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Com Wagner, no portal da Chapada das Mesas (foto de Nanda) |
Clique nas fotos para ampliá-las. Fotos de Thelmo Lins
É de balsa a
travessia entre os Estados de Tocantins e o sul do Maranhão, que vai desembocar
na singela cidade de Carolina. Atravessa-se o Rio Tocantins, majestoso, em
aproximadamente 500 metros.
A primeira curiosidade está na própria balsa, que vem com a
inscrição “Pipes”. Mais tarde, ficamos sabendo (eu e meu companheiro de viagem,
Wagner Cosse) que se tratava de uma sigla, que abrevia o nome de Pedro Iran
Pereira do Espírito Santo. O distinto é um dos homens mais ricos da região.
Semianalfabeto, começou sua carreira trabalhando como vendedor na divisa dos
dois Estados. Com o tempo, desenvolveu o serviço de transporte em vários rios
da região e, hoje, é dono de uma riqueza incalculável, incluindo terras,
imóveis e até mesmo algumas das principais atrações turísticas da região (que
falarei posteriormente).
Às cegas, contratamos uma pousada no Booking – Pousada Familiar
Encanto da Chapada. Digo “às cegas” porque não havia nenhuma opinião sobre o
estabelecimento, como é comum no site. Mas o preço foi bem atrativo e as fotos
garantiam que, pelo menos, teríamos um repouso decente. E não é que a pousada
se tornou um dos atrativos da viagem? Os proprietários, o casal Zélia e Zé
Alves, fizeram de tudo para que a viagem se tornasse ainda mais agradável. O
café da manhã delicioso já dava um prenúncio de dias maravilhosos, com direito
a todas aquelas comidinhas típicas, como tapioca, cuscuz, bolos, pães caseiros
e uma variedade de frutas e sucos como tamarindo, cajá, cupuaçu e tantos
outros. E ainda houve muitos papos e até declamação de poesia. Emoção à flor da
pele!
Zélia e Zé Alves indicaram uma guia turística que iria nos
conduzir aos principais atrativos de Carolina, que envolvia a exuberante
Chapada das Mesas, parque tombado como reserva natural brasileira. A indicada
foi a Nanda, proprietária de uma agência local, que pessoalmente nos levou a
alguns dos lugares mais belos que já tive a oportunidade de conhecer.
O primeiro deles foi o um
complexo denominado Santuário da Pedra Caída. Em um terreno particular, de
propriedade do Pipes, está um clube formado por cachoeiras, trilhas, tirolesas,
teleférico, restaurante, lanchonete. Além de pagar para entrar, quem não fica
hospedado no local tem que comprar cada atividade separadamente. Por exemplo:
ir a uma determinada cachoeira custa R$ 60,00 por pessoa. E por aí
vai.
Não temos fotos do santuário, porque o local fica em um
pequeno cânion, com muita umidade. A água cai em uma grota onde passam fios de
luz do sol que iluminam as águas. Dali ela forma um poço raso, onde é possível
ficar de pé com tranquilidade, tendo ao fundo areia branca e fina. A gente se
torna criança novamente quando desfruta de uma maravilha da natureza. É bom
observar que, para chegar à cachoeira, é necessário caminhar uma bem sinalizada
rampa de madeira, com muitos degraus. Quem tem não está em boa forma não
consegue cumprir esta etapa com tranquilidade.
Nanda também nos levou para conhecer alguns outros pontos do
santuário antes do almoço, feito no mesmo local. Logo em seguida, fomos
conhecer outra atração da região, que tem muitas cachoeiras e poços, chamada de Cachoeira do Dodô. Sem a
mesma infraestrutura da Pedra Caída, o local nos agradou bem mais, porque nos
pareceu menos turístico. Além disso, por um bom tempo, só havíamos nós três no
local – Nanda, Wagner e eu. Um veio d´água, que jorrava com muita intensidade
da pedra, me alegrou particularmente. Nele, eu pude relaxar as costas dos dias
de viagem e fazer um verdadeiro descarrego das ziquiziras do ano de 2016. O
local é chamado de Cachoeira dos Namorados.
No final deste primeiro dia em Carolina, Nanda nos levou ao portal
da Chapada, um morro onde se encontra a Pedra Rasgada, símbolo do parque.
Depois de uma subida íngreme, boa parte feita em um areal, chegamos ao
inacreditável mirante. Contamos até com a companhia de um rapaz cearense (que
não me lembro o nome), que estava viajando há algumas semanas de moto pelo
Nordeste. Dali é possível conferir a razão do nome da chapada, uma vez que as
montanhas formam mesas que brotam da terra. A paisagem nesta época do ano –
final de dezembro – já está verdejante por causa das chuvas. E, lá longe, ainda
é possível ver um braço do Rio Tocantins.
