No teatro, à espera de Los Vivancos |
Deveria
haver um antídoto contra as mazelas que acontecem em viagens. E um dos maiores
problemas que enfrentamos nessa temporada de férias na Espanha e na Turquia são
relativos ao transporte aéreo. Primeiramente foi a Spanair que faliu e nos
deixou na mão em dois trechos, nos obrigando a comprar novas passagens. Depois
vieram os atrasos nos voos que saíram e chegaram de Istambul (uma cidade que
tem os mesmos problemas enfrentados por São Paulo). Os atrasos chegaram a duas
horas e meia. Mas, completando a nossa saga, ainda tivemos que enfrentar a má
administração do Basílica Hotel, de Istambul, que não manteve a nossa reserva e
nos obrigou a passar uma noite inteira no aeroporto.
Restou-nos
a resignação de ficar em um cyber café do
aeroporto, que estava fechado, mas com suas mesas, cadeiras e poltronas à
disposição de outros viajantes que, como eu, estávamos obrigados a passar a
noite em claro ou, quase isso, dormindo do jeito que der.
Mas,
como em toda a situação há sempre uma saída, esse momento serviu para
conhecermos uma bela garota, Talita Ibrahim, brasileira como nós, de São Paulo,
que passava a noite no local a espera de seu voo para Londres. Talita é uma
viajante na concepção mais ampla da palavra. Saiu de São Paulo para viver uma
experiência internacional. Ao invés de escolher locais mais tradicionais, como
Paris, Madri ou Roma, preferiu se enfrentar, sozinha, países distantes como Tailândia,
Índia, Coreia e Turquia.
Quando nos
encontramos, Talita estava na parte final de sua viagem e confessou-nos um
certo desencantamento por locais como a Índia, por exemplo, em que se sentiu
muito mal tratada por ser mulher e estar sozinha. Os relatos de Talita eram
tantos e tão interessantes, que a noite no aeroporto ficou pequena. As nossas
mazelas ficaram menores perante o que aquela menina havia enfrentado - e sem
nenhuma companhia. Disse a ela que deveria escrever um livro sobre a
experiência, do tipo “Comer, amar e rezar”, que se tornou um filme famoso com a
Julia Roberts. Infelizmente, a foto que tiramos com ela desapareceu de meus
arquivos, assim como outras imagens que eu fiz desses momentos finais da
viagem. Mas, eu fui à página dela no Facebook e pincei uma imagem dessa bela
mulher, com seus olhos a procurar no
mapa a sua próxima atração. Espero encontrá-la em outras ocasiões, de
preferência no lançamento de seu livro de viagens.
De
Istambul, fomos para Madri. Chegamos à capital espanhola por volta de meio dia
e tínhamos 18 horas para pegarmos nosso voo de volta para casa, que ainda faria
uma escala em Frankfurt, na Alemanha. Ficar esperando no aeroporto de Madri era
um programa impensável, mesmo com o cansaço e a falta de uma boa noite de sono.
Por isso, Wagner (meu companheiro de viagem) e eu depositamos nossa mala em um
bagageiro do aeroporto e partimos para o centro da cidade. Diga-se de passagem,
entre o aeroporto e o centro de Madri – ou em qualquer localidade dessa capital
– é possível ir de metrô. Com apenas 2,50 euros, você chega em qualquer
estação. Ai, que inveja!
Almoçamos
em um restaurante delicioso de Madri, quase centenário, que serviu uma comida
farta e ofereceu um serviço excelente. Bebericamos vinho e cerveja e ainda
conhecemos uma família bem jovem, que tinha como sua “estrela” o lindo Daniel,
um garotinho de pouco mais de um ano. Logo logo nos entrosamos e ficamos
amigos. Pena que sua foto, também, desapareceu de meus arquivos.
Wagner
sugeriu que fôssemos a uma atividade cultural, de preferência show musical ou
balé. Pegamos o guia da programação e, meio no escuro, ele escolheu um
espetáculo de um grupo espanhol chamado Los Vivancos. Nós nunca tínhamos ouvido
falar desse grupo, mas ficamos estupefatos com a qualidade do espetáculo, que
misturava dança flamenca, artes marciais, música e circo. Todo o cansaço se esvaiu
com o talento daqueles sete rapazes bonitos e sarados, dançando e tocando com
um talento excepcional. Eles acenderam a plateia, que retribuiu com muitos
gritos e aplausos. Depois, descobrimos, para nosso espanto, que os sete rapazes
são irmãos. Bem, já era impressionante se não fossem, mas considerando ainda
que são todos de uma mesma família, ficamos simplesmente embasbacados. Los
Vivancos: guardem esse nome!
Já é
hora de voltar para casa. Uma breve parada na Alemanha, mas nosso destino é Rio
de Janeiro e, por fim, Belo Horizonte. Uma boa dose de realidade ao chegar no
Galeão, depois de tanta beleza nessa viagem. Um aeroporto que não faz juz ao
nome que tem - “Antonio Carlos Jobim” - e nem à cidade que o abriga. Está sujo,
cheio de goteiras, com lojas mal organizadas e poucas atrações para se passar o
tempo antes de pegar o próximo voo. Dá pena saber que ele é a porta de entrada
de muitos estrangeiros que chegam ao país. O Brasil é melhor do que isso e as
autoridades precisam mudar essa situação. A Copa do Mundo e as Olimpíadas vêm
aí e temos que mudar essa realidade.
Bem,
chegar em Belo Horizonte é chegar em casa. Aonde está nosso trabalhos, nossos
amigos, nosso canto. Agora, é começar a planejar a nossa próxima viagem. E que
seja breve. Até lá!
Talita Ibrahim: uma viajante ousada |
Wagner e o cartaz de Los Vivancos, em Madri |
Los Vivancos |
No belíssimo Mercado de S. Miguel, em Madri |