quinta-feira, 20 de março de 2025

Turnê Atacama/Uyuni Parte I: São Pedro de Atacama e redondezas

 

Em frente à Igreja Matriz de São Pedro de Atacama
(foto de Wagner Cosse)

No final do texto, confira as fotos da viagem. Clique para ampliá-las

No dia 28 de março de 2025, o blog Descobertas do Thelmo completa 13 anos de história. Neste período visitamos vários países estrangeiros, parques nacionais e estaduais e recantos do Brasil. Foram 182 postagens (esta é a de número 183), acessadas por quase meio milhão de pessoas, numa média de 2.700 por postagem. 

    Mesmo escrito em português, os principais visitantes vêm dos Estados Unidos, seguidos pelo Brasil, Singapura, Portugal, França, Colômbia, Reino Unido, Hong Kong e Índia, entre outros países. Trata-se de um triunfo, considerando que não faço publicidade, não invisto em impulsionamentos nas redes sociais e nem monetizo minhas postagens. Ou seja, tudo que está escrito nestas páginas é fruto exclusivo de minhas experiências pessoais em viagens que faço, com recursos próprios, enfatizando meu gosto e prazer em tirar fotos e dividir com as pessoas o meu olhar sobre determinados lugares.

    Dito isto, parto para novas postagens, desta vez envolvendo o Deserto do Atacama, no Chile, e o Salar de Uyuni, na Bolívia. A viagem foi realizada em março de 2025, com a duração de uma semana. O pacote foi adquirido na Minas Ecoturismo, agência que realiza passeios nacionais e internacionais. É a primeira vez que viajo com esta agência e realizo um pacote desta natureza depois de anos viajando por conta própria ou montando meus pacotes, de acordo com as necessidades particulares.

    Confesso que uma semana é muito pouco para este tipo de viagem. Primeiramente, porque o deslocamento é muito cansativo. Voamos pela Latam de Belo Horizonte a Calama (Chile), com conexões em Brasília (ida) ou São Paulo (volta) e em Santiago. Ou seja, passamos praticamente o dia inteiro em aviões e aeroportos. De Calama a São Pedro mais 150 quilômetros de rodovia.

    Em segundo lugar, porque sobraram apenas cinco dias para visitar as atrações, sendo que um deles – o penúltimo – foi gasto praticamente no trecho entre Uyuni e São Pedro de Atacama, fato que relatarei posteriormente. A maioria dos dias a programação começava muito cedo e terminava tarde, sobrando pouco tempo para descansar entre um atrativo e outro. Não gostaria de repetir este tipo de viagem novamente. Quero ter mais tempo para apreciar cada local, com alguma calma e tranquilidade.


São Pedro de Atacama


    São Pedro de Atacama é uma vila chilena de aproximadamente 5.000 habitantes, situada a 2.400 metros acima do nível do mar. É ponto principal para conhecer o Deserto do Atacama que, segundo as estatísticas, é a principal atração turística do Chile. De acordo com recente pesquisa, realizada pelo site Booking e com a participação de mais de 23.000 pessoas de diversos países, Atacama é o destino preferido de 62% dos entrevistados para o ano de 2025. Fiquei sabendo que 70% dos turistas que visitam o deserto são brasileiros. Não tenho certeza do percentual, mas havia muita gente que falava nossa língua por lá, inclusive entre os guias e proprietários de agências de turismo.

    A melhor época para ir ao Atacama é no verão (entre dezembro e março), quando as temperaturas médias são mais amenas (cerca de 17 graus) e o céu está em melhores condições para observar o firmamento. O Atacama é um dos lugares mais secos da face da Terra e com o céu mais límpido. Não é à-toa que lá estão os principais observatórios astronômicos do mundo.

    Por isso, também, São Pedro é muito poeirenta. Há poucas ruas calçadas. A maioria é de terra. Em março, o trânsito de veículos não é tão intenso quanto em dezembro e janeiro, mas mesmo assim a poeira é intensa. Usei máscara quase o tempo todo para transitar entre a pousada e centro histórico, onde ficavam os restaurantes, lojas e as principais atrações do lugarejo. A mineração (principalmente de lítio) ameaça os pontos turísticos e há vários cartazes nos muros da cidade reivindicando cuidados com o meio ambiente. Perto dali está a maior mina de cobre do mundo: Chuquicamata.

    Frio e poeira, para um alérgico como eu, não é uma boa pedida: a garganta e o nariz ficaram afetados. Felizmente, levei soro fisiológico para limpar as vias nasais, o que é artigo de primeira necessidade por ali. É preciso estar preparado com outros medicamentos, quase todo o grupo ficou espirrando ou com tosse seca.

    Ressalto que São Pedro é uma cidade histórica, com alguns prédios que remontam ao século XVI. Tem uma estrutura simpática, com lugares bastante agradáveis. Em especial o restaurante La Picada del Indio, que se tornou um “point” por apresentar comida boa com preços razoáveis (as coisas costumam ser caras na região). Gostei também da cafeteria Salon de Te, que tinha no cardápio tortas doces e salgadas. E o café, é claro. Digo isso porque todo o tempo nos ofereciam café solúvel e eu andava louco por um café de verdade.


Vale da Lua


    O roteiro previa a visita ao Vale da Lua, lugar muito procurado pelos viajantes e turistas. O passeio começa no início da tarde, pois a intenção final é observar o pôr do sol.  Subimos e descemos o vale, passando por dunas e montanhas de formações exóticas, algumas com formatos que aguçavam nossa criatividade. No local, foram encontrados vestígios de outras civilizações, graças ao trabalho de Gustavo Le Paige (1903-1980), um padre católico de origem belga, com conhecimentos de Arqueologia. Atualmente existe um museu em São Pedro com 300.000 peças recolhidas por ele ao longo da vida, entre peças de cerâmica, múmias, fragmentos de tecidos, dentre outras.

    Alerto que não são trilhas muito adequadas para pessoas com problemas de saúde ou mais idosas. Crianças, então, quase não são vistas. Sem falar nas condições climáticas (frio, vento, secura do ar), os locais ficam em altitudes que comprometem às vezes a respiração. É bom estar bem preparado fisicamente, embora tenhamos visto pessoas com dificuldade de caminhar e com idades mais avançadas. 


Vale de Marte


    A segunda parte do trajeto foi o Vale de Marte (ou da Morte, há controvérsias), a alguns quilômetros da primeira parada, de onde paramos para assistir ao crepúsculo. Antes um pouco, uma pequena parada para lanchar (por conta do passeio), com direito a um brinde de Pisco Sour, um coquetel típico da região andina, composto por pisco, limão, xarope de açúcar e clara de ovo (opcional).


Tour Astronômico


    Terminamos o dia no Tour Astronômico. Este passeio não estava no roteiro original. Foi realizado à parte. Trata-se da observação minuciosa do céu estrelado. Um micro-ônibus nos leva para um lugar ermo, sem energia elétrica e longe dos postes de iluminação, onde são disponibilizadas algumas espreguiçadeiras. O guia faz uma explicação do sistema solar e das constelações, utilizando uma caneta com um poderoso facho de luz, de onde ele mirava os pontos abordados. 

    Em seguida, os integrantes receberam instruções de como fotografar as estrelas utilizando o celular e ou câmeras fotográficas. Depois da lição e dos conseguintes testes, foi oferecido uma merenda, com direito a vinhos e petiscos. Havia, ainda, um fotógrafo à disposição para produzir uma imagem dos integrantes. Finalizando o tour, observamos a lua e algumas estrelas em telescópios especiais.

    A frustração, com certeza, foi o brilho intenso da lua que estava em fase crescente. O fato minimizou a claridade das estrelas e dos planetas. Havia, também, algumas nuvens no céu, que atrapalharam um pouco, mas não chegaram a interferir de maneira drástica na qualidade do passeio. 

    O Tour Astronômico termina tarde, depois de meia noite. Então, era hora de voltar para a pousada e descansar, pois o passeio do dia seguinte começaria bem cedo. 

    Ressalto que a viagem ao Atacama/Uyuni foi realizada originalmente na companhia de Wagner, Márcia, Guto e Leonardo, oriundos de Belo Horizonte por meio da Minas Ecoturismo. Posteriormente, conhecemos outros grupos e pessoas, o que tornaram o roteiro mais interessante e animado.


FOTOS


São Pedro de Atacama


Vista noturna de São Pedro, no dia de nossa chegada

Praça principal da cidade (Foto Wagner Cosse)


O vulcão Licancabur, que emoldura a cidade

O restaurante La Picada del Indio




Salon de Te

Interior do Salon de Te

Interior do La Picada del Indio


Vale da Lua e Vale de Marte


Trilha para o Vale da Lua

Guia Pilar informa sobre as formações rochosas








Ao fundo, um dos símbolos do vale (foto de Wagner Cosse)


Pilar e o motorista preparam o lanche


No Vale de Marte (ou da Morte), esperando o sol se por


Foto de Wagner Cosse

Da dir. para esq: Guto, Márcia, Leo, Wagner e eu:
novos amigos e companheiros de viagem
(foto de Pilar)