À noite, em Carolina, nossos anfitriões nos indicaram alguns
restaurantes onde poderíamos degustar a comida típica da região. Esta sobrevive
tímida no meio de pizzarias e churrascarias. Mas, insistentes que somos,
preferimos averiguar a culinária regional. O prato indicado foi o Maria Izabel,
que é encontrado em outros locais do Nordeste, como o Piauí. Trata-se, grosso
modo, de um mexidão de arroz, carne de sol, banana e queijo. Mas há variações.
Tudo acompanhado de suco, cerveja ou até mesmo do guaraná Jesus (afinal,
estamos no Maranhão!).
Já estamos no dia 22 de dezembro de 2016, no quilômetro 2.623 da
viagem ao Brasil Profundo, em Carolina (MA). Nesse segundo dia, a guia Nanda
nos levou para conhecer dois belos atrativos locais. Na parte da manhã, fomos
ao Poço Azul, que na verdade é verde. Confesso que poucas vezes me surpreendi
com um lugar como aconteceu ali. Inacreditável. Imaginei aqueles portugueses
chegando ao Brasil em 1500 e deslumbrando com paisagens como essas, com as
águas encachoeiradas brotando da densa mata e formando um translúcido poço de
águas esverdeadas. Foi chocante. E, naquela localidade, as águas têm uma
temperatura agradável, diferentemente das águas geladas das cachoeiras de
Minas.
Para se alcançar o poço é preciso vencer uma boa caminhada, com
descidas íngremes. Mas o esforço
vale a pena. A única preocupação é com a fragilidade ambiental perante tantos
visitantes. E veja que estávamos visitando o local em um dia de semana, às
vésperas do Natal. Ficamos receosos, mas buscamos curtir o local, que é – como
dizem os mais religiosos – um presente de Deus. Intimamente agradecido por estar
ali e poder apreciar, com saúde e felicidade, de um espaço tão especial.
Almoçamos por ali mesmo um delicioso peixe e partimos para outra
atração, as cachoeiras do Itapecuru. O local um dia abrigou uma importante
usina hidrelétrica, nos anos 1930, fruto do esforço visionário de Newton
Carvalho, um homem de pensamento e atitudes progressistas. O que sobrou foram
as duas imensas quedas d´água – uma natural e outra artificial, o grande poço e
alguns prédios em decadência.
Ao redor da cachoeira, foi instalado um complexo, com restaurante,
banheiros e até uma pousada, onde se pode banhar admirando as quedas. Devido à
rasura do poço, pudemos até colocar uma mesinha com cadeiras dentro da água,
amenizando o forte calor que imperava no local.
Outra atração foram as árvores repletas de ninhos de xexéu, belos
pássaros com plumagens pretas e amarelas, que protegiam seus ovos como
determinados guardiões.
Vale ressaltar que não entramos propriamente no parque Chapada das
Mesas, mas usufruímos das belezas naturais que estão aos seus arredores. Para
tal, era preciso contratar um veículo 4x4, o que tornaria nosso passeio muito
dispendioso, uma vez que já contávamos com veículo próprio. E o resultado seria
um dia inteiro de trilhas para conhecer algumas cachoeiras que ficam na parte
interna. Acho até que valeria a pena, mas tivemos que fazer uma escolha que, a
meu ver, foi positiva.
Carolina oferece, ainda, um expressivo casario (tombado pelo
IPHAN), com praças bem arborizadas. Boa parte das casas necessita de reparos ou
pintura, mas é possível vislumbrar um bom governo que note essa necessidade e
aplique verbas no turismo local. Do alto da torre da igreja matriz, é possível ter
uma visão privilegiada do lugarejo, inclusive do Rio Tocantins. Para tal, basta
pedir autorização na casa paroquial.
Há, também, um bem equipado museu, com um acervo interessante que
conta a história do município.
Hora de nos despedirmos de Carolina. Ao optarmos por ficar dois
dias na cidade, tivemos que vender uma grande jornada para chegarmos até
Bragança (PA) no dia 23 de dezembro, e assim continuarmos dentro de nosso
cronograma. Portanto, 730 quilômetros nos separavam de nosso próximo destino.
Algumas dicas:
1)
Para saber
da Pousada Familiar Encanto da Chapada, basta acessar o Booking. Já deixei a
minha avaliação lá.
2)
As histórias
de Carolina estão todas no Google, inclusive a do empreendedor Newton Carvalho
e a usina Itapecuru ou Itapecurizinho.
3)
É difícil
degustar a culinária maranhense em Carolina. Na internet, as descrições dos
variados pratos é de dar água na boca. Infelizmente, os restaurantes (até por
questão comercial) acabam optando pelo trivial que se encontra em qualquer
lugar do país.
4)
Para saber
mais a respeito do trabalho da Nanda e de seus passeios pela região de Carolina
e outros pontos do Brasil, acesse o Facebook Nanda Ecotrilhas. Ou pelos
telefones (99) 98124-8582 e (99) 99127-6691. E, repetindo um agradecimento que
ela gosta de fazer, “namastê!”).
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