava ligada na emissora, transmitindo um modo de vida que
pretende “unificar” o país em uma cultura do Sul/Sudeste. As manifestações
locais ficam à margem desse universo midiático.
Sonho com esse Brasil mais plural, rico em manifestações como a
Marujada, a Cavalhada, as festas folclóricas ricas em cantos e danças. Sonho
com as praias cristalinas, com os papos agradáveis do povo, contando seus casos
e maneiras. As características de cada localidade sendo transmitidas por sua
arte e seu modo de vida. Isso está se perdendo ou se diluindo em uma geração
focada nas telas do celular e dominada por uma música de péssima qualidade,
imposta por grandes conglomerados de comunicação e marketing.
Que essas delicadas linhas cheguem aos corações dos brasileiros e
de todos que entendem a Língua Portuguesa, para que esse gigante emerja de sua
placidez e se transforme no grande país que queremos e sonhamos.
Até a próxima viagem!
Pousada Rio de Contas |
Interior da pousada |
Rio de Contas - Centro Histórico
Grupo escolar |
Prefeitura |
O teatro municipal (amarelo e verde) |
Wagner na praça da prefeitura |
Peça em crivo |
Peça em crivo |
Esquina do Sabor |
Duster em Rio de Contas |
Centro de artesanato |
Arredores de Rio de Contas
Estrada entre Bahia e Minas Gerais
Retorno ao lar: Belo Horizonte no fim de tarde do 20 de janeiro de 2017 |
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