sábado, 5 de maio de 2012

Aeroportos, esperas e volta para casa

No teatro, à espera de Los Vivancos

             Deveria haver um antídoto contra as mazelas que acontecem em viagens. E um dos maiores problemas que enfrentamos nessa temporada de férias na Espanha e na Turquia são relativos ao transporte aéreo. Primeiramente foi a Spanair que faliu e nos deixou na mão em dois trechos, nos obrigando a comprar novas passagens. Depois vieram os atrasos nos voos que saíram e chegaram de Istambul (uma cidade que tem os mesmos problemas enfrentados por São Paulo). Os atrasos chegaram a duas horas e meia. Mas, completando a nossa saga, ainda tivemos que enfrentar a má administração do Basílica Hotel, de Istambul, que não manteve a nossa reserva e nos obrigou a passar uma noite inteira no aeroporto.

Restou-nos a resignação de ficar em um  cyber café do aeroporto, que estava fechado, mas com suas mesas, cadeiras e poltronas à disposição de outros viajantes que, como eu, estávamos obrigados a passar a noite em claro ou, quase isso, dormindo do jeito que der.

Mas, como em toda a situação há sempre uma saída, esse momento serviu para conhecermos uma bela garota, Talita Ibrahim, brasileira como nós, de São Paulo, que passava a noite no local a espera de seu voo para Londres. Talita é uma viajante na concepção mais ampla da palavra. Saiu de São Paulo para viver uma experiência internacional. Ao invés de escolher locais mais tradicionais, como Paris, Madri ou Roma, preferiu se enfrentar, sozinha, países distantes como Tailândia, Índia, Coreia e Turquia.

Quando nos encontramos, Talita estava na parte final de sua viagem e confessou-nos um certo desencantamento por locais como a Índia, por exemplo, em que se sentiu muito mal tratada por ser mulher e estar sozinha. Os relatos de Talita eram tantos e tão interessantes, que a noite no aeroporto ficou pequena. As nossas mazelas ficaram menores perante o que aquela menina havia enfrentado - e sem nenhuma companhia. Disse a ela que deveria escrever um livro sobre a experiência, do tipo “Comer, amar e rezar”, que se tornou um filme famoso com a Julia Roberts. Infelizmente, a foto que tiramos com ela desapareceu de meus arquivos, assim como outras imagens que eu fiz desses momentos finais da viagem. Mas, eu fui à página dela no Facebook e pincei uma imagem dessa bela mulher, com seus olhos a procurar  no mapa a sua próxima atração. Espero encontrá-la em outras ocasiões, de preferência no lançamento de seu livro de viagens.

De Istambul, fomos para Madri. Chegamos à capital espanhola por volta de meio dia e tínhamos 18 horas para pegarmos nosso voo de volta para casa, que ainda faria uma escala em Frankfurt, na Alemanha. Ficar esperando no aeroporto de Madri era um programa impensável, mesmo com o cansaço e a falta de uma boa noite de sono. Por isso, Wagner (meu companheiro de viagem) e eu depositamos nossa mala em um bagageiro do aeroporto e partimos para o centro da cidade. Diga-se de passagem, entre o aeroporto e o centro de Madri – ou em qualquer localidade dessa capital – é possível ir de metrô. Com apenas 2,50 euros, você chega em qualquer estação. Ai, que inveja!

Almoçamos em um restaurante delicioso de Madri, quase centenário, que serviu uma comida farta e ofereceu um serviço excelente. Bebericamos vinho e cerveja e ainda conhecemos uma família bem jovem, que tinha como sua “estrela” o lindo Daniel, um garotinho de pouco mais de um ano. Logo logo nos entrosamos e ficamos amigos. Pena que sua foto, também, desapareceu de meus arquivos.

Wagner sugeriu que fôssemos a uma atividade cultural, de preferência show musical ou balé. Pegamos o guia da programação e, meio no escuro, ele escolheu um espetáculo de um grupo espanhol chamado Los Vivancos. Nós nunca tínhamos ouvido falar desse grupo, mas ficamos estupefatos com a qualidade do espetáculo, que misturava dança flamenca, artes marciais, música e circo. Todo o cansaço se esvaiu com o talento daqueles sete rapazes bonitos e sarados, dançando e tocando com um talento excepcional. Eles acenderam a plateia, que retribuiu com muitos gritos e aplausos. Depois, descobrimos, para nosso espanto, que os sete rapazes são irmãos. Bem, já era impressionante se não fossem, mas considerando ainda que são todos de uma mesma família, ficamos simplesmente embasbacados. Los Vivancos: guardem esse nome!

