|
Com as pinturas ruprestres mais conhecidas do parque (foto de Wagner Cosse) |
Clique nas fotos para ampliá-las. Fotos de Thelmo Lins
O Brasil –
mais especificamente, o Piauí – pode se orgulhar de ter um espaço como a Serra
da Capivara. E de uma brasileira, como arqueóloga Niède Guidon, 83 anos, que
transformou um sonho gigantesco em uma realidade palpável. Pois o local, que
abriga vestígios humanos de mais de milhares anos, com pinturas rupestres
esplêndidas, é hoje Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Não entrarei em detalhes de como o
parque foi descoberto e nem o trabalho hercúleo de Guidon e sua equipe, vencendo
todos os tipos de obstáculos, que vão desde o exílio durante a ditadura
militar, passando pelo descaso das autoridades para com a sua história e até a
falta de verbas. Mas o resultado é surpreendente e de grande poder cultural e
social. Além disso, a natureza é exuberante e, nessa época do ano (janeiro),
quando recebe algumas chuvas, a vegetação estava verde e abundante.
O parque está localizado em vários
municípios do sul do Piauí, mas o local de melhor infraestrutura é São Raimundo
Nonato, cidade desprovida de grandes atrativos. Tivemos (eu e meu companheiro
Wagner Cosse) dois dias e meio para conhecer a região. Contratamos um guia,
pois não é permitida a visita sem o acompanhamento de uma pessoa especializada.
E ele sugeriu um programa que contemplasse um pouco das principais atrações (o
melhor é ficar na região de quatro a cinco dias).
Logo que chegamos a São Raimundo
Nonato, dedicamos a nossa tarde para conhecer o Museu do Homem Americano (não é
necessário guia para a visitação). É um bom começo para quem quer entender o
que significa a Serra da Canastra e sua importância para a história do Brasil e
da Humanidade. A exposição é bastante didática, apresentando peças importantes,
como os seixos encontrados de uma fogueira de 50 mil anos, além de ossadas,
machadinhas e fragmentos de cerâmica milenares. A ponta de um projétil de
quartzo, lapidado há 8 mil anos, é a estrela da exposição. Há uma enorme tela
de cinema, onde é exibido um vídeo com a grande variedade de pinturas rupestres
encontradas na região, chamando atenção para cenas de dança, acasalamento,
caçadas e animais. O parque é a maior concentração de sítios arqueológicos do
mundo, com mais de 1.200. Deste número, somente 170 estão abertos à visitação.
A arqueóloga Niède Guidon encontrou,
em seus achados, fezes de seres humanos que remontam a mais de 38 mil anos.
Nessas fezes, foram encontradas bactérias típicas de regiões quentes e que não
sobreviveriam a temperaturas muito frias, como as da Sibéria ou Alasca, de onde
os cientistas acreditam ter vindo o povoamento da América, via estreito de Bering.
Caso a comunidade científica internacional aceite esta descoberta (há muitas
controvérsias sobre o assunto), o próximo passo é descobrir como o Homo Sapiens
saiu da África e veio parar aqui. Cruzando os oceanos? De que forma? Embarcações?
Ou seja, um mistério que ainda está por ser revelado.
Partamos, então, para a visitação ao
parque. No dia seguinte, já com o guia, fomos conduzidos, na parte da manhã, para
o Circuito Sítio do Meio, que tem uma vista panorâmica da Pedra Furada, cartão postal
da região. Conhecemos a Toca do Boqueirão e a Toca do Caldeirão do Vilmar.
Depois de um delicioso almoço na vila próxima ao parque, partimos para as tocas
da Roça do Brás, do Macaco e do Mangueiro. Por fim, terminamos o dia na Pedra
Furada e no paredão onde estão as mais notáveis pinturas rupestres.
No último dia, começamos no Circuito
Desfiladeiro, onde estão as tocas do Pajaú, do Inferno, do Barro e a trilha do
Baixão da Vaca. Durante o horário de almoço, fizemos as refeições no
restaurante do parque, onde está situada a fábrica de cerâmica. Em seguida,
partimos para o espetacular Cânion das Canoas e, por fim, o Baixão das
Andorinhas. Neste local, presenciamos um espetáculo das aves, que usam as
cavernas para repousar durante a noite. Antes de adentrarem o local, realizam malabarismos
impressionantes no ar. A velocidade é tanta, que não consegui captar nem mesmo
na câmera de vídeo. Ou seja, ficou guardado somente nos sentidos e o coração.
Vale ressaltar o papel importante de
nosso guia, Mauro Lima. Profundo conhecedor da região, incluindo nomes dos
animais e das plantas, soube nos repassar as informações necessárias. No final
da estadia, logo após a revoadas as andorinhas, ele ainda se mostrou uma pessoa
extremamente prática e generosa. Havia caído uma forte chuva, que fez com que
várias árvores caíssem sobre a estrada. Munido de seu facão, ele retirou a
madeira e facilitou a condução do nosso grupo e de outros visitantes que vinham
atrás de nosso veículo.
As cerâmicas do parque são
belíssimas. Elas poder ser adquiridas tanto na fábrica quanto nas lojinhas espalhadas
pelas diversas portarias do parque. Em São Raimundo Nonato, há também
representações. E foi lá que conseguimos as peças de melhor qualidade. Os preços
são os mesmos.
Bem, agora é
hora de descansar um pouco. Foram dias intensos, com muitas caminhadas, subidas
e descidas, emoções, calor. A próxima parada, Petrolina e Juazeiro, nas margens
do Rio São Francisco. A gente se encontra lá!
|
Repouso enquanto aguardo as andorinhas chegarem (foto de Wagner Cosse) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário