Conhecendo o esplêndido sítio arqueológico de Machu Picchu (Foto de Wagner Cosse editada por Thelmo Lins) |
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A joia da coroa do turismo peruano, quiçá latino-americano, é,
com certeza, Machu Picchu. “A cidade perdida dos
incas”, como é chamada, tornou-se mundialmente conhecida em 1911 por meio do explorador
e político estadunidense Hiram Bingham (1875-1956), que chegou ao local guiado
por um garoto quéchua. De lá para cá, seu mistério só foi aumentando à mesma
medida do interesse internacional. Em 1983, foi declarada Patrimônio Cultural e
Natural da Humanidade pela Unesco. Em 2007, foi inserida na lista das Sete
Maravilhas do Mundo Moderno por votação popular. Atualmente, o sítio
arqueológico recebe cerca de 4.500 visitantes por dia.
Para chegar a
Machu Picchu, pegamos um trem na estação de Ollantaytambo, no meio do caminho
entre Cusco e Águas Calientes, ponto final da viagem. Embora tenha alguns
atrativos, como suas piscinas naturais, o lugarejo de aproximadamente 2.000
habitantes serve, praticamente, como local para ter acesso ao sítio histórico,
localizado a oito quilômetros dali.
A viagem de
trem foi tranquila. O vagão tem vista panorâmica para as belas paisagens do
Vale Sagrado, o que torna o passeio mais cativante. Fizemos o percurso no trem
turístico. Para os que apreciam mais conforto e estão dispostos a pagar um
pouco mais, tem um veículo mais sofisticado, com direito a música ao vivo e
outras regalias.
No dia em que
fizemos a viagem, em meados de setembro de 2024, chovia um pouco, o que
atrapalhou nossos planos a princípio. Logo que chegamos a Águas Calientes, uma
horda de vendedores rumou em nossa direção, oferecendo capas de chuva. A minha
primeira decepção foi saber que, para pegar o ônibus que nos levaria a Machu
Picchu, não havia uma estação rodoviária. Os veículos param na rua mesmo e se
cria uma enorme fila de passageiros na calçada. Como caia uma chuvinha mansa,
mas persistente, os 30 a 40 minutos que ficamos ali na espera foram desanimadores.
E é bom frisar que estávamos (Wagner, Regina e eu) com todas as passagens e
vouchers comprados com antecedência e tínhamos uma guia nos dando suporte a
todo momento.
Toda a viagem
ao Peru, como já mencionei anteriormente, foi realizada com extrema competência
pelos órgãos turísticos locais. No entanto, o percurso para Machu Picchu se
tornou o mais confuso e desorganizado do tour. Para complicar, houve um
acidente na estrada com um dos ônibus, atrasando nossa chegada ao sítio.
Atualmente, existem horários específicos para visitar Machu Picchu, ação desenvolvida
para minimizar os efeitos do grande afluxo de pessoas ao local. No nosso caso, o
acesso seria entre 11 e 14h. Já passava de 12h30 quando cruzamos a entrada de Machu
Picchu. Ou seja, uma hora e meia depois do horário marcado.
Achei que
isso teria acontecido por causa do acidente na estrada. Mas, de acordo com
amigos que estiveram lá em outra ocasião, a situação é permanente. O mesmo
drama aconteceu na saída, quando a fila para pegar o ônibus para descer para
Águas Calientes alcançava mais de dois quilômetros, com uma média de espera de
uma hora e meia. Ressalto: no tempo, sem qualquer marquise ou suporte.
Ir ao
banheiro? Um suplício, principalmente para as mulheres. Filas quilométricas?
Parar para fazer um lanche? Impossível. Caso contrário, nossa estada no sítio
arqueológico seria ainda mais encurtada. Penso que os peruanos deveriam preparar
uma estratégia para dar melhor atendimento e acolhida aos visitantes.
Realmente, é muito desconfortável e cansativo. Para as pessoas mais idosas ou
com problemas de locomoção, um suplício. Muitas pessoas preferem descer a pé os
oito quilômetros, pois costuma ser mais rápido do que esperar no ponto de
ônibus.
Ainda tive
que enfrentar outro problema na portaria, quando o meu ingresso não foi
reconhecido pelo sistema. O nosso guia nos deu o devido suporte, mas tive que
deixar o meu passaporte no local até a situação ser resolvida. Só pude resgatar
o documento no final da visita, quando tudo foi solucionado.
Dito isso – e
suplantado o desgaste (chuva, atraso, filas, etc) – devo confessar que Machu
Picchu supera todas as expectativas. O local é mais do que maravilhoso, é
divino, excepcional. Essa beleza extraordinária, entre construções e a própria
natureza, com suas montanhas imponentes, ameniza ou compensa todos os transtornos.
O local é, realmente, lindo e qualquer adjetivo é pouco para descrever tamanha
imponência.
Atualmente,
além de definirmos um horário para visitação, temos também que determinar um
percurso. Comprando o ingresso, a gente (ou a empresa de turismo que
contratamos) escolhe a melhor opção, de acordo com o interesse do visitante. No
nosso caso, fizemos as trilhas 1 e 2. Cada percurso tem seu preço específico.
Nesse caso (1 e 2) foi suficiente para conhecer os melhores lugares e apreciar
as melhores vistas. Em outro percurso, é possível acessar alguns templos no topo
dos morros, o que amplia a vista, mas exige maior preparo físico.
Já de cara, logo na entrada, existe um mirante, de onde a maioria faz a clássica foto com a cidadela dos incas ao fundo. A chuva parou, aliviando o nosso estresse. Mais tarde ficamos sabendo que ela foi fundamental para conhecermos Machu Picchu em sua integridade. Os visitantes que fizeram o percurso na parte da manhã sofreram com a densa neblina que costuma tomar conta das montanhas, dificultando terrivelmente a visualização. Ou seja, restou-nos agradecer à natureza por brindarmos com a chuva e, consequentemente, com a paisagem que tivemos acesso.
Não vou aqui
discorrer sobre os locais visitados em Machu Picchu. Com uma pequena pesquisa,
o visitante pode se aprofundar um pouco mais nos atrativos do local. A forma
exímia que os incas tinham para encaixar as pedras, desenvolver a agricultura,
observar os astros ou realizar seus cultos ao deus Sol. O mistério constante
sobre as funções daquele local: seria um refúgio de descanso para os nobres? um
templo sagrado? um lugar de manifestações políticas ou religiosas? ou
simplesmente uma cidadela, onde viviam as pessoas comuns? Há vários estudos e
ninguém ainda chegou a uma conclusão.
Acredita-se,
no entanto, que o sítio poderia ter sido construído por volta do século XIV e
que, entre 1438 e 1470, a autoridade máxima dos incas, Pachacútec, teria vivido
ali. Há lendas que dizem que os reis preferiam manter o lugar em sigilo e que
todos os mensageiros eram mortos para não espalhar a notícia da sua existência.
E não se sabe, também, porque houve o seu declínio e futuro “desaparecimento”.
Nem mesmo os espanhóis, quando conquistaram o território peruano, sabiam de sua
existência até a “descoberta” feita no início do século XX. Entre os quéchuas,
o sítio era conhecido, mas ele estava envolto em uma densa mata que tomou conta
de suas construções. Eles não tinham a noção de sua importância.
Em
determinado momento, durante a visita, eu me senti um pouco incomodado com os
turistas falando alto, fotografando sem parar e penetrando os lugares
inadvertidamente. Intimamente, senti que ali era um lugar sagrado e que merecia
respeito, devoção, independentemente de escolhas religiosas ou influências
culturais. Algo sagrado, divino, que ultrapassava o simples atrativo turístico.
Afastei-me um pouco do grupo e fiquei ali meditando, olhando as montanhas, observando
os detalhes daquela arquitetura ímpar. Respirei fundo e agradeci a oportunidade
de conhecer aquele lugar sensacional e me senti em um dos pilares da civilização.
Nesta
postagem, encerro minha viagem ao Peru. Depois de Machu Picchu, retornamos a
Cusco, de onde tomaríamos o avião de volta ao Brasil. Na bagagem, a certeza de
que havia realizado um sonho e acumulado preciosas informações. Tinha pisado
terras encantadas, únicas, soberanas, habitadas por populações de grande
conhecimento científico, que nos deixou um legado de mistério e sabedoria.
Até a próxima
viagem!
No trem panorâmico: Regina, Wagner eu e uma viajante japonesa |
Com visitantes do Brasil e da Argentina, na estação do trem |
Em Águas Calientes, na fila quilométrica do ônibus |
Regina e eu enfrentando a chuva com as capas recém adquiridas |
A fila para pegar o ônibus no final da visitaMachu Picchu |
Wagner e as montanhas |
Na porta principal, no mesmo local onde Che Guevara foi fotografado nos anos 1950 |
Agradecendo à chuva por nos permitir ver o sítio arqueológico sem a densa neblina |
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