Já é hora de voltar para casa. Uma breve parada na Alemanha, mas nosso destino é Rio de Janeiro e, por fim, Belo Horizonte. Uma boa dose de realidade ao chegar no Galeão, depois de tanta beleza nessa viagem. Um aeroporto que não faz juz ao nome que tem - “Antonio Carlos Jobim” - e nem à cidade que o abriga. Está sujo, cheio de goteiras, com lojas mal organizadas e poucas atrações para se passar o tempo antes de pegar o próximo voo. Dá pena saber que ele é a porta de entrada de muitos estrangeiros que chegam ao país. O Brasil é melhor do que isso e as autoridades precisam mudar essa situação. A Copa do Mundo e as Olimpíadas vêm aí e temos que mudar essa realidade.

Bem, chegar em Belo Horizonte é chegar em casa. Aonde está nosso trabalhos, nossos amigos, nosso canto. Agora, é começar a planejar a nossa próxima viagem. E que seja breve. Até lá!

Talita Ibrahim: uma viajante ousada

Wagner e o cartaz de Los Vivancos, em Madri

Los Vivancos

No belíssimo Mercado de S. Miguel, em Madri


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Entrando pelos labirintos de uma cidade subterrânea

Com Wagner, na fábrica de vinho da cidade subterrânea

Já estou de volta ao Brasil, enquanto escrevo as últimas postagens sobre a viagem que eu e Wagner, meu companheiro de viagem, fizemos pela Espanha e Turquia, em abril de 2012. Insiro este contexto, pois é diferente contar uma história vivida no local e outra, baseada nas memórias, já instalado na mesa de meu apartamento, ouvindo palavras em português e as sonoridades típicas de nosso país.

Antes de escrever esta postagem sobre o segundo dia de nossa viagem à Capadócia – e o penúltimo da nossa viagem – já conversei com amigos brasileiros, troquei as experiências da viagem, postei fotos no Facebook e desfiz minhas malas. E até mesmo encarei o trabalho, com menos ansiedade do que de costume, mas de um modo a sentir que há muita coisa para se fazer daqui para frente.

Voltemos à Capadócia. Gostaria de ressaltar que o tempo colaborou com a nossa visita a essa parte da Turquia. O céu azul, os dias ensolarados, a temperatura de aproximadamente 25º durante o dia tornaram os contornos geológicos mais belos, o voo de balão mais atrativo e o caminhar mais leve, pois estava desprovido de capotes e outros agasalhos para combater o frio. E já pensou se estivesse chovendo?

Por isso, acordar cedo e sentir aquele raiozinho de sol entrando na fresta da janela é meio caminho andado para felicidade. Ainda mais quando se está hospedado em um hotel tão agradável quanto o Kale Konak, de Uçhisar, de onde se avista o belíssimo vulcão coberto de neve. Um dos três que provocaram toda essa formação, quando há milhões de anos atrás derramaram suas lavas por esses vales.

Na Turquia, mesmo nos hotéis mais ocidentalizados, o café da manhã traz muita comida salgada e legumes, como beterraba, cenoura e pepino, além de azeitonas e queijos de várias espécies. O tomate, que é um fruto, mas parece legume, também é figurinha fácil. O pão é uma instituição nacional. São muitos e de vários tipos e sabores. Os turcos preferem o chá, mas há também turkish coffee, um café fortíssimo, mas delicioso, que vem servido em xícaras muito charmosas.

Logo cedo, nosso querido guia Hayru nos pegou no hotel, juntamente com o motorista Soliman, nome inspirado num famoso sultão turco. Por isso, nós sempre nos referíamos a ele como o “sultão”. Primeiramente, fomos para o Vale dos Pombos, uma espécie de rasgo formado entre as montanhas, aonde as populações antigas escavaram inúmeros pombais. As aves eram utilizadas para a alimentação, no inverno, quando escasseavam-se as caças; e suas fezes ainda são utilizadas no adubo para as plantações (principalmente a da batata,muito cultivada na Capadócia). O Vale dos Pombos também é um mirante maravilhoso, de onde se tem uma bela vista de Uçhisar, incluindo o majestoso castelo. Em duas pequenas árvores ressecadas, foram pendurados inúmeros “olhos gregos” (que na Turquia são chamados de “olhos turcos”), que atraem os turistas e visitantes para as fotos. Inclusive nós.