Pôr do sol no Vale de Marte


A lua crescente


Tour Astronômico


Wagner e eu pousando no tour

Foto realizada a partir das lições apreendidas

Tirando foto das estrelas

A lua quase cheia no dia do tour






segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Viagem ao Peru - Parte VIII - Machu Picchu

 

Conhecendo o esplêndido sítio arqueológico de Machu Picchu
(Foto de Wagner Cosse editada por Thelmo Lins)

Clique nas fotos para ampliá-las

        A joia da coroa do turismo peruano, quiçá latino-americano, é, com certeza, Machu Picchu. “A cidade perdida dos incas”, como é chamada, tornou-se mundialmente conhecida em 1911 por meio do explorador e político estadunidense Hiram Bingham (1875-1956), que chegou ao local guiado por um garoto quéchua. De lá para cá, seu mistério só foi aumentando à mesma medida do interesse internacional. Em 1983, foi declarada Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade pela Unesco. Em 2007, foi inserida na lista das Sete Maravilhas do Mundo Moderno por votação popular. Atualmente, o sítio arqueológico recebe cerca de 4.500 visitantes por dia.

            Para chegar a Machu Picchu, pegamos um trem na estação de Ollantaytambo, no meio do caminho entre Cusco e Águas Calientes, ponto final da viagem. Embora tenha alguns atrativos, como suas piscinas naturais, o lugarejo de aproximadamente 2.000 habitantes serve, praticamente, como local para ter acesso ao sítio histórico, localizado a oito quilômetros dali.

            A viagem de trem foi tranquila. O vagão tem vista panorâmica para as belas paisagens do Vale Sagrado, o que torna o passeio mais cativante. Fizemos o percurso no trem turístico. Para os que apreciam mais conforto e estão dispostos a pagar um pouco mais, tem um veículo mais sofisticado, com direito a música ao vivo e outras regalias.

            No dia em que fizemos a viagem, em meados de setembro de 2024, chovia um pouco, o que atrapalhou nossos planos a princípio. Logo que chegamos a Águas Calientes, uma horda de vendedores rumou em nossa direção, oferecendo capas de chuva. A minha primeira decepção foi saber que, para pegar o ônibus que nos levaria a Machu Picchu, não havia uma estação rodoviária. Os veículos param na rua mesmo e se cria uma enorme fila de passageiros na calçada. Como caia uma chuvinha mansa, mas persistente, os 30 a 40 minutos que ficamos ali na espera foram desanimadores. E é bom frisar que estávamos (Wagner, Regina e eu) com todas as passagens e vouchers comprados com antecedência e tínhamos uma guia nos dando suporte a todo momento.

            Toda a viagem ao Peru, como já mencionei anteriormente, foi realizada com extrema competência pelos órgãos turísticos locais. No entanto, o percurso para Machu Picchu se tornou o mais confuso e desorganizado do tour. Para complicar, houve um acidente na estrada com um dos ônibus, atrasando nossa chegada ao sítio. Atualmente, existem horários específicos para visitar Machu Picchu, ação desenvolvida para minimizar os efeitos do grande afluxo de pessoas ao local. No nosso caso, o acesso seria entre 11 e 14h. Já passava de 12h30 quando cruzamos a entrada de Machu Picchu. Ou seja, uma hora e meia depois do horário marcado.

            Achei que isso teria acontecido por causa do acidente na estrada. Mas, de acordo com amigos que estiveram lá em outra ocasião, a situação é permanente. O mesmo drama aconteceu na saída, quando a fila para pegar o ônibus para descer para Águas Calientes alcançava mais de dois quilômetros, com uma média de espera de uma hora e meia. Ressalto: no tempo, sem qualquer marquise ou suporte.

            Ir ao banheiro? Um suplício, principalmente para as mulheres. Filas quilométricas? Parar para fazer um lanche? Impossível. Caso contrário, nossa estada no sítio arqueológico seria ainda mais encurtada. Penso que os peruanos deveriam preparar uma estratégia para dar melhor atendimento e acolhida aos visitantes. Realmente, é muito desconfortável e cansativo. Para as pessoas mais idosas ou com problemas de locomoção, um suplício. Muitas pessoas preferem descer a pé os oito quilômetros, pois costuma ser mais rápido do que esperar no ponto de ônibus.

            Ainda tive que enfrentar outro problema na portaria, quando o meu ingresso não foi reconhecido pelo sistema. O nosso guia nos deu o devido suporte, mas tive que deixar o meu passaporte no local até a situação ser resolvida. Só pude resgatar o documento no final da visita, quando tudo foi solucionado.