O próximo passo foi a visita a um dos locais mais impressionantes que eu já vi em toda a minha vida (pois é, a Turquia é uma novidade atrás da outra). Trata-se de uma cidade subterrânea. Na Capadócia, haviam de 150 a 200 cidades subterrâneas. Atualmente, três podem ser visitadas. Kaymakli, patrimônio da humanidade, é a mais famosa. Tem cerca de onze andares para o fundo da terra. Desse total, três estão abertos para visitas. Segundo alguns estudos – não há muita precisão, pois faltam dados científicos – as cidades devem ter sido construídas entre os séculos 5 e 10, como locais para esconderijo de populações, que fugiam do massacre dos exércitos.  Com extrema maestria, elas são obras ousadas de engenharia, com tubos de ventilação, poços artesianos, locais próprios para criação do rebanho, cozinhas, dormitórios, salas de repouso e refeições - e até uma fábrica de vinho. De acordo com Hayru, algumas dessas cidades abrigaram 5 mil refugiados, que ali passagem de até cinco dias, escondendo-se. Passado o perigo, voltavam à superfície.

Embrenhando por aquele labirinto de corredores, portas, janelas, vãos, sentimo-nos às vezes sufocados. Imagine uma multidão vivendo ali dentro, com toda a tensão provocada pelos conflitos que a ameaçava constantemente. Não há como não pensar na capacidade do ser humano de se adaptar às intempéries, quando o assunto é a sua sobrevivência. E, ainda, na força que aquele local impregna, com a energia que as pessoas utilizaram para escavar aquelas rochas com tanta precisão e praticidade.

Saindo do subterrâneo, visitamos uma cooperativa de joias. Como acontece com a olaria que visitamos no primeiro dia da Capadócia, e a de tapetes, que não conhecemos, essa cooperativa faz parte de uma política do governo turco para preservar as tradições de tapeçaria, joalheria e cerâmica do país, que remonta a milhares de anos. O governo cede o espaço e o material e os artesãos entram com a mão de obra. Além disso, os artesãos têm acesso a peças famosas da joalheria turca, desde os tempos de Troia, passando pelos períodos bizantino e otomano, até os dias atuais, que são cedidas pelos principais museus, em consignação. Eles podem replicá-las e comercializá-las, difundindo a arte do país e mantendo a sua sobrevivência e continuidade desse tipo de manufatura. Nesse dia, além de me deslumbrar com a qualidade das joias, eu entendi na prática o que é política cultural. Sem leis de incentivo, sem passar o chapéu para empresas que nem sempre entendem a proposta cultural dos artistas e sem a frustração de ver tantas ideias se esfacelando por falta de patrocínio. É bom ressaltar que o carro-chefe da joalheria turca é a turquesa, pedra belíssima que leva o nome do país.

           Depois de uma pausa para um almoço agradabilíssimo na cidade de Mustafapaça, antiga colônia grega, prosseguimos para o Vale de Sogãnli. Esse passeio não consta em muitos guias, pois há poucos turistas que vão até aquele local. Hayru que o inseriu no nosso roteiro, por sua importância histórica. Por isso, é também um local menos visitado. Como Göreme, que estivemos no dia anterior, Sogãnli também era uma cidade escavada na rocha, com muitos templos e igrejas. Foi um local concorrido no passado e, até os anos 1990, abrigava uma população razoável, até que houve vários acidentes geológicos, que provocaram a derrubada de imensos paredões de rochas, matando muitas pessoas. De acordo com Hayru, foi uma comoção nacional, promovendo uma retirada das pessoas daquelas áreas mais perigosas. Ficou um local isolado, mas com suas belezas.

No interior das igrejas – que pudemos fotografar – há pinturas soberbas. No entanto, várias delas foram danificadas pela ação do tempo e do homem, que também quis imprimir naquelas rochas seus nomes e datas. Algumas remontam ao século 19. Outras, mais recentes. De acordo com Hayru, as depredações aconteceram por questões ideológicas ou religiosas. Em outros casos, porque até poucas décadas atrás o povo turco não tinha a noção do valor histórico das pinturas. Hoje, mesmo com os rabiscos, elas estão mais bem preservadas.

Bem, finalizado o passeio, é hora de despedir e ir para o aeroporto, de onde pegaremos o voo para Istambul. Na estrada, vemos as montanhas da cadeia de Taurus, com seus cumes gelados, inclusive o belíssimo vulcão Erciyes. Uma pequena parada na Argeus, na Capadócia, para conhecer pessoalmente Cíntia e tirar uma foto com a equipe da agência. Agora, é hora de ir embora.

Como não poderia deixar de ser, ficamos duas horas e meia de molho no aeroporto da Capadócia, antes de prosseguirmos para Istambul, de onde partiríamos para uma outra saga, antes de chegarmos a Belo Horizonte. Mas isso é história para uma nova postagem.

P.S. Peço perdão caso não tenha grafado os nomes turcos da forma correta. Tentei pesquisar para não cometer erros, mas a língua é muito difícil e às vezes incompreensível para mim. Espero não ter cometido erros tão crassos.

No Vale dos Pombos

Vista de Uçhisar

Reprodução fiel a joia pertencente à Helena de Troia

Joia produzida na cooperativa, respeitando a tradição turca

Joias com turquesas

Salões da cidade subterrânea

Na cidade subterrânea


Tapeçaria turca: estilos diversos

Vendedor de tapetes

Trama de tapete ao estilo hitita

Restaurante grego

Senhores turcos conversam

Em Sogãnli
Hayru explica a Wagner a história de Sogãnli

Pintura em igreja escavada na pedra

Igreja escavada

Afrescos do século 10

Bonequeiras de Sogãnli

Um dos vulcões belíssimos que provocou a formação de Capadócia

Wagner despede-se da Capadócia

Soliman, eu, Cíntia, Wagner e Hayru




quarta-feira, 2 de maio de 2012

Um voo pela Capadócia

Wagner, eu, Eduardo e Maria preparando para voar sobre a Capadócia

Pois bem, quando eu achava que a Turquia não tinha nada mais para nos apresentar, surge a Capadócia. Aquelas formações rochosas que parecem castelos de fadas ou até mesmo imensos falos (escolha a opção que lhe convier) são impactantes. Ao chegarmos à região, formada por vários pequenos lugarejos, como Ürgür, Avanos, Göreme e Uçhisar (onde nos hospedamos), vem a nítida impressão de estarmos em um local único no mundo. É totalmente diferente de tudo que eu já havia visto. O hotel em que nos hospedamos (Wagner, meu companheiro de viagem, e eu), ficamos embevecidos com aquela mistura de montanha, casas, mosteiros e capelas que foram escavados nas rochas. O hotel também está incrustado na pedra, o que lhe confere um charme todo especial (vou comentar a respeito dos hotéis em outra postagem).

Chegamos ao final da tarde, a tempo de entregarmos o carro para a locadora. Do lado do hotel, fica o “castelo” de Uçhisar, uma imensa rocha que, ao ser escavada, transformou-se em um prédio de vários andares e inúmeras salas e quartos. É impressionante! Trata-se de uma rocha bastante porosa que, ao contato com a água, torna-se facilmente moldável. Essas formações são fruto de explosões vulcânicas, há 30 milhões de anos. Com o tempo e a ação da água, houve desgastes e erosões que criaram cavidades de tamanhos e formatos diferentes.

Além de prédios, como o castelo, e dos hotéis, que também têm partes escavadas nas rochas, é possível observar vários outros edifícios, casas ou cidades subterrâneas. Até os anos 1950, milhares de pessoas moravam nesses locais, até que o governo tornou aquela área patrimônio da Turquia e transferiu os moradores para áreas residenciais. Atualmente, os parques e sítios históricos têm a chancela da Unesco como patrimônios da humanidade. Boa parte é utilizada para o turismo, a principal fonte de renda da região.

           Depois de uma noite de sono, acordamos de madrugada para o famoso passeio de balão. É preciso reservar com muita antecedência e o preço gira em torno de 175 dólares por pessoa. É uma experiência inacreditável. Primeiramente, pelo profissionalismo com que as equipes conduzem esse meio de transporte. Segundo, pela sensação de segurança e estabilidade. Por fim, pela paisagem que nos é oferecida logo que o sol nasce, deixando-nos perplexos com tanta beleza. No dia em que voamos, havia 80 balões no céu. Cada balão carrega de 12 a 24 pessoas. No verão, o número chega a 300! A gente não sabe o que é mais bonito: a natureza que se exibe lá em baixo, cheia de contornos e protuberâncias; ou o colorido dos balões que lotam o céu de magia. E, como se não bastasse, no final nos é oferecido um delicioso champagne para comemorar a manhã. No nosso balão, conhecemos um simpático casal carioca, Maria e Eduardo. Ela comemorava seu aniversário e a gravidez de seu primeiro filho. Ele, que a princípio estava apavorado com o fato de voar em um balão, no final estava relaxado e feliz. O grupo ainda contava com uma senhora de 87 anos, que comemorava de forma esplêndida a alegria de estar viva neste planeta tão exuberante.

             Antes de 9h, já estávamos de volta ao hotel para o café. Logo depois, a agência de turismo que contratamos nos levou para conhecer alguns dos lugares mais incríveis dessa região. O nosso guia era Hayru, nome que se aproximava do brasileiro Jairo. Ele falava português e tinha um notável currículo como professor universitário. Hayru nos ofereceu uma aula de história e geografia. Falou também de geologia. Contou-nos sobre as três cores que enfeitavam as rochas da Capadócia: o vermelho, o branco e o amarelo. Falou sobre o rio Vermelho, que banha a região, e é o mais longo da Turquia. Falou de povos desde a antiguidade até os dias atuais.

             Relatou que a Turquia foi o berço de várias religiões e, na Capadócia, foram parar vários cristãos fugidos da perseguição do Império Romano. Entre eles, São Jorge e São Paulo, que nasceu em Tarsus, sul da Turquia. E vieram os cruzados, os exércitos, as guerras, a luta pela sobrevivência, a fabricação do vinho, das belas cerâmicas, dos tapetes e damasco. Um local que traduz a trajetória dos povos que formaram a Turquia atual, em especial a região da Anatólia, como é chamado o lado asiático do país.
 Visitamos o museu aberto de Göreme, com belíssimas igrejas escavadas na rocha e decoradas por afrescos que foram criados a partir do século X. Depois, fomos ao Vale de Deurent, onde vimos de perto as torres das fadas. Passamos, ainda, por uma olaria, onde de produzem artesanalmente alguns das cerâmicas mais sofisticadas do mundo.
Encerrando o primeiro dia na Capadócia, ainda assistimos a uma apresentação dos famosos dervixes rodopiantes. Ao invés de um espetáculo artístico tradicional, assistimos a uma cerimônia cheia de significados e intenções religiosas. A dança foi criada por Mevlana (1207-1273), em um mosteiro de Konya, para que o ser humano pudesse se libertar das amarras e desejos que o ligam à terra, libertando-se da matéria, para alcançar a eternidade. Lembrei-me da minha querida amiga e instrutora de ioga Simone Rigueira Monteiro que, acredito,  adoraria compartilhar conosco desses momentos emocionantes. Infelizmente, não pudemos fotografar a apresentação. Mas entendemos que essa proibição é fundamentada na manutenção do silêncio e da concentração dos participantes. Para ilustrar a dança, inseri nesta postagem uma foto de uma apresentação realizada em Istambul, assistida e registrada pelo Wagner.
Para finalizar este texto, gostaria de transmitir, aqui, os sete conselhos de Mevlana, para facilitar o caminho para o desenvolvimento espiritual:
1)                  Sê como o rio em generosidade e ajuda

2)                 Sê como o sol em ternura e misericórdia

            3)                 Sê como a noite, cobrindo os defeitos dos outros

4)                 Sê como morto na sua cólera e irritabilidade

            5)                 Sê como a terra em humildade e modéstia

6)                 Sê como o mar em tolerância

7)                 Sê visto como sois ou como sê como sois visto.

          Que os preceitos de Mevlana nos ajudem a buscar sempre a paz, o caminho da harmonia, do entendimento e da superação das dificuldades que a vida, às vezes, nos impõem.
 Namastê! Sho-Ku-Rei!

Capadócia: um dos lugares mais impressionantes do mundo

Hotel Kale Konak, na Capadócia
O Castelo de Uçhisar
Paisagem da Capadócia



Balão na Capadócia: segurança e profissionalismo 
Voo de balão
Interior de igreja em Göreme
Göreme: uma cidade inteira escavada na rocha

Detalhe de residência e pombal escavados na rocha 
Wagner e o nosso guia Hayru: aula de história

Wagner brinca de fazer cerâmica na olaria da Capadócia

Detalhe de cerâmica turca

Outro prato de cerâmica turca

Sofisticada pintura na cerâmica

No Vale de Deurent: formações espetaculares
Vale de Deurent

Mevlana

Dervixes rodipiantes (apresentação em Istambul)



De carro pela Turquia, em estradas deslumbrantes e paisagens de tirar o fôlego




No maravilhoso Hotel Rixos, em Antalya


Boa parte do roteiro que fizemos pela Turquia (Wagner, meu companheiro de viagem, e eu) foi organizado pela agência turca Argeus, que tem como facilitadora uma simpaticíssima brasileira chamada Cintia. Ela foi uma acertada indicação de nossa amiga, a percussionista Ana Brandão, que também fez o roteiro alguns anos atrás. Achamos essa a melhor opção para viajar por um país com uma língua e costumes tão diferentes dos nossos.
O tour começou em Kusadasi, onde recebemos um carro que alugamos para trafegar pelo país. Viajar de carro pela Turquia é uma experiência fascinante e de extrema liberdade. A princípio, confesso, fiquei temeroso por causa das regras de trânsito, da sinalização e por desconhecer as condições das estradas. Lembrei-me que, uma vez, há alguns anos, tentei sair do Rio de Janeiro de carro para pegar a estrada para Petrópolis. O trânsito confuso e a falta de placas de sinalização me fizeram perder o caminho, me levando para uma perigosa periferia da capital fluminense. Fiquei pensando como isso podia acontecer em uma cidade turística de tamanha importância.
Mas na Turquia é diferente. Pelo menos no trajeto estamos fazendo, não encontramos dificuldade. E olhe que ele é longo: começa em Kusadasi, no mar Egeu, e vai até a Capadócia, no centro do país, percorrendo uma trajetória que seria mais ou menos como ir de Belo Horizonte a Montes Claros, depois passar por Uberaba e Poços de Caldas e, finalmente, voltar para Juiz de Fora. Veja, no mapa abaixo, todo o roteiro que fizemos.
Mesmo sem o auxílio de GPS, que parece não funcionar bem na Turquia, conseguimos realizar o percurso com relativa tranquilidade. O carro ainda tinha equipamento de som, o que nos permitiu ouvir e apreciar os CDs que havíamos adquirido em Istambul, de artistas turcos. Para deixar a situação ainda melhor, as estradas estão em boas condições e boa parte delas é duplicada, favorecendo que o limite de velocidade chegue, em determinadas situações, a 120 km/hora.
O que, diga-se de passagem, é impossível, considerando a beleza da paisagem. Os lugares são paradisíacos. No mesmo local, vemos montanhas, mar, praias, florestas de pinheiros, ruínas de antigas civilizações, mesquitas pontudas no meio de casinhas coloridas, estufas de frutas e hortaliças, numa confusão de cores e estilos, que nos deixam perplexos.
Fethiye, por exemplo, é um sofisticado balneário e um porto de embarque de grandes transatlânticos internacionais, com uma marina onde estão estacionados alguns dos mais suntuosos barcos e iates que eu já vi em vida. Lá fizemos um passeio de barco e conhecemos a famosa praia de Ölü Deniz, considerada uma das mais belas do mundo. Desta cidade para Antalya, uma importante cidade do sul da Turquia, passamos por uma estradinha beira-mar, coalhada de cidadezinhas litorâneas, com paisagens espetaculares. No meio do caminho, uma parada por Myra, onde se podem apreciar os famosos túmulos da civilização lícia, que viveu naquelas paragens centenas de anos atrás.
Antalya foi particularmente uma surpresa para nós. A começar pelo hotel, um deslumbrante cinco estrelas da rede Rixos, com uma arquitetura incrível. Sentimo-nos em Dubai, tamanha a exuberância dos serviços. Para se ter uma ideia, era da marca Bulgari os xampuzinhos, creminhos e sabonetinhos oferecidos nos banheiros dos quartos. Uau, que delícia!
Mas Antalya é mais do que um hotel: tem uma paisagem montanhosa sublime, de onde podemos apreciar um por do sol de tirar o fôlego. E, nas ruas, calçadas e um centro histórico extremamente charmosos,  comprovando que os turcos estão preocupados com o bem estar e a qualidade de vida de sua população e dos seus visitantes. Na parte antiga, ruelas lotadas de restaurantes, cafés e lojinhas encantadores. Havia, inclusive, um sorveteiro bem típico da Turquia, que fez malabarismos para nos fisgar como clientes.
Deixando Antalya, partimos para Konya, uma cidade ao norte, terra natal dos dervixes rodopiantes. Antes, uma parada numa pequena cidade do interior, onde pudemos almoçar outro típico almoço turco, acompanhados por pessoas simpáticas e sempre gentis.
Konya não tem o charme de Antalya, embora tenha tido um passado grandioso, como centro cultural de seljúcidas e hititas (vale uma visita ao Google para pesquisar). Atualmente, é uma cidade moderna com alguns pontos históricos e uma população religiosa. Seu principal atrativo é o mosteiro onde viveu Mevlana, o fundador da seita dos dervixes dançantes. Como eu estava muito cansado (e a parada em Konya não durou mais do que umas oito horas), preferi ficar no hotel, de onde se avistava o complexo arquitetônico, com uma interessante cúpula verde. Wagner foi ao mosteiro e visitou o museu dos dervixes. Infelizmente, eles só se apresentam na segunda quinzena de dezembro, quando realizam seu ritual de fim de ano. Mas há, em todo o país, grupos que realizam o ritual parecido. Na programação, está planejada uma apresentação dos dervixes na Capadócia, de que falarei posteriormente.
A visita ao museu deixou Wagner muito tocado. Ele sentiu a força daquele local, que tem uma energia espiritual muito acentuada, mesmo depois de tantos anos da morte de Mevlana, que aconteceu em 1273. Aproveitou para comprar os CDs com músicas utilizadas no ritual, que ouvimos mais tarde no carro. Ficamos muito emocionados com a música, que é de uma pureza e força descomunais. As mudanças rítmicas, numa mesma faixa, com uma percussão forte e intensa, são arrebatadoras. Bem, planejo fazer uma postagem posterior a respeito da música que ouvi na viagem, para melhor abordar o assunto.
Por falar em música, uma cidade não vive só da sua paisagem ou dos locais turísticos que tem para oferecer. Ela tem, principalmente, o seu povo. Num passeio pelo centro de Konya, deparamo-nos com um prédio muito antigo e bonito, atualmente utilizado como café. Na porta do café, dois rapazes fumavam calmamente o narguilé. Um deles, dono do espaço, ao nos ver fotografar o edifício nos chamou, convidando-nos para um chá por sua conta. Mais um ato de amabilidade e cordialidade dos turcos, que chegamos a nos acostumar, de tão corriqueiro. Dali, ficamos algumas horas, batendo um papo delicioso sobre as diferenças e semelhanças dos nossos povos. Como as pessoas lá amam o Brasil! Logo em seguida, chegaram alguns músicos locais e a conversa acabou se estendendo e se ampliando.
Em um inglês de compreensão difícil, mas de comunicação ampla, a experiência mostrou que nada pode travar ou reduzir aquilo que o ser humano mais quer: o encontro com o outro. Tomar conhecimento de outros mundos, de outras maneiras de enfrentar as situações, de outras formas de sobrevivência no planeta. Tudo às vezes tão diferente e tão parecido no final das contas.
Saímos dali pensando que a música é um dos mais poderosos canais para união dos povos e para a transcendência da humanidade. A música e, é claro, um bom papo. Confesso que dar umas tragadas no narguilê sem nicotina ajudou bastante!

Marina, em frente ao nosso hotel, em Fethiye

Paisagem de Fethyie: mar e montanha em tons de azul

Em Fethyie

Hotel Ece Marina, em Fethyie

Praia de Ölü Deniz

Cidade cheia de estufas para cultivo de frutas e hortaliças

Praia no mar mediterrâneo

Túmulos lícios encravados na rocha, em Myra

No teatro de Myra

Wagner e eu no luxuoso Rixos, em Antalya

Montanhas e praia de Antalya

Paisagem de Antalya, com a torre símbolo da cidade

Entrada do sítio histórico de Antalya

Centro histórico de Antalya

Wagner observa o por do sol em Antalya

Rua do centro histórico, à noite

Wagner e o sorveteiro malabarista

A lua é turca
Cidade turca

Montanhas e pinheiros

Café em Konya: encontro de pessoas

Mosteiro de Mevlana, em Konya

Roteiro de carro pela Turquia (vermelho)




Viagem ao Peru - Parte VII - Vale Sagrado dos Incas

  Em Ollantaytambo (foto de Wagner Cosse) Clique nas fotos para ampliá-las                Para conhecer melhor o Peru, em especial o Vale Sa...