            Dito isso – e suplantado o desgaste (chuva, atraso, filas, etc) – devo confessar que Machu Picchu supera todas as expectativas. O local é mais do que maravilhoso, é divino, excepcional. Essa beleza extraordinária, entre construções e a própria natureza, com suas montanhas imponentes, ameniza ou compensa todos os transtornos. O local é, realmente, lindo e qualquer adjetivo é pouco para descrever tamanha imponência.

            Atualmente, além de definirmos um horário para visitação, temos também que determinar um percurso. Comprando o ingresso, a gente (ou a empresa de turismo que contratamos) escolhe a melhor opção, de acordo com o interesse do visitante. No nosso caso, fizemos as trilhas 1 e 2. Cada percurso tem seu preço específico. Nesse caso (1 e 2) foi suficiente para conhecer os melhores lugares e apreciar as melhores vistas. Em outro percurso, é possível acessar alguns templos no topo dos morros, o que amplia a vista, mas exige maior preparo físico.

            Já de cara, logo na entrada, existe um mirante, de onde a maioria faz a clássica foto com a cidadela dos incas ao fundo. A chuva parou, aliviando o nosso estresse. Mais tarde ficamos sabendo que ela foi fundamental para conhecermos Machu Picchu em sua integridade. Os visitantes que fizeram o percurso na parte da manhã sofreram com a densa neblina que costuma tomar conta das montanhas, dificultando terrivelmente a visualização. Ou seja, restou-nos agradecer à natureza por brindarmos com a chuva e, consequentemente, com a paisagem que tivemos acesso.

            Não vou aqui discorrer sobre os locais visitados em Machu Picchu. Com uma pequena pesquisa, o visitante pode se aprofundar um pouco mais nos atrativos do local. A forma exímia que os incas tinham para encaixar as pedras, desenvolver a agricultura, observar os astros ou realizar seus cultos ao deus Sol. O mistério constante sobre as funções daquele local: seria um refúgio de descanso para os nobres? um templo sagrado? um lugar de manifestações políticas ou religiosas? ou simplesmente uma cidadela, onde viviam as pessoas comuns? Há vários estudos e ninguém ainda chegou a uma conclusão.

            Acredita-se, no entanto, que o sítio poderia ter sido construído por volta do século XIV e que, entre 1438 e 1470, a autoridade máxima dos incas, Pachacútec, teria vivido ali. Há lendas que dizem que os reis preferiam manter o lugar em sigilo e que todos os mensageiros eram mortos para não espalhar a notícia da sua existência. E não se sabe, também, porque houve o seu declínio e futuro “desaparecimento”. Nem mesmo os espanhóis, quando conquistaram o território peruano, sabiam de sua existência até a “descoberta” feita no início do século XX. Entre os quéchuas, o sítio era conhecido, mas ele estava envolto em uma densa mata que tomou conta de suas construções. Eles não tinham a noção de sua importância.

            Em determinado momento, durante a visita, eu me senti um pouco incomodado com os turistas falando alto, fotografando sem parar e penetrando os lugares inadvertidamente. Intimamente, senti que ali era um lugar sagrado e que merecia respeito, devoção, independentemente de escolhas religiosas ou influências culturais. Algo sagrado, divino, que ultrapassava o simples atrativo turístico. Afastei-me um pouco do grupo e fiquei ali meditando, olhando as montanhas, observando os detalhes daquela arquitetura ímpar. Respirei fundo e agradeci a oportunidade de conhecer aquele lugar sensacional e me senti em um dos pilares da civilização.

            Nesta postagem, encerro minha viagem ao Peru. Depois de Machu Picchu, retornamos a Cusco, de onde tomaríamos o avião de volta ao Brasil. Na bagagem, a certeza de que havia realizado um sonho e acumulado preciosas informações. Tinha pisado terras encantadas, únicas, soberanas, habitadas por populações de grande conhecimento científico, que nos deixou um legado de mistério e sabedoria.

            Até a próxima viagem!


No trem panorâmico: Regina, Wagner eu e uma viajante japonesa

Com visitantes do Brasil e da Argentina, na estação do trem

Em Águas Calientes, na fila quilométrica do ônibus

Regina e eu enfrentando a chuva com as capas recém adquiridas

A fila para pegar o ônibus no final da visita

Machu Picchu















Wagner e as montanhas






Na porta principal, no mesmo local onde Che Guevara
 foi fotografado nos anos 1950











Agradecendo à chuva por nos permitir ver 
o sítio arqueológico sem a densa neblina


Viagem à Colômbia – Parte VII – Cartagena

  No balcão de nosso hotel, no centro histórico de Cartagena, com Regina, Simone e Wagner Clique nas fotos para ampliá-las Veja mais fotos